O Globo
Economia não ajudará na avaliação de Bolsonaro
A economia não deverá vir em socorro do
presidente Bolsonaro para melhorar sua popularidade, porque o nível de
atividade este ano está muito fraco, não houve a retomada prevista pelo
mercado financeiro. Para 2020, a previsão é de um crescimento de 2,1%,
insuficiente para criar um clima de otimismo e que pode nem ser
confirmado. Ele terá que mudar totalmente sua forma de governar, focar
nos problemas que herdou e que tem que solucionar, se quiser que a
conjuntura melhore. A desculpa de “eu não entendo de economia” é boa
como truque de campanha. Não serve para governar.
O mais importante na pesquisa Datafolha é que ela confirma a tendência de piora precoce da aprovação. Os dados mostraram que 38% avaliam o desempenho do presidente como ruim ou péssimo, apenas 29% acham que é ótimo ou bom. Na mesma época, Fernando Henrique era reprovado por 15% das pessoas consultadas, Lula, por 10%, e Dilma, 11%. Bolsonaro mesmo derrubou a sua popularidade, com a estratégia conflituosa que colocou em prática. Sua decisão de criar sucessivos atritos, a crise ambiental, a demora da resposta da economia estão fazendo com que ele perca o apoio daquele eleitor que votou nele por determinadas circunstâncias, mas que não necessariamente se identifica com todas as suas propostas. Uma importante maioria, 62%, acha que ele fez menos do que o esperado em seu governo. E até entre os que votaram nele 41% acham isso.
O apoio que ele tem é baixo principalmente porque há uma longa travessia para fazer até o fim do governo, e ele já está pensando no próximo mandato. Se ele tivesse esses percentuais de aprovação após um período longo de administração e, portanto, de natural desgaste, se poderia dizer que era um bom nível para a disputa da reeleição. Mas ele tem pela frente três anos difíceis, com as contas públicas em situação calamitosa. Quanto mais impopular é o presidente, mais difícil é ele reunir uma base de apoio no Congresso para os seus projetos. Bolsonaro criou dificuldades desnecessárias com o Congresso no seu melhor momento, em início do mandato, e agora está distribuindo cargos e aceitando as indicações que dizia que não aceitaria. A reforma da Previdência foi aprovada na Câmara pelo esforço de outros partidos, alguns hostilizados por ele, mas a sua desidratação pode levar a maiores dificuldades de construir consensos que levem a avanços na pauta econômica.
O Orçamento feito pela equipe econômica do presidente Bolsonaro não é nem de longe o que foi prometido na campanha. Ninguém que entende da economia brasileira achou que a promessa de zerar o déficit no primeiro ano fosse factível. Mas mesmo os mais pessimistas se assustam com o quadro orçamentário. Do pico de 2014, de R$ 102 bi, em valores de hoje, o investimento público veio caindo ano a ano. Para 2020 o número é impressionante: apenas R$ 19,3 bilhões. Pode crescer com emendas parlamentares, mas pouco.
O déficit da Previdência vai subir mesmo com a reforma. Como a regra do teto de gastos impede que as despesas totais cresçam acima da inflação, o que aumenta na Previdência acaba sendo tirado de outras áreas. Há riscos reais de paralisia da máquina pública. E isso tudo apesar de ser um orçamento deficitário em R$ 124 bilhões, e que obrigará o governo a pedir ao Congresso dinheiro extra no volume de R$ 367 bilhões.
O cenário internacional continua problemático. Ontem o dólar bateu em R$ 4,18. O real foi a moeda que mais se desvalorizou no dia. O Banco Central anunciou leilão de dólar no mercado à vista. O Brasil tem dólar sobrando nas reservas, portanto, não há no horizonte nenhuma crise cambial. O problema é que altas abruptas no câmbio sempre têm efeitos na economia, encarecendo importações. A crise da Argentina vai impactar a indústria que exporta para lá.
Esse não é um quadro que autorize a avaliação de que a economia vai ter uma melhora substancial, que alavanque a confiança, o emprego, a renda e se transforme em aprovação ao governo. O que mais se ouve entre economistas é que a “entrega” está baixa. O presidente herdou uma situação difícil. Mas depois de um certo tempo não adianta culpar o passado, é preciso responder o que tem feito para mudar a situação. Bolsonaro prefere criar conflitos do que solucionar problemas.
Blog da Míriam Leitão, jornalista - Alvaro Gribel, São Paulo
O mais importante na pesquisa Datafolha é que ela confirma a tendência de piora precoce da aprovação. Os dados mostraram que 38% avaliam o desempenho do presidente como ruim ou péssimo, apenas 29% acham que é ótimo ou bom. Na mesma época, Fernando Henrique era reprovado por 15% das pessoas consultadas, Lula, por 10%, e Dilma, 11%. Bolsonaro mesmo derrubou a sua popularidade, com a estratégia conflituosa que colocou em prática. Sua decisão de criar sucessivos atritos, a crise ambiental, a demora da resposta da economia estão fazendo com que ele perca o apoio daquele eleitor que votou nele por determinadas circunstâncias, mas que não necessariamente se identifica com todas as suas propostas. Uma importante maioria, 62%, acha que ele fez menos do que o esperado em seu governo. E até entre os que votaram nele 41% acham isso.
O apoio que ele tem é baixo principalmente porque há uma longa travessia para fazer até o fim do governo, e ele já está pensando no próximo mandato. Se ele tivesse esses percentuais de aprovação após um período longo de administração e, portanto, de natural desgaste, se poderia dizer que era um bom nível para a disputa da reeleição. Mas ele tem pela frente três anos difíceis, com as contas públicas em situação calamitosa. Quanto mais impopular é o presidente, mais difícil é ele reunir uma base de apoio no Congresso para os seus projetos. Bolsonaro criou dificuldades desnecessárias com o Congresso no seu melhor momento, em início do mandato, e agora está distribuindo cargos e aceitando as indicações que dizia que não aceitaria. A reforma da Previdência foi aprovada na Câmara pelo esforço de outros partidos, alguns hostilizados por ele, mas a sua desidratação pode levar a maiores dificuldades de construir consensos que levem a avanços na pauta econômica.
O Orçamento feito pela equipe econômica do presidente Bolsonaro não é nem de longe o que foi prometido na campanha. Ninguém que entende da economia brasileira achou que a promessa de zerar o déficit no primeiro ano fosse factível. Mas mesmo os mais pessimistas se assustam com o quadro orçamentário. Do pico de 2014, de R$ 102 bi, em valores de hoje, o investimento público veio caindo ano a ano. Para 2020 o número é impressionante: apenas R$ 19,3 bilhões. Pode crescer com emendas parlamentares, mas pouco.
O déficit da Previdência vai subir mesmo com a reforma. Como a regra do teto de gastos impede que as despesas totais cresçam acima da inflação, o que aumenta na Previdência acaba sendo tirado de outras áreas. Há riscos reais de paralisia da máquina pública. E isso tudo apesar de ser um orçamento deficitário em R$ 124 bilhões, e que obrigará o governo a pedir ao Congresso dinheiro extra no volume de R$ 367 bilhões.
O cenário internacional continua problemático. Ontem o dólar bateu em R$ 4,18. O real foi a moeda que mais se desvalorizou no dia. O Banco Central anunciou leilão de dólar no mercado à vista. O Brasil tem dólar sobrando nas reservas, portanto, não há no horizonte nenhuma crise cambial. O problema é que altas abruptas no câmbio sempre têm efeitos na economia, encarecendo importações. A crise da Argentina vai impactar a indústria que exporta para lá.
Esse não é um quadro que autorize a avaliação de que a economia vai ter uma melhora substancial, que alavanque a confiança, o emprego, a renda e se transforme em aprovação ao governo. O que mais se ouve entre economistas é que a “entrega” está baixa. O presidente herdou uma situação difícil. Mas depois de um certo tempo não adianta culpar o passado, é preciso responder o que tem feito para mudar a situação. Bolsonaro prefere criar conflitos do que solucionar problemas.
Blog da Míriam Leitão, jornalista - Alvaro Gribel, São Paulo