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sábado, 30 de outubro de 2021

Doutrina de esquina - Guilherme Fiuza


— Tá indo aonde?

— Levar meu cachorro pra passear.

— Qual é a raça dele?

— Por quê?

— Por que o quê?

— Por que você perguntou a raça dele?

— Ué, porque não conheço essa raça. Pelo menos não estou identificando.

— Outras raças você identifica mais facilmente?

— É, algumas eu conheço mais…

— Então você privilegia algumas raças em detrimento de outras?

— Não… Não é isso. Por acaso conheço melhor…

— Conheço bem.

— O quê?

— Conheço bem esse texto: “Por acaso”, “nem notei”, etc. A discriminação é sempre uma coisa sutil.

Cícera Alves, vacinada e amputada


— Que discriminação?! Não tava nem pensando nisso.

— Eu acredito em você.

— Que bom.

— E tenho que te alertar: o preconceito inconsciente é o pior de todos.

— Como assim?

— Você está discriminando sem saber. Já introjetou o preconceito. Fica mais difícil um choque de consciência.

— Você enlouqueceu.

— Não adianta me atacar.

— Não é um ataque. É uma constatação.

— É sempre assim. O propagador do ódio se protege sob um tom suave e um semblante sereno.

— Não estou com ódio. Estou só arrependido.

— Imagino seu arrependimento. Mas ainda está em tempo de mudar.

— Mudar o quê?

— A sua visão de mundo.

— Pode ser que eu mude. Por enquanto estou só arrependido de ter te perguntado a raça do seu cão.

— A tomada de consciência começa assim mesmo. Com questões que parecem sem importância.

Agentes americanos buscam pessoas suspeitas de atravessar o Rio Grande para entrar ilegalmente nos EUA, em McAllen, Texas, 11 de setembro de 2019

— Tudo bem. Bom passeio. Não precisa me dizer a raça do seu cachorro.

— Por que você não quer saber a raça do meu cachorro? Ela é irrelevante pra você? Não vê que isso é uma forma de racismo? Por quais raças você se interessa, então? Só aquelas que você respeita? Não acha que todas as raças deveriam ser igualmente respeitadas? Esse seu julgamento seletivo pode ser a base de uma sociedade intolerante e sectária, você não percebe? Hein? Percebe ou não percebe? Agora vai ficar calado, né? Pois é, meu amigo. A verdade dói. Mas eu escolhi a coragem. A coragem de denunciar. A coragem de jogar o preconceito na cara dos preconceituosos, a coragem de…

— Poodle.

— Hein?! Que Poodle? Meu cachorro não é Poodle!

— Não. Você é um Poodle. Nascido por engano no corpo de um chato.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Justiça americana não faz malabarismos jurídicos como STF - VOZES

Alexandre Garcia

Condenação

No momento em que o Rio Grande do Sul debate o passaporte da vacina decretado por uma única pessoa, o governador Eduardo Leite (PSDB), o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS) entrou na Câmara Federal com um projeto de lei mostrando que é impossível ter passaporte da vacina diante da Constituição que é mais forte. O artigo 5ª da Constituição estabelece que "todos são iguais sem distinção de qualquer natureza". Portanto, não se pode distinguir vacinados de não vacinados.
 
Supremo Tribunal Federal, o STF, gostar de fazer acrobacias jurídicas de vez em quando, como no caso do passaporte vacinal.

Supremo Tribunal Federal gostar de fazer acrobacias jurídicas de vez em quando, como no caso do passaporte vacinal.| Foto: Rosinei Coutinho/STF

Mas tanta coisa já foi rasgada na Constituição que é triste e perigoso. Um exemplo é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que considerou que tem que voltar o passaporte da vacina da prefeitura de Macaé que foi derrubado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele ressuscitou esse passaporte que contraria direitos e garantias fundamentais que todo brasileiro deve ter para desfrutar de liberdade, que é essencial para a democracia.

Exemplo que vem dos EUA
E enquanto o nosso Supremo anula condenações da Lava Jato, a Justiça americana, não. Ela condenou o ex-presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, a 20 meses de prisão e a pagar uma indenização de R$ 2,2 milhões por propina e suborno na Petrobras. Ou seja, a Justiça americana não faz os malabarismos, as acrobacias, que fez o STF.

Sem provas contra chapa Bolsonaro/Mourão
Falando em Justiça, o Ministério Público Eleitoral afirma não ter nenhuma prova, além de uma notícia na Folha de São Paulo, sobre qualquer problema com a chapa Bolsonaro/Mourão. O presidente já foi absolvido em ma ação no Supremo porque as provas eram só recorte de jornal.

Investigações contra Renan
Por outro lado, a Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo o aprofundamento de mais investigações para apurar propina paga a um senador que hoje é relator de uma CPI que está no seu ocaso, Renan Calheiros (MDB-AL). [quer saber mais sobre Calheiros: clique aqui ou aqui, tem mais aqui. ]

Preservação de nascentes
O presidente Jair Bolsonaro lançou em Minas Gerais, nesta segunda-feira (18), um programa para ressuscitar nascentes plantando árvores. Vão fazer isso com o Rio Parnaíba, o Rio São Francisco e o Rio Grande. Ao mesmo tempo, farão barragens para regular o fluxo do Rio São Francisco, que é necessário para a energia elétrica e mais água para o Nordeste. São coisas que se falaram muito nos últimos 40 anos e nunca ninguém fez, e está sendo feito agora.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 20 de novembro de 2018

À espera de caravana - Exército dos EUA instala quilômetros de arame farpado na fronteira com o México

Eles começaram a trabalhar no frio da manhã e se movem rapidamente, desenrolando carretel atrás de carretel de arame farpado para depois prendê-lo a postes enfiados no chão.

A cerca foi instalada em três dias por aproximadamente 100 soldados do 19° Batalhão de Engenheiros do exército americano, que fica em Fort Knox, Kentucky.  Os efetivos não estão em uma zona de guerra, mas em Laredo, cidade na fronteira com o México, dominada por um trecho do Rio Grande.
 Soldados do 19 Batalhão de Engenheiros dos EUA instalam cercas na fronteira com o México, em Laredo, Texas - AFP/Arquivos

O presidente Donald Trump enviou 5.800 soldados à fronteira para prevenir a chegada de grandes grupos de migrantes centro-americanos que viajam pelo do México, uma medida que os críticos denunciaram como uma tentativa de conseguir vantagem política antes das eleições de meio mandato celebradas no começo deste mês.

Trump disse que o avanço da caravana de migrantes implicava uma “emergência nacional” diante no que classificou de “invasão”. Até agora, o aspecto mais visível da resposta de Trump é a cerca de arame, um obstáculo físico destinado a levar os migrantes em busca de refúgios a pontos da entrada organizados em território americano.

[Trump tem cometido alguns erros, mas, desta vez ele está certíssimo: 

é inaceitável, inconcebível que um bando de pessoas decidam, unilateralmente, que vão morar em outro país e o invadam = é isso o que essa caravana pretende fazer = INVADIR TERRITÓRIO DE UMA NAÇÃO SOBERANA.

Não terão êxito - serão neutralizados.]

– Pastéis –
Durante o final de semana, se pôde ver o pelotão do tenente Alan Koepnick estender a cerca de arame ao longo das margens de um parque tranquilo junto ao rio, perto do centro de Laredo.  Enquanto as famílias andavam com cães, faziam churrasco na grelha e relaxavam, os soldados montavam o arame, não sem rasgar os uniformes de camuflagem com as penas de metal.

Koepnick reconheceu que alguns moradores de Laredo mostraram sua preocupação com as cercas e a presença das tropas.  “Mas também há muito apoio, pessoas que vêm, veteranos que apertam as mãos, nos trazem bolos, água… coisas assim”, disse Koepnick à AFP.

Cerca de 100 metros atrás dele, pode-se ver um grupo de pessoas no lado mexicano do rio.
“Você verá pessoas do outro lado do rio, nos xingando em espanhol e jogando garrafas em nós, mas deste lado é mais positivo”, disse Koepnick.  O tenente e seus homens ficam desarmados, embora um grupo de policiais militares armados permaneça ao seu lado como uma “força de proteção”.  As leis dos Estados Unidos não autorizam os militares a exercer funções policiais. Portanto, os soldados não terão qualquer interação direta com os imigrantes.

Trump, que quer construir um muro ao longo dos 3.200 quilômetros de fronteira com o México, elogiou o trabalho militar na semana passada: “Eles construíram grandes cercas e construíram uma barreira muito poderosa”.  Laura Pole, uma turista britânica que visita Laredo pela terceira vez, ficou menos entusiasmada. “Isso me lembra Hitler e os campos de concentração”, disse ele. [comparação sem sentido e  feita por alguém que mora em uma ilha e os ingleses certamente não aceitam que seu território seja invadido.]

– Sem risco de combate –
A missão fronteiriça colocou o exército sob um holofote desconfortável, e o secretário da Defesa, Jim Mattis, visitou tropas destacadas na fronteira na semana passada. Mattis disse que “não fazemos manobras militares” e que o trabalho de curto prazo era ajudar os agentes da Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), que têm poucos recursos, e colocam obstáculos físicos no limite.
Depois que alguns membros se queixaram à mídia sobre o propósito da missão, eles agora têm ordens estritas de não dar suas opiniões pessoais à imprensa. 

– Foco em Tijuana –
Os grandes grupos de caravanas não vão para Laredo, mas a Tijuana, a pouco mais de dois mil quilômetros a oeste, onde as autoridades dizem que mais de três mil migrantes já chegaram.  No entanto, um agente alfandegário dos EUA, que disse não estar autorizado a dar seu nome, expressou sua satisfação com a assistência militar, já que todos os dias “centenas” de imigrantes tentam atravessar o trecho de aproximadamente 50 km da patrulha de fronteira.

A ação militar está programada para terminar em 15 de dezembro e não está claro o que acontecerá com a cerca instalada. Os ventos que sopram no Vale do Rio Grande estão acumulando lixo, roupas e sacolas plásticas ao longo da sanfona. “Ninguém parece saber quando será desmontada. Realmente não é decisão nossa”, explicou Koepnick.

AFP