Ferrovia transoceânica: a distância entre o discurso e a realidade nos acordos com a China
Anunciado com
estardalhaço pela
presidente Dilma Rousseff, o projeto de construção de
uma ferrovia que ligaria o Brasil ao Peru é o
maior exemplo do quanto alguns acordos
firmados entre Brasil e China nesta terça-feira
estão longe de virar realidade. Com exceção de alguns negócios que já
vinham sendo tratados há meses, como a
venda do BBM, a compra de 22 jatos da Embraer e a retomada da exportação de
carne, a
maioria dos acordos ainda necessita de estudos técnicos e licitações.
Tirando o entusiasmo do governo diante da perspectiva de receber vultosos
valores em um momento de crise financeira, o que se tem de concreto é que as
autoridades chinesas manifestaram a intenção de investir mais de 53 bilhões de
dólares no Brasil.
Em
coletiva convocada para falar sobre o pacote de anúncios, os representantes do
governo federal deixaram bem claro que são apenas "memorandos de entendimento". O embaixador José Alfredo
Graça Lima explica: "São cifras que
visam dar dimensão da grandeza do que pode efetivamente ser alcançado dentro de um prazo de tempo que a gente não sabe, hoje, até
onde vai se estender". É por isso que o plano ambicioso de
construir uma ferrovia, de 4.700
quilômetros, que atravesse a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes, deve demorar e
esbarrar ainda em muitos empecilhos para sair do papel, a começar
pela obtenção de licenças ambientais e de estudos de viabilidade da obra. Vale
lembrar que a ferrovia transoceânica já
havia sido anunciada em julho do ano passado por ocasião da visita oficial
do presidente chinês, Xi Jinping, ao país.
Brasil e China: valor dos acordos está nos manuscritos de Confúcio
A presidente Dilma
anunciou nesta terça-feira um acordo nababesco com o governo chinês. Serão 53 bilhões
de dólares em trocas comerciais, um fundo de
investimentos de 50 bilhões de dólares para infraestrutura e outro de 30 bilhões de dólares para não se sabe o quê.
O discurso soa como música aos ouvidos de quem está cansado de ouvir notícias
ruins sobre a economia. Como o diabo está nos detalhes, quando os representantes do governo brasileiro foram confrontados com
perguntas básicas sobre os acordos, na coletiva de imprensa, as respostas não poderiam ser mais evasivas.
Resumo da história: os números são fictícios e nenhum acordo foi firmado. O que houve, durante a visita do premiê
Li Keqiang, foi um memorando de
intenções que pode resultar em acordos no futuro. Disse o vice-presidente
da Caixa, Marcio Percival, que não sabia de nada e que o jornalista teria de
procurar a informação com os chineses.
"Não tem nada contratado. Houve uma lista de intenções apresentada pelos
chineses e esses números precisam ser consolidados. Por enquanto, há apenas a
intenção", disse. O fato de
Percival não conhecer os números é elucidativo: um dos memorandos firmados
nesta terça envolve a Caixa e o Banco
Industrial e Comercial da China (ICBC) na criação de um fundo de 50 bilhões de dólares. O
executivo também não soube explicar o
quanto a Caixa deverá aportar desse valor. Talvez os jornalistas tenham de recorrer aos manuscritos
de Confúcio para encontrar a resposta.
Fonte:
Veja On Line
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