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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Quem pode escapar? - Gazeta do Povo

 Luis Ernesto Lacombe

Liberdade, pisque mais lentamente e você pode perdê-la. Mesmo que tenha lutado por ela todos os dias e todos os momentos da sua vida, como deve ser. Não é questão de esmorecer, desanimar; basta uma breve distração, um engasgar do senso crítico, o ouvido erroneamente voltado a enganadores, cheios de artimanhas e tentáculos, e lá se vai a liberdade.

A censura se reproduz rapidamente. Cada vez, mais rapidamente. Nas redes sociais, no Supremo Tribunal Federal, no Tribunal Superior Eleitoral, na CPI da Covid, em grande parte da imprensa...  
Vem com desfaçatez, gritando que se impõe em defesa da democracia
Cancelam, banem, fecham, estrangulam, asfixiam, inventam inquéritos, prendem. 
E o olho que pisca, nesse caso, é aquele que assume, malandramente, a enganação, a mentira.

A censura se expande, não quer saber de independência, quer que dela dependam todos os atos, todas as opiniões, todas as palavras

É proibido pensar, opinar, se expressar, perguntar. É proibido ouvir especialistas, juristas, constitucionalistas, procuradores, advogados, médicos, cientistas que não sejam os alçados à condição de donos da verdade. Os obcecados pela militância política tomaram tudo. 
Definiram que o lado certo é o deles, mesmo sem ter exemplos no mundo, em qualquer época, do sucesso do que defendem.

Quanta interpretação fajuta, mal-intencionada, quantos atos agressivos, violentos disfarçados de virtude. A censura se expande, não quer saber de independência, quer que dela dependam todos os atos, todas as opiniões, todas as palavras. A turma está unida na ilegalidade, executa a receita totalitária, e ai de quem reclamar.

Não querem ruptura, mas rompem. Não querem divisão, mas dividem. Não querem estragos, mas rasgam, destroem. 
Querem três poderes, mas resumem-se a um só. 
Querem as leis que recriam, que interpretam à sua maneira. 
Flagrante continuado, eterno é o desrespeito ao estabelecido como base de qualquer democracia. Falar é o crime hediondo. 
Chefes de facções criminosas, políticos corruptos, juízes que se acham deuses, esses preferem agir. Melhor esquecer os atos.
 
Cadê a liberdade que estava aqui? Quem a tem arrastado das nossas vidas, mesmo que nossos olhos estejam bem abertos? 
Não são aqueles dos quais querem tirar a voz e que, quando falam, padecem sob interpretações tendenciosas, militantes. 
Não são eles que espancam a democracia, mas, sim, os que lideram e apoiam a censura, nessa guerra insana contra uma pessoa, um governo.
 
Todos nós estamos perdendo, não importa o nosso lado. A censura voltada a um grupo carrega todos os outros, mesmo que se engane quanto a isso quem agora se abraça à tirania e à opressão. 
A censura é como um vírus letal, que se multiplica rapidamente e contamina a Constituição, o Estado de Direito, a democracia, todas as formas de liberdade. Ninguém escapará.

 Luis Ernesto Lacombe, colunista - Gazeta do Povo - VOZES



segunda-feira, 1 de junho de 2020

O trunfo e a fragilidade - Alon Feuerwerker

Análise Política

O presidente da República opera a política de um jeito fixo, na ofensiva o tempo todo. Mais ainda agora quando entende que as instituições ensaiam cercá-lo. Para romper a tentativa de cerco ele mira no elo mais fraco, o desgaste delas junto à sociedade. E apoia-se na figura mais preservada da demolição institucional dos anos recentes: as Forças Armadas. Vai dar certo?
Depende também de como será executado. Mas é uma tentativa, sem dúvida.

Ganha a guerra não necessariamente quem tem mais recursos, ganha quem sabe empregá-los com mais eficiência. Algo que funciona é concentrar o fogo no ponto mais débil da linha de defesa adversária. Para um governo e um presidente acossados por subestimar o SARS-CoV-2 é ouro em pó ver introduzida a variável da corrupção nas iniciativas destinadas a enfrentar a pandemia. Jair Bolsonaro vem acumulando pontos na sacola. Livrou-se do festejado ministro da Saúde e do festejadíssimo ministro da Justiça. O custo de imagem foi baixo. O custo político foi próximo de zero. E decepou uma perna da resistência congressual quando dividiu o dito centrão e atraiu o presidente do Senado. O da Câmara dá sinais de entender a nova situação.

Quem tem o poder só perde a iniciativa por distração ou imperícia. Mas de vez em quando os súditos rompem a barreira do ponto crítico e passam a não mais suportar a dominação, se o custo de enfrentar o poder é menor que o de continuar passivo. As medições de popularidade nem sempre conseguem calcular isso. Muitas vezes o problema cresce silenciosamente. Você só percebe quando é tarde. Uma coisa que ajuda é olhar sempre para o ponto futuro, para onde caminham as tendências. A favor de quem opera a inércia. Se nada acontecer, acontece o quê? Se ninguém introduzir o fato novo relevante, no final dá em quê?

A inércia está em parte a favor do presidente. Os governadores, alguns disfarçando, organizam a reabertura das atividades econômicas mesmo na subida da Covid-19. Pois não há mais condições políticas de segurar, especialmente na população que ganha menos e na turma que depende das atividades informais. Só quem continua podendo ficar em casa são os de renda garantida. E os governadores e prefeitos têm um encontro marcado com o calendário eleitoral. Pode até atrasar umas semanas, mas vai acontecer. Mas a inércia também joga contra. O exercício do poder faz acumular descontentamentos, mágoas, ressentimentos, insatisfações. Em última instância é sempre o governo quem acaba organizando e engrossando a oposição. Acontece novamente agora na Praça dos Três Poderes.

Por enquanto, a dificuldade momentânea de os insatisfeitos juntarem-se todos contra ele ajuda Bolsonaro. O governo supõe que capturar um punhado de votos congressuais vai ser suficiente para neutralizar o cerco e a tentativa de aniquilamento. Ou que vai conseguir intimidar todos os potenciais inimigos o tempo todo, ou por tempo suficiente. 
Ou que as barreiras que separam os inimigos entre eles serão para sempre mais fortes que o desejo, de todos e de cada um, de se livrar de Sua Excelência. [o risco para os inimigos do presidente e também do Brasil é que todos são peçonhentos e todos não resistem a agir como escorpiões.
Já os aliados do presidente são leais, sinceros e mais numerosos se tornarão quando a pandemia for contida e a economia voltar a gerar riquezas e bem estar, A Turma do Mecanismo não vai aguentar.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política


Publicado originalmente na revista Veja 2.689, de 03 de junho de 2020