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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O Foro de Bolsonaro - VEJA

“Maior evento conservador do mundo”


Sob medida para o deputado e aspirante a embaixador dos Estados Unidos Eduardo Bolsonaro, com a participação do pai presidente, ministros de Estado e da nata da direita norte-americana, vem aí a Cpac-Brasil, anunciada como o “maior evento conservador do mundo” – megalomania só equiparável ao “nunca antes neste país” adotado pelo ex Lula.
Com polo ideológico invertido, a conferência dos próximos dias 11 e 12 lembra o Foro de São Paulo,= [FSP = império de satã.] tão demonizado pela trupe bolsonarista. Um de esquerda, outro de direita, um multilateral, outro bilateral, um que já foi forte e desfaleceu, outro enchendo-se de músculos. Ambos usando a mesma receita de sovar forte o lado oposto para tentar fazer crescer o seu bolo. 

A Cpac-Brasil é o braço tupiniquim da Conservative Political Action Conference, realizada anualmente em Washington desde 1973 pela American Conservative Union (ACU), a mais antiga organização não-governamental conservadora das terras do Tio Sam, fundada em 1964. Sim, trata-se de uma ONG, tipo de entidade que quando não opera em seu favor o presidente Jair Bolsonaro repudia.

Reunir o pensamento conservador, aprofundar ideias e debate-las é essencial à democracia, e nisso a iniciativa acerta. Mas, por aqui, o que seria uma saudável experiência aparece como um encontro feroz dos donos da verdade “contra o terror do comunismo”. Dos que enxergam o Brasil como um país em que “as principais esferas socioculturais se mostram dominadas pela esquerda”. 

É literalmente assim, com a faca entre os dentes, que a Cpac-Brasil se apresenta em seu site oficial.  Muito diferente do que ocorre nos Estados Unidos, onde a ACU, embora tenha identidade absoluta com os republicanos, respeita e trabalha junto aos democratas. São lobistas de causas conservadoras, como liberalismo econômico, direito à posse e porte de armas e limitações à imigração. Mas, mesmo no belicoso governo Trump, os líderes da ACU, que têm o ex-presidente Ronald Reagan como símbolo maior, não espicaçam opositores, nem digladiam com inimigos fantasiosos. Muito menos com uma ameaça inexistente de comunismo, praticamente extinto desde a última década do século passado.

A menos de uma semana da versão tropical da Cpac, pouco se sabe do temário do encontro. O site e o Twitter criados para divulgar o evento destacam os nomes dos conferencistas – entre eles Matt Schlapp, presidente da ACU e da empresa de lobby Cove Strategies, e sua mulher, Mercedes, assessora da Casa Branca -, mas não traz nem mesmo o título das palestras. Também não confirma o misterioso anúncio feito pelo Zero Três, que pretendeu antecipar a presença do polêmico Steve Bannon, um dos articuladores da campanha de Donald Trump, hoje desafeto do presidente que ajudou a eleger.

Mesmo com conteúdo genérico, que se limita a informar que a Cpac dos Estados Unidos trará “toda a sua expertise em defesa da liberdade e de valores familiares”, como se um ou outro estivessem sob ameaça no Brasil, “celebrando a nova aliança política dos dois países neste novo tempo”, o evento promete. Deve reunir quase duas mil pessoas, empatando e até superando os grandes momentos do Foro São Paulo.

Reduzido a pó poucos anos depois de seu auge, o Foro de São Paulo hoje quase só é lembrado nas falas de Bolsonaro, que, sem manter o inimigo comunista vivo, não tem contra quem lutar e, consequentemente, perde a narrativa eleitoral. Bolsonaro e os seus cometem o mesmo erro de Lula e do PT. Um pela direita, outro pela esquerda se acham predestinados a salvar o país, sentem-se donos do povo e da verdade. Com isso imputam graves danos aos ideários conservador e progressista, tão essenciais à democracia e ao desenvolvimento das sociedades.
Até porque a verdade não tem lado e o povo não é propriedade de ninguém.

Blog do Noblat - Veja - Por Mary Zaidan, jornalista

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Faroeste

Bolsonaro não escancara o porte de armas por questão política, mas por obsessão

Parece obsessão e é mesmo: com tantos problemas gravíssimos no Brasil, econômicos, fiscais, sociais, éticos, o presidente Jair Bolsonaro só pensa em ampliar a posse e agora escancarar o porte de armas a níveis nunca antes vistos ou imaginados. Assim, causa a euforia dos armamentistas e o pânico dos que são contra. [vale lembrar que desarmar PESSOAS DE BEM, propiciando aos bandidos a oportunidade de executarem com mais facilidade suas práticas homicidas, é um problema mais grave do que a soma de todos os acima destacados.
Assim, a ação do presidente Bolsonaro está entre as que podem, até DEVEM, ser consideradas corretas sobre todos os aspectos - evidente prova de que nesta o astrólogo, para felicidade do Brasil, não foi ouvido.]

Pode-se deduzir que Bolsonaro dedicou os dois primeiros projetos realmente dele à flexibilização da posse e do porte de armas por uma questão político-eleitoral. Ele estaria [está e estará] dando satisfação a seus eleitores e mantendo a “bancada da bala” nutrida e unida a seu favor. Mas não é só. Por trás dos decretos, está a paixão incontida do presidente por armas, uma paixão que ele transferiu de pai para filho e transformou em política de governo num país onde tiroteios, balas perdidas e mortes de policiais, criminosos, cidadãos e cidadãs comuns são parte da paisagem. Multiplicar as armas em circulação vai reduzir esse banho de sangue? Se até policiais justificadamente armados morrem nos confrontos a tiros, por que os leigos estarão mais protegidos?

O anúncio do novo decreto de Bolsonaro foi um tanto atípico, curioso: ele fez solenidade no Planalto para a assinatura e anúncio, deixou vazar uma ou outra medida e guardou a grande surpresa (ou o grande susto) para o dia seguinte, com o texto publicado no Diário Oficial da União (DOU).

São tantos os absurdos que cada jornal pôde escolher sua manchete, cada telejornal abordou um ângulo, cada coluna deu um enfoque diferente. Foi uma farra de novidades a serem anunciadas, digeridas e, por muitos, repelidas. O próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse um tanto constrangido que a medida é “em função das eleições”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou estudos sobre a constitucionalidade. Partidos e entidades começam a entrar na justiça. Aparentemente, só os bolsonaristas de raiz, além de quem faz das armas um negócio e tanto, estão soltando fogos. Enquanto não soltam tiros.

Armas que sempre foram de uso restrito das Forças Armadas vão passar a circular por aí em mãos de leigos. [o decreto permite que eventuais situações em que armas classificadas,  erroneamente,  como de uso restrito sejam corrigidas; 
mas, as armas com características que recomendam restrições ao seu uso continuaram sendo de uso restrito.
 
Não ocorrerá no Brasil a situação que ocorre em alguns países - entre eles os EUA, país em que apesar da posse e porte de armas sofrer pouquíssimas restrições, é  menor do que no Brasil o número de pessoas vítimas de armas fogo, em que armas de grande poder de fogo são vendidas livremente - cabendo o registro que no Brasil, apesar da vigência do 'estatuto do desarmamento (que praticamente torna crime o cidadão de bem pensar em  possuir/portar uma arma de fogo) o número de pessoas mortas é superior aos apresentados nas terras do Trump.] Quem mora em área rural está liberado para portar um revólver no coldre. Usuários de aviões sentarão lado a lado de pessoas armadas. Crianças e adolescentes não precisarão mais de autorização judicial para aprenderem a atirar, basta os pais deixarem – ou melhor, incentivarem.

Na solenidade do Planalto, Bolsonaro produziu uma foto histórica, cercado de políticos de terno e gravata, fazendo gestos que simbolizam armas. Pou! Fogo! Mas, mesmo nesse meio, o presidente se limitou a anunciar que o decreto facilitaria o porte de armas para caçadores, colecionadores, atiradores esportivos e praças das Forças Armadas. Que nada! No dia seguinte, a edição do DOU trazia uma lista de 20 categorias liberadas para saírem em ruas, avenidas, locais públicos em geral, com suas armas fartamente carregadas. O atual limite de 50 cartuchos deu um salto estonteante para mil.

Não precisarão mais comprovar a efetiva necessidade de portar armas todos os políticos com mandato no País, advogados indiscriminadamente, caminhoneiros autônomos, habitantes de áreas rurais acima de 25 anos, até jornalistas que atuem na área policial. Em 2018, os brasileiros com porte de armas somavam 36,7 mil. Agora, vão disparar para perto de 20 milhões. [todo marginal é covarde e quando vai 'tratalhar' procurar correr o menor risco possível;
sabendo que há grandes possibilidades de sua possóvel futura vítima estar armada, ele desiste daquela e tem que procurar outra e novas desistências ocorrerão.
Se o número elevado de armas de fogo em mãos da população resultasse no aumento do número de mortes, novamente limitando o exemplo aos nossos irmãos do Norte, o Brasil não teria mais mortos por armas de fogo do que os Estados Unidos - lá além do maior número de armas nas mãos da população, grande parte delas tem maior poder de fogo do que as que os brasileiros podem passar a possuir/portar.] Um grande, imenso e incerto faroeste. E com 13 milhões de desempregados. Com seus decretos, armas, cartuchos e Olavos, o presidente só mantém o que já tem: sua tropa na internet. Ele precisa olhar para o que está perdendo e ampliar sua agenda. Ou melhor: conectar a agenda e o governo com a realidade.
 
 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Como gado para o abatedouro?

Se um direito é natural, inerente à condição humana, o Estado pode não o reconhecer, mas ele não deixa de existir.

No Brasil de 2017, a posse e o porte de armas deveria ser objeto de clamor nacional ante o Estado omisso no cumprimento das obrigações.

Quem se alinha com teses sempre desastrosas, como os defensores do desarmamento, por exemplo, senta-se sobre o lado esquerdo do traseiro. Por que será? As exceções são tão raras que não ocupam lugar na arquibancada dos fatos sociais. Não contentes com fincarem pé nos fracassos, nem com andarem por aí arredondando pilar quadrado até que a casa caia, esse pessoal se esmera em espancar o bom conselho e em desqualificar a divergência. Você é contra o desarmamento? Então você é raivoso, da turma da bala; está a serviço da indústria da guerra. Potencialmente, um assassino de aluguel.



No entanto, a entrega compulsória de todas as armas das pessoas de bem tem lugar de merecido destaque na lista das iniciativas absurdas e maléficas já adotadas em nosso país. Responde, diretamente, pelo aumento da criminalidade, tanto em razão do quantitativo quanto da desfaçatez com que os bandidos passaram a agir nos mais variados ambientes e circunstâncias. Percebem-se – e de fato são – “donos do pedaço”, tocadores de gado para o abatedouro ou para o brete da marcação. Rapidamente vamos adquirindo destreza em preencher boletins de ocorrência, aos quais já tratamos na intimidade como "os meus BOs".

Nós, os conservadores, e boa parte dos liberais, cremos que a pessoa humana é titular de direitos aos quais denominamos naturais. Entre eles, o direito à vida, à liberdade e à propriedade dos bens legitimamente havidos. Para os estatistas, socialistas, comunistas e outros totalitários em geral, as coisas não são assim. Entendem que os direitos nos são dados pelo Estado, motivo por que, fonte de todos os direitos, ele se torna, simultaneamente, objeto de reverência e de assédio. Estados vão à falência por conta do assédio. Sociedades são escravizadas por conta da reverência.

O leitor destas linhas pode estar pensando: “Mas se o Estado diz que eu não posso isto ou aquilo, na prática eu não posso mesmo; na prática eu não tenho tais direitos". Ora, se um direito é natural, inerente à condição humana, o Estado pode não o reconhecer, mas ele não deixa de existir. Os criminosos sentenciados têm a liberdade justificadamente tolhida; os presos políticos em regimes não democráticos, tem a liberdade injustificadamente contida. Mas o direito? Ah, o direito permanece na pessoa!

Isso é tão significativo quanto objeto de abuso. Se olharmos a pauta das postulações daqueles corpos políticos a que me referi no início, veremos que atuam invocando o reconhecimento de supostos direitos que seriam naturais aos grupos que manipulam. Normalmente, não são. Pois bem, a turma das teses desastrosas acabou, simultaneamente, com o sistema penitenciário e com a possibilidade de dar devida vigência repressiva ao Código Penal. A realidade social evidencia que já há mais criminosos soltos do que presos. As baixas contabilizadas pelas estatísticas são indicativas de estado de guerra, e de guerra sangrenta. Em tais condições, nosso direito à vida não pode ser preservado, defendido ou exercido na ausência de legítimo e proporcional direito de defesa. No Brasil de 2017, a posse e o porte de armas deveria ser objeto de clamor nacional ante o Estado omisso no cumprimento das obrigações. Esse não cumprimento se torna ainda mais grave quando, simultaneamente, nos recusa o direito à posse e ao porte de armas de defesa pessoal. Como gado para o abatedouro, não!

Fonte: Percival Puggina - http://puggina.org