Com mais de 100 mil brasileiros mortos e de três milhões de
contaminados, é impossível não lembrar que o Brasil é vice-campeão da covid-19
e apontado no mundo inteiro como o campeão de erros na condução da pandemia. O
presidente Jair Bolsonaro entra para a história como o turrão que
não liderou o País na hora decisiva, fez tudo errado e se aliou ao vírus, em
vez de combatê-lo.
Entre a ciência e o que Bolsonaro acha, ele ficou com o que
ele acha. Entre seguir as orientações de organizações médicas do mundo inteiro
e os cochichos de amigos e aliados, ele optou pelos cochichos. Entre admitir os
erros gritantes e dobrar a aposta, ele dobrou. Entre se solidarizar com as
vítimas e lavar as mãos, ele lavou as mãos, produzindo frases que entram não
para o anedotário da história, mas para a memória internacional da falta de
empatia.
[o presidente da República fez alguns comentários que podem ser considerados irônicos, negativos, conformistas,etc.
Mas, em nenhum momento, tomou qualquer decisão, propôs lei ou editou MP que de alguma forma causasse problemas às ações de combate ao coronavírus.
A única autoridade que recorreu ao Judiciário para impedir que recursos dos Fundos Eleitoral e Partidário fossem empregados no combate à pandemia, foi o presidente do Senado = Davi Alcolumbre.
Obteve êxito = o Poder Judiciário proibiu que os recursos fossem utilizados no combate à covid-19.]
“Histeria da mídia”, “gripezinha”, “e daí?”, “todos nós
vamos morrer um dia”, “não podemos entrar numa neurose”, “não acredito nesses
números”, “o vírus está indo embora”, “eu não sou coveiro, tá?” “quer que eu
faça o quê?”, “eu sou Messias, mas não faço milagres”. Já pertinho da marca de
100 mil brasileiros mortos, Bolsonaro continuou sendo Bolsonaro e entre
sorrisos, ao lado do eterno interino ministro da Saúde, deu de ombros: “Vamos
tocar a vida”.
[atualizando: todos torcemos e imploramos a DEUS por uma vacina o mais rápido possível.
Por enquanto, apesar de muitos apresentarem como fato que as vacinas, ainda não criadas, logo estarão disponíveis para o Brasil se impõe lembrar que NÃO EXISTE nada que garanta a entrega das vacinas - quando criadas, testadas e aprovadas - ainda este ano ou mesmo no primeiro semestre de 2021.
Será que essas companhias também não firmaram acordos com China, Inglaterra, Estados Unidos, União Europeia, para dar prioridade àqueles países?
Ou só o Brasil foi esperto o suficiente para ser o primeiro a garantir exclusividade?
Lembrem-se que no começo da pandemia, alguns produtos farmacêuticos destinados ao Brasil - máscaras, EPIs, anestésicos - foram confiscados quando aviões que os traziam para o Brasil, pousaram nos Estados Unidos. ]
O que os amores, pais, mães, filhos, irmãos, amigos e
colegas dos 100 mil brasileiros mortos acham disso? Tocar a vida? Como assim? E
o presidente foi adiante: “Tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse
problema”. Buscar uma maneira só a esta altura da desgraça? Maneira de “se
safar”? Desse “problema”? Uma frase, quatro absurdos.
São falas que não condizem com um presidente no auge de uma
pandemia assassina que destrói vidas, famílias, empresas, empregos, renda e a
economia do País. No mundo democrático, presidentes e primeiros ministros, com
poucas exceções, falam – e agem – como líderes, respeitam a ciência e os
cientistas, dão rumos, apresentam soluções, admitem erros. Conferem a devida
solenidade, demonstram preocupação, dor, compaixão.
No Brasil, vice-campeão da covid-19, o presidente aparece
sorrindo, provocando, ironizando a desgraça. Pior: dando mau exemplo,
tomando decisões absurdas. E atrapalha muito ao desestruturar o Ministério da
Saúde, rasgar protocolos internacionais, jogar no lixo a única vacina possível
– o isolamento social – e virar, alegremente, ridiculamente, perigosamente,
garoto-propaganda de um remédio sem nenhuma comprovação, [existe algum comprovadamente eficaz?]de nenhum órgão sério,
de nenhum país. Sem coordenação central, com Bolsonaro só ligado em
política, guerreando contra governadores e prefeitos, viu-se o caos. A covid-19
dá um banho em cientistas, cheia de armadilhas cruéis, manhas assassinas,
surpresas a cada hora.
Não bastasse, ela aqui encontra o ambiente perfeito para
destruição e dor. A única bala de prata que resta para vencer uma guerra já
perdida são as vacinas, que chegam ao Brasil pelos acordos entre o governo
federal e Oxford e entre o governo de São Paulo e a China. É torcer e rezar,
contando com uma expertise comprovada brasileira: as vacinações em massa. Se os
testes forem um sucesso, se o Brasil cuidar adequadamente da logística e da
compra e produção de insumos, há luz no fim do túnel. Antes tarde do que nunca.
Bolsonaro está sorrindo, confrontando, agredindo a
população com expressões muito além de impróprias. Que não venha depois, com
boa parcela da população vacinada e os números em queda, tentar reescrever a
história e reinventar seu personagem numa das maiores tragédias do planeta.
Todo mundo sabe que a culpa é de um vírus ardiloso, cheio de mistérios, que
encontrou no presidente do Brasil um grande aliado.