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domingo, 12 de novembro de 2023

Utilidade Pública = Cientistas revelam 8 atitudes que retardam o envelhecimento em até seis anos

Um estudo inédito da Associação Americana do Coração (AHA, do inglês American Heart Association) encontrou uma relação direta entre a saúde do coração e um envelhecimento biológico mais lento
De acordo com os pesquisadores, as pessoas que conseguiram ter êxito em seguir oito recomendações para manter o órgão saudável eram cerca de seis anos mais jovens do que a sua idade cronológica. 
E a boa notícia é que, de acordo com especialistas, essa lista ainda pode ser reduzida para apenas quatro hábitos cotidianos — e até apenas um. 
 
A pesquisa contou com 6.500 adultos e levou em consideração os marcadores que calculam a chamada PhenoAge, também conhecida como “idade fenotípica”. Para calcular esse número, médicos identificam nove componentes bioquímicos do sangue, como creatinina, linfócitos, fosfatase alcalina, entre outros, e com base nos resultados, traçam um paralelo entre a condição do coração e a quantidade de anos que a pessoa viveu. 
Se o resultado é positivo, é sinal de que o envelhecimento biológico está sendo acelerado, e se é negativo, é indício que a pessoa trata bem o músculo mais importante do corpo humano.

Para avaliar o quanto a pessoa trata bem o coração, os pesquisadores utilizaram o guia “Life’s essential 8”, uma lista de verificação com oito medidas essenciais elaboradas pela AHA que contribuem para uma boa saúde ao longo da vida. São elas:

  • Comer bem
  • Fazer atividades físicas
  • Não fumar
  • Dormir bem
  • Manter um peso saudável
  • Controlar o colesterol
  • Monitorar o açúcar no sangue
  • Administrar a pressão arterial

Assim, os cientistas entenderam que quanto maior a adesão às oito medidas elencadas no “checklist”, maior era a saúde cardiovascular dos participantes do estudo; e “à medida que a saúde do coração aumenta, o envelhecimento biológico diminui”, como conclui Nour Makarem, epidemiologista cardiovascular e professor de Saúde Pública da Universidade de Columbia, que supervisionou a pesquisa.

Apesar dos resultados apresentados na publicação — que está sendo debatida com mais detalhes durante o congresso Sessões Científicas da AHA, na Filadélfia (EUA), neste fim de semana —, especialistas ressaltam que o retardamento do envelhecimento biológico mencionado na pesquisa não envolve, necessariamente, a prolongação da vida ou a aparência mais jovem.— O grande recado do trabalho não é que a gente pode viver mais seis anos, mas sim que temos uma idade biológica menor, ou seja, somos capazes de envelhecer com mais qualidade de vida — explica o cardiologista José Carlos Zanon, presidente do departamento de cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Principal causa de morte
O destaque do coração na saúde geral dos pacientes não é por acaso. Nas duas primeiras décadas do século XXI, doenças cardíacas foram as principais causadoras de morte no mundo e principalmente no Brasil. No país, enfermidades cardiovasculares são responsáveis por 30% dos óbitos, de acordo com o Ministério da Saúde, e correspondem ao dobro dos óbitos relacionados a todos os tipos de câncer juntos. No mundo, a preocupação aumentou à medida que as ocorrências cresceram rapidamente e saltaram de 2 milhões no ano 2000 para quase 9 milhões em 2019 — segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), elas são a causa de 32% das mortes em todo o planeta.

Diretor médico do Laboratório de Performance Humana (LPH), o mestre em cardiologia Fabrício Braga destaca que “viver com saúde por mais tempo” é muito mais importante para o bem-estar do que simplesmente “viver mais”. O que a gente quer é que as pessoas envelheçam e retardem o adoecimento. Várias populações no mundo são extremamente longevas e passam os dez últimos anos da vida em cima de uma cama. Isso é legal? Acho que não — argumenta o cardiologista.

O especialista em performance ainda diz se preocupar com a ideia de “retardar o envelhecimento”, pois o conceito pode se associar a uma linha “beauty”, de preocupações com “parecer mais jovem”. Ele ressalta que a aparência pode, inclusive, ir na contramão da idade fenotípica da pessoa.— Você vê uma pessoa que faz muita atividade física, por exemplo, e que eventualmente se exponha muito ao sol. Ela vai ter a pele um pouco mais enrugada e pode até parecer ser mais velha, porém vai viver mais devido à capacidade aeróbica, que é um determinante de longevidade muito importante — exemplifica Braga.

Maria Cristina Izar, cardiologista, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembra para aqueles que se preocupam com a aparência que o “Life’s essential 8” também pode ser um grande aliado.— A estética é importante para o bem-estar e autoestima do indivíduo, mas se ela não for acompanhada de uma saúde global, não faz sentido. Se você tem um estilo de vida saudável, sua pele, seus cabelos, unhas e músculos também ganham — analisa Izar.

Em Saúde - O Globo - LEIA MATÉRIA NA ÍNTEGRA

 

 

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Planos de saúde para idosos vão virar artigo de luxo? Como evitar isso? O Estado de S.Paulo

Fabiana Cambricoli

Número de jovens em planos cai e o de idosos com mais de 70 anos é o que mais cresce; fenômeno pode levar a desequilíbrio nas contas

O número de jovens com planos de saúde caiu nos últimos anos no País, enquanto o de idosos, em especial os mais velhos, aumentou de forma expressiva no mesmo período, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O fenômeno, dizem especialistas, amplia o desafio de equilibrar as contas do setor para operadoras de saúde e usuários, e escancara a urgência de alterações no modelo de prestação de serviço, que deve ter foco maior no acompanhamento de doenças crônicas e prevenção de complicações. 
Se nada for feito, afirmam, os custos podem aumentar a ponto de o plano de saúde passar a ser um artigo de luxo no futuro.
Historicamente, o maior volume de jovens entre os clientes ajuda a compensar o aumento de custos que acontece durante o envelhecimento, período da vida em que os beneficiários utilizam mais os planos
No Brasil, o envelhecimento populacional vem acontecendo de forma mais acelerada do que em outros países que passaram pelo processo, o que explica o aumento de clientes idosos.

Por outro lado, as crises econômicas de 2015 e dos anos de pandemia reduziram o número de empregos formais e, consequentemente, de beneficiários mais jovens. Isso porque 83% dos cerca de 50 milhões de brasileiros que possuem convênio médico são clientes de planos empresariais.

Segundo levantamento da ANS feito a pedido do Estadão, o número de beneficiários na faixa etária dos 20 aos 39 anos caiu 7,6% entre 2013 e 2023, enquanto o de maiores de 60 anos saltou 32,6% no período, índice muito superior à alta de 5,3% no total de clientes de convênios médicos.

A faixa etária com a maior queda foi a dos 25 aos 29 anos, com redução de 18,1% nos últimos dez anos. 
Já na outra ponta, o grupo de idosos de 70 a 74 anos aumentou 41,9%. 
A segunda faixa etária com maior aumento foi a de clientes com 80 anos ou mais - alta de 39,5%. 
Com isso, a proporção de idosos entre o total de clientes de convênios passou de 11,4% para 14,4% na última década.

“O progresso material e os avanços da Medicina estão permitindo que a gente viva mais. O que chama a atenção é a velocidade com que esse processo está acontecendo. O que estamos vivendo em 20 anos, países europeus demoraram mais de cem anos para viver”, diz José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Além de o número de idosos estar aumentando no País, esse segmento populacional é o que registra a menor rotatividade nos planos. “Eles saem menos e trocam menos de operadora porque é mais difícil conseguirem trocar e porque a percepção de necessidade é maior. Muitas vezes o plano de saúde do idoso é rateado por toda a família”, diz Martha Oliveira, especialista em envelhecimento e CEO da Laços da Saúde, empresa especializada em cuidados domiciliares para idosos. “Já os jovens, por terem planos ligados a empresas e menor percepção de necessidade, costumam ser quem mais perde, cancela ou troca de plano, em especial em momentos de crise econômica”, afirma.

‘Não é o envelhecimento o vilão’, diz especialista
Martha ressalta que o cenário demográfico não pode ser usado para culpabilizar e punir os idosos sobre o aumento de custos. 
Ela afirma que, embora seja verdade que o idoso custe mais ao plano, é preciso lembrar que ele também paga um valor mais alto do que os jovens. “Atrelar essa alta de custos dos planos ao envelhecimento é muito ruim. O idoso utiliza mais o plano, sim, mas se você souber fazer a gestão dessas pessoas, essa utilização a mais é custeada pelo valor mais alto que ele paga”, diz.
 
Estudo do IESS mostra que o custo médio com um beneficiário a partir dos 60 anos é de seis vezes o de um usuário de zero a 18 anos.  
O valor da mensalidade da última faixa etária também só pode ser seis vezes maior do que a da primeira, segundo regra da ANS. 
Cechin afirma que, entre os idosos mais velhos, a partir dos 80 anos, o custo sobe muito e que nem sempre o valor pago pelo beneficiário idoso é suficiente para cobrir as despesas assistenciais, mas admite que não é repassando todos os custos aos usuários que o problema será resolvido. “Isso exige uma reestruturação hospitalar e campanhas e ações para a gente evitar o adoecimento e controlar doenças crônicas. Se não fizermos nada, o valor dos planos, que já está subindo acima da inflação, vai ficar ainda mais caro e o plano poderá passar a ser um artigo de luxo”, diz.

Ele defende que, além das operadoras, os empregadores, que são os principais contratantes de planos de saúde, também desenvolvam ações de prevenção e promoção da saúde para seus funcionários, o que ajudaria a melhorar a condição de saúde dos usuários e a reduzir os custos.

Martha concorda que o caminho para redução de custos no sistema sem punir o elo mais vulnerável - os beneficiários - passa pela prevenção e acompanhamento de doentes crônicos, além de uso mais inteligente dos recursos do sistema de saúde.

“Com certeza não é o envelhecimento que é o vilão. É preciso tirar o preconceito de cima dessa população. O sistema está cheio de desperdício, de refazimento. Falta organização e gestão, a pessoa fica perdida na rede. Temos que requalificar essa prestação de serviço. Se continuar como está hoje, teremos mesmo uma elitização. Menos pessoas terão condições de pagar pelo plano”, diz.

‘Preço ficou inviável’, diz filha de idoso que paga R$ 9 mil de mensalidade
É o que já está acontecendo com o aposentado Nelson Roberti, de 84 anos. Cliente da Sul América desde a década de 1990, ele paga hoje uma mensalidade de R$ 9 mil. “Sempre foi um valor alto, mas, de uns tempos para cá, com os reajustes, está ficando inviável. A aposentadoria dele não dá para pagar esse valor, a gente completa com a conta da família, mas está difícil manter”, conta a filha do idoso, a advogada Tatiana Saldanha Roberti, de 46 anos.

Ela reclama que, além das mensalidades altas, o pai sofre com queda na qualidade do serviço prestado. “O preço está cada vez maior e o serviço já não corresponde mais. Tivemos o descredenciamento de hospitais, laboratórios. Descredenciaram um hospital que sempre usamos, que fica a poucos minutos de casa. É muito ruim passar por isso justamente no momento da vida de maior vulnerabilidade. A gente se sente abandonado”, afirma.

Tatiana conta que outra dificuldade enfrentada pelos idosos é a troca de plano. Com esse valor, eu cheguei a tentar procurar um plano mais barato, mas não encontro quase nenhuma opção. Já cotei todos que você pode imaginar, mas ou não o aceitam ou o valor ficaria maior”, diz ela. Procurada, a Sul América afirmou que o descredenciamento mencionado “foi uma decisão unilateral” do hospital e que foram “sugeridas outras opções de rede de atendimento com a mesma qualidade do serviço prestado”.

Marcos Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), afirma que há operadoras focadas no nicho de idosos e que as empresas vêm ampliando suas ações para tentar acompanhar mais de perto essa população. Ele reconhece, no entanto, que é necessário acelerar e ampliar essas ações. “Os custos estão crescendo, mas temos que trabalhar para que eles tenham um aumento sustentável. Para isso, temos que usar mais telessaúde, ter atendimento personalizado com atenção continuada. Cada vez mais o trabalho vai ser de acompanhamento, isso ajuda na gestão do plano, mas temos um limitador: não há equipes suficientes para fazer isso com todos os usuários”, diz.

Ele diz que o grande desafio é conseguir realizar essas mudanças no mesmo ritmo do processo de envelhecimento da população. “Como esse processo está acontecendo mais rapidamente no Brasil, a gente acaba tendo custos mais elevados porque nossos investimentos nessa nova infraestrutura precisam ser mais rápidos também”, diz.

O cenário é uma das razões apontadas pelos planos para a crise financeira vivida pelo setor. De acordo com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), as operadoras registraram em 2022 prejuízo operacional de R$10,7 bilhões, o pior resultado desde o início da série histórica, em 2001. Procurada para comentar os desafios do setor frente ao envelhecimento, a entidade não quis dar entrevista.

Após a publicação da matéria, a FenaSaúde enviou nota afirmando que não há uma única medida que sozinha seja suficiente para garantir a sustentabilidade do setor, “visto que além dos fatores estruturais há fatores conjunturais que influenciam esse equilíbrio, como o cenário macroeconômico do país e o nível de emprego formal”.

Disse ainda que medidas para racionalizar o uso do sistema, aumentar a eficiência e reduzir custos são desafios em âmbito mundial e que a tecnologia ocupa papel central nessa estratégia, mas que sua adoção e disponibilização pelos planos de saúde “exigem análises rigorosas de custo-efetividade”. Ainda com foco no uso mais racional do sistema, diz a entidade, “faz-se necessário combater fraudes, abusos e desperdícios que drenam recursos escassos e que precisam ser melhor empregados no atendimento aos pacientes”.

Para os especialistas, podemos olhar para exemplos de outros países que já passaram pelo processo de envelhecimento para buscar soluções para a equação. Cechin, do IESS, cita a necessidade de ações por parte dos governos, operadoras e empregadores para combater a obesidade, por exemplo. “Reduzir a obesidade diminui também risco de doenças cardiovasculares, problemas nas articulações, alguns tipos de câncer. Tem países, como a Holanda, com programas para enfrentar essa questão”, diz.

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Reajuste e rescisão de contrato: veja 11 pontos que podem mudar na Lei dos Planos de Saúde

Martha também cita o país europeu. “Eles reconstruíram todo o sistema de saúde sob essa ótica do envelhecimento, com uma lógica de levar o cuidado ao paciente no seu domicílio, promover a autonomia, o autocuidado. A Alemanha criou postos específicos para dar conta do envelhecimento. A França também reorganizou seu sistema de saúde. É verdade que esses países tiveram muito mais tempo para se preparar, mas eles já passaram por isso, então podemos olhar e aprender com eles”, diz.

Fabiana Cambricoli, colunista - Saúde - O Estado de S. Paulo

 


domingo, 29 de maio de 2016

Pires na mão

Financiar investimentos será mais difícil com o forte déficit que atinge os fundos de pensão. Segundo a Abrapp, associação que representa as entidades de previdência complementar do país, o balanço de 219 fundos registrou rombo de R$ 62 bi em 2015, número 16 vezes maior que o déficit de 2014. “Nossa expectativa é estabilizar ou reverter esse déficit só em 2018”, disse o presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto.

Perda de patrimônio
O gráfico mostra como a recessão atingiu fortemente os fundos


Desde 2012, o balanço vem caindo ano a ano, até chegar ao enorme rombo do ano passado. De 219 fundos do país, 92 estão no vermelho, o que significa que os benefícios que eles têm a pagar ao longo dos próximos anos e décadas estão acima dos ativos que possuem. De um lado, há alta dos valores a serem pagos, com o envelhecimento da população; de outro, a perda de valor dos ativos, que em 2007 representavam 17,2% do PIB e agora valem 12,2%.

Risco cambial
Com os fundos de pensão no vermelho, o mercado de capitais em baixa, e o BNDES sem o vigor de anos anteriores, a solução para financiar as concessões pode estar no crédito externo. José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), acredita que a situação vai reativar a antiga discussão sobre as garantias contra o risco cambial, que é tomar empréstimos em moeda estrangeira.

Portas fechadas
A Petrobras conseguiu fazer captações no exterior, mas para outras empresas investigadas na Lava-Jato o acesso ao crédito continua distante. Um título da Odebrecht é negociado lá fora com desconto de 70%, o que inviabiliza novas emissões. No caso da Andrade Gutierrez, o deságio é de 20%. No mercado, há quem avalie que a única saída para a Odebrecht é ser comprada por um grupo chinês. “Ela está sem fluxo de caixa e sem acesso a crédito”, disse uma fonte.

Tudo vermelho
O PIB do primeiro trimestre sai na quarta-feira e é consenso que o país terá o quinto período seguido de queda. Pelas contas do Itaú Unibanco, a retração será de 0,8%. As estimativas ainda apontam redução de 0,7% no segundo trimestre e mais dois tombos no segundo semestre. A boa notícia é que a queda ficará menos intensa. Segundo o banco, o quarto trimestre terá redução de 0,1%. Números azuis, só em 2017.

Sinais de melhora
Segundo o economista Rodrigo Miyamoto, do departamento de pesquisa econômica do Itaú, houve melhora em quase a metade dos 48 indicadores antecedentes analisados entre fevereiro e abril. Isso sugere que o PIB do quatro trimestre ficará próximo da estabilidade. “Há um ano, esse indicador estava em 20%, agora subiu para 48%”, explicou. Os estoques da indústria caíram, há perspectiva de redução das taxas de juros, e indicadores de confiança começam a dar sinais de recuperação.

PÉ NA TÁBUA.
O preço do galão de gasolina nos EUA está no nível mais baixo para o período desde 2009, às vésperas da temporada de verão.

PIOR NÚMERO. A projeção do Bradesco é que a taxa de desemprego tenha subido de 10,9% para 11% em abril. O IBGE divulga o resultado na terça-feira.

AGENDA SEMANAL. Segundo a Go Associados, o novo teste do governo será a análise pelo Congresso do projeto que amplia a Desvinculação das Receitas da União. A colunista voltará na terça-feira 



Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Por: Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Previdência: Governo vai propor alterar regras para trabalhador na ativa - existe um terrorismo psicológico por parte do Governo, maximizando as perspectivas da Previdência quebrar

[Mas, se o Governo for discutir com centrais sindicais e quase todo mundo a reforma não sai nenhuma reforma e a Previdência quebra - o  Temer tem que ser firme, aproveitar a vantagem estrondosa no Congresso e fazer a reforma: começando por estabelecer idade mínima.]

Proposta de reforma será apresentada em 30 dias; centrais prometem ir para as ruas

A proposta de reforma da Previdência em discussão no governo, que será encaminhada ao Congresso Nacional em, no máximo, 30 dias, atinge os atuais trabalhadores, com regras de transição para reduzir os impactos para quem está perto de se aposentar. Somente não seria prejudicado quem já está aposentado ou completou os requisitos para requerer o benefício antes da mudança nas regras. Segundo interlocutores, a medida é necessária para produzir efeitos rápidos e reduzir a pressão das despesas dos benefícios nas contas públicas. Escalado no novo time da economia, o especialista Marcelo Caetano assumirá a Secretaria da Previdência, tendo como missão desenhar a reforma, dentro do Ministério da Fazenda. Ele é um defensor da fixação de idade mínima para aposentadoria.    — Marcelo Caetano tem como principal finalidade formular uma política de previdência no Brasil — disse ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao anunciar os nomes da sua equipe.

Meirelles afirmou que ainda não há proposta pronta — o que ocorrerá dentro de um mês, considerado por ele um prazo “adequado” para que nada seja feito de forma “precipitada”. Apesar do tom cauteloso, o ministro deu sinais sobre a linha geral da reforma, confirmada por assessores do presidente interino Michel Temer, de que a mudança nas regras valerá para quem está no mercado e não só para os futuros trabalhadores. Na fala, o ministro chamou a atenção sobre a diferença entre direito adquirido e expectativa de direito:  — Uma das questões mais profundas e complexas que precisam ser analisadas é a que caracteriza o direito adquirido e o que é meramente a expectativa do direito, baseada em normas que vão ser discutidas no devido tempo. Existe um consenso que mais importante é que exista uma Previdência Social que seja sustentável e autofinanciável, e é que todos os trabalhadores tenham a garantia de que a aposentadoria será paga e cumprida e que o estado será solvente para cumprir as suas obrigações. Vamos estudar com cuidado e, para isso, a Secretaria da Previdência vem para o Ministério da Fazenda, para trabalhar conosco, visando à garantia dessa solvência do Estado e à sustentabilidade da Previdência Social como um todo.

Meirelles também deixou claro que a proposta será debatida com as centrais sindicais e com parlamentares, antes de ser enviada ao Congresso. Na segunda-feira, o governo decidiu criar um grupo de trabalho, coordenado pela Casa Civil com representantes das centrais para discutir o assunto, apesar da resistência dos sindicalistas às mudanças, sobretudo ao impor mudanças aos trabalhadores que já estão no mercado.

GASTO DE R$ 496,4 BILHÕES ESTE ANO
Segundo integrantes do governo, uma reforma só para os novos trabalhadores teria efeito nas contas públicas em 40 anos. Eles chamam a atenção sobre o gasto do governo com pagamento de benefícios: só com INSS está projetado em R$ 496,4 bilhões neste ano o que consome 35,2% do total de receitas da União. A cifra, que hoje representa 7,95% do Produto Interno Bruto (PIB), saltará para 17,2% em 2060, se as regras não forem mudadas. Este ano, o regime deve fechar com rombo de R$ 133,6 bilhões, e o próximo, em R$ 167,6 bilhões. Em 2015, o déficit foi de R$ 85,8 bilhões (valores nominais).


Especialistas argumentam que a reforma já está atrasada, diante do tamanho do gasto e do perfil demográfico brasileiro. Eles afirmam que, para cobrir o rombo da aposentadoria, o governo federal fica sem recursos para investir em educação e saúde.  — A despesa hoje já é muito alta, e, diante da dificuldade em elevar a carga tributária e cortar gastos, as contas públicas podem ficar inviabilizadas em período não muito longínquo — disse o especialista em previdência e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Rogério Nagamine.

Para Leonardo Rolim, consultor da Comissão de Orçamento da Câmara e ex-secretário de Previdência Social, é preciso criar regras novas para quem está no mercado e para quem ainda vai ingressar.  Para os atuais, é preciso criar regras suaves de transição de modo que, quem estiver próximo da aposentadoria seja o menos afetado possível, e quem estiver longe, mais. Uma reforma só para os novos não tem potencial para assegurar a sustentabilidade do sistema — disse.

O rápido envelhecimento da população brasileira afeta as contas da Previdência. O sistema que vigora no país é o de repartição, em que trabalhadores ativos ajudam a pagar os benefícios dos aposentados. Segundo dados do IBGE, existem 11,8 idosos para cada cem pessoas em idade ativa (15 a 64 anos); em 2060, essa proporção sobe para 44.

Segundo Nagamine, a reforma precisa ser ampla, com a fixação de idade mínima, e tocar em assuntos delicados, como a revisão dos benefícios enquadrados na Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), que equivalem a um salário-mínimo ao idoso ou deficiente da baixa renda e que contribuíram para o INSS em algum momento. Esses gastos pularam de R$ 6,8 bilhões em 2002 para R$ 35,1 bilhões em 2014. Pelas regras atuais, quem contribui por 15 anos, prazo mínimo, aposenta-se aos 65 anos, recebendo o mesmo valor.

Na visão dos especialistas, se o governo enviar logo a reforma ao Congresso, há chance de aprovação no fim do ano, após as eleições municipais. No entanto, a medida vai exigir força política e articulação com parlamentares, diante da forte resistência a medidas impopulares.


O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que derrubar a reforma da Previdência será a principal bandeira da Central. Ele disse que vai procurar as outras entidades para fazer um movimento unificado contra as mudanças, independentemente de “posição ideológica”. E já está programando manifestações em todas as capitais em junho:  — Vamos derrubar a proposta de reforma da Previdência no Congresso e nas ruas. Vamos trabalhar juntos e promover a unificação dos sindicatos contra a retirada de direitos.

A CUT se recusou a participar do encontro com Temer na segunda-feira. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), também disse que não fará acordo com o governo e que a entidade não aceita mudanças para os atuais trabalhadores. Após reunião com o presidente e Meirelles, ele sinalizou que poderá se unir à CUT.


Fonte: O Globo