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segunda-feira, 17 de abril de 2023

A transposição sabotada - Fernando de Castro

  Revista Oeste

Um ano depois de inaugurada, a transposição do Rio São Francisco sofre com o desligamento de equipamentos, que causa a interrupção do fornecimento de água

 Canal do Eixo Norte do projeto de integração do Rio São Francisco, em Salgueiro, Pernambuco (22/3/2023) | Foto: Fernando de Castro/Revista Oeste

 A novela envolvendo a transposição do Rio São Francisco não acabou em 2022, com a inauguração, por Jair Bolsonaro, de seu último trecho. Quase um ano depois de considerada enfim terminada, a obra agora sofre com o desligamento de bombas, o que afeta o fornecimento de água em regiões do sertão nordestino. 

Idealizada pela primeira vez em 1840, durante o império, a transposição começou a sair do papel em 2007, por decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, foi planejada a construção de 699 quilômetros de canais, número que foi temporariamente reduzido para 477 quilômetros no ano seguinte, por força de atrasos e pela pressa do governo petista em tentar entregar a obra até 2012 — o governo de Jair Bolsonaro, a transposição voltou a ter os 699 quilômetros originais.

Inaugurada com dez anos de atraso, o orçamento saltou dos iniciais R$ 4,5 bilhões para quase R$ 15 bilhões média de pouco mais de R$ 1 bilhão por ano, de 2008 a 2022. Neste meio-tempo, a construção foi interrompida várias vezes, por problemas de planejamento e denúncias de corrupção. Diversas irregularidades foram constatadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).  

Em 2018, [governo Temer.] a inauguração da Estação de Bombeamento 3 (EBI-3), localizada em Salgueiro, no Estado de Pernambuco, marcou o início das operações do Eixo Norte. A estrutura é composta de bombas e válvulas que levam a água por canais e reservatórios até os Estados do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.  

“O que lamentamos em tudo isso é que já foram gastos quase R$ 15 bilhões nessa obra, para ela se encontrar numa situação de abandono” 

Um dos canais de irrigação que recebem água da EBI-3 é a Barragem de Jati (CE), que integra o chamado Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Sua função é encaminhar os recursos hídricos disponibilizados pela transição até Riacho Seco, no município de Missão Velha, localizado no sul do Estado. Com 56 metros de altura, a estrutura, com capacidade de acumular até 28 milhões de metros cúbicos das águas oriundas da estação de bombeamento, Jati começou a funcionar em junho de 2020. Contudo, um rompimento ocorrido dois meses depois da inauguração, interrompeu  as operações até fevereiro de 2022.  

Em janeiro de 2023, [primeiro mês do desgoverrno do maligno petista.] contudo, as bombas que integram a EBI-3 foram desligadas, interrompendo o fornecimento de água para as barragens do Eixo Norte da transposição. O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional assumiu a responsabilidade pelo desligamento, sob alegação de “anomalias” detectadas nos equipamentos. Sem as águas da EBI-3, o cenário atual na Barragem de Jati é de terra abandonada. O mato cresce entre o cimento, a pouca água que ainda existe está represada e o concreto seco começou a rachar.

“Uma tragédia anunciada”
Para João Suassuna, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o desligamento da Estação de Bombeamento 3, em Salgueiro, e a consequente falta de água na Barragem de Jati, no Ceará, são uma “tragédia anunciada.” 

Com livros e dezenas de artigos publicados sobre a transposição do Rio São Francisco, Suassuna explica que, sem água, a estrutura da barragem e dos canais será danificada. “A responsabilidade pelo desligamento dos equipamentos não é só do governo federal”, afirma Suassuna. “Os governos estaduais, que se comprometeram a assumir os custos de manutenção do projeto, inclusive os relacionados à água e à energia, agora optam por ignorar o abastecimento das águas oriundas da transposição.” 

Embora tenham se comprometido, os governadores agora alegam que não têm dinheiro. “O que lamentamos em tudo isso é que já foram gastos quase R$ 15 bilhões nessa obra, para ela se encontrar numa situação de abandono.” 

O engenheiro explica também que a falta de água pode provocar danos irreversíveis. “Os canais da transposição estão localizados no semiárido, uma região muito quente”, diz Suassuna. “Quando está com água, o canal se mantém numa temperatura razoável e constante. Se a água é retirada, como está acontecendo na Barragem de Jati, a estrutura de concreto esfria durante a noite e esquenta de uma maneira absurda durante o dia. O resultado dessa mudança brusca de temperatura é uma série de rachaduras na estrutura, que obrigarão à interrupção do funcionamento dos equipamentos e necessitarão de mais gastos públicos para reparos, com risco de perder toda a construção. É uma tragédia totalmente anunciada.”

Com o desligamento da EBI-3, Suassuna confirma que todas as regiões contempladas com o abastecimento do Cinturão das Águas do Ceará são prejudicadas. Segundo o pesquisador, uma das únicas alternativas para o abastecimento, nesse caso, são as cisternas que captam as águas das chuvas. “É a salvação do povo, mas quem não tem cisterna fica numa situação difícil.”  

Posicionamentos sobre o tema
Procurada por Oeste, Mônica Mariano, prefeita de Jati, afirmou que, embora o município abrigue a barragem, a prefeitura não tem qualquer controle sobre ela, e a cidade não tem autorização para irrigar a região com as águas da transposição. “Infelizmente, não temos nenhum controle sobre a gestão dela e de suas águas”, lamentou a prefeita. “O que estamos fazendo é buscar uma agenda direta com o governo federal, para mostrar a situação dos moradores de Jati, que não têm acesso à água, embora morem às margens de uma barragem gigantesca como essa.” 

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional confirmou as “anomalias” no funcionamento da EBI-3 e a paralisação do equipamento em janeiro deste ano. Embora não tenha explicado quais anomalias foram detectadas, a pasta garantiu que tudo estará normalizado em maio. 

O governo do Ceará reconheceu que a Barragem de Jati e Riacho Seco estão sem receber as águas do São Francisco. Apesar disso — e dos registros fotográficos enviados por Oeste comprovando a seca —, a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado (SRH) alegou, em nota, que “a falta da água no local, neste momento, não compromete o abastecimento hídrico do Estado. De acordo com a pasta, a região está com boa pluviometria. “O Ceará está com a melhor reserva hídrica dos últimos dez anos”, garantiu a SRH. 

Diante das denúncias de fechamento das bombas, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, autorizou a formação de uma comissão de parlamentares para fiscalizar os canais e as barragens da transposição e elaborar um relatório técnico sobre os impactos da paralisação dos equipamentos. A comissão, que não tem data para ir a campo, é composta de deputados federais dos Estados contemplados pela transposição. Os parlamentares pretendem cobrar do governo federal o retorno do funcionamento dos equipamentos.  

Até lá, o sertão nordestino continuará a enfrentar os mesmos problemas que assolam o local desde aquele longínquo 1840, quando a transposição era apenas um brilho nos olhos de Dom Pedro II. A falta d’água na região está longe de ter data para acabar. 

Leia também “Mato Grosso supera a Argentina”

Fernando de Castro,  colunista - Revista Oeste

 

 

sábado, 15 de abril de 2023

O PT e a preservação da pobreza - Bianca Nunes, Revista Oeste

A Diretora de Redação da Oeste, em conteúdo enviado para divulgação da mais recente edição da revista, afirma:

Em outubro de 2022, o resultado oficial das eleições mostrou que Lula ganhara em 13 das 27 unidades da Federação: todos os Estados do Nordeste, além de Amazonas, Pará, Tocantins e Minas Gerais. 
Nesta quarta-feira, o site Poder360 informou que o número de beneficiários do Bolsa Família supera o de trabalhadores com carteira assinada em 13 das 27 unidades da Federação: todos os Estados do Nordeste, além de Amazonas, Pará, Amapá e Acre.

"Lula, o PT e a esquerda, obrigatoriamente, têm de segurar o Brasil na miséria, na ignorância e no atraso; ou é desse jeito, ou não existem. É daí que vêm os votos que lhes permitem estar no governo", afirma José Roberto Guzzo, no artigo de capa desta edição. "Lula perdeu em todos os Estados brasileiros, sem falhar um, onde há mais progresso e menos pobreza;  

- ganhou em todos os Estados, também sem falhar um, onde há mais subdesenvolvimento e mais miseráveis."  
Resumindo: sem pobreza a esquerda brasileira morre.
 
Sobram provas de que Lula não perdeu uma única oportunidade de deixar o número de pobres no Brasil igual ou maior ao que é hoje. 
Entre elas estão a anulação do novo Marco do Saneamento, a revogação da nova Lei do Ensino Médio, a destruição da Lei de Cabotagem e os ataques, por enquanto verbais, ao agronegócio. "O sucesso do agro significa, acima de qualquer outra coisa, o sucesso do capitalismo no campo brasileiro", observa Guzzo. "Simetricamente, é a prova do fracasso da 'reforma agrária' e outros contos do vigário ideológicos." 

No momento, o Maranhão é o Estado em que a relação de dependência do Bolsa Família é mais forte governado durante oito anos por Flávio Dino, atual ministro da Justiça. [quando iniciou seu governo o Maranhão já era o estado mais atrasado do Brasil, após oito anos de Dino, continuou o estado mais atrasado só que com piora no IDH.] Para cada trabalhador com carteira assinada há duas famílias recebendo o benefício. Nesta semana, em vez de explicar essas disfunções, Dino preferiu consumir seu tempo atribuindo ao ex-presidente Jair Bolsonaro os crimes que ocorreram em escolas brasileiras."Tem influência da ideia de violência extremista a qualquer preço, a qualquer custo", delirou Dino. "O ethos, o paradigma de organização do mundo que golpistas políticos, agressores de crianças e assassinos de crianças têm é o mesmo. É a mesma matriz de pensamento. É a matriz da violência." As invencionices do ministro e de outros oportunistas do caos foram desmontadas na reportagem de Edilson Salgueiro e Joice Maffezzolli.

Outro destaque é o resultado das apurações feitas por Fernando de Castro. Nosso correspondente no Nordeste percorreu parte da transposição do São Francisco e comprovou que há trechos da obra completamente secos. "Sem as águas da Estação de Bombeamento EBI-3, o cenário na Barragem de Jati é de terra abandonada", resumiu. "O mato cresce entre o cimento, a pouca água que ainda existe está represada e o concreto seco começou a rachar". Sem água, a estrutura da barragem e dos canais será irremediavelmente danificada.

Idealizada em 1840 por Dom Pedro II, a transposição começou a sair do papel com Lula, em 2007, e foi concluída por Jair Bolsonaro, em 2022. O descaso dos governos estaduais e do poder federal em mãos de Lula mostra que a falta d'água na região é mais um dos problemas cuja solução não interessa aos políticos.

Boa leitura.

Branca Nunes

Diretora de Redação

*       Nota do editor do site Conservadores & Liberais: Sou assinante da Revista Oeste e a recomendo enfaticamente a meus leitores!

No Blog Prontidão Total temos vários assinantes e procuramos por todos os meios ao nossa alcance, divulgar e  estimular tão insubstituível leitura. 

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domingo, 12 de fevereiro de 2023

Fúria do governo contra armas paralisou indústria de blindagem de carros - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

Decreto de Lula tinha como alvo os CACs, mas também acabou inviabilizando atividade de blindagem de automóveis.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Os da minha idade vão lembrar que o presidente Jânio Quadros – que foi meu primeiro voto na vida – proibiu biquíni nas praias e rinha de galo. Por que lembro disso? Porque o atual presidente está impedindo a blindagem de automóveis.  
Em vários estados do Nordeste, as empresas de blindagem já estão paradas há mais de três semanas. 
É que saiu um decreto, já no dia 1.º de janeiro, revogando um outro decreto do governo anterior, e com isso deixou na mão a blindagem dos carros, que precisa ser autorizada pelo Exército, mas agora não há mais essa autorização, isso em um país inseguro como o nosso.
 
Para quem quiser pesquisar no doutor Google, falo do Decreto 11.366, que revogou o Decreto 10.030. 
É um decreto contra os CACs, que são 670 mil brasileiros, incluindo caçadores – a caça só é permitida para controlar a população de javalis, e isso é controlado pelo Ibama –; colecionadores de armas, que são muitos; e atiradores, que fazem parte de 2 mil clubes de tiro e entre os quais há até atletas olímpicos, pois o tiro é modalidade olímpica que, aliás, deu o primeiro ouro para o Brasil, em 1920, em Antuérpia (Bélgica). 
Todos eles movimentam uma indústria que gera 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos, segundo dados do Ministério da Defesa. São cerca de US$ 4 bilhões, ou 4,46% do PIB. Pagam imposto de 71,6%, e pagam antecipadamente.

E é mentira que essas armas, licenciadas pelo Exército, caiam na mão de bandidos. De 48.658 apreensões feitas em um ano, segundo a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, só 83 armas tinham registro legal, ou 0,17%. Outra mentira é a de que as armas aumentam o número de mortes. Pelo contrário: os homicídios caíram de 57 mil por ano para 30 mil. É preciso registrar isso.

Veja Também:

    Será que Alexandre de Moraes conhece a Lei Antiterrorismo?

Sérgio Cabral quase solto e viagem a NY: retratos da Justiça brasileira
Cabral, condenado a 415 anos, está solto, enquanto em Brasília tem gente presa sem nem saber o motivo
Como também é preciso registrar que um sujeito, sem usar arma em seus crimes, foi condenado a 415 anos de prisão por corrupção em 35 ações. Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, foi solto pelo Tribunal Regional Federal do Rio por 4 a 3. 
Ele vai passear pelas ruas do Rio apenas com tornozeleira, só não pode sair do país. Já estava em prisão domiciliar desde dezembro. 
Uma maravilha, não? Enquanto isso, a cozinheira do acampamento na frente do QG do Exército está presa. Nem pôs os pés na Esplanada dos Ministérios, mas foi levada naqueles ônibus, naquela coisa de Hitler que faz lembrar os tempos dos judeus na Alemanha. 
Cabe ao acusador o ônus da prova, mostrar que todas aquelas pessoas agiram com vandalismo, destruindo patrimônio público no Congresso, no Supremo e no Palácio do Planalto; precisam mostrar as provas para prender tanta gente. E aí comparamos uma coisa com outra: 
Sérgio Cabral solto apesar de ter sido condenado a 415 anos, e pessoas que nem sabem por que estão nos presídios da Papuda (masculino) e da Colmeia (feminino), aqui em Brasília.
 
A volta dos caminhões-pipa no Nordeste 
E falei de empresas de blindagem de carros no Nordeste, pois o Congresso está investigando um outro problema por lá, que está beneficiando empresas de caminhão-pipa. 
De repente parou a água do Rio São Francisco, que estava circulando pelo Nordeste, e os caminhões-pipa voltaram. 
Agora, os deputados, que voltaram das férias, querem investigar para saber o que está acontecendo, e nisso fazem muito bem.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Justiça americana não faz malabarismos jurídicos como STF - VOZES

Alexandre Garcia

Condenação

No momento em que o Rio Grande do Sul debate o passaporte da vacina decretado por uma única pessoa, o governador Eduardo Leite (PSDB), o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS) entrou na Câmara Federal com um projeto de lei mostrando que é impossível ter passaporte da vacina diante da Constituição que é mais forte. O artigo 5ª da Constituição estabelece que "todos são iguais sem distinção de qualquer natureza". Portanto, não se pode distinguir vacinados de não vacinados.
 
Supremo Tribunal Federal, o STF, gostar de fazer acrobacias jurídicas de vez em quando, como no caso do passaporte vacinal.

Supremo Tribunal Federal gostar de fazer acrobacias jurídicas de vez em quando, como no caso do passaporte vacinal.| Foto: Rosinei Coutinho/STF

Mas tanta coisa já foi rasgada na Constituição que é triste e perigoso. Um exemplo é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que considerou que tem que voltar o passaporte da vacina da prefeitura de Macaé que foi derrubado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele ressuscitou esse passaporte que contraria direitos e garantias fundamentais que todo brasileiro deve ter para desfrutar de liberdade, que é essencial para a democracia.

Exemplo que vem dos EUA
E enquanto o nosso Supremo anula condenações da Lava Jato, a Justiça americana, não. Ela condenou o ex-presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, a 20 meses de prisão e a pagar uma indenização de R$ 2,2 milhões por propina e suborno na Petrobras. Ou seja, a Justiça americana não faz os malabarismos, as acrobacias, que fez o STF.

Sem provas contra chapa Bolsonaro/Mourão
Falando em Justiça, o Ministério Público Eleitoral afirma não ter nenhuma prova, além de uma notícia na Folha de São Paulo, sobre qualquer problema com a chapa Bolsonaro/Mourão. O presidente já foi absolvido em ma ação no Supremo porque as provas eram só recorte de jornal.

Investigações contra Renan
Por outro lado, a Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo o aprofundamento de mais investigações para apurar propina paga a um senador que hoje é relator de uma CPI que está no seu ocaso, Renan Calheiros (MDB-AL). [quer saber mais sobre Calheiros: clique aqui ou aqui, tem mais aqui. ]

Preservação de nascentes
O presidente Jair Bolsonaro lançou em Minas Gerais, nesta segunda-feira (18), um programa para ressuscitar nascentes plantando árvores. Vão fazer isso com o Rio Parnaíba, o Rio São Francisco e o Rio Grande. Ao mesmo tempo, farão barragens para regular o fluxo do Rio São Francisco, que é necessário para a energia elétrica e mais água para o Nordeste. São coisas que se falaram muito nos últimos 40 anos e nunca ninguém fez, e está sendo feito agora.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A tragédia Brasil"



Os antigos diziam que quando Deus criou o mundo juntou num pedaço da América do Sul um país com uma costa gigantesca e belas praias, ouro nas montanhas e sol nos dias de verão. Sem terremotos, vulcões, tsunamis nem outros acidentes naturais. Então, o anjo Gabriel chamou Sua atenção para a injustiça de tal privilégio. Consta que o Criador explicou: “vais ver o povinho que porei lá”. É uma piada preconceituosa e inominável diante de tudo o que tem acontecido ultimamente nestes tristes trópicos, neste país do carnaval e do futebol, a superar em tragédia o teatro grego antigo, culminando com a coincidência de mesclar paixão coletiva e dor pessoal.


A esperança de um futuro melhor para as promessas no sub 17 do Flamengo e uma vida melhor para seus entes queridos é substituída pela dor e pelo luto. Foto: Fábio Motta/Estadão
O incêndio do Centro de Treinamento (CT) do Flamengo com 10 mortos e 3 salvados do fogo parece mais um castigo divino, mas não é. É conjunção de canalhice com descaso, desídia e desumanidade, que já se haviam manifestado no incêndio do Museu Nacional e no estado lastimável que impede visitas ao Museu da Independência, no Ipiranga.

Essa mistura transforma nosso passado num monturo onde enterramos nossas oportunidades de aprender com erros e acertos que já cometemos. Os rejeitos minerais da Vale em Mariana, que mataram o Rio Doce, num descomunal assassinato ambiental, não serviram de alerta e três anos depois a lama seca de Brumadinho apodrece o Paraopeba e se prepara, de forma lenta, mas incansável, para emporcalhar Três Marias e trucidar o Rio São Francisco, o Velho Chico, “rio da unidade nacional”.

O Estado brasileiro, controlado por burocratas e políticos corruptos, se acumplicia a empresários gananciosos que exploram nossas riquezas e massacram nossos pobres à jusante de represas, expondo-os por cupidez às ondas de dejetos que sufocam humanos, bovinos e peixes. O Criador poupou-nos de vagalhões e lavas, mas os beneficiários do uso e furto dos bens públicos os substituem pela mortandade por susto, bala ou vício. Essa Medusa, que nunca encontra Ulisses de volta a Ítaca, reproduz em sua saga milhões de cabeças vorazes que despedaçam a ventura dos humildes.

Os meninos do Flamengo são talentosos e quase todos pobres, mais do que arrimos, o que resta de fé para seus parentes e amigos. Quando sucumbem à indiferença de dirigentes de má-fé, que usam a paixão do povo como combustível para sua fortuna, fundida num bezerro de ouro insaciável, levam para a morada final as esperanças de seus entes queridos. O pior de tudo é que os dirigentes de Vale, Museu Nacional, Museu da Independência e Flamengo, e prefeitos que escorcham os munícipes com vultosos impostos (casos do Rio inundado e desprovido de programas públicos eficientes contra inundações e desta Piratininga de viadutos rachados caindo aos pedaços), são beneficiários da pior de todas as ofensas, a impunidade. Os mandachuvas do popular rubro-negro da Gávea, os mesquinhos da mineração que não gastam com segurança nem pagam multas e os gestores públicos e privados que se escondem das penas que deviam pagar em capas de pleonasmos nunca purgarão os seus crimes com vil metal ou perda de liberdade.

A tragédia Brasil tem a agravante de não contar com o deus ex-machina do teatro grego, aquela solução final implausível em que os justos são recompensados e os culpados, punidos. E às vítimas só resta reclamar, em vez de apoiar, aplaudir, glorificar, eleger e até endeusar os vilões que as massacram.



José Nêumanne, Jornalista, poeta e escritor - O Estado de São Paulo




terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Uma obra de 26 Natais

O uso político da seca é tão antigo quanto suas vítimas

Lá se foram 26 Natais. O Sol chupa poços há 9.490 dias e a obra do canal com a água prometida avança lenta, capionga como diz por ali. O ritmo é de nove metros a cada jornada.  A chuva da semana passada até foi celebrada em discursos na última sessão do Congresso, em Brasília. Mas é só um alento natalino, advertem meteorologistas: precisam-se de dois ou três anos de enxurradas para que as duas dezenas de baixios ressecados no sertão alagoano possam, de novo, ser chamados de rios.

Seca é coisa remota, cíclica, inevitável e previsível. É o maior desastre ambiental do Brasil. No Nordeste há pelo menos 208 anos imagina-se a redenção com o “encanamento” do rio São Francisco para o sertão.  O uso político da seca é tão antigo quanto suas vítimas. “Cavar e atirar a terra para os lados pouco custa”, discursava o deputado paraibano França Leite em 1846. Trinta e dois anos mais tarde, Pedro II percebia as vantagens. Nas “Falas do Trono”, no Senado de 1878, se apoiou no “flagelo da seca” para evocar algum sentido de unicidade política em torno do Império no país em formação.Foram mais de 74 mil dias até à abertura do primeiro canal, ano passado, para travessia das águas do rio São Francisco rumo ao sertão.

Banharam vida à volta da reta cimentada de 220 quilômetros. Mas isso é só fração de toda a terra ressequida onde cabem oito países como o Uruguai, e se estende por oito estados.
Dentro do pedaço semiárido de Alagoas sonha-se com algo mais simples do que a faraônica transposição do São Francisco.  Um milhão de pessoas, em 38 cidades, aguarda o fim da obra do Canal do Sertão. Ela segue à conta-gota.

É recordista de irregularidades nas últimas três décadas. A água imaginária já atravessou a eleição de seis presidentes e governadores, entre eles Jair Bolsonaro e Renan Filho, que assumem em janeiro. Demorou 26 anos para se chegar ao 90º dos 250 quilômetros de canalização prometida. No ritmo atual poderá ser inaugurada em mais 48 anos. Talvez, no Natal de 2.066.

José Casado, jornalista - O Globo

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Projeto Nordeste

O previsível projeto do governo Bolsonaro de investir no nordeste, reduto político que restou ao PT, região em que o candidato Fernando Haddad recebeu 51% dos votos nas recentes eleições presidenciais, depende tanto ou mais da descentralização das verbas federais, quanto da Bolsa-Família ou de obras de infraestrutura como a transposição do rio São Francisco ou a Transnordestina, que o General Augusto Heleno, futuro chefe do Gabinete Civil, citou como exemplos.

O economista Winston Frischt, ex-secretário de Política Econômica no governo Itamar e colaborador do Plano Real, um estudioso da questão, destaca que o controle das regiões mais pobres do país pelo governo da vez é uma prática que vem do Império e continuou com a República até os dias de hoje. Mas não há dúvida de que, além da centralização das verbas, o programa Bolsa-Família solidificou o domínio político petista na região, onde um em cada três domicílios recebe recursos do Bolsa Família, de acordo com o PNAD. Dos 18,3 milhões de domicílios da região, mais de 6 milhões recebem o benefício, o que corresponde a 31% da população. Nas outras regiões, essa proporção é bem menor: Centro-Oeste (9,2%), Sudeste (6,9%) e Sul (5,4%). O resultado é que Jair Bolsonaro venceu em 17 Estados, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e na maior parte da região Norte. Já o petista Fernando Haddad ganhou em 8 dos 9 Estados do Nordeste e no Pará, no Norte.

A vantagem de Bolsonaro no Sul, de mais de 600 mil votos, praticamente neutralizou a de Haddad no Nordeste, por volta de 700 mil votos. Mas, para o economista Winston Frischt, não é preciso controlar o Bolsa-Família para controlar politicamente o Nordeste.  Ele destaca que desde a Primeira Republica a região é controlada, especialmente via suas elites políticas, por verbas federais em sua totalidade. O mapa da eleição do fim de cada era de governos muito impopulares, como o dos militares e os dos últimos anos, é o mesmo: a ARENA e o PT levaram o Nordeste, mas perderam os estados mais desenvolvidos e os principais centros urbanos do país.

Segundo Winston Frischt, o controle centralizado das partes mais remotas do território brasileiro vem, de fato, do Império e na República o processo foi remontado politicamente na virada do século passado: “Um acordo com base federativa, pois as bancadas eram essencialmente “de estado”, onde o toma lá dá cá garantia a estabilidade”.  O esquema foi reconstruído, segundo Winston Frischt, de forma estável, mas manu militari, pelas ditaduras de 37-45 e 64-85. A ditadura de 64 centralizou de novo e brutalmente os recursos financeiros públicos na esfera federal, mas, a partir da eleição de 74, a ARENA perde o Sudeste-Sul, acabando como regime dominante apenas nos grotões do país.

No regime de 1988, durante os governos “estáveis” do PSDB, o modelo que Winston Frischt chama de “parlamentarismo de coalizão/cooptação” foi usado com base em partidos/bancadas, onde as elites locais dos estados menos desenvolvidos disputavam verbas ou empresas públicas.  No período do PT, ressalta Frischt, o “parlamentarismo de corrupção” mudou o jogo, comprando partidos no atacado. O mapa das eleições onde o PT é vitorioso demonstra isso. Alckmin, Serra e Aécio ganham de Lula e Dilma no Sul, SP e Centro-Oeste, mas levam surras nos lugares mais pobres.

O Nordeste, analisa Winston Frischt, tem peso demográfico e, portanto, eleitoral, ao contrário do Centro-Oeste e o Norte, e parte importante das elites ainda controla os eleitores, especialmente no interior dos estados. Frischt acredita, porém, que a dinâmica futura deste modelo está condenada, pois o Nordeste tende a perder peso demográfico com o deslocamento da fronteira agrícola. Sobretudo, as elites atrasadas perdem capacidade de entregar voto com a urbanização avassaladora no Brasil, com o crescimento do voto corporativo-religioso e com o novo mundo da competição política, com o crescimento da comunicação de baixo custo via redes de internet.

O crescimento de Bolsonaro nos centros urbanos do nordeste é sinal disso, diz ele, para concluir: “Se o novo governo realmente descentralizar políticas e verbas públicas, e concluir a privatização inacabada, e a reforma política criar cláusulas de barreira e voto distrital, esta distorção centenária da democracia brasileira será ferida de morte”.

Merval Pereira, jornalista - O Globo

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Só o Lula já inaugurou três vezes a Transnordestina – o demiurgo é tão cínico que na última inauguração os vagões ferroviários foram levados para o local da inauguração em carretas rodoviárias



TCU suspende repasses para ferrovia Transnordestina
Corte proíbe desembolsos da Valec e BNDES em favor da empresa, que acumula dívida bruta de 35,3 bilhões de reais

O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a paralisação imediata de desembolsos de recursos públicos para bancar as obras da ferrovia Transnordestina, um dos projetos de infraestrutura mais atrasados do país.  Em decisão cautelar tomada na quarta-feira, o ministro-relator Walton Alencar Rodrigues determinou que a estatal Valec e o BNDES paralisem imediatamente qualquer tipo de repasse financeiro para a ferrovia. A decisão também impede desembolsos por meio do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE).

[a Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco foram inventadas por Lula e Ciro Gomes apenas  para serem utilizadas como fonte de recursos públicos para serem desviados = roubo = corrupção.]

Ao embasar sua decisão, Rodrigues lembrou que, em audiência pública na Câmara, o diretor-presidente da Valec, Mario Rodrigues Júnior, esclareceu que, até dezembro do ano passado, já haviam sido aportados cerca de 6,14 bilhões de reais na Transnordestina, e que a Valec teria sido obrigada pelo governo a aportar mais recursos em 2016, mesmo sem que a empresa tivesse recursos suficientes para a execução das obras públicas sob sua responsabilidade, como a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, e até sem estudo de viabilidade. "Eis a irresponsabilidade com que a matéria vinha sendo tratada pelo poder executivo", declarou o ministro-relator, em sua medida cautelar.

Na terça-feira, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes anunciou que vai deixar a presidência da Transnordestina, empresa subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) responsável pelas obras da ferrovia no Nordeste. Ele estava no cargo desde fevereiro do ano passado e tinha aceitado o comando da empresa com a promessa de dar um jeito nas obras da Transnordestina.

Sem os repasses do governo, a situação do projeto se complica de vez, já que a empresa acumula uma dívida bruta de 35,3 bilhões de reais. No início do mês, Paulo Caffarelli, diretor executivo da CSN, disse que projeto da Transnordestina corria o risco de ser paralisado. Caffarelli declarou que esse projeto, para avançar, não depende do grupo, mas do governo.  Obra orçada inicialmente em 7,5 bilhões de reais, a ferrovia foi lançada em 2006 deveria ter sido entregue em 2010. Dez anos depois, não tem mais data para ser entregue.

Fonte: Veja - Estadão