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quinta-feira, 24 de junho de 2021

Brasil não tem “ondas” de Covid; casos se atropelam, diz epidemiologista

O professor Pedro Hallal, que depõe nesta quinta-feira (24) à CPI da Covid do Senado, afirmou que a pandemia de coronavírus no Brasil não se caracteriza pela existência de "ondas", como ocorre em outros países. Segundo ele, as "ondas" se dão quando há um declínio significativo no número de contágios em um período e, posteriormente, uma nova aparição de ocorrências - quadro que se verificou na Inglaterra. Já o panorama do Brasil é de existência constante dos casos. "A segunda 'onda' passa por cima da primeira, a terceira passa por cima da segunda" e assim por diante, declarou Hallal, que é epidemiologista e foi reitor da Universidade Federal de Pelotas.

[esse professor e ex-reitor é um insatisfeito com o presidente Bolsonaro e foi punido pela Controladoria-Geral da União (CGU). Padece da mesma falta de credibilidade do relator Calheiros, do presidente Aziz, do 'drácula' e outros. Confira em: Dando nome aos bois = punição merecida, justa e necessária.]


terça-feira, 9 de junho de 2020

Cortando as asinhas - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

‘Grande problema’ não são atos pró-democracia, mas falta de governo, de estatísticas, de pudor
À deriva, o governo faz água por todo lado. O presidente Jair Bolsonaro continua fora de órbita, em outro planeta, Moro caiu, Mandetta foi demitido, Nelson Teich desistiu, Paulo Guedes sumiu, o Ministério da Saúde acabou e o da Economia submergiu, enquanto outras pastas pintam e bordam, sem rumo, sob aplausos do presidente. Ou o rumo é romper com a China, estorricar a Amazônia, prender ministros do Supremo e governadores? Uma situação melancólica, ou desesperadora.

Nem a exposição da reunião de 22 de abril, uma síntese do governo, que gerou ou alimentou investigações no Supremo, conteve Bolsonaro. Conforme o Estadão, foi ele quem deu, pessoalmente, a ordem para o Ministério da Saúde divulgar “menos de mil mortes por dia” e “acabar com matéria do Jornal Nacional”. [sem alarde, o horário de divulgação poderia ser adiado para  22h - obtendo o tempo necessário para conferir os dados e corrigir eventuais erros.
Agindo dessa forma não haveria espaço para o Poder Judiciário ser provocado por insatisfeitos e  intervir em ato do Poder Executivo. 
Houve alarde, elevação à condição de motivo principal um mero efeito colateral e com isso motivou mais uma intervenção do Poder Judiciário em um órgão do segundo escalão do Poder Executivo da União.] 

Pois entrou plantão extraordinário na novela, o Congresso está criando uma central própria e Estadão, G1, O Globo, UOL, Folha e Extra fecharam parceria para prestar as informações que o governo sonega ou manipula. O dr. Jair, epidemiologista, assumiu desde o início uma cruzada particular contra o isolamento social adotado no mundo todo. O dr. Jair, cientista, determinou o uso indiscriminado da cloroquina sem qualquer aval internacional ou nacional. Agora, o deus Jair decide quantos são os mortos do coronavírus. Danem-se os fatos e as mortes. O que importa é a versão do dr. Jair, o Messias Bolsonaro.

É triste, e preocupante, o desmanche do Ministério da Saúde – um antro de esquerdistas, segundo Damares. E é igualmente triste, e preocupante, que generais e coronéis se disponham a assumir o jogo sujo, sem nunca terem visto uma curva epidemiológica, mas prontos para a “missão”: bater continência e cumprir as ordens do presidente que nenhum médico decente cumpriria. “Às favas os escrúpulos de consciência” – e a condenação da história. Por que a prioridade para a “mudança de metodologia” na contagem de vítimas a esta altura? A quem enganam? [Qual a importância - para a sociedade e para o combate à pandemia - que a divulgação passasse para as 22h.
Tornou-se regra combater tudo que o Poder Executivo faz. Mas, o pior mesmo, é que o Presidente da República alimenta, municia, seus inimigos.
E não reage, dentro da legalidade,  a cada pancada desferida contra o Poder Executivo.
A regra tem que ser simples: recebeu uma liminar contrariando medida de governo - recorre ao Plenário do STF. Vale lembrar que a então presidente do STF, validou uma decisão de um juiz federal do Brejo do Fim do Mundo impedindo o presidente Temer de nomear um ministro - ele recorreu e tempos depois o Plenário do STF decidiu que a ministra estava errada.
Legislativo fez boicotou, retardou, impediu alguma ação do Poder Executivo, recorre ao STF. ]
Com os mortos passando de 37 mil, as empresas e os empregos derretendo e a previsão de queda de 8% do PIB, o presidente declara, sem o menor pudor, que “o grande problema” do momento são as manifestações de domingo pró-democracia, contra o racismo e o próprio Bolsonaro. “Estão botando as manguinhas de fora”, acusou. [IMPÕE DESTACAR A VERDADE: o presidente Bolsonaro não pode ser acusado, sequer em pensamento - se o  for, será uma acusação injusta, infundada e até criminosa:  ELE NÃO É RESPONSÁVEL pelo desemprego nem pela queda do PIB - a responsabilidade está com os governadores e prefeitos, devidamente avalizados pelo STF.]

Definitivamente, o grande problema do Brasil não são as novas manifestações, é a gritante falta de governo, que choca o País e o mundo. Como explicar que o presidente brasileiro não apenas guerreia com a realidade como passa a assassinar as estatísticas da pandemia? Fraudar ou dourar o número de mortos e contaminados não é próprio de democracias. Estamos em más companhias – Venezuela, Coreia do Norte e Arábia Saudita – e até por isso, apesar das dúvidas e das críticas legítimas que cercam a realização de manifestações neste momento, a resistência das instituições, das entidades, da mídia e das ruas vai encorpando e encorajando as pessoas a gritarem “basta!”.

Quem “botou as manguinhas de fora” primeiro? Não foram os que foram às ruas só no último domingo, mas, sim, os bolsonaristas que afrontaram as recomendações da OMS e de quase todos os países para fazer aglomerações em atos contrários ao STF e ao Congresso, usando até o QG do Exército como fundo. E o que dizer dos 30 alucinados que se dizem 300 e se plantam armados na Praça dos Três Poderes?

Os vários manifestos, os atos pró-democracia e a união nacional proposta por Fernando Henrique, Marina Silva e Ciro Gomes não são ataque, são movimentos de defesa. Exatamente para “cortar as asinhas” do “gabinete do ódio” do Planalto e dos golpistas estimulados pelo presidente da República e pelas redes sociais, com o beneplácito das Forças Armadas.

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 16 de abril de 2020

Ignorância atrevida - Carlos Alberto Sardenberg


A crise, qualquer crise, pode ser favorável aos governantes de plantão. E um problema para as oposições. Neste momento, mundo afora, todo dia a gente vê as autoridades na televisão anunciando medidas, recomendando comportamentos, pedindo apoio para o sacrifício necessário. Já as lideranças de oposição quase desaparecem da mídia. Ficam até constrangidas: criticar neste momento?

Mas dada essa regra geral – o governante sai em vantagem no momento crítico – surgem as diferenças. Alguns crescem, como o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte. Ele chegou ao posto em junho de 2018, numa daquelas situações típicas da política italiana: um arranjo provisório diante de um impasse entre partidos. Nunca tinha sido político, estava como que tomando conta do posto. Cresceu na crise do coronavírus. Os governantes regionais do norte da Itália fracassaram, mas Conte foi o primeiro na Europa a decretar o confinamento, assumindo os riscos com um discurso firme. Tornou-se uma liderança europeia, ao propor medidas de combate às crises sanitária e econômica.

E  nem precisamos ir longe. O médico Luiz Henrique Mandetta é ortopedista, não infectologista ou epidemiologista. Não passava de um político regional. Hoje, tem mais de 75% de aprovação popular e talvez até mais nos meios políticos. [tal aprovação é mais resultado de uma política, profissionalmente dirigida, de tudo que for contra o Presidente da República merece elogios.]

Agiu como manda o manual: assumiu a liderança e os riscos, soube encontrar especialistas aos quais deu autonomia e nos quais confiou.
Fernando Henrique Cardoso, num livro sobre sua carreira, chamou-se “presidente acidental”. O Ministério da Fazenda caiu nas suas mãos como um limão azedo e dali ele tirou a limonada do Plano Real, sem ter qualquer especialidade em economia.
Conte e Mandetta também são líderes acidentais.


[somos compelidos a admitir que o presidente Bolsonaro vacilou quando optou pela escaramuça com inimigos que só crescem devido a atenção, ainda que belicosa, que recebem do Presidente da República.
O momento era de concentrar esforços no combate ao coronavírus, falar menos, evitar entrevistas desnecessárias e improvisadas e no instante em que ideias suas para combater a doença fossem contestadas pelo ainda ministro, buscar fundamentação técnica junto a outros médicos e após seu entendimento estar devida e tecnicamente fundamentado,  convocar o ministro Mandetta - não pela imprensa ou redes sociais - para ajuste da política.

Não fosse possível um acordo, exonerar o ministro - via DO, a forma legal de nomear/demitir no Serviço Público. Sua teimosia o levou a optar por permitir que o ministro descobrisse que tinha tudo a ganhar se tornando seu adversário, tanto que chegou ao ponto de confrontar sua autoridade e agora tem que demiti-lo, quanto mais rápido melhor, até mesmo para uma unificação de entendimentos e com os brasileiros torcendo para que o substituto de Mandetta unifique, não sirva aos intentos dos que pretendem ser oposição a Bolsonaro e não sabem como fazer.

O presidente Bolsonaro insiste em adestrar e municiar os que desejam lhe fazer oposição.]



Bolsonaro também é um presidente acidental, mas pelo lado negativo. De anos de baixo clero, de repente tornou-se a alternativa aos desastres do PT. Era completamente despreparado para o cargo, mas outros líderes também chegaram assim aos seus postos. Nesses casos, a diferença entre o êxito e o fracasso está no tamanho da ignorância. Alguns guardam um pouquinho de sabedoria, o suficiente para saber que não entendem nada daquilo e que é melhor chamar gente que entende. Bolsonaro fez isso na economia, quando outorgou poderes ao ministro Paulo Guedes.

Mas tirante isso – e talvez o ministro Moro – Bolsonaro carrega aquilo que nossas avós chamavam de “ignorância atrevida”. Ele acha que entende de radares nas estradas, pontos na carteira de motorista, cloroquina, índios, nióbio, coronavírus, como domar o Congresso e os políticos. Para ele e seu pessoal mais próximo, aquecimento global, pandemia, direitos humanos, atendimento aos pobres, a rede Globo e a mídia em geral, óleo nas praias – tudo é uma conspiração de esquerdistas, com a China comunista sempre por trás, às vezes a pobre Venezuela ou “os estrangeiros”.

Parece tosco – e é tosco. Nessa circunstância, não se podia esperar mesmo que ele entendesse o tamanho da crise de saúde. Por sorte, surgiram lideranças localizadas, como Mandetta, e nos estados, como muitos governadores e prefeitos. Mas com o presidente atrapalhando, isso emperra as políticas nacionais de combate aos efeitos do  coronavírus e de preparação para a saída da crise.

Muitos governantes se atrasaram no reconhecimento da crise, mas conseguiram dar a volta. Menos quatro: os ditadores da Bielorússia, do Turquemenistão – aquele que manda tomar vodka contra o vírus – da Nicarágua e Bolsonaro, o único eleito em um pleito democrático mas que ele acha que foi fraudado. Sim, ele também acha que entende de sistema de urnas eletrônicas. (Aliás, ele prometeu provas de que foi roubado no primeiro turno e até agora nada. Assim como não mostra seus exames de coronavírus).

Não tem como dar certo. A crise vai deixar mais mortos do que se fosse administrada de modo mais competente. A recuperação econômica e social será mais tardia e mais lenta. Dependemos da capacidade de lideranças localizadas, parlamentares, governadores, prefeitos, e da gente mesmo, sociedade e mídia séria e independente.[Artigo brilhante, verdades contundentes - raros exageros - que nos leva à recorrência, que também pode ser uma forma de ignorância atrevida: "Errar é humano, permanecer no erro é diabólico."]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista