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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Em uma democracia séria, ministros do STF não se encontrariam com julgados pela Corte - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo - Vozes


Luis Roberto Barroso
Parlamentares vão pedir a “suspeição” de Luis Roberto Barroso em processos que envolvem Bolsonaro e aliados no STF.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


A jornalista Malu Gaspar acaba de revelar na sua coluna em O Globo que o futuro presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, se encontrou em Lisboa, duranteeventos diversos (é assim que se chamam hoje em dia essas coisas que não se sabe direito o que são: “eventos”), com dois pesos pesados da vida penal brasileira. Um é Joesley Batista. O outro é André Esteves.

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Não podia, por uma questão elementar de compostura, ser visto com nenhum dos dois
- cada vez que um negócio desses acontece, a impressão que fica é a pior possível
É ruim, por qualquer critério que se queira adotar, que um ministro do STF se encontre com bilionários enrolados com a Justiça. 
É pior ainda quando esse mesmo ministro está escalado para presidir a partir de setembro a mais alta Corte de Justiça do Brasil. 
É proibido por lei? Pode ser, pode não ser. Mas, com certeza, é o que as pessoas de bem chamam de “coisa que não se faz”. Talvez seja até pior.

    É ruim, por qualquer critério que se queira adotar, que um ministro do STF se encontre com bilionários enrolados com a Justiça.

A história toda é uma lástima. Um dos encontros de Barroso, com o delator premiado e empresário Joesley Batista, ocorreu num coquetel – parte de um dos seminários seriais que seu colega Gilmar Mendes promove em Lisboa, na qualidade de sócio de uma faculdade particular de Direito em Brasília. 
Existe uma coisa dessas em alguma democracia séria do mundo – o cidadão ser ao mesmo tempo ministro da Corte Suprema e empresário no ramo do ensino privado? Não existe.
 Isso é coisa exclusiva do STF brasileiroou de algum desses tribunais de Terceiro Mundo que se multiplicam por aí.
 
O outro foi num jantar promovido pelo banqueiro André Esteves, que frequentou o sistema penitenciário brasileiro nos tempos em que a Justiça combatia a corrupção. O contato com Joesley, segundo Barroso, foi casual: ele estava no coquetel e, de repente o empresário apareceu. No caso de Esteves, não há o que dizer. O jantar era oferecido por seu banco, o Pactual – e ninguém vai por acaso a um jantar do Banco Pactual.  
Em qualquer das duas circunstâncias, Barroso não tinha nada de estar lá. Esses seminários, e jantares, e festinhas, e coisas que têm “patrocínio”, não são armados do mundo dos arcanjos
Existem para fazer exatamente o que fazem: promover contatos de primeiro grau entre julgadores e julgados. Não poderiam nunca estar juntos. É uma situação de incesto.

Barroso (e Gilmar) vêm se juntar ao ministro Alexandre de Moraes, que voltava de um “evento” desses, na Universidade de Siena, quando se viu envolvido no infausto caso do bate-boca no aeroporto de Roma. Moraes estava lá, como se sabe, por conta de um grupo empresarial que tem, entre diversos negócios, uma faculdade de Direito particular em Goiânia. Tem, também, um laboratório farmacêutico que fabrica ivermectina, faturou R$ 500 milhões com a venda da substância durante a pandemia e acaba de ser condenada na Justiça a pagar uma multa de R$ 55 milhões – no entender do juiz, ela explorou dolosamente os “tratamentos alternativos” para a Covid tão ao gosto do ex-presidente Bolsonaro e tão amaldiçoados pela esquerda nacional e pelo STF.

É certo um magistrado fazer o que o ministro Moraes fez? 
Ele, o STF e Lula acham que sim – no seu caso, no caso de Barroso, no caso de Gilmar e em todos os casos. O que dá para dizer de concreto é que nenhum Tribunal de Justiça de Primeiro Mundo concordaria com eles.

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES




quinta-feira, 17 de março de 2022

MENORES SITIADOS. É A GUERRA CULTURAL. - Percival Puggina

Criança não vota. Por isso a esquerda perdeu o rumo no caso do Danilo Gentili. Saiba: a guerra cultural em curso no Brasil é uma guerra suja, ainda mais suja que a invasão da Ucrânia. Aqui, ela é silenciosa e visa crianças e adolescentes
Mentes deformadas são menos visíveis do que edifícios em chamas. Muitas vezes, os estragos reais dessa guerra se farão sentir anos mais tarde, como acontece em certos experimentos bélicos de laboratório.

(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)

Foi assim que tudo começou, aliás, nos laboratórios de Ciências Sociais da Escola de Frankfurt, nas primeiras décadas do século passado. A ideia central, como costuma acontecer no Brasil, só chegou ao conhecimento público com meio século de atraso, quando o processo já ia longe e quando os alertas já soavam como reclamos de quem grita para o ônibus que já partiu.

Correndo livre, leve e solto, inclusive sem nome de batismo conhecido, o politicamente correto já então inibia a manifestação de contrariedade e toda reclamação era percebida e combatida, entre outras rotulagens, como conservadorismo exacerbado e reacionarismo. Houve tempo suficiente para o completo controle da cultura da elite e da cultura popular. Aquela, na Universidade; esta, nos grandes meios de comunicação.

Como não poderia deixar de ser, a saborosa cultura do Ocidente foi virando essa gosma intragável que não sabe o que é nem para onde vai. Onde o que importa é fazer crer que há algo acontecendo. Pois é a própria Escola de Frankfurt: seus membros queriam destruir uma civilização sem a menor noção sobre o que iria ocupar esse lugar.

(Calma, leitor, já vou falar sobre o filme.)

Entre os autores que eu lia nos anos 60 e 70, apenas Gustavo Corção e Nelson Rodrigues pareciam ver, nos acontecimentos, a guerra cultural e suas consequências. Com coragem, partiam para o ataque severo, no campo das ideias. Em palavras de Corção, “não há guerra com espingardas de rolha, baionetas de papelão e bombas de creme”.

Danilo Gentili foi à guerra. A violência que proporcionou, na cena de pedofilia que me recuso a descrever, não se combate com reclamação encaminhada a um 0800 da vida.  À sociedade, cabe chutar o politicamente correto, a tolerância covarde e viciosa, e responder com interdição, investigação e processo.

A cultura não é e não pode ser um valhacouto de criminosos, nem lugar sagrado onde só os devotos possam entrar. Num e noutro caso, porém, os membros do clube dispõem, como se sabe, de poderes próprios para lacrações e cancelamentos...

A audácia desse sujeito serviu para mostrar que não cometia qualquer excesso quem, contemplando a esmagadora derrota que sofríamos na guerra cultural até a eleição de 2018, enumerava os objetivos do esquerdismo revolucionário frankfurtiano: normalização da pedofilia e do incesto, publicidade e liberação das drogas, destruição da instituição familiar, implosão da Igreja Católica e infamação do cristianismo.

O governo, através do Ministério da Justiça, não jogou bombas de creme. Interditou. Cumpriu seu papel. Cumpra o seu o eleitor.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.