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domingo, 13 de janeiro de 2019

Filipe G. Martins, o ‘jacobino’ que chegou ao Planalto e Clã Bolsonaro brinca com fogo

Quem é o novo conselheiro pessoal de Jair Bolsonaro

“Está decretada a nova Cruzada. Deus vult!” Foi assim, referindo-se ao movimento de libertação de Jerusalém dos infiéis e ao grito em latim dado pelo povo quando o papa Urbano II anunciou a Primeira Cruzada, em 1095, que o ativista, professor e analista político Filipe Garcia Martins Pereira, recém-nomeado assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro e cotado para ser porta-voz do governo, comemorou nas redes sociais a vitória no segundo turno das eleições, em 28 de outubro.
“A nova era chegou. É tudo nosso! Deus vult!”, acrescentou, no dia da posse, em 1.º de janeiro, recorrendo mais uma vez à saudação dos devotos medievais, que, em português, significa “Deus quer”.

Ao ser questionado sobre as publicações, Martins, de 30 anos, afirmou que tudo não passou de uma brincadeira. Segundo ele, os posts não significavam que ele encara a missão do novo governo e a sua, em particular, como uma “guerra santa” do século 21, cujo objetivo seria libertar a República dos gentios da esquerda, que assumiram o poder após a redemocratização, nos anos 1980. Mas quem o conhece bem afirma que os posts estão em linha com o seu pensamento político e com o que costuma falar por aí. Bastaria, de qualquer forma, dar uma checada em suas páginas e perfis nas redes sociais para chegar à mesma conclusão. As duas publicações revelam não só as suas motivações e a sua visão pessoal sobre a chegada de Bolsonaro ao poder. Traduzem, de forma emblemática, o estado de espírito e a ambição dos vencedores, que ele sabe captar e expressar como poucos e que deverão nortear também a sua atuação no governo. “O que está acontecendo no Brasil é uma revolução – a fucking revolution– e não há meios de pará-la”, disse Martins pouco antes do segundo turno.

Recentemente, ele se aproximou do vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente, responsável pela bem-sucedida campanha do pai nas redes. No clã dos Bolsonaro, porém, seu padrinho é Eduardo, outro filho do presidente, que acabou de se reeleger deputado federal (PSL-SP). Martins conta que conheceu Eduardo pela internet em 2014, quando o movimento que chama de “liberal-conservador” ainda ganhava força, e há alguns anos mantém uma relação muito próxima com ele.

Pupilo aplicado do pensador e escritor Olavo de Carvalho, o grande mentor intelectual de Bolsonaro e especialmente de Eduardo, Martins é hoje, talvez, seu principal “trombone” no País. Na campanha eleitoral, com o apoio de Olavo e de Eduardo, desempenhou um papel relevante no núcleo ideológico que cercou Bolsonaro e que agora exibiu suas garras, ao dividir com os liberais, os militares e o grupo do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o protagonismo no novo governo, arrematando os ministérios da Educação e das Relações Exteriores, além de seu próprio cargo e outros postos de segundo e terceiro escalões.

Apesar de ser bem articulado e ter as “costas quentes”, sua ascensão meteórica ao poder surpreendeu muitos analistas, mesmo os que acompanham de perto a turma de Bolsonaro. Como é relativamente jovem e desconhecido fora do mundinho da direita na internet, questiona-se se tem estatura para ser conselheiro pessoal do presidente na área internacional, cargo ocupado nos governos Lula e Dilma pelo petista Marco Aurélio Garcia, morto em 2017.  Por estar dentro do Palácio do Planalto, perto de Bolsonaro, questiona-se também como será sua convivência com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e em que medida a ação de Martins poderá embolar a política externa do País. Mas ele diz que não terá o mesmo papel exercido por Garcia, que era o grande formulador da política internacional dos governos do PT e deixava para o Itamaraty o papel de executor de suas diretrizes – algo que Martins considera “uma aberração”.

Em princípio, sua função deverá ser mais a de auxiliar o presidente em sua agenda no exterior, na recepção a chefes de Estado e em mantê-lo informado sobre os fatos internacionais relevantes. Se isso se confirmar, a formulação da política externa caberá mesmo a Araújo, com quem ele parece compartilhar a mesma visão geopolítica.  Formado em relações internacionais na Universidade de Brasília, em 2015, Martins trabalhou por dois anos no departamento econômico da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, acompanhando os trabalhos do Congresso e produzindo pesquisas, análises e relatórios sobre a conjuntura política e econômica do País.

Trabalhou também na assessoria internacional do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e em consultorias privadas, além de dar aulas em cursos preparatórios para a carreira diplomática e a de oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).  Mais recentemente, ocupou a secretaria de Assuntos Internacionais do PSL e fez a sua pregação conservadora pelo Brasil afora, em debates, seminários e palestras. Foi editor-adjunto do site Senso Incomum, do também bolsonarista e olavista radical Flavio Azambuja Martins, mais conhecido pelo pseudônimo de Flavio Morgenstern, que defendeu, numa publicação polêmica no Twitter, a queima de livros do educador Paulo Freire em praça pública, para resolver o problema da educação no País. Depois, diante da repercussão negativa do comentário, disse que se tratava de uma ironia, que não deveria ser levada ao pé da letra.

Foram, porém, os seus propalados acertos em previsões eleitorais no exterior que fizeram a fama de Martins, em especial a da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016. Contra a opinião da quase totalidade dos analistas que apostava em Hillary Clinton, ele cravou que Trump ganharia a eleição e acertou o vencedor em 48 dos 50 Estados americanos. Desde então, vem surfando nessa onda, apesar de ter errado outras previsões, segundo seus críticos, como na antecipação das eleições na Inglaterra, em 2017, quando apostou na vitória dos conservadores, que acabaram perdendo espaço para os trabalhistas.  Como o novo chanceler brasileiro, Martins é avesso ao globalismo, que, em sua visão, submete o País a decisões de organizações multilaterais que muitas vezes não atendem ao interesse nacional. Além de defender uma reaproximação do Brasil com os Estados Unidos, Martins afirma ter “grande admiração” pelos governos de direita da Itália, Hungria, Polônia, Áustria, Grã-Bretanha, República Checa, Suíça e Israel. Ele apoia a participação do País na nova aliança conservadora global articulada pelo estrategista Steve Bannon, ex-assessor do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Por sua atuação agressiva nas redes sociais e suas ideias muitas vezes messiânicas, baseadas nos ensinamentos do “professor Olavo”, Martins foi chamado de “Robespirralho”, “revolucionário de Facebook” e “líder da direita jacobina”. Também foi chamado de “Sorocabannon”, por ter nascido em Sorocaba, no interior paulista, e pontificar sobre a estratégia política e eleitoral de Bolsonaro, como Bannon fazia com Trump.  Apesar do antipetismo e da oposição que exerce contra o socialismo e o comunismo, é nas fileiras da própria direita que ele costuma “causar”. Na campanha, Martins foi protagonista de embates antológicos contra o que chama de “direita limpinha” e “conservadores de almanaque”. “Os conservadores de ‘boa estirpe’ talvez sejam ótimos para conquistar afagos dos colegas esquerdistas, mas só a direita xucra tem o desprendimento para ver sua imagem destruída em nome do que é certo”, disse na véspera do segundo turno.

Com 58 mil seguidores no Facebook e 108 mil no Twitter, ele não hesita em lançar contra seus adversários na arena digital uma espécie de “fatwa” o decreto emitido por líderes religiosos do Islã para os fiéis. “Faça piada com o que quiser”, afirmou nas redes, diante da repercussão da fala da ministra Damares Alves contra a chamada “ideologia de gênero”, usando como metáfora as cores que meninos e meninas deveriam vestir. “Só entenda, aí do alto de sua religiãozinha civil, que o esquisito é você e que há um exército de tias do zap e de tios do pavê com piadas o suficiente para lhe fazer chorar para o resto da vida, mesmo que você peça arrego e alegue ‘discurso de ódio’.”

Durante a greve dos caminhoneiros, em 2018, Martins abraçou o movimento com armas virtuais e furor revolucionário, como o mestre Olavo. Encampou também o “Fora, Temer”, reforçando a narrativa da esquerda à qual tanto se opõe. Ele enxergou na paralisação a chance de “mobilizar a massa”, derrubar o governo, acabar com a corrupção e os privilégios dos políticos e promover o corte de gastos públicos e de impostos.  Numa tentativa bizarra de unir o espírito revolucionário às ideias conservadoras, Martins acreditou que a greve representava para o País uma espécie de Boston Tea Party, o movimento deflagrado em 1773 pelos colonos americanos contra o monopólio da Inglaterra na venda de chá, que acabou levando à independência dos Estados Unidos.

Só que, ao final, como já era previsível, o Tea Party de Martins, incensado por Olavo de Carvalho, deu ruim. Com a decisão do governo de subsidiar o diesel, a conta sobrou para os contribuintes, e com o tabelamento do frete, houve mais intervenção estatal na economia. O fracasso de sua aventura tresloucada deixou duras lições. Agora, elas poderão contribuir para Martins ser mais equilibrado em sua passagem pelo governo.

Transcrito do jornal O Estado de S. Paulo

Enquanto isso, Queiroz dança e rola

Quanto mais tempo for gasto para que se esclareça a encrenca em que se meteu Fabrício Queiroz, ex-funcionário do gabinete do deputado Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, pior para a reputação do clã do presidente da República empossado há 13 dias. [apelamos para a humanidade dos líderes da grande Imprensa para que tenham em conta que Queiroz, inocente ou culpado, santo ou Demónio, é portador de um câncer no intestino, em estágio avançado com elevado risco de morrer devido a doença, e que merece, no mínimo po0r sua condição primeira de ser humano, respeito e consideração.

Quando ele estiver recuperado que o execrem, que o prendam, que o condenem, até mesmo sem ouvi-lo; 
mas, enquanto isso não ocorre o respeitem como ser  humano e considerem que um doente comemorar no último dia do ano, com seus familiares, às vésperas de realizar complexa e perigosa cirurgia,  a virada do ano não é um gesto que comprometa ninguém.

Quanto ao suposto envolvimento de pessoas da família Bolsonaro com eventuais falcatruas que Queiroz talvez tenha cometido, é fato a ser apurado na forma e dentro das leis e, sendo provado, a punição tem que ser severa e EXEMPLAR.]

Queiroz é suspeito de ter embolsado ou repassado a terceiros parte dos salários dos seus colegas de gabinete. Um cheque dele no valor de R$ 24 mil foi passar na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro. A crer-se no que disse o presidente, era parte de uma grana que Queiroz lhe devia.  Sim, porque Queiroz e Jair eram amigos há 40 anos. A mulher e duas filhas de Queiroz trabalharam com Flávio no gabinete. Uma das filhas, depois, foi trabalhar no gabinete de deputado federal de Jair. O Ministério Público quer interrogar Queiroz, e já o intimou quatro vezes pelo menos.

Por problemas de saúde, Queiroz faltou aos depoimentos, internou-se em um hospital de São Paulo, um dos mais caros do país, e ali foi operado de um câncer, segundo ele mesmo informou. Intimadas, a mulher e as duas filhas invocaram o estado de saúde de Queiroz para não serem ouvidas.  Dois vídeos protagonizados por Queiroz foram a sensação do último fim de semana nas redes sociais. No primeiro, ele celebra a chegada do Ano Novo em seu quarto de hospital dançando na companhia de familiares. No outro, manifesta sua revolta com a divulgação do vídeo da dança.

 

Os Bolsonaros dizem que não devem explicações para o que Queiroz fez ou deixou de fazer com o dinheiro movimentado em sua conta sem que ele aparentemente tivesse renda suficiente para isso. Queiroz afirma que em breve dará as explicações pedidas e que elas serão satisfatórias.


E se não forem? Pior para ele, mas também para os Bolsonaros.