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domingo, 18 de junho de 2017

Desconstruindo Janot: o homem dá piti com reportagem da “IstoÉ” e diz uma penca de bobagens

Em uma nota oficial furibunda, o procurador-geral não responde nada, faz baixo proselitismo, acusa teorias conspiratórias... Eu diria que está entrando na fase do desespero

Há muito tempo Rodrigo Janot deixou de reunir as qualidades necessárias a um procurador-geral da República. Para começo de conversa, falta-lhe a temperança. Desde o começo da Operação Lava Jato, seja por meio da Procuradoria Geral da República, seja por intermédio de buliçosos procuradores, planta ou alimenta teorias conspiratórias. E todos conhecem a mais frequente: “Querem acabar com a Lava Jato”, com uma variante: “Querem acabar com o combate à corrupção no Brasil”.

Também não parece capaz de preservar a instituição de seus gostos e desgostos pessoais, de seus amores e de seus ódios. Mais: a celeridade de procedimentos em alguns casos e a morosidade em outros o expõem, quando menos, a uma crítica sobre a sua real competência. Bêbado de tanto poder, Janot já não enxerga limites na sua atuação.  O doutor resolveu soltar uma nota sobre a reportagem publicada pela “IstoÉ”. Decidi desconstruir seu trololó.

Trata-se de um texto palavroso, furibundo, que apela a teorias conspiratórias sem lastro e que, no fim das contas, nada diz. Uma coisa é certa: o doutor está ainda mais furioso. Nunca reagiu com tanta violência a uma reportagem. Eis um senhor de fato curioso. Há uma semana, VEJA publicou uma reportagem informando que a Abin estaria no rastro de Edson Fachin. Origem da informação? Uma fonte em off. Mesmo assim, Janot divulgou uma nota indignada, cobrando explicações.

Agora, a “IstoÉ” publica diálogos entre dois procuradores com seus respectivos nome. Eles tratam do clima de pega-pra-capar na Procuradoria e das manobras continuístas nas quais estava metido Janot. E, ora vejam, a nota oficial vem à luz num raro tom beligerante. Entendi: o doutor trata um off como uma verdade absoluta e ataca as evidências de pessoas que têm nome e rosto.

Como negar? Isso é a cara de Janot.

Seguem a nota (em itálico) e meus comentários, em negrito.

* A leviana matéria da revista IstoÉ (“O jogo político de Janot”) tem como único objetivo tumultuar o processo de elaboração da lista tríplice para a escolha do próximo chefe do Ministério Público da União e desgastar a imagem do Procurador-Geral da República em meio às mais graves investigações sobre corrupção já vistas na história do Brasil.
Bem, isso não passa de mera ilação judiciosa do sr. Rodrigo Janot. E, como se observa, não contesta o conteúdo que veio a público, certo? O que é que tumultua a eleição? A informação de que Janot abriu guerra interna contra a procuradora Raquel Dodge? Mas isso não é segredo, dentro e fora da Procuradoria.

A matéria vale-se de ilações fantasiosas, tendenciosas e alimentadas por interesses espúrios, de deplorável conteúdo difamatório, muito distanciado da boa prática jornalística. É, sobretudo, um vil ataque à autonomia do Ministério Público, com a clara intenção de interferir na escolha a ser feita nos próximos dias sobre quem será responsável pelo destino do MPU nos próximos dois anos.


Vou ter de ensinar um pouco de lógica elementar ao sr. procurador-geral, além de lhe dar uma pequena aula sobre a Constituição, da qual ele deveria ser um dos… procuradores! Se há “interesses espúrios” na reportagem, ele tem de dizer quais são. Afinal, essa nota não é uma daquelas peças que sua repartição apresenta ao juiz Sérgio Moro ou que próprio Janot envia ao Supremo, pautadas, com frequência, pelo achismo e pela acusação sem provas.

Quanto ao “vil ataque ao Ministério Público” para “interferir na escolha (…) sobre quem será o responsável MPU”, dizer o quê? Em primeiro lugar, este senhor deveria saber que o Inciso XIV do Artigo 84 da Constituição confere ao presidente da República o poder de indicar quem bem entender, desde que a pessoa cumpra os requisitos necessários.

A eleição a que ele se refere é uma escolha feita por um órgão sindical, que representa apenas os membros do Ministério Público Federal. Acontece que o procurador-geral é chefe do MPU, o Ministério Público da União, que reúne, conforme deixa claro o Inciso I do Artigo 128 da Constituição, além do MPF, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Quem inventou que os representantes desses três outros órgãos não podem votar ou ser votados?

Quero, assim, chamar a atenção para o fato de que o presidente indica um nome da listra tríplice apenas se quiser. Mas há mais: Janot não pode agora se fazer de grande defensor da dita-cuja, ao menos desta que virá, que não trará seu nome. Ele próprio chegou a sugerir a Temer que a ignorasse desta vez. Em favor de quem, hein? Ganha um Chicabon que não derrete quem adivinhar. Agora vem a parte mais saborosa da nota do doutor.

Esclarece a PGR que a divulgada conversa entre os membros do MPF não está mencionada no auto circunstanciado (relatório) da PF, juntado ao processo que hoje se encontra no Tribunal Federal da 3ª Região. Trata-se de conversa privada, irrelevante para a apuração dos graves crimes revelados nos autos.
Sei que Janot quer me comover. Mas tentarei resistir. Bem, minha conversa com a fonte Andrea Neves era “privada”, “irrelevante para a apuração dos graves crimes revelados pelos autos”, e, no entanto, foi vazada de forma miserável, não? A divulgação da minha conversa constitui agressão a um princípio constitucional, e o doutor não demonstrou nenhuma indignação. Limitou-se a dizer que nada tinha a ver com o peixe. A sugestão óbvia era a de que a culpada era a PF, que também negou. A propósito, uma pergunta: no trecho acima, Janot não volta a sugerir ser coisa da PF?

Deliberadamente, a revista omitiu as informações da PGR acerca dos fatos que estavam em apuração, apesar de a resposta ter sido enviada dentro dos prazos jornalísticos estipulados pelo veículo de comunicação.
Não sei que fatos são esses. O doutor poderia ter aproveitado sua nota quilométrica para, então, expô-los.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pauta-se por uma atuação técnica, no estrito rigor da lei, tanto na esfera judicial quanto na administrativa. Espera ser sucedido por qualquer um dos três integrantes da lista tríplice a ser enviada ao presidente da República, conforme anseio dos membros do MPF de todo o país.
O procurador-geral poderia ao menos disfarçar e falar nos “anseios dos membros do MPU”, né? Bem, já expus o que estabelece a Constituição. Não cabe ao sr. Rodrigo Janot pautar o presidente da República.

É descabida a afirmação de que houve perseguição ao procurador Ângelo Villela. O membro do MPF teve prisão decretada pelo STF por grave risco à investigação da operação Greenfield, como comprovado por meio de ação controlada. Os fatos são objeto de denúncia contra ele e o advogado Willer Tomaz de Souza, oferecida pela Procuradoria Regional da República da 3a Região.
 
Não tenho procuração para defender a reportagem da “IstoÉ”, mas não há a afirmação de que o procurador está sendo perseguido. O que vai no texto?
– Villela foi preso;
– primeiro Joesley afirmou que a conversa de que comprara um procurador era bravata; depois, mudou a versão;
– uma semana antes de ser preso, Villela foi advertido por uma amiga, também procuradora, de que estava na mira de Janot por ser considerado apoiador de Raquel Dodge.

Da mesma forma, não há perseguição a parlamentares. O procurador-geral da República não tem preferências políticas, não atua contra ou a favor de nenhum político ou partido. Deve obediência à Constituição e às leis, normativos que dão norte à sua atuação. O STF, pelo seu Ministro Relator ou pelo Colegiado, avalia todas medidas requeridas pelo PGR, na forma constitucional vigente.
Parlamentares se borram de medo de Rodrigo Janot. Deveriam ser corajosos, claro!, mas reconheço que existem razões para temer o procurador-geral. O que foi mesmo que disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ao bandido cooptado Sérgio Machado? Ah, lembrei: “É preciso estancar essa sangria”. Leitura de Janot: ele quer obstruir a investigação! O que foi mesmo que fez Aécio nesse particular? Lembrei! Mobilizou-se em favor do projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade e especulou com seus pares sobre mudanças no Artigo 350 do Código Eleitoral, que se refere ao caixa dois de campanha. Leitura de Janot: ele quer obstruir a investigação e tem de ser preso. Edson Fachin, o camarada de Janot, não chegou a tal absurdo, mas ficou num logo abaixo: afastou o tucano do mandato.

Os críticos da Lava Jato ou aqueles que não se ajoelham no altar do MPF, preferindo o caminho da lei, estão sendo perseguidos, sim: da imprensa (eu), do Judiciário (Gilmar Mendes) e da política: nesse caso, os exemplos se contam aos montes.

A Procuradoria-Geral da República, repudia, por fim, a impressionante e não menos leviana versão de que sua atuação tenha sido motivada por suposto apoio de políticos a candidatos à sucessão do PGR. Os indícios de fatos criminosos é que orientam as investigações do Ministério Público Federal. A Instituição não dá e nem dará tratamento diferenciado para investigados por estes terem ou deixarem de ter ligação de qualquer espécie com membros da Instituição.
Assessoria de Comunicação Estratégica do PGR
Procuradoria-Geral da República

 
Instituição? Quem está a criticar a instituição? A “IstoÉ”? Eu? Por que o doutor não dá nome aos bois? De resto, ele, Janot, não é o Ministério Público, ainda que tenha tentando quase privatizar o órgão, reivindicando um terceiro mandato.

Começo a pôr um ponto final neste post observando que sempre fico muito comovido quando vejo Janot a dizer que o “procurador-geral deve obediência à Constituição e às leis”. Nesse sentido, tenho algumas perguntinhas:

– utilizar em juízo, em parceria com Edson Fachin, uma prova ilícita (a gravação) não agride o Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição? Janot segue a Constituição e as leis?

– um membro da PGR e uma delegada da PF darem a um intermediário de Joesley aula prática sobre delação premiada 15 dias antes de o açougueiro de instituições gravar o presidente não constitui motivo para anular a operação? Janot segue a Constituição e as leis?;

o Artigo 8º da Lei 12.850 (a das delações), que trata das ações controladas, define: “CONSISTE A AÇÃO CONTROLADA EM RETARDAR A INTERVENÇÃO POLICIAL OU ADMINISTRATIVA RELATIVA À AÇÃO PRATICADA POR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA OU A ELA VINCULADA, DESDE QUE MANTIDA SOB OBSERVAÇÃO E ACOMPANHAMENTO PARA QUE A MEDIDA LEGAL SE CONCRETIZE NO MOMENTO MAIS EFICAZ À FORMAÇÃO DE PROVAS E OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES.”

Logo, o que se deu com Rocha Loures e Aécio Neves não foi “ação controlada”, já que não se retardou a intervenção policial. Aqueles atos caracterizam, isto sim, uma forma de “flagrante preparado”, o que não é, nem deve ser, aceito pela Justiça brasileira.  
Janot segue a Constituição e as leis?;
– o Parágrafo 4ª do Artigo 4º da lei 12.850, define:


“NAS MESMAS HIPÓTESES DO CAPUT, O MINISTÉRIO PÚBLICO PODERÁ DEIXAR DE OFERECER DENÚNCIA SE O COLABORADOR:
I – NÃO FOR O LÍDER DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA;
II – FOR O PRIMEIRO A PRESTAR EFETIVA COLABORAÇÃO NOS TERMOS DESTE ARTIGO.”

 
Quer dizer que Joesley, que admitiu ter comprado quase 2 mil políticos, não era o chefe?
Mais: ele ganhou os benefícios próprios de ser o primeiro a prestar efetiva colaboração?  

Janot segue a Constituição e as leis?;

Janot recorreu diretamente a Edson Fachin para obter autorização para procedimentos policiais que só podem ser postos em prática depois de assinada a delação. E a dita-cuja assinada não estava.  
E Janot segue a Constituição e as leis?;

– Janot sabia que Fachin não era o relator de um caso que nada tinha a ver com petrolão, mas recorreu a seus préstimos, sob o silêncio de Cármen Lúcia. Ora, nem acusadores nem defensores podem escolher o juiz. E o procurador-geral escolheu. 
 E Janot segue a Constituição e as leis?

– Estabelece o Parágrafo 6º do Artigo 4º da Lei 12.850, a das delações:
“O JUIZ NÃO PARTICIPARÁ DAS NEGOCIAÇÕES REALIZADAS ENTRE AS PARTES PARA A FORMALIZAÇÃO DO ACORDO DE COLABORAÇÃO, QUE OCORRERÁ ENTRE O DELEGADO DE POLÍCIA, O INVESTIGADO E O DEFENSOR, COM A MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, OU, CONFORME O CASO, ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICO E O INVESTIGADO OU ACUSADO E SEU DEFENSOR.”

 
Já ficou claro e se revela nos autos que Fachin autorizou operações que ainda iriam viabilizar a delação premiada de Joesley, seu irmão e assessores. Logo, Fachin “participou das negociações realizadas”, em parceria com o procurador-geral

E Janot segue a Constituição e as leis?

Respondo assim: Janot tem de sair (fica até setembro) justamente porque o combate à corrupção tem de continuar. Mas sem agredir as instituições e as conquistas democráticas.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo 

 

 

terça-feira, 8 de março de 2016

Caiu o único ministro de Dilma



O programa do PT foi saudado com um panelaço. Faltou João Santana com sua interpretação dos fatos
O primeiro problema causado pela prisão do marqueteiro João Santana se deu em menos de 24 horas. O programa do PT na TV foi saudado praticamente em todo o território nacional com um panelaço retumbante. O que significou esse panelaço? Aí é a falta que João Santana faz: normalmente, o Partido dos Trabalhadores surgiria prontamente com sua “interpretação” dos fatos – alguma coisa como “as pessoas estão protestando contra a perseguição ao presidente Lula” ou “a elite branca agora deu para frequentar a cozinha”.

Como todo mundo agora já sabe, pobre que é pobre não se mete em cozinha: manda a empreiteira. E pobre que tem sítio e tríplex não bate panela, porque está feliz da vida. O que será de toda essa narrativa coitada depois da prisão do mago João Santana? A queda do ministro mais importante de Dilma e de Lula ou talvez o único, apesar de não ter cargo no ministérioé a primeira ameaça real à governabilidade petista. O líder do governo no Senado foi preso e o Planalto nem notou. Delcídio do Amaral não fez a menor falta.

Tanto que, nesse caso, o PT soltou logo uma nota oficial (com a grife do ministro Santana) jogando o senador às feras, praticamente dizendo que a lambança era problema dele, ele que se virasse.

Aí a mulher do senador começou a reclamar, dando a entender que Delcídio não ia apodrecer sozinho. Viu-se então como o governo Santana trabalha bem: fica quietinha aí, companheira, que daqui a pouco a opinião pública esquece seu marido irrelevante e o companheiro Teori Zavascki solta ele. Não deu outra: passado o Carnaval – cálculo bem feito para não gritarem que Delcídio seria liberado para a folia –, o senador saiu do xadrez. 

É claro que o Brasil, coitado, curando a ressaca do porre carnavalesco, não se lembra mais por que o eminente parlamentar havia sido preso. Mas a mídia golpista está aqui para ficar martelando esses detalhes desagradáveis: Delcídio do Amaral foi preso pela Lava Jato por ter sido flagrado tentando obstruir a investigação dos crimes do petrolão.

Vamos recitar direito o samba-enredo, para facilitar a compreensão pelo país do Carnaval: o líder do governo no Senado, isto é, o representante do palácio de Dilma Rousseff no Congresso Nacional, foi surpreendido e gravado planejando a fuga para o exterior do excelentíssimo prisioneiro Nestor Cerveró, condenado no escândalo de corrupção da Petrobras – no qual o próprio Delcídio já era suspeito, assim como o governo por ele representado.

Fica assim, então, o refrão do samba: Delcídio do Amaral está livre para voltar a trabalhar (sic) no Senado Federal, e livre também, portanto, para dar prosseguimento ao seu patriótico esforço de melar a Operação Lava Jato. O companheiro Teori Zavascki, goleiro inexpugnável do STF que não deixa passar uma bola sequer contra a companheira presidenta em dupla afinada com o zagueirão Janot, que rebate tudo sem despentear a franja –achou que não havia mais razão para manter Delcídio preso. Qual terá sido a sua premissa? Provavelmente, apostou que as pilhas do gravador do filho de Cerveró acabaram.

Realmente, se o rapaz não gravar mais nada, a ameaça cessa: a quadrilha do petrolão poderá voltar a desfalcar o Brasil honestamente, como aconteceu por mais de dez anos sem ninguém se incomodar. Como disse João Santana ao receber a ordem de prisão, o país mergulhou num “clima de perseguição”. Lula teve de interromper sua lua de mel com a Odebrecht, Renato Duque foi caçado e encarcerado gritando “que país é este?”, Delcídio do Amaral foi capturado indagando aos policiais “como assim, um Senador da República?”. Como se vê, o país foi arrancado de seu clima de normalidade venal.

Nada disso seria problema sem a prisão do ministro João Santana. Antes, se o povo saía às ruas de verde e amarelo, lá vinha a genialidade canalha: “Essa gente está protestando contra a corrupção com a camisa da CBF?”. Agora a pergunta é outra: “Esses malandros estão parindo slogans de vítimas com dinheiro do petrolão?”.

Vamos ver se o novo samba cai na boca do povo: Dilma Rousseff foi eleita com dinheiro roubado da Petrobras – como sustentam os fundamentos da prisão de seu marqueteiro pago por fora (do país e da lei).
Chegou a hora de a mulher sapiens sambar.

Fonte: Guilherme Fiuza - Época

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O país muda

A tentativa do senador Renan Calheiros de manter o voto secreto na decisão do Senado sobre a prisão do senador Delcídio Amaral foi atropelada pela pressão da sociedade, que passou o dia nas redes sociais demonstrando que o país está mudando, e que seria inaceitável pelos cidadãos que os senadores, a pretexto de defenderem a imunidade parlamentar, votassem secretamente pela liberdade do companheiro.

Seria a reconfirmação dramática do que descreveu a ministra Carmem Lucia do Supremo Tribunal Federal no seu voto pela prisão do senador: "Primeiro, se acreditou que a esperança venceu o medo. No mensalão, se viu que o cinismo venceu o medo. E, agora, que o escárnio venceu o cinismo".

Ao emitir uma nota oficial alegando que o PT não deve solidariedade ao senador Delcídio Amaral, líder do governo, pois sua prisão não se deve “à sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado”, o presidente do PT produziu uma formidável confissão de culpa, admitindo que os demais petistas presos e defendidos pelo partido, com os tesoureiros Delúbio Soares e João Vaccari Neto e o ex-ministro José Dirceu, saudado em convenções partidárias como “guerreiro do povo brasileiro”, estavam atuando em missões partidárias tanto no mensalão quanto no petrolão. [o ato falho do presidente da organização criminosa mais conhecida como PT, deixa claro que se Delcídio tivesse furtado e contribuído com o produto dos furtos, de forma generosa, para os cofres do PT, seu ato seria considerado atividade partidária e teria todas as honras.

Mas, Delcídio roubou em proveito próprio, não contribuiu com o PT, e isto é delito imperdoável.]

 Nada que o senso comum já não tivesse detectado, mas o ato falho de Falcão deve ser saudado como a evidência de que é difícil manter por tanto tempo uma versão fantasiosa que vem sendo desmontada passo a passo pela Operação Lava-Jato.  O decano do STF, ministro Celso de Mello, foi contundente como sempre em seu voto no caso que, segundo ele, “revela fato gravíssimo: a captura do Estado e de instituições governamentais por organizações criminosas. É preciso esmagar, é preciso destruir com todo o peso da lei - respeitada a garantia constitucional - esses agentes criminosos."

É o que se revela no dia a dia da Operação Lava-Jato, uma operação criminosa que tomou conta do Estado brasileiro, levando ao paroxismo a utilização da coisa pública por um grupo político que domina o poder por 13 anos e se acostumou a “fazer o diabo” para se manter nele.  A gravação da tentativa de suborno do ex-gerente Nestor Cerveró para que sua delação premiada não acontecesse, ou, no mínimo, não incriminasse o senador petista Delcídio Amaral ou o banqueiro André Esteves é uma revelação do baixo mundo em que se transformaram as ações políticas e econômicas sob o governo petista.

Não havia limites para as ousadias criminosas, nem barreiras para tentativas de interferir até mesmo no STF. Não é à toa que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, ou do Senado, Renan Calheiros, acreditam que é possível ao Palácio do Planalto intervir no Ministério Público, na Polícia Federal ou no Judiciário para proteger seus apaniguados e perseguir seus adversários.

Instalou-se no país um tal clima de atuação criminosa em todos os níveis dos negócios públicos, em benefício de setores e personagens próximos do governo petista, que a eles tudo parecia possível, até mesmo uma fuga mirabolante ou, como revelam os diálogos, a tentativa de anular os processos da Operação Lava-Jato e, em conseqüência, todas as delações premiadas.

Como se fosse possível apagar da mente dos cidadãos todos os delitos já relatados, muitos deles já condenados em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro. A decisão de ontem do Senado é histórica não por que pela primeira vez um Senador da República pode ser preso, mas por que os senadores parecem ter acordado para os clamores da opinião pública.

Mesmo que Renan Calheiros fale uma coisa num momento, como se tivesse entendido a mudança do país, e aja de maneira oposta em outra ocasião, tentando encaminhar a votação secreta quase que numa confissão de blindagem em causa própria, já não há ambiente para aceitar tamanha desfaçatez. A prisão de Delcídio Amaral pode, afinal, desatar o nó das investigações sobre os políticos envolvidos na Operação Lava-Jato.


Fonte: O Globo - Merval Pereira

domingo, 21 de junho de 2015

A Lava-Jato no topo do andar de cima

Em outubro passado, quando o “amigo Paulinho” (expressão carinhosa atribuída a Lula) jogou a Odebrecht na frigideira da Lava-Jato, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, soltou uma nota oficial dizendo o seguinte: "Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denuncia vazia de um criminoso confesso que é ‘premiado’ por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas”.

Passados oito meses, o doutor, bem como Otávio Azevedo, presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, estão na carceragem de Curitiba. Ao expedir a ordem de prisão contra eles, o juiz Sérgio Moro deu uma demonstração parcial da quantidade de provas acumuladas pela Polícia Federal e pelo Ministério Publico.  A Odebrecht e a Andrade Gutierrez não são acusadas só pelo “amigo Paulinho” mas também por três dirigentes de empreiteiras, que descreveram o funcionamento do cartel de roedores da Petrobras. Rastreamentos internacionais de depósitos bancários, anotações e mensagens eletrônicas documentaram a ordem de prisão expedida pelo juiz Moro. Diante de tanto material, a nota de outubro parece ter sido produto de um destempero de Odebrecht.

Na lista de presos da Lava-Jato entrou João Antonio Bernardi, que trabalhou na empreiteira e também na Camargo Corrêa. Durante algum tempo ele esteve na empresa Hayley, que mimou o diretor da Petrobras Renato Duque com R$ 500 mil em obras de arte. Talvez Bernardi tenha algo a contar. A polícia e os procuradores certamente têm o que perguntar. Por mera curiosidade, ele poderá esclarecer um episódio. Há algum tempo, carregando uma maleta na avenida Chile, a caminho da Petrobras, teria sido assaltado. O pivete levou a maleta e ele teria apresentado queixa à polícia. O que carregava, não se sabe.
No meio de tanta gente boa metida nas petrorroubalheiras, o ladrão da maleta pode ter sido o único que, como o J. Pinto Fernandes do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond, “não tinha entrado na História”. 


Fonte: O Globo - Elio Gaspari