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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

A AUTOPROCLAMADA CORAGEM DO STF - Percival Puggina

Ao longo do último ano esta Suprema Corte e o Poder Judiciário como um todo também enfrentaram ameaças retóricas, que foram combatidas com a união e a coesão dos ministros; e ameaças reais, enfrentadas com posições firmes e decisões corajosas desta Corte. (Ministro Luiz Fux no encerramento do ano

Pus-me a pensar sobre o que faz a virtude cardeal da Coragem nesse discurso. Não existe coragem, onde não existe o medo. Entre outras características, o ato corajoso representa, necessariamente, uma vitória sobre o medo.  Segundo Aristóteles, o ato de coragem envolve a aplicação da razão, a busca do bem e a disposição de superar o perigo presente na ação.

Tão nobre virtude, faz lembrar, isto sim, a professora Heley Abreu Batista, que em 5 de outubro de 2017 morreu queimada ao salvar as crianças de uma creche em chamas no município mineiro de Janaúba. Coragem teve o sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que em agosto de 1977 pulou para a morte ao salvar um menino que caíra no poço das ariranhas. Coragem demonstraram os jovens que correram para a própria tragédia ao entrarem na boate Kiss em chamas para resgatar amigos que lá estavam caídos, pisoteados pelos que conseguiam escapar. Coragem tiveram todos os europeus que esconderam ou deram fuga a judeus na Europa tomada pelos nazistas. Coragem teve o padre Kolbe (São Maximiliano Kolbe), que se ofereceu para morrer por um chefe de família no campo de concentração de Auschwitz. E por aí segue um livro de muitas e nobres páginas.

Não vejo onde inscrever nelas os acontecimentos de 2021 no âmbito do STF. Não vejo coragem – e menos ainda motivos para coragem autoatribuída – por parte e arte de quem libertou corruptos e os devolveu à política nacional, efetuou insólitas prisões políticas, fechou meios de comunicação, inspirou medo, impôs censura, reivindicou para si mesmo uma fé religiosa e inibiu liberdades.

Que espécie de medo terá sido superado por quem assim procedeu? Em que dobras desse tempo se ocultaram a razão e o bem?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Morte de sargento que salvou menino no Zoo completou ontem 40 anos

Família de Sílvio Holenbach guarda com orgulho as memórias do ato heroico do militar, que salvou Adilson Florêncio da Costa de um ataque de ariranhas

Brasília vivia, há 40 anos, o choque pela morte do sargento do Exército Sílvio Delmar Holenbach, então com 33 anos. Após três dias de agonia no Hospital das Forças Armadas (HFA), o militar não resistiu às mais de 100 mordidas que levou das ariranhas do zoológico da cidade e morreu em 30 de agosto de 1977. Os animais o atacaram enquanto ele tentava salvar o menino Adilson Florêncio da Costa, à época com 13 anos. O ato de bravura comoveu a capital e, até hoje, envolve lembranças ainda vivas na memória dos brasilienses.
Destino é a palavra que o primogênito do herói, o médico Sílvio Delmar Holenbach Júnior, 47 anos, usa para explicar o incidente. “Minha mãe conta que ele andava prevendo algo ruim dias antes da morte”, revela. Segundo Holenbach Júnior, o pai comentava sobre não parar de trabalhar no HFA, onde servia. Ironicamente, trata-se do mesmo hospital onde o militar faleceu. Cético, mas nem tanto, Holenbach Júnior recorre a um ditado para dizer o que pensa dessa coincidência:  “Não creio em bruxas, pero que las hay, las hay”.

Coincidências à parte, a família Holenbach cresceu depois da tragédia. Os quatro filhos do sargento com a gaúcha Eni Teresinha já contam a história do ato de bravura aos cinco netos do avô herói. A história ultrapassou gerações em Brasília e, por isso, o médico que leva o nome do pai recebe palavras de reconhecimento dos pacientes. “Crescemos todos com o exemplo de heroísmo, coragem e honestidade”, orgulha-se Holenbach Júnior. 
 
Enquanto a família Holenbach guarda o exemplo do ato de bravura, o destino do menino cuja vida se deve a Sílvio Delmar tomou um caminho triste. Adilson Florêncio da Costa, hoje com 43 anos, foi preso no ano passado pela Polícia Federal acusado de corrupção na Operação Recomeço. Ele responde por desvios no fundo de pensão Postalis, dos Correios, onde ele era diretor financeiro.

Adilson Florêncio foi diretor do fundo de pensão Postalis. Hoje, o homem salvo por Silvio responde por corrupção
 
No entanto, a família Holenbach não duvida que Sílvio ajudaria o menino novamente, mesmo se soubesse do destino de Adilson. “Não importa quem seria. Ele viu uma criança precisando de ajuda e se esforçou para ajudá-la”, afirma Holenbach Júnior. Adilson e a família do homem que salvou sua vida nunca se encontraram.
 
A comoção pela morte de Sílvio Delmar Holenbach rendeu páginas de cobertura do Correio Braziliense no fim de agosto de 1977. Em relato ao jornal, o sargento, ainda com vida, contou que já estava no carro, pronto para voltar para casa, quando viu Adilson cair no poço das ariranhas. “Parei o carro sem atender ao apelo da minha esposa, que pedia para eu ficar, e entrei no tanque das ariranhas. Eu não podia deixar uma criança ser devorada sem fazer nada”, relatou.
 
 
O Correio também registrou a última fotografia de Holenbach com vida, de autoria do fotojornalista Tadashi Nagakomi. A imagem estampou a capa do jornal em 28 de agosto de 1977, no dia seguinte à tragédia, e circulou por outros veículos de comunicação do Brasil como as revistas O Cruzeiro e Manchete. O profissional morreu em 1988, vítima de um acidente de trânsito.

Ariranhas
O ataque ao sargento Sílvio Delmar Holenbach deu às ariranhas o injusto título de espécie perigosa. De fato, o mamífero, que é parente das lontras, ataca quando se sente ameaçado. Recomenda-se não chegar perto das tocas onde o bicho vive em épocas de reprodução, como a maioria dos outros animais da fauna brasileira.

Entretanto, zoólogos reconhecem a ariranha como um animal dócil e que geralmente teme seres humanos. O tanque com espécimes do mamífero continua um dos mais visitados do Jardim Zoológico de Brasília. Na frente do recinto, uma placa relata a história de Silvio e Adilson e explica sobre os hábitos de vida da espécie. De acordo com o Zoo, 68 ariranhas nasceram no local desde 1975, ano em que elas estrearam no local.

 
 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Garoto resgatado do fosso das ariranhas no zoo do DF em 77 é preso pela PF - o herói, que faleceu em virtude dos ferimentos, foi o sargento Silvio Delmar Hollembach.

Quase 40 anos depois do caso que comoveu a capital, Adilson Florêncio da Costa, ex-diretor da Postalis, acabou detido nesta sexta-feira. Ele é acusado de integrar esquema que desviou R$ 90 milhões da empresa

Uma das histórias mais famosas e tristes de Brasília ficou ainda mais intensa nesta sexta-feira (24/6). Adilson Florêncio da Costa, o jovem que, em 1977, aos 13 anos, caiu no fosso das ariranhas do Zoológico de Brasília, sendo salvo pelo sargento do Exército Brasileiro Sílvio Delmar Holenbach, foi preso em Brasília pela Polícia Federal, na Operação Recomeço

 Ele é acusado de integrar um esquema que desviou R$ 90 milhões da Postalis e da Petros, os fundos de pensão dos funcionários dos Correios e da Petrobras, respectivamente. Adilson é ex-diretor financeiro da Postalis.

Em 27 de agosto de 1977, Adilson caiu no fosso das ariranhas. Para resgatar o menino, o sargento Sílvio Delmar Holenbach pulou na jaula, conseguiu retirar o menino, mas morreu, já no hospital, em decorrência dos ferimentos causados pelo ataque dos animais.

Uma placa homenageando o militar foi instalada no zoológico, onde permanece até hoje.
[O autor deste POST estava lá. Naquele dia passeava no Jardim Zoológico, mas em um local distante do acidente do local do acidente.]

Relembre
O Correio acompanhou o caso à época. Dois dias após o acidente, Adilson contou que "estava brincando no alambrado" quando "foi puxado por uma ariranha". "Quando caí, os outros animais correram todos para onde eu estava e começaram a me devorar. Depois não me lembro bem, mas sei que entrou uma pessoa, atraiu a atenção das ariranhas e elas me deixaram em paz."

Já o sargento, antes de morrer, explicou que passava de carro com a esposa e os quatro filhos quando ouviu os gritos do garoto. "Parei o carro sem atender o apelo da minha esposa que pedia para eu ficar e entrei no tanque das ariranhas", disse. "Eu não podia deixar uma criança ser devorada sem fazer nada."


Para saber mais, clique aqui
 

Fonte: Correio Braziliense