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quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Valec e EPL, estatais e imortais - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Valec e EPL, estatais que resistem à extinção 

Fusão pode ter bom resultado ou ser troca de três pares por meia dúzia - Empresas sobreviverão ao primeiro ano do governo Bolsonaro 

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, anunciou que o governo estudará a fusão de três estatais: a Infraero, a Valec, e a ELP. Para quem recebe essa notícia, noves fora os padecimentos que já sofreu nos aeroportos, as duas outras siglas são sopa de letras. Olhando-se de perto, são uma aula. A Valec é uma estatal que cuida de ferrovias desde o século passado. Em 1987 o repórter Janio de Freitas denunciou vícios na sua concorrência para a Norte-Sul. (Ela ainda não está pronta, mas deixa pra lá.) No mandarinato petista a Valec ficou com o projeto do trem-bala que ligaria o Rio de Janeiro a São Paulo. Maluquice sem par, não tinha projeto nem empreiteiros querendo entrar no delírio.  Ficaria pronto para a Copa de 2014, ou, a mais tardar, para a Olimpíada de 2016. A concessão foi a leilão e não teve interessados. A estatal foi entregue ao ex-deputado José Francisco das Neves, mais conhecido como “Doutor Juquinha”. Essa pérola tinha mais funcionários no Rio do que em Brasília, onde ficava sua sede. 

[Presidente Bolsonaro! 
falavam e falam o diabo do Sarney - a maior parte do falatório com razão. 
Mas, uma coisa precisa ser dita: ele sabia, e ainda sabe,  respeitar a liturgia do cargo de presidente da República.
O senhor ainda deixa sua preferência por um bom debate, conspurcar a liturgia do cargo que o senhor exerce = é o Presidente da República, eleito pela vontade soberana de quase 60.000.000 de eleitores e, em termos humanos, o senhor só perde a reeleição em 2022 dependendo de sua própria vontade e conduta.
Discutir com criminoso condenado, em liberdade temporária, é algo que um presidente da República deve se autoproibir.

O senhor bateria boca com Marcola? com Elias Maluco? com Fernandinho Beira-mar?  Claro que não.
Da mesma forma que sentido tem o senhor bater boca com o condenado petista - momentaneamente, fora da cadeia?

Após essa longa entrada, vamos ao que interessa.
Tem briga da qual não se pode fugir. O senhor NÃO DEVE EVITAR a briga com a 'imortalidade' das estatais do título - tome como coisa pessoal, briga de foice no escuro, e extinga as três estatais.
Nada de fusão. Extinga as três e funda os 'restos mortais' na mesma cova.]


Felizmente, o BNDES e o Tribunal de Contas travaram o trem-bala, mostrando que numa das pontas estavam espertalhões italianos. A essa altura, a papelada do trem já havia custado R$ 63 milhões. Em 2012 “Doutor Juquinha” foi para a cadeia. Solto, viu-se condenado a nove anos de prisão e foi novamente preso. Colecionou maracutaias. O trem-bala sumiu da propaganda por algum tempo mas, em 2012, seu projeto mudou-se para uma nova estatal que acabara de ser criada, a EPL ou Empresa de Planejamento de Logística. Ela comandaria R$ 133 bilhões em investimentos, inclusive para o trem. A EPL encarnaria uma revolução, e seu presidente prometia zerar os investimentos em infraestrutura em cinco anos. Como representava o início de um novo mundo, o trem seria privatizado, pois havia japoneses e coreanos interessados. Mais: ele poderia ir até Campinas e talvez, com menor velocidade, ligasse São Paulo a Belo Horizonte, Curitiba e Brasília.
Em 2015 o trem-bala foi para o arquivo, mas a EPL, como o Fantasma das Selvas, mostrou que era imortal. A essa altura o comissariado petista fumava a ideia da Ferrovia Transoceânica, que ligaria o Atlântico ao Pacífico, com dinheiro dos chineses. Foi uma fantasia vexaminosa. 

Em 2017 a EPL tinha 143 funcionários, uma mixaria diante da Valec, com 1.027.
Em fevereiro o ministro Tarcísio de Freitas anunciou a inexorável extinção da Valec, e seu colega Paulo Guedes defendeu o fechamento da EPL. Não rolou. Quanto à Infraero, seria desossada depois da privatização de 44 aeroportos. Também não rolou.

O ministro Tarcísio conhece as malhas da burocracia da Infraestrutura. Sua última ideia não tem a retumbância das promessas de início de governo. Uma coisa é certa: a Infraero, a EPL e a Valec sobreviverão ao primeiro ano do governo Bolsonaro, pois os estudos da fusão poderão se estender até o fim do primeiro semestre de 2020. A fusão dessas três estatais poderá produzir um bom resultado, poderá também ser uma troca de três pares por meia dúzia. Conhecendo-se o passado da trinca e, sobretudo da dupla Valec/EPL, fica o risco de se planejar um cruzamento de tatu com tartaruga e urubu.

Folha de S. Paulo e O Globo - Elio Gaspari, jornalista
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A presimente Dilma quer seguir o mesmo modelo que o Ignorantácio Lula seguiu na Transnodestina – inaugurada quatro vezes, com vagões ferroviários transportados em carretas rodoviárias


Ferrovia transoceânica: a distância entre o discurso e a realidade nos acordos com a China

Anunciado com estardalhaço pela presidente Dilma Rousseff, o projeto de construção de uma ferrovia que ligaria o Brasil ao Peru é o maior exemplo do quanto alguns acordos firmados entre Brasil e China nesta terça-feira estão longe de virar realidade. Com exceção de alguns negócios que já vinham sendo tratados há meses, como a venda do BBM, a compra de 22 jatos da Embraer e a retomada da exportação de carne, a maioria dos acordos ainda necessita de estudos técnicos e licitações. Tirando o entusiasmo do governo diante da perspectiva de receber vultosos valores em um momento de crise financeira, o que se tem de concreto é que as autoridades chinesas manifestaram a intenção de investir mais de 53 bilhões de dólares no Brasil.

Em coletiva convocada para falar sobre o pacote de anúncios, os representantes do governo federal deixaram bem claro que são apenas "memorandos de entendimento". O embaixador José Alfredo Graça Lima explica: "São cifras que visam dar dimensão da grandeza do que pode efetivamente ser alcançado dentro de um prazo de tempo que a gente não sabe, hoje, até onde vai se estender". É por isso que o plano ambicioso de construir uma ferrovia, de 4.700 quilômetros, que atravesse a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes, deve demorar e esbarrar ainda em muitos empecilhos para sair do papel, a começar pela obtenção de licenças ambientais e de estudos de viabilidade da obra. Vale lembrar que a ferrovia transoceânica já havia sido anunciada em julho do ano passado por ocasião da visita oficial do presidente chinês, Xi Jinping, ao país.

Brasil e China: valor dos acordos está nos manuscritos de Confúcio

A presidente Dilma anunciou nesta terça-feira um acordo nababesco com o governo chinês. Serão 53 bilhões de dólares em trocas comerciais, um fundo de investimentos de 50 bilhões de dólares para infraestrutura e outro de 30 bilhões de dólares para não se sabe o quê. O discurso soa como música aos ouvidos de quem está cansado de ouvir notícias ruins sobre a economia. Como o diabo está nos detalhes, quando os representantes do governo brasileiro foram confrontados com perguntas básicas sobre os acordos, na coletiva de imprensa, as respostas não poderiam ser mais evasivas.

Resumo da história: os números são fictícios e nenhum acordo foi firmado. O que houve, durante a visita do premiê Li Keqiang, foi um memorando de intenções que pode resultar em acordos no futuro. Disse o vice-presidente da Caixa, Marcio Percival, que não sabia de nada e que o jornalista teria de procurar a informação com os chineses. "Não tem nada contratado. Houve uma lista de intenções apresentada pelos chineses e esses números precisam ser consolidados. Por enquanto, há apenas a intenção", disse. O fato de Percival não conhecer os números é elucidativo: um dos memorandos firmados nesta terça envolve a Caixa e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) na criação de um fundo de 50 bilhões de dólares. O executivo também não soube explicar o quanto a Caixa deverá aportar desse valor. Talvez os jornalistas tenham de recorrer aos manuscritos de Confúcio para encontrar a resposta.

Fonte: Veja On Line