Bolsonaro não escancara o porte de armas por questão política, mas por obsessão
Parece obsessão e é mesmo: com tantos problemas gravíssimos no Brasil,
econômicos, fiscais, sociais, éticos, o presidente Jair Bolsonaro só
pensa em ampliar a posse e agora escancarar o porte de armas a níveis
nunca antes vistos ou imaginados. Assim, causa a euforia dos
armamentistas e o pânico dos que são contra. [vale lembrar que desarmar PESSOAS DE BEM, propiciando aos bandidos a oportunidade de executarem com mais facilidade suas práticas homicidas, é um problema mais grave do que a soma de todos os acima destacados.
Assim, a ação do presidente Bolsonaro está entre as que podem, até DEVEM, ser consideradas corretas sobre todos os aspectos - evidente prova de que nesta o astrólogo, para felicidade do Brasil, não foi ouvido.]
Pode-se deduzir que Bolsonaro dedicou os dois primeiros projetos
realmente dele à flexibilização da posse e do porte de armas por uma
questão político-eleitoral. Ele estaria [está e estará] dando satisfação a seus
eleitores e mantendo a “bancada da bala” nutrida e unida a seu favor.
Mas não é só. Por trás dos decretos, está a paixão incontida do presidente por armas,
uma paixão que ele transferiu de pai para filho e transformou em
política de governo num país onde tiroteios, balas perdidas e mortes de
policiais, criminosos, cidadãos e cidadãs comuns são parte da paisagem.
Multiplicar as armas em circulação vai reduzir esse banho de sangue? Se
até policiais justificadamente armados morrem nos confrontos a tiros,
por que os leigos estarão mais protegidos?
O anúncio do novo decreto de Bolsonaro foi um tanto atípico, curioso:
ele fez solenidade no Planalto para a assinatura e anúncio, deixou vazar
uma ou outra medida e guardou a grande surpresa (ou o grande susto)
para o dia seguinte, com o texto publicado no Diário Oficial da União
(DOU).
São tantos os absurdos que cada jornal pôde escolher sua manchete, cada
telejornal abordou um ângulo, cada coluna deu um enfoque diferente. Foi
uma farra de novidades a serem anunciadas, digeridas e, por muitos,
repelidas. O próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio
Moro, disse um tanto constrangido que a medida é “em função das
eleições”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou estudos sobre a
constitucionalidade. Partidos e entidades começam a entrar na justiça.
Aparentemente, só os bolsonaristas de raiz, além de quem faz das armas
um negócio e tanto, estão soltando fogos. Enquanto não soltam tiros.
Armas que sempre foram de uso restrito das Forças Armadas vão passar a
circular por aí em mãos de leigos. [o decreto permite que eventuais situações em que armas classificadas, erroneamente, como de uso restrito sejam corrigidas;
mas, as armas com características que recomendam restrições ao seu uso continuaram sendo de uso restrito.
Não ocorrerá no Brasil a situação que ocorre em alguns países - entre eles os EUA, país em que apesar da posse e porte de armas sofrer pouquíssimas restrições, é menor do que no Brasil o número de pessoas vítimas de armas fogo, em que armas de grande poder de fogo são vendidas livremente - cabendo o registro que no Brasil, apesar da vigência do 'estatuto do desarmamento (que praticamente torna crime o cidadão de bem pensar em possuir/portar uma arma de fogo) o número de pessoas mortas é superior aos apresentados nas terras do Trump.] Quem mora em área rural está liberado
para portar um revólver no coldre. Usuários de aviões sentarão lado a
lado de pessoas armadas. Crianças e adolescentes não precisarão mais de
autorização judicial para aprenderem a atirar, basta os pais deixarem –
ou melhor, incentivarem.
Na solenidade do Planalto, Bolsonaro produziu uma foto histórica,
cercado de políticos de terno e gravata, fazendo gestos que simbolizam
armas. Pou! Fogo! Mas, mesmo nesse meio, o presidente se limitou a
anunciar que o decreto facilitaria o porte de armas para caçadores,
colecionadores, atiradores esportivos e praças das Forças Armadas. Que
nada! No dia seguinte, a edição do DOU trazia uma lista de 20 categorias
liberadas para saírem em ruas, avenidas, locais públicos em geral, com
suas armas fartamente carregadas. O atual limite de 50 cartuchos deu um
salto estonteante para mil.
Não precisarão mais comprovar a efetiva necessidade de portar armas
todos os políticos com mandato no País, advogados indiscriminadamente,
caminhoneiros autônomos, habitantes de áreas rurais acima de 25 anos,
até jornalistas que atuem na área policial. Em 2018, os brasileiros com
porte de armas somavam 36,7 mil. Agora, vão disparar para perto de 20
milhões. [todo marginal é covarde e quando vai 'tratalhar' procurar correr o menor risco possível;
sabendo que há grandes possibilidades de sua possóvel futura vítima estar armada, ele desiste daquela e tem que procurar outra e novas desistências ocorrerão.
Se o número elevado de armas de fogo em mãos da população resultasse no aumento do número de mortes, novamente limitando o exemplo aos nossos irmãos do Norte, o Brasil não teria mais mortos por armas de fogo do que os Estados Unidos - lá além do maior número de armas nas mãos da população, grande parte delas tem maior poder de fogo do que as que os brasileiros podem passar a possuir/portar.] Um grande, imenso e incerto faroeste. E com 13 milhões de
desempregados. Com seus decretos, armas, cartuchos e Olavos, o presidente só mantém o
que já tem: sua tropa na internet. Ele precisa olhar para o que está
perdendo e ampliar sua agenda. Ou melhor: conectar a agenda e o governo
com a realidade.
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