Imprensa sofre bloqueio psicológico e se alia a Renan Calheiros
A mídia passou da oposição a
Bolsonaro ao ódio gramatical, como descrito no dicionário, e do ódio a
um estado de permanente excitação nervosa
Tudo bem: a “CPI da Covid”, como se autonomeou a aglomeração de aproveitadores formada no bas fond
do Senado Federal com a finalidade oficial de “apurar” o que houve de
errado na administração da epidemia no Brasil, vai resultar, para
qualquer efeito prático, no equivalente a três vezes zero. Como poderia
ser diferente? Fez parte da mais legítima natureza dessa gangue
política, composta por muito do que existe de pior na política nacional,
agir, antes mesmo da sua primeira reunião, exatamente ao contrário do
que pretendem ser tais “comissões” — pelo menos segundo o que está dito
na lei. Para não tornar a conversa mais demorada do que que é preciso:
pode haver uma comissão, formada por parlamentares, mas não há, nunca houve e nem vai haver inquérito nenhum.
Desde o primeiro minuto do que eles
chamam de “trabalhos”, a “CPI da Covid” não fez inquérito sobre nada.
Não foram investigadas quaisquer suspeitas sérias. Os inquisidores não
foram capazes de demonstrar, ao longo dos interrogatórios feitos até
agora, aquele mínimo de qualidade técnica que se exige da mais modesta
delegacia de polícia do interior na condução de um inquérito. Não houve a
procura, o processamento e o exame de fatos. Não houve, por parte dos senadores
empenhados na acusação, o mais remoto sucesso, ou esforço, em comprovar
alguma coisa, nem mal e mal, de tudo o que estão dizendo — até agora, a
sua atividade vem se resumindo a exibir aos gritos uma suspeita e,
depois, ficar repetindo os gritos que deram. Não houve, em suma, o menor
talento em nada do que se fez. Sobrou apenas uma pasta de latidos sem
coerência, sem direção e sem objeto determinado — uma operação amadora,
incompetente e mal-intencionada.
Faz ruído entre os políticos e o
mundinho que gira em seu redor, mas não leva a nada.
Não vai se
descobrir, não com o mínimo de provas que é necessário, absolutamente
coisa nenhuma. Nenhum crime vai ser revelado — nem os crimes
imaginários, pela simples razão de que não existem, nem os crimes reais,
pela razão ainda melhor de que os senadores armaram essa farsa
justamente para impedir que fosse apurada qualquer parcela da
roubalheira maciça praticada em função da Covid-19
pelas “autoridades locais”. Nada vai mudar. Ninguém vai ser
responsabilizado. Ninguém vai perder o emprego. Punição de verdade,
então, nem pensar — como se vai punir o autor de um crime se não
conseguem mostrar o crime? No mundo dos fatos reais, enfim, a CPI está morta — mortinha da silva. Nem dentro do Congresso Nacional, do Congresso como ele é, a coisa existe mais.
O que chama atenção, nisso tudo, é
uma espécie de comorbidade que parece ter se desenvolvido entre os
diversos vírus em circulação dentro da CPI e o comportamento da maior
parte da mídia em relação a esse assunto. Falando francamente: parece que o cérebro da imprensa
realmente cozinhou, como resultado direto da sua oposição cada vez mais
incondicional contra o presidente da República e a tudo o que tenha
relação com o seu governo. Na ânsia de combater o que os
jornalistas parecem considerar a pior calamidade dos 500 anos de
história do Brasil, a mídia começa a fazer qualquer coisa, mas qualquer
coisa mesmo — inclusive aliar-se com alguém da categoria do senador
Renan Calheiros, o “Atleta” da lista de políticos comprados que a empreiteira Odebrecht guardava nos computadores do seu “Departamento de Operações Estruturadas”, ou de corrupção, em português corrente. Renan,
hoje, se reinventou como arquiduque da oposição nacional e faz a função
de inquisidor-chefe da CPI. Na mesma balada, a imprensa se entrega a
outro inimigo declarado do governo — o presidente da comissão —, um
senador investigado pela Polícia Federal por corrupção grossa na área da
saúde do Amazonas, por sinal um dos Estados que tem mais denúncias por
corrupção envolvendo Covid e “autoridades locais”. Não é mais política, nem é raciocínio. É um tipo de ideia fixa Os dois são hoje contra o governo —
é
tudo o que se precisa, no Brasil de 2021, para o sujeito virar herói da
mídia. Não houve, desde o começo da história, a mínima menção — não se
diga crítica, mas apenas uma menção de caráter informativo, só isso —
sobre os processos de corrupção que se amontoam sobre o senador Renan há
dez anos, tantos que nem os seus advogados saberiam dizer ao certo
quantos são. Nem um pio, também, sobre o homem do Amazonas. Ele e Renan
não são contra Bolsonaro? Então:
os jornalistas ligam o piloto automático que determina hoje tudo o que
escrevem ou falam, e eis aí os dois transformados em estadistas das
primeiras páginas e do horário nobre, investigadores destemidos que
fazem CPI, ameaçam um ex-ministro de prisão, como se fossem o guarda da
esquina, e insultam abertamente um outro que é general do Exército
brasileiro. A imprensa reproduz isso tudo como se Renan Calheiros e o
outro fossem os políticos mais sérios do mundo.
Registra-se como episódio normal,
também, que Renan quer contratar uma “agência de checagem” (ou de
verificação de notícias tidas como “falsas”) para “checar” os
depoimentos das pessoas que são interrogadas na “CPI” e para ajudar o
Congresso Nacional na tarefa de descobrir fatos vitais sobre a passagem
da Covid-19 pelo Brasil. Como assim? “Agência de checagem”? O Congresso
Nacional vai gastar mais de R$ 10 bilhões em 2021; tem todo o tipo de
serviços, recursos e pessoal para atender a qualquer exigência de
trabalho. Por que raios precisaria de uma “agência de checagem”, coisa
que não tem CNPJ próprio, nem endereço, nem composição, nem
personalidade jurídica definidos?
Imagina-se que a Polícia Federal,
as 27 polícias estaduais e mais o resto da máquina oficial tenham
condições de levantar qualquer informação dentro ou fora do Brasil — ou
só as “agências de checagem”, grupos de militantes que denunciam como
“falsas” meramente as notícias das quais não gostam, conseguem descobrir
a verdade? (Não se sabe, obviamente, quanto poderia custar, em reais,
esse tal contrato; as “agências de checagem” não vão checar.)
Na verdade, há um fato que está muito
claro em tudo isso. A mídia passou da oposição a Jair Bolsonaro ao ódio
gramatical, como descrito no dicionário, e do ódio a um estado de
permanente excitação nervosa. Quando aparece uma “CPI” como essa, um
número surpreendente de jornalistas coloca para fora, à vista de todos, o
que parece ser uma coleção obscura de anseios — o de agente de polícia,
em primeiro lugar. Aparentemente, os circuitos mentais da maioria das
pessoas que trabalham na imprensa, mesmo as que não tratam de política,
não estão funcionando mais de maneira normal.
Assim que os nomes
“Jair” e “Bolsonaro” são transmitidos aos seus cérebros, o raciocínio
lógico trava no ato — e, aí, pessoas que são perfeitamente capazes de
pensar com coerência, trocar ideias de maneira construtiva e entender
que há mais de um ponto de vista sobre as coisas, entram numa espécie de
bloqueio psicológico e, subitamente, só são capazes de pensar
“naquilo”. Não é mais política, nem é raciocínio. É um tipo de ideia fixa. Os analistas teriam um bocado de coisas a dizer sobre isso.
J.R. Guzzo, colunista - Jovem Pan