Opinião Eduardo Pazuello se presta ao papel de títere de um presidente negacionista.
Seguramente,
não é pelo talento administrativo que o intendente Eduardo Pazuello é o mais
longevo ministro da Saúde desde a eclosão da pandemia de covid-19. Ele foi
alçado ao cargo para que o presidente Jair Bolsonaro, enfim, tivesse à frente
da pasta não um ministro da Saúde à altura do desafio de coordenar as ações do
governo federal no curso da mais severa crise de saúde pública dos últimos cem
anos, mas sim um títere sem brilho – e brio – que se dispusesse a cumprir ordens
sem questioná-las, por mais estapafúrdias, ilegais ou imorais que fossem.
Ecoarão
pela história desses tempos dramáticos no Brasil duas declarações de Pazuello,
dadas em outubro do ano passado, que dizem muito sobre quem ele é e a que veio. “Eu
nem sabia o que era SUS (antes de
assumir o Ministério da Saúde)”, disse o ministro durante o
lançamento da campanha Outubro Rosa. Dias depois, ao ser desautorizado
publicamente por Bolsonaro após anunciar tratativas com o governo de São Paulo
para incorporar 46 milhões de doses da Coronavac ao Programa Nacional de
Imunizações (PNI), Pazuello assimilou a humilhação – “Um manda, o outro
obedece, é simples assim” – em vez de apresentar imediatamente a sua carta de
demissão, como faria um ministro imbuído de espírito público e amor-próprio.
Um
ministro com esse perfil se mostra disposto a tudo, mesmo que os resultados de
sua atuação sejam desastrosos para a população. A
inabalável submissão de Pazuello aos delírios persecutórios e aos cálculos
políticos de Bolsonaro ensejou a abertura de inquérito policial contra o
ministro [qual inquérito policial CONTRA INTEGRANTE, ou APOIADOR do Governo Bolsonaro, cujo pedido de abertura caia no âmbito decisório do ministro MD Lewandowski, não é imediatamente deferido? a autorização para instauração é imediata, se serão encontradas provas, é outra coisa.] para apurar sua possível omissão no colapso do sistema de saúde de
Manaus, que levou dezenas de pacientes de covid-19 à morte por asfixia em
decorrência da falta de cilindros de oxigênio nos hospitais da cidade.
No
âmbito administrativo, a situação do intendente não é menos desconfortável.
Desde o início da pandemia, o Tribunal de Contas da União (TCU) tem elaborado
relatórios de acompanhamento da gestão da crise sanitária pelo governo federal
e é nítida a debacle do Ministério da Saúde a partir da posse de Eduardo
Pazuello.[curioso é que o usual no TCU é os crimes serem descobertos algum tempo depois de serem praticados - já o general Pauzuello é acompanhado passo-a-passo. Somam a centenas os casos de furto do dinheiro público, que o TCU age com atraso - permitindo que os ladrões desapareçam com o dinheiro subtraído dos cofres públicos - mas o ministro da Saúde é acompanhado de perto pelo 'grave crime' de indicar remédios cuja eficácia não está indubitavelmente comprovada - cá entre nós, sejamos honestos, qual das vacinas está com a segurança e eficácia totalmente comprovadas?
quem garante por quando tempo perdura a imunização obtida com a vacina?
Uma vacina descoberta há seis meses, não pode ter garantia, de forma cientificamente correta, que vale por igual período.]
Na
sessão do TCU de quarta-feira passada, na qual o colegiado analisou mais um dos
relatórios produzidos pelo ministro Benjamin Zymler, o vice-presidente da Corte
de Contas, ministro Bruno Dantas, fez um dos mais enfáticos discursos contra o
descalabro em que se tornou a gestão da crise pelo governo federal.“O
Ministério da Saúde já gastou R$ 250 milhões para distribuir o chamado ‘kit
covid’ por meio do programa Farmácia Popular. Este valor seria suficiente para
comprar cerca de 13 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca”, disse o
ministro Dantas.[ministro Bruno Dantas, com o devido respeito: certamente seus cálculos estão corretos - o senhor integra uma Corte de contas, mas em termos de logística (especialidade do ministro da Saúde) há falhas, lacunas, em sua sugestão: comprar de quem?
tem algum fornecedor que possa entregar os milhões de doses compradas em um prazo igual ou inferior a três meses?
A cloroquina e os demais componentes do chamado 'kit covid', não possuem eficácia cientificamente
comprovada contra a covid-19, mas pelo menos até agora não foi apontado, com base científica, a morte de qualquer pessoa em decorrência do uso daquele kit. Ao contrário, são milhares o número dos que foram curados - números não divulgados por não ser, ao que supomos, a divulgação conveniente para interesses outros.] O
tal “kit covid” é formado por medicamentos que não têm eficácia cientificamente
comprovada contra a covid-19, como a cloroquina. O que o ministro Dantas não
disse, mas é possível inferir, é que o ministro da Saúde jogou milhões de reais
no lixo ao concentrar suas ações na produção e distribuição do tal kit. E não
fez isso, por óbvio, desobedecendo a Bolsonaro, o mais ardoroso defensor dessa
mandinga.
O
ministro Dantas afirmou, com razão, que o Ministério da Saúde foi tomado por
negacionistas da gravidade da emergência que se abateu sobre o País e está
completamente alheio às reais necessidades da população. “A sociedade
brasileira clama por vacinas já. Se existem ‘terraplanistas’ no Ministério da
Saúde (que propõem tratamentos
ineficazes), essa gente precisa ceder espaço para a ciência. Não é
possível que um tratamento como esse seja dado a famílias que estão perdendo
seus entes queridos”, concluiu o ministro.
Em
que pese a presença de valorosos servidores de carreira, que só Deus sabe a que
tipo de pressões estão resistindo, Bolsonaro reduziu o Ministério da Saúde a um
valhacouto de “terraplanistas” sob a chefia do intendente. Isto tem custado bem
mais do que recursos públicos. Tem custado vidas.
Opinião - O Estado de S. Paulo