[insistimos em que a investigação de um assassinato não pode atropelar mais de 50.000 investigações de homícidio, em curso - para saber mais clique aqui.]
A
execução da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes está
sob investigação há 363 dias. A 48 horas do aniversário de um ano dos
assassinatos, o Ministério Público e a polícia anunciaram com estardalhaço a
prisão dos supostos assassinos: Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, ambos
egressos da Polícia Militar. Quem mandou matar? Não há sinal dos mandantes.
Alegou-se que "provas técnicas" levaram à identificação dos
executores de Marielle e Anderson. Pode ser. Mas essas provas não foram
colocadas sobre a mesa nas entrevistas. Informou-se que os criminosos nutriam
uma "repulsa" pela figura de Marielle e por sua pauta política.
Mataram por "motivo torpe", alegou a Promotoria. Cometeram
"crime de ódio", declarou o representante da polícia civil.
Impossível não é. Mas faz pouco nexo.
No mundo em que as coisas fazem sentido,
matadores de aluguel matam como um negócio. Não costumam se dar ao luxo de
custear uma operação sofisticada para matar uma pessoa por não gostar das
atividades dela. Agem por dinheiro, não por capricho. As autoridades não
excluem a hipótese de surgirem os mandantes.
O governador do Rio, Wilson Witzel, soltou fogos. "É uma resposta
importante que nós estamos dando à sociedade, a elucidação de um crime
bárbaro…" Elucidação? Longe disso. Se os representantes do Ministério
Público e da polícia civil do Rio tivessem convocado a imprensa nacional para
anunciar uma nova receita de feijoada, haveria no panelão dessa investigação de
quase um ano muito caldo (dois suspeitos estão no fogo) e pouco feijão (falta
mostrar as provas técnicas). Carne, nem pensar —esse gostinho, a plateia só vai
sentir quando forem respondidas as perguntas centrais: quem mandou matar? Por
quê? Convém lembrar que a investigação do caso Marielle está sob investigação
da Polícia Federal. Isso ainda vai longe.
[a única certeza que há, é a de quando o alarde das prisões dos suspeitos cessar, após o próximo dia 14, os suspeitos serão silenciosamente libertados (nesses casos não convocam entrevistas) e as investigações continuam.
Utilizam dezenas de policiais para investigar dois homícidios, utilizar a PF para investigar a investigação, enquanto milhares de homicídios (incluindo latrocínios e outros crimes mais graves) são deixados de lado.]