Luis Ernesto Lacombe
Liberdade, pisque mais lentamente e você pode perdê-la.
Mesmo que tenha lutado por ela todos os dias e todos os momentos da sua
vida, como deve ser. Não é questão de esmorecer, desanimar; basta uma
breve distração, um engasgar do senso crítico, o ouvido erroneamente
voltado a enganadores, cheios de artimanhas e tentáculos, e lá se vai a
liberdade.
Vem com desfaçatez, gritando que se
impõe em defesa da democracia.
Cancelam, banem, fecham, estrangulam,
asfixiam, inventam inquéritos, prendem.
E o olho que pisca, nesse caso, é
aquele que assume, malandramente, a enganação, a mentira.
A
censura se expande, não quer saber de independência, quer que dela
dependam todos os atos, todas as opiniões, todas as palavras
É
proibido pensar, opinar, se expressar, perguntar. É proibido ouvir
especialistas, juristas, constitucionalistas, procuradores, advogados,
médicos, cientistas que não sejam os alçados à condição de donos da
verdade. Os obcecados pela militância política tomaram tudo.
Definiram
que o lado certo é o deles, mesmo sem ter exemplos no mundo, em qualquer
época, do sucesso do que defendem.
Quanta
interpretação fajuta, mal-intencionada, quantos atos agressivos,
violentos disfarçados de virtude. A censura se expande, não quer saber
de independência, quer que dela dependam todos os atos, todas as
opiniões, todas as palavras. A turma está unida na ilegalidade, executa a
receita totalitária, e ai de quem reclamar.
Não
querem ruptura, mas rompem. Não querem divisão, mas dividem. Não querem
estragos, mas rasgam, destroem.
Querem três poderes, mas resumem-se a um
só.
Querem as leis que recriam, que interpretam à sua maneira.
Flagrante continuado, eterno é o desrespeito ao estabelecido como base
de qualquer democracia. Falar é o crime hediondo.
Chefes de facções
criminosas, políticos corruptos, juízes que se acham deuses, esses
preferem agir. Melhor esquecer os atos.
Cadê a liberdade
que estava aqui? Quem a tem arrastado das nossas vidas, mesmo que
nossos olhos estejam bem abertos? Não são aqueles dos quais querem tirar
a voz e que, quando falam, padecem sob interpretações tendenciosas,
militantes.
Não são eles que espancam a democracia, mas, sim, os que
lideram e apoiam a censura, nessa guerra insana contra uma pessoa, um
governo.
Todos nós estamos perdendo, não importa o
nosso lado. A censura voltada a um grupo carrega todos os outros, mesmo
que se engane quanto a isso quem agora se abraça à tirania e à opressão.
A censura é como um vírus letal, que se multiplica rapidamente e
contamina a Constituição, o Estado de Direito, a democracia, todas as
formas de liberdade. Ninguém escapará.
Luis Ernesto Lacombe, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
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