Ludmilla de Lima
Com ajuda de técnicas de rapel, fachada de pedra e cal passou por um minucioso trabalho de conservação para as festas deste mês
Inaugurada em 1739, a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro andava meio apagada. Antes de a pandemia isolar boa parte dos moradores da cidade, sua fachada octogonal de cal e pedra voltada para a Baía de Guanabara estava tomada por manchas escuras, provocadas por fungos. Enquanto parte da cidade se mantinha em casa nos últimos meses, um pequeno grupo trabalhava, com ajuda até de técnicas de rapel, para recuperar o brilho da igrejinha “adotada” por Dom João logo que pisou no Rio, há mais de dois séculos. Na última sexta-feira, foram dadas as últimas pinceladas: em meio à flexibilização do distanciamento social e às vésperas dos festejos de Nossa Senhora da Glória, este mês, os cariocas ganham de presente essa joia da arquitetura colonial novinha de novo.
O processo foi acompanhado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPhan). Além de toda a área externa da igreja, o projeto recuperou as cadeiras da nave e os genuflexórios (onde os fiéis se ajoelham). O arquiteto Frederico Coutinho, que atuou ao lado da mulher, Maria Angélica, diz que o trabalho foi minucioso.
—As cantarias foram lavadas com uma escova de cerda leve e um produto de PH neutro. Na fachada, usamos um antifúngico e a pintura foi feita com cal, como a original — explica Frederico, lembrando que as últimas grandes reformas foram em 2008 e no começo dos anos 2000, quando houve o restauro do conjunto de azulejos portugueses.
Artigo: Quanto vale o Rio?, por Washington Fajardo
Essa festividade, nos tempos do Império, parava a cidade. A igreja foi palco do batizado da primeira neta de Dom João VI, filha de Pedro I, Maria da Glória, que mais tarde viraria a rainha Maria II de Portugal. Cheio de histórias, esse monumento foi tombado pelo Iphan em 1938.
— Segundo historiadores, ela foi a primeira obra de arquitetura em estilo barroco brasileiro. Destacam-se pela beleza os painéis de azulejos portugueses representando cenas bíblicas, executados entre 1735 e 1740 — ressalta Paulo Vidal, especialista em conservação que acompanhou as obras pelo Iphan.
O Globo
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