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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

“Do jeito que tá, até o fim do ano teremos virado uma Venezuela” - Gazeta do Povo

VOZES - Paulo Polzonoff Jr.

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Lula presta reverência ao ditador Maduro: não há otimismo que resista às medidas recentes anunciadas por Lula e seu ministério de parasitas.| Foto: Reprodução/ Twitter [o descondenado reverenciar o ditador venezuelano não chega a constranger - afinal, o mesmo individuo em seu primeiro mandato ficou de 'quatro' diante do Evo Morales, quando o boliviano confiscou duas refinarias da Petrobras.]

Tenho um amigo chamado Fábio que é a pessoa mais pé-no-chão que conheço. Tranquilo, simpático como um gordo de antigamente e dado ao deboche, ao longo dos últimos anos ele nem sabe, mas me ajudou muito contendo as exaltações do meu sangue dramaticamente russo. “Isso aí não vai dar em nada” era o bordão que ele usava para responder aos meus devaneios hiperbólicos. Hiperbolicíssimos.

Ontem Fábio me ligou. Mas já no “alô” percebi que havia algo de errado ou talvez até de muito errado com ele. Comigo. Com o país. “Cara, você tá vendo tudo o que o Lula tá fazendo?”, perguntou ele com seu sotaque caricatural de paulistano. Só faltou o “mêu” no final. Sem nem esperar por minha resposta, Fábio emendou: “Alteração do Marco do Saneamento, neta do Marighella na Funarte, decreto de desarmamento, desistência de entrar pra OCDE, discursos com 'todos, todas e todes', fim da Secretaria de Alfabetização. A gente tá lascado”, disse ele, que é avesso a palavrões.

Nessas horas é que a gente vê como são as coisas. Depois de tantos anos me aproveitando do efeito calmante da fabiosofia, senti que era a minha vez de retribuir com palavras que o tranquilizassem um pouco. O problema é que essas palavras me faltaram ontem e me faltam hoje. A única coisa que consegui dizer foi que tinha visto todas as coisas que ele mencionara e mais uma: a criação de uma tal de Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia. Ou simplesmente Ministério da Verdade Petista. "Que pesadelo!", comentei à toa, irmanado num pessimismo que me é estranho.

“Eu sabia que seria ruim e até imaginava que o Brasil poderia se tornar uma Argentina rapidinho. Mas, do jeito que tá, acho que até o fim do ano teremos virado uma Venezuela, disse ele. O Fabio. O fleumático, impassível, tranquilo, manso, pacato e quase-zen Fábio. A mim só me restou concordar e tocar um tango argentino. Mas não sem antes dar vazão ao meu lado mais catastrófico (aquele que tento esconder de todo mundo): Vou almoçar enquanto tem comida”.[o prognóstico do Fábio, só não se realizará pelo fato inevitável e necessário de que até o fim de junho próximo, o que muitos chamam governo - causador de todos os medos do fleumático  amigo do articulista terá se auto destruído = portanto, bem antes de chegar o final do ano - ousamos afirmar que até o final do mês fluente  ocorrerão demissões e/ou renúncias.]

Inferno
Foi o que fiz. Só que, diferentemente do almoço a jato de todos os dias, desta vez fiz questão de comer ritualisticamente. Preparei o prato farto, mas não extravagante. Me sentei à mesa. E rezei. Agradeci pelo arroz, pelo feijão, pela farofa e pela carne. Saboreei cada garfada como se fosse a dádiva que de fato é, mas para a qual o cotidiano de pressa e abundância não me permite dar o devido valor.

Uma vez satisfeito, recorri ao estoicismo das minhas leituras de Sêneca e Marco Aurélio. Imaginei o pior cenário (i.e., uma mistura de Venezuela, China e Coreia do Norte) e, com algum esforço, me senti capaz de enfrentá-lo e até de sobreviver a ele. E foi assim que, tomado por uma paz absurda, tive pena daqueles que  fizeram o L, hoje estão comemorando a guinada radical de Lula à esquerda e amanhã certamente sofrerão também as consequências de um eventual colapso do país.

“Como é mesmo aquela passagem da ‘Divina Comédia’?”, perguntei para a Catota, que se empanturrava de ração. Fui até a estante e abri o livro no Canto V, no qual a adúltera e lasciva Francesca diz que “não há tão grande dor qual da lembrança de um tempo feliz, quando em miséria”. Poucas definições de inferno são mais pungentes do que essa. E, no entanto, talvez pela soberba de uns e estupidez de outros, talvez este seja o inferno que nos caberá suportar pela eternidade que durar o lulopetismo.


domingo, 2 de agosto de 2020

Com quase três séculos, Igreja da Glória volta a brilhar


Ludmilla de Lima

Com ajuda de técnicas de rapel, fachada de pedra e cal passou por um minucioso trabalho de conservação para as festas deste mês

Inaugurada em 1739, a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro andava meio apagada. Antes de a pandemia isolar boa parte dos moradores da cidade, sua fachada octogonal de cal e pedra voltada para a Baía de Guanabara estava tomada por manchas escuras, provocadas por fungos. Enquanto parte da cidade se mantinha em casa nos últimos meses, um pequeno grupo trabalhava, com ajuda até de técnicas de rapel, para recuperar o brilho da igrejinha “adotada” por Dom João logo que pisou no Rio, há mais de dois séculos. Na última sexta-feira, foram dadas as últimas pinceladas: em meio à flexibilização do distanciamento social e às vésperas dos festejos de Nossa Senhora da Glória, este mês, os cariocas ganham de presente essa joia da arquitetura colonial novinha de novo.

Com quase três séculos, Igreja da Glória volta a brilhar Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Com quase três séculos, Igreja da Glória volta a brilhar Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo



'Lei do Puxadinho' aprovada:  Veja como votaram os vereadores

O processo foi acompanhado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPhan). Além de toda a área externa da igreja, o projeto recuperou as cadeiras da nave e os genuflexórios (onde os fiéis se ajoelham). O arquiteto Frederico Coutinho, que atuou ao lado da mulher, Maria Angélica, diz que o trabalho foi minucioso.
—As cantarias foram lavadas com uma escova de cerda leve e um produto de PH neutro. Na fachada, usamos um antifúngico e a pintura foi feita com cal, como a original — explica Frederico, lembrando que as últimas grandes reformas foram em 2008 e no começo dos anos 2000, quando houve o restauro do conjunto de azulejos portugueses.

Na próxima quarta-feira, a igreja abrigará uma tradição de séculos: a troca das vestes de Nossa Senhora da Glória e do Menino Jesus. Pela primeira vez, por causa da crise, as imagens serão vestidas com roupas antigas. Uma vestimenta chega a custar quase R$ 30 mil.

Artigo: Quanto vale o Rio?, por Washington Fajardo

Essa festividade, nos tempos do Império, parava a cidade. A igreja foi palco do batizado da primeira neta de Dom João VI, filha de Pedro I, Maria da Glória, que mais tarde viraria a rainha Maria II de Portugal. Cheio de histórias, esse monumento foi tombado pelo Iphan em 1938.
— Segundo historiadores, ela foi a primeira obra de arquitetura em estilo barroco brasileiro. Destacam-se pela beleza os painéis de azulejos portugueses representando cenas bíblicas, executados entre 1735 e 1740 — ressalta Paulo Vidal, especialista em conservação que acompanhou as obras pelo Iphan.

O Globo



terça-feira, 6 de junho de 2017

Um pouco sobre Andrea Neves que se encontra em prisão preventiva há quase 20 dias, por SUSPEITA de ter pedido dinheiro a Joesley Batista

Neta de Tancredo e irmã de Aécio, Andrea Neves ganhou fama no caso Riocentro

Ela socorreu capitão do Exército. Nos anos 80, a jornalista e principal assessora do irmão, agora presa em Minas no âmbito da Lava-Jato, ajudou a fundar o PT no Rio

[existe um ditado que diz que a JUSTIÇA DIVINA tarda mas não falha e que explica o castigo que Andrea Neves recebe agora - prisão preventiva por suspeita de ter pedido dinheiro a Joesley Batista e como sabemos a prisão preventiva no Brasil tem um pouco de perpétua, tendo em conta que uma das principais características da perpétua é que não se sabe quando termina e algumas preventivas no Brasil também não é sabido o término.

A prisão de Andrea - tudo indica não merecida - é a punição tardia, mas, merecida, por um crime que ela cometeu há mais de 20 anos = ajudou a fundar o PT no Rio e viajou a Cuba para prestar homenagens ao tirano Fidel...]

Principal assessora do senador afastado Aécio Neves, presidente licenciado do PSDB, a jornalista Andrea Neves foi, na juventude, personagem de um dos episódios mais marcantes do final do regime militar no Brasil (1964-1985). Na noite de 30 de abril de 1981, mais de dez mil pessoas assistiam ao show "1º de Maio" em homenagem ao Dia do Trabalho e em protesto contra a ditadura, no Riocentro, no bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, quando uma bomba explodiu dentro de um Puma no estacionamento. 

A explosão no carro, de placa fria, matou o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, que estava no banco do carona, e feriu gravemente o capitão Wilson Luís Chaves Machado, socorrido por Andrea Neves, que iria participar do evento com o namorado.
Na ocasião, a neta do então senador Tancredo Neves (PP-MG) não sabia que se tratava de um oficial do Exército ligado a grupos de extrema direita interessados em frear o projeto de abertura política no ocaso da ditadura militar, conduzido pelo presidente-general João Figueiredo. Andrea Neves, que tinha 22 anos, ajudou a levar o capitão Wilson Machado para o hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Diante da falta de iniciativa das pessoas que estavam no estacionamento do Riocentro após a explosão - não havia ambulância -, e vendo Wilson Machado ferido, Andrea contou, segundo reportagem do GLOBO em 1981, que decidiu levá-lo em seu próprio carro, um Passat branco, junto com o namorado, ao hospital na Barra. Na ocasião, a iniciativa da neta foi eleogiada por Tancredo Neves.

Braço direito de Aécio, gravado no âmbito da Lava-Jato pedindo propina de R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, Andrea é formada pela PUC-Rio no início dos anos 80. Ela morou na cidade desde o início da década de 1970 até 1982, quando ambos, Aécio e Andrea, voltaram para Minas Gerais para trabalhar na campanha que elegeu o avô governador do estado.

Andrea surgiu na vida política militando no movimento estudantil de esquerda e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio. Antes de fazer campanha do avô e do irmão, pediu votos para o ex-deputado do PT fluminense José Eudes e viajou a Cuba, onde se encontrou com Fidel Castro, em 1985, em reunião contra a dívida externa organizada pelo PCB. José Eudes, por sinal, acabaria sendo expulso do PT por discordar da direção nacional do partido ao votar em Tancredo no Colégio Eleitoral, em 1985, que o elegeu presidente da República.

Em 2003, Andrea ocupou um importante posto na campanha eleitoral do irmão ao governo do estado, o de coordenadora de comunicação. Eleito, Aécio a nomeou para a chefia do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), uma associação civil ligada ao governo que desenvolve projetos sociais em parceria com a iniciativa privada. Desde então, dividiu-se entre a entidade e a chefia do Grupo Técnico de Comunicação do Governo, conselho que cuidava da imagem do governador, das secretarias, empresas e demais órgãos oficiais.

Discreta, de voz mansa, porém firme, Andrea cuidava da imagem de gestor de Aécio, blindando o irmão das acusações feitas pelos seus críticos, durante as duas administrações em que foi governador de Minas. Conforme reportagem publicada no GLOBO no dia 8 de novembro de 2009, Andrea foi criticada pelo Sindicato dos Jornalistas por tentar interferir no noticiário dos jornais do estado, o que ela nega. No Palácio da Liberdade e no PSDB, ela era tida como uma figura onipresente, que aconselhava e costurava acordos políticos nos bastidores, além de influenciar na escolha de dirigentes do partido em Minas. Outra missão era assessorar o irmão na formulação de políticas públicas.

Andrea Neves teve sua prisão preventiva decretada, cumprindo mandado de prisão expedido pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ela foi presa pela Polícia Federal no dia 18 de maio de 2017, em sua casa num condomínio de alto padrão em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, dentro da Operação Patmos deflagrada a partir da delação do dono do Grupo JBS, revelada pelo colunista Lauro Jardim, do GLOBO. Andrea teria sido a responsável pela primeira abordagem ao empresário Joesley Batista, por telefone e via WhatsApp. A jornalista é suspeita de ter tratado com ele a entrega dos R$ 2 milhões a Aécio. A polícia divulgou foto de Andrea já fichada e usando uniforme de presidiária - ela foi levada para a penitenciária feminina Estevão Pinto, na capital mineira.

Fonte: O Globo