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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Perderam totalmente o pudor - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino - VOZES

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

lewandowski

Nesta quinta-feira (11), o presidente Lula anunciou que seu aliado e ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski assumirá o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP)| Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR
 
 E que situação! Ricardo Lewandowski foi indicado para ser ministro da Justiça no lugar de Flávio Dino
O ministro Alexandre de Moraes elogia publicamente a escolha: "Magistrado exemplar, brilhante jurista, professor respeitado e, acima de tudo, uma pessoa com espírito público incomparável". 
Ah, que espírito público! Quando rasgou a Constituição para preservar os direitos políticos de Dilma Rousseff após seu impeachment, isso era puro espírito público! 
Tirei uma semana de férias. Uma semaninha só, na qual fui para as montanhas geladas de Colorado para abstrair totalmente do trabalho, da política brasileira. Ao menos era essa a ideia. 
Difícil na prática, porém, pois sempre damos aquela olhada nas notícias, nas redes sociais
E também porque só tinha brasileiro em Aspen, cá entre nós. E eles comentavam sobre a terrível situação do nosso país comigo.

Essa promiscuidade muito mal disfarçada de republicanismo cansa demais.

Ministros supremos elogiam escolhas de ex-ministros supremos para cargos no governo comunista corrupto que os ministros supremos recolocaram "na cena do crime", como diria Alckmin, tudo bem às claras! Deve ser a tal "harmonia entre os Poderes"
E tal harmonia não estaria completa sem o conluio com a velha imprensa. Após Sergio Moro, com razão, alfinetar a escolha e concluir que ele não era suspeito só por se tornar ministro de Bolsonaro, um militante petista na Globo News saiu em defesa do PT e disse que as decisões de Moro como juiz beneficiaram diretamente o ex-presidente.
 
Puxa, ainda bem que Lewandowski sempre foi tão imparcial e isento! Deixando de lado a "premissa" absurda de que Lula foi condenado – por inúmeros juízes – de forma política, cabe questionar se Lewandowski não tomou várias decisões favoráveis ao PT nesses últimos anos
Já mencionei aquela que rasgou a Constituição para proteger Dilma, que saiu candidata ao Senado e perdeu, mas são várias. 
Não satisfeito, depois do STF, o ex-ministro foi advogar para os irmãos Batista, da J&F, grupo que se lambuzou nos esquemas petistas. Tudo em casa!

Os corruptos estão em festa, o poder sobe à cabeça de quem sabe estar acima das leis.

Essa promiscuidade muito mal disfarçada de republicanismo cansa demais. A velha imprensa está no papel patético de enganar, fingindo que tudo está normal, que a democracia foi salva por essa gente. 
Mas como todos já se deram conta de que um consórcio tomou de vez o poder, o pudor sai pela janela. Os corruptos estão em festa, o poder sobe à cabeça de quem sabe estar acima das leis.

E foi assim que uma juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a retirada da internet de um vídeo que mostra o filho do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, exibindo joias e roupas de grife nas ruas da Holanda. 

A gravação com Felipe Brandão viralizou no TikTok enquanto eu estava de férias.

Se o Brasil fosse um país sério, teria que tirar o militante lulista do STJ, não o vídeo do filho deslumbrado, cafona e brega, que voluntariamente se prestou àquele papelão todo orgulhoso. 
O vídeo foi publicado por um gringo, vale notar. 
O filho de Benedito Gonçalves estava todo contente com a ostentação cafona. Benedito, não custa lembrar, é aquele dos tapinhas no rosto dados por Lula, como se fosse seu superior, e também aquele do "missão dada, missão cumprida" ao pé do ouvido de Alexandre de Moraes. Tudo tão republicano!
 
Vou retornando aos poucos ao trabalho, pois o Brasil precisa ser digerido em doses homeopáticas. É tudo tão cansativo! 
E não posso deixar de externar meu maior desprezo pelo papel do "jornalismo" nisso tudo. 
Para finalizar esse texto que marca meu retorno, o Celta da campanha do Boulos, que os militantes disfarçados de jornalistas destacam como prova de sua humildade, é uma das coisas mais patéticas da política nacional. 
O comunista gosta mesmo é de jatinho, como sabemos...
 
 
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos
 
Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo - VOZES
 

sexta-feira, 6 de março de 2020

A economia da epidemia - Revista Época

 Monica de Bolle

A esta altura da epidemia que se alastra rapidamente pelo planeta é razoável dizer que não sabemos absolutamente nada. Nessas situações, a reação é a mais extrema possível

Já compraram montanhas de desinfetantes para as mãos, máscaras, papel higiênico? 
E quanto a pilhas, antitérmicos, termômetros e vitamina C? Velas e lanternas? Já não há álcool ou sabonete líquido nas farmácias? 
 Vai faltar comida?

O comportamento que tem levado ao desaparecimento de medicamentos das farmácias, ao sumiço de produtos de higiene pessoal e de alimentos não perecíveis das prateleiras dos supermercados é o mesmo que leva às corridas bancárias. Explico: a crise bancária típica ocorre quando as pessoas, temendo que os bancos não serão capazes de devolver seus depósitos, correm para sacá-los o mais rapidamente possível.

Como os bancos não mantêm 100% dos depósitos em caixa, se todos os depositantes correrem ao mesmo tempo, alguns de fato não receberão o dinheiro de volta, justificando o pânico inicial. Nenhuma farmácia ou supermercado estoca toda a quantidade de suprimentos que a população pode vir a demandar em casos excepcionais. Logo, quando há uma epidemia, ou o risco de que ela aconteça, as pessoas farão exatamente a mesma coisa que fazem quando imaginam que não terão acesso a seus depósitos: correm para as farmácias e para os supermercados, esgotando produtos. Os afortunados garantirão seus suprimentos, enquanto os demais ficarão a ver navios. Esse é apenas um dos aspectos da economia da epidemia.

Outro aspecto é o comportamento das pessoas diante de situações de incerteza. Incerteza não é risco — incerteza é tudo aquilo que pode ser descrito como um imponderável desconhecido, enquanto risco envolve algum conhecimento sobre a probabilidade de diferentes cenários. A esta altura da epidemia que se alastra rapidamente pelo planeta é razoável dizer que não sabemos absolutamente nada — inclusive não sabemos aquilo que não sabemos.

Nessas situações, a reação é a mais extrema possível: cancelam-se de viagens a eventos de massa, exaltam-se a quarentena e as medidas que cerceiam brutalmente as liberdades individuais. Mas, vejam: não entrem em pânico! Trata-se de precaução, nada mais. E lavem as mãos com sabão, usem desinfetantes, não se esqueçam de estocar medicamentos, produtos de higiene e limpeza, alimentos não perecíveis.

A Organização Mundial da Saúde divulgou a nova taxa de mortalidade global desse coronavírus, ou SARS-CoV-2, para os íntimos. É de 3,4%, dizem. Mas, por favor, não entrem em pânico, ainda que a taxa seja uma média ponderada de países atingidos de modo diferente, com sistemas de saúde distintos, com as mais variadas capacidades de resposta das autoridades responsáveis.

Ou seja, a taxa de mortalidade gravíssima é nada mais do que uma média sem sentido, sobretudo quando se considera a enorme variância entre países, para não falar da variância dentro da própria China, epicentro da epidemia. Na Coreia, o país com maior número de casos depois da China e que está testando gente por meio de drive-through, a taxa é de 0,7%; aqui nos Estados Unidos, o país mais rico do planeta, a taxa de mortalidade é de 7%. Falta explicar que os 7% são todos os casos de morte registrados em um estado apenas (até agora), onde um lar de idosos foi duramente atingido. A divulgação de números sem as qualificações necessárias acelera o pânico e o desabastecimento generalizado que as mesmas autoridades querem evitar.

Em meio a isso, está a economia — a global, a brasileira. A paralisia que resulta da incerteza haverá de retirar um bom pedaço do que se esperava para o crescimento mundial em 2020, ainda que o mundo mais do que descoordenado de hoje, ao contrário de como estava na crise de 2008, consiga fazer medidas de estímulo mais ou menos simultâneas. 

O Brasil, pobre Brasil, continua entregue à historinha de que se as reformas andarem a coisa vai, mesmo que isso não tenha acontecido nos últimos três anos. O corre-corre de nossas galinhas sem cabeça entregou crescimento de 1,1% em 2019, ano da reforma da Previdência. No ano do coronavírus não é difícil imaginar que o país pare de crescer ou mesmo sofra uma leve recessão no melhor dos casos, quiçá cheguemos a nossa marca registrada, o PIB de 1%.  A economia da epidemia, afinal, é isso aí. Uma grande balbúrdia em meio à falência cognitiva generalizada. Para os que aterrissaram do Carnaval, feliz 2020.

Monica de Bolle, colunista Época