Família de Sílvio Holenbach guarda com orgulho as memórias do ato heroico do militar, que salvou Adilson Florêncio da Costa de um ataque de ariranhas
Brasília vivia, há 40 anos, o choque pela morte do sargento do
Exército Sílvio Delmar Holenbach, então com 33 anos. Após três dias de
agonia no Hospital das Forças Armadas (HFA), o militar não resistiu às
mais de 100 mordidas que levou das ariranhas do zoológico da cidade e
morreu em 30 de agosto de 1977. Os animais o atacaram enquanto ele
tentava salvar o menino Adilson Florêncio da Costa, à época com 13 anos.
O ato de bravura comoveu a capital e, até hoje, envolve lembranças
ainda vivas na memória dos brasilienses.
Destino
é a palavra que o primogênito do herói, o médico Sílvio Delmar
Holenbach Júnior, 47 anos, usa para explicar o incidente. “Minha mãe
conta que ele andava prevendo algo ruim dias antes da morte”, revela.
Segundo Holenbach Júnior, o pai comentava sobre não parar de trabalhar
no HFA, onde servia. Ironicamente, trata-se do mesmo hospital onde o
militar faleceu. Cético, mas nem tanto, Holenbach Júnior recorre a um
ditado para dizer o que pensa dessa coincidência: “Não creio em bruxas,
pero que las hay, las hay”.
Coincidências à
parte, a família Holenbach cresceu depois da tragédia. Os quatro filhos
do sargento com a gaúcha Eni Teresinha já contam a história do ato de
bravura aos cinco netos do avô herói. A história ultrapassou gerações em
Brasília e, por isso, o médico que leva o nome do pai recebe palavras
de reconhecimento dos pacientes. “Crescemos todos com o exemplo de
heroísmo, coragem e honestidade”, orgulha-se Holenbach Júnior.
Enquanto a família Holenbach guarda o exemplo do ato de bravura, o
destino do menino cuja vida se deve a Sílvio Delmar tomou um caminho
triste. Adilson Florêncio da Costa, hoje com 43 anos, foi preso no ano
passado pela Polícia Federal acusado de corrupção na Operação Recomeço.
Ele responde por desvios no fundo de pensão Postalis, dos Correios, onde
ele era diretor financeiro.
Adilson Florêncio foi diretor do fundo de pensão Postalis. Hoje, o homem salvo por Silvio responde por corrupção
No entanto, a
família Holenbach não duvida que Sílvio ajudaria o menino novamente,
mesmo se soubesse do destino de Adilson. “Não importa quem seria. Ele
viu uma criança precisando de ajuda e se esforçou para ajudá-la”, afirma
Holenbach Júnior. Adilson e a família do homem que salvou sua vida
nunca se encontraram.
A comoção pela morte de Sílvio Delmar Holenbach rendeu páginas de cobertura do Correio Braziliense no
fim de agosto de 1977. Em relato ao jornal, o sargento, ainda com vida,
contou que já estava no carro, pronto para voltar para casa, quando viu
Adilson cair no poço das ariranhas. “Parei o carro sem atender ao apelo
da minha esposa, que pedia para eu ficar, e entrei no tanque das
ariranhas. Eu não podia deixar uma criança ser devorada sem fazer nada”,
relatou.
O Correio também registrou a última fotografia de
Holenbach com vida, de autoria do fotojornalista Tadashi Nagakomi. A
imagem estampou a capa do jornal em 28 de agosto de 1977, no dia
seguinte à tragédia, e circulou por outros veículos de comunicação do
Brasil como as revistas O Cruzeiro e Manchete. O profissional morreu em 1988, vítima de um acidente de trânsito.
Ariranhas
O
ataque ao sargento Sílvio Delmar Holenbach deu às ariranhas o injusto
título de espécie perigosa. De fato, o mamífero, que é parente das
lontras, ataca quando se sente ameaçado. Recomenda-se não chegar perto
das tocas onde o bicho vive em épocas de reprodução, como a maioria dos
outros animais da fauna brasileira.
Entretanto,
zoólogos reconhecem a ariranha como um animal dócil e que geralmente
teme seres humanos. O tanque com espécimes do mamífero continua um dos
mais visitados do Jardim Zoológico de Brasília. Na frente do recinto,
uma placa relata a história de Silvio e Adilson e explica sobre os
hábitos de vida da espécie. De acordo com o Zoo, 68 ariranhas nasceram
no local desde 1975, ano em que elas estrearam no local.
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