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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Putin, ex-KGB, é o típico comunista - Gazeta do Povo

 

 Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Muito me espanta alguns "conservadores" ocidentais alimentarem uma visão de que Putin representaria uma espécie de defensor da família e dos bons costumes contra os globalistas woke. [o que motiva os conservadores ocidentais a terem uma visão favorável de Putin, não é o que Putin foi, e muito provavelmente continua sendo ou, se necessário, voltará a ser e sim  o 'lixo' que a esquerda ou os globalistas woke oferecem/representam.
A motivação dos conservadores, ao que pensamos. é o entendimento de ser preferível estar ao lado de uma serpente, cujo potencial danoso é conhecido, do que ao lado de demônios posando de anjos = melhor enfrentar belzebu, sem disfarces do que posando de ] m cuja capadi,  A continua
Putin é um mafioso, um psicopata assassino e, acima de tudo, um comunista vingativo. 
Ele considerou, não custa lembrar, a maior tragédia da geopolítica o debacle da União Soviética. 
Um sujeito que era diretor internacional da KGB aos 32 anos não pode ser flor que se cheire...
 
Putin foi criado politicamente por alguns poucos oligarcas muito poderosos e ligados a Yeltsin. Poucos meses depois de sua ascensão ao poder, dois deles, Berezovsky e Gusisnky, não por acaso os dois que comandavam veículos importantes de imprensa, foram perseguidos e destruídos
Putin foi desde então concentrando mais e mais poder no Kremlin, distribuindo ativos que expropriava dos velhos oligarcas aos seus aliados fiéis, e se estabelecendo definitivamente como um novo czar ou líder soviético. [com  sinceridade, alguém acha que se o atual presidente do Brasil tivesse um centésimo da inteligência ou da capacidade - esta no sentido de habilidade de articulação - do Putin,  faria  diferente? Certamente seria pior, mais vingativo, basta ver suas intenções de vingança contra Sérgio Moro.]
 
Em uma "entrevista" feita para soar um bom moço, Putin foi perguntado se era capaz de perdoar. Ele disse que sim, com carinha de fofo, mas logo depois acrescentou: "não tudo". O entrevistador perguntou então o que ele não perdoaria, e ele logo rebateu: "traição".  
É nesse contexto que podemos compreender a imensa quantidade de mortes suspeitas de gente que ousou desafiá-lo ou criticá-lo com muita veemência. O caso mais recente é do líder do grupo Wagner.

Bill Burns, o diretor da CIA, refletiu recentemente sobre o destino que poderia aguardar Ievgeni Prigozhin, o líder mercenário que organizou um motim de curta duração na Rússia, em junho. Vladimir Putin, o presidente da Rússia, “pensa que a vingança é um prato que se come frio”, disse ele. “Na minha experiência, Putin é o apóstolo definitivo da vingança, então ficaria surpreso se Prigozhin escapasse de represálias”. No dia 23 de agosto, precisamente dois meses depois desse motim, o jato de Prigozhin despencou. Não é preciso ser um diretor da CIA para prever esse tipo de coisa...

Tampouco dá para compreender como uma revista como a The Economist diz que essa morte consolida o poder de Putin e faz a Rússia virar um estado mafioso. 
Oi? Consolida ainda mais o poder de um tirano absolutista? 
Transforma a Rússia num estado mafioso? 
E o que era antes: uma democracia republicana, por acaso? 
Quem acompanha as notícias russas há anos sabe que tal diagnóstico é velho. Não há qualquer novidade aqui; apenas mais uma vítima, entre tantas.
 
Comunistas agem assim mesmo, desde sempre. Tudo pelo poder, e quem ousa ficar no caminho acaba censurado, humilhado em julgamentos teatrais e falsos, preso ou morto
Deve ser horrível viver num país sob comunistas, onde aviões com figuras importantes caem com frequência ou ex-aliados do governo aparecem mortos em causas estranhas. 
Deve ser terrível viver num país em que a democracia é de fachada e o estado opera para proteger bandidos. 
Deve ser um pesadelo viver num país sob o comando de um comunista vingativo, não é mesmo? [a autoridade máxima do Poder Executivo brasileiro é indiscutivelmente vingativo, rancoroso e elogia o comunismo]

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo 

 

domingo, 6 de março de 2022

Putin, a Mãe Rússia e o Ocidente - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Os russos permitiram a concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Rússia um país temido novamente 

Vladimir Putin, presidente da Rússia | Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock
Vladimir Putin, presidente da Rússia -  Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock 
 
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo se voltou para Vladimir Putin, aquele que comanda com mão de ferro o país desde 1999. Todos querem entender a cabeça daquele que ameaça levar o mundo a uma guerra nuclear. 
Será que ele está blefando? 
Seria Putin capaz de apertar o botão vermelho? 
Como as sanções econômicas impostas pelo Ocidente podem frear as pretensões imperialistas da Rússia? 
Putin é comunista ou nacionalista? E por aí vai.

Naturalmente, a psicologia de alguém como Putin é algo complexo. Sabemos de seu passado, do fato de que seu avô foi cozinheiro de Lenin e também de Stalin, que seu pai, um operário, foi ferido na Segunda Guerra Mundial, que ele foi agente secreto na KGB, e que considerou o debacle da União Soviética uma “catástrofe geopolítica”. Ou seja, seus laços com o imperialismo soviético são evidentes. Mas Putin também é um nacionalista, e em muitos aspectos se parece com um novo czar, lutando para resgatar a grandeza da “Mãe Rússia”. É aqui que atrai, além de comunistas, reacionários.

O Ocidente está em crise de identidade, submetido ao globalismo de elites “progressistas”, materialistas e cosmopolitas
Os conservadores estão absolutamente certos quando apontam para a doença. 
Erra na receita, porém, quem acha que alguém como Putin pode ser parte da resposta. 
Basta conhecer um pouco do perfil do autocrata russo para compreender que ele está longe de ser a solução para as mazelas ocidentais. 
Ao contrário: a civilização ocidental precisa ser defendida justamente por representar valores que alguém como Putin, no fundo, repudia com veemência.

Putin nunca demonstrou qualquer apreço pelas instituições democráticas. Se o império das leis é um dos pilares mais importantes no Ocidente, ainda que em crise pelo abuso de poder arbitrário de hoje sob o pretexto da ciência, Putin simboliza seu oposto, a concentração de poder num só indivíduo, que tudo pode. Ele assumiu o poder quando havia um vácuo deixado pela crise de 1998 e a liderança frágil do bêbado Yeltsin. Oligarcas sem escrúpulos que conquistaram muito dinheiro e poder após a queda do regime soviético ajudaram a criar Putin como político, e logo em seguida o ex-espião destruiu um a um de seus “criadores”.

No livro The Oligarchs, de David Hoffman, essa história é contada em detalhes. É preciso entender que Yeltsin colocou alguns liberais no comando da economia, mas faltavam à Rússia instituições básicas para o funcionamento do livre mercado. O que tivemos em seu lugar foi uma “lei da selva”, um “vale-tudo” em que os tais oligarcas exploraram com maestria à custa do povo. Quando veio a crise, ela foi associada de maneira equivocada ao capitalismo. E foi nesse contexto que Putin chegou ao poder. Sim, ele foi pragmático para não matar a galinha dos ovos de ouro. Mas ele jamais depositou esperança no mecanismo de mercado para levar prosperidade aos russos.

Não se tratava, portanto, de um modelo de meritocracia, e sim um de conexões. Após utilizar os oligarcas para sua ascensão, Putin percebeu que era arriscado demais depender deles, e por isso passou a perseguir cada um deles. O dono da Yukos, Khodorkowsky, então o homem mais rico do mundo emergente, foi preso e esmagado como uma barata em poucas semanas. Os dois barões da mídia tiveram de fugir. O recado era claro: ou se submetia ao conceito de tirania de um homem só ou seria destruído. Putin não se importava com a riqueza desses oligarcas, desde que isso não significasse poder político. Esse seria todo dele, apenas dele.

O capitalismo russo floresceu sem qualquer transparência, por meio de propinas, tudo feito às sombras, com conexões e influência, com golpes escancarados, sem qualquer instituição sólida para proteger a propriedade privada. O liberal Yegor Gaidar, reformista convocado por Yeltsin, temia justamente isso: que os russos fossem se sentir traídos pelo capitalismo. Eu estive num jantar com Gaidar, um admirador de Hayek, e ele parecia alguém sem interesses materiais. Era alguém que realmente acreditava num caminho alternativo para a Rússia, similar ao traçado pelo Ocidente. Na era Putin, figuras como Gaidar não tinham qualquer espaço no governo.

Putin claramente desprezava os oligarcas que só pensavam em enriquecer por meio de esquemas fraudulentos e, eventualmente, mandar o dinheiro para fora do país. Os reformistas liberais tentaram oferecer o máximo de liberdade antes de criar regras claras do jogo, e no vácuo dessas regras vieram forças caóticas do mal, como charlatães, brutamontes, gangues criminosas, políticos corruptos, burocratas espertos, mafiosos etc. Foi nesse ambiente que o ex-espião da KGB concentrou boa parte do poder político. A Rússia nunca desenvolveu qualquer respeito pelo império das leis, pelo estado de direito.

Vale notar que Putin foi catapultado ao papel de líder logo no começo de sua gestão como primeiro-ministro, quando uma série de bombas aterrorizaram Moscou. Os supostos terroristas nunca foram encontrados, o que alimentava a suspeita de se tratar de um trabalho interno do serviço secreto russo, ligado a Putin. O prefeito Luzhkov, seu adversário político, teve sua imagem muito desgastada, enquanto Putin culpou os chechenos e lançou uma ofensiva militar em larga escala, fazendo sua taxa de aprovação disparar.

Ninguém conhecia direito o pensamento político de Putin, ou o que ele fizera na KGB. Os próprios oligarcas ainda o encaravam como uma marionete em suas mãos. Mas, após os anos de fraqueza de Yeltsin, os russos pareciam apreciar o estilo firme de Putin, e muitos compartilhavam de seu ódio pelos chechenos. Mesmo os “liberais”, cansados do caos econômico, pediam que Putin fosse o “Pinochet russo”, acreditando que apenas uma ditadura política poderia viabilizar as reformas econômicas de mercado. Putin soube usar isso a seu favor.

Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país

Fechado, discreto, sisudo, Putin nunca participara de competições políticas reais, apenas de jogos de bastidores. Ele era extremamente disciplinado, inclusive a ponto de não demonstrar muita ambição no começo e sinalizar lealdade àqueles que o alçaram ao poder. Ele temia a imprensa, em especial a televisão, e por isso seus primeiros alvos foram os oligarcas da mídia. A censura foi imposta durante a guerra, e nunca mais abandonou a Rússia. Putin não queria destruir o sistema, apenas controlá-lo. Ao destruir Gusinsky e Berezovsky, os dois barões da mídia, o caminho ficou livre para o restante do trabalho.

O caso envolvendo Berezovsky, seu principal “criador”, merece maior atenção. Berezovsky passou a discordar de Putin sobre a guerra na Chechênia, e cometeu o erro de externar sua opinião em público. Putin não tolera isso. Berezovsky chegou a enviar uma carta a Putin alertando para seus erros ao escalar o conflito, impor sua vontade aos governadores e tentar controlar a mídia. Mas o magnata não tinha chance nessa batalha, e acabou vendendo seu canal de TV para Roman Abramovich, aliado de Putin, e fugiu do país.

Como coloca Lilia Shevtsova em Putin’s Russia, o desejo avassalador entre a classe política e os russos em geral era que Putin se mostrasse um líder que poderia trazer ordem ao caos de Yeltsin e acabar com a imprevisibilidade do Kremlin. Ao apostar nisso, porém, os russos permitiram a quase absoluta concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Mãe Rússia um país respeitado e temido novamente.

Enquanto o preço do petróleo continuar alto, Putin tem pouco a temer. Não é possível negar que ele conta com apoio popular. Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país. Muitos são inclusive nostálgicos dos tempos soviéticos, apesar de tudo, apenas por conta do papel geopolítico exercido pela Rússia. Não é uma nova dacha para as férias ou trocar de iPhone todo ano que os move, e sim um sentimento coletivista de pertencer a algo maior.

A economia russa é pequena, quase do tamanho do Estado da Flórida. Mas os russos que apoiam Putin estão preocupados com outras coisas. É um grave equívoco medir Putin pela régua “progressista” ocidental. Trata-se de um autocrata nacionalista obstinado, capaz de tudo para atingir seus fins, e que não vai descansar enquanto a Rússia não for, novamente, um adversário à altura do decadente Ocidente. Aqueles que acreditam que ele pode ser um bom substituto do Ocidente, porém, estão redondamente enganados. Putin é a antítese de tudo que a civilização ocidental representa.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste