Ascânio Seleme
Quem pagará a conta de quem se negar a tomar vacina contra Covid?
Custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença continuará produzindo, por causa e entre os negacionistas
Não
se preocupe, se você se vacinar direitinho, tomar as duas doses como
recomendado, não vai ser infectado por negacionistas, seja um vizinho, um
parente, um amigo ou um desconhecido com quem esbarrar na rua. [não pode ser omitidos: e não estiver naquele percentual de ineficácia da vacina.
Calma! somos a favor da vacina e logo que esteja disponível, vamos nos empenhar para receber a imunização. A maior parte do nosso pessoal foi devidamente vacinado contra umas dez moléstias e nunca fomos contraímos nenhuma delas.
O que nos entristece mesmo é que abundam supremas decisões sobre a vacina, são feitas críticas e ameaças contra e a favor e a VACINA NÃO APARECE.
Também sentimos um certo desconforto quando constatamos que milhares e milhares de vidas continuam sendo perdidas para o infarto, AVC, câncer e outras moléstias e parecem valer menos do que as vidas ceifadas pela covid-19.] Você estará
imune. Do ponto de vista da sua saúde ou da sua família, não precisa fazer mais
nada, embora seja conveniente manter o uso de máscaras por ainda algum tempo.
Também não custa nada lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. Seu
problema será outro e terá natureza financeira. Você vai solidariamente pagar a
conta que os que se negaram a tomar a vacina contra a Covid acabarão gerando
para os cofres públicos. E ela não será pequena.
Imagine
o cenário final, pós-vacinação. Neste momento, 46 milhões de brasileiros, ou
22% da população, não estarão imunizados e continuarão a exercer pressão sobre
a rede pública de saúde. [importante: qual a duração do efeito imunizante da vacina? é algo ainda incerto, devido a doença ter menos de um ano e a vacina um ou dois meses. Se o efeito for inferior a dois anos, antes de terminar a vacina de uma fase, outra terá que ser iniciada. Temos que rogar a DEUS para que a imunização seja permanente.] Se hoje os leitos dos hospitais estão quase 100%
ocupados por pacientes com Covid, no futuro terão 22% da sua capacidade tomada
por pessoas infectadas por uma doença que poderia ser evitada. Quem vai pagar
esta conta? Você e eu. Na verdade, este volume pode ser maior, se os planos de
saúde corretamente se recusarem a pagar internações hospitalares e remédios de
quem se recusou a se vacinar. Se a doença era evitável, os planos vão recorrer
e os pacientes com planos poderão acabar na rede pública.
Se
a Justiça acabar obrigando os planos de saúde a pagar as contas dos
negacionistas, o que sempre é possível, mesmo assim você e eu arcaremos com um
custo adicional. Ninguém aqui é bobo, claro que os planos repassarão a conta
para toda a sua clientela. Nós.
Haverá
ainda outros custos indiretos gerados pelos negacionistas mas que serão arcados
por nós. Primeiro, calcule o impacto que terão sobre a cadeia produtiva quando
o mundo voltar ao normal. Se uma gripezinha de influenza afasta uma pessoa por
dois ou três dias do trabalho, uma infecção pela Covid pode tirar o
funcionário por até 14 dias da linha de produção, quando não o afastar
definitivamente. Isso tem um custo que as empresas pagam e repassam aos preços
dos produtos e serviços que você e eu iremos consumir.
Os
não vacinados vão também compor uma nova estatística de morbidade no Brasil.
Com a vida de volta ao normal, os 22% de não vacinados serão eventualmente
contaminados e muitos vão morrer. Aos números. Mantida a média de 1.000 óbitos
por dia, morrerão então 220 negacionistas a cada 24 horas. Em um ano, serão 80
mil. Mais do que os 12 mil que falecem a cada ano por câncer de próstata ou
mama, os 44 mil que morrem em razão de doenças hipertensivas ou os 54 mil que
são acometidos de diabetes. Trata-se de índice igual ao de mortes por infarto,
que também somam 80 mil por ano. [morreram de infarto, AVC e outras doenças vasculares, este ano, de 1 janeiro a 15 outubro 2020, 350.000 brasileiros e o câncer tem que ser somado os vários tipos.
Só a soma das doenças citadas neste parágrafo (excluídos os negacionistas que não se pode estimar quantos serão - ainda não existe tais vítimas e nada garante que vão existir) - ultrapassa em muito as da covid-19. Lembrando que não estão incluídas as de mais de uma dezena de tipos de câncer não citados.]
Sim,
há os que já foram infectados e dizem que não vão se vacinar porque já têm
anticorpos, como afirma o magnífico Jair Bolsonaro. Estes ignoram a
potencialidade da reinfecção ou o surgimento de cepas diferentes que podem lhes
acometer. Vejam o caso da gripe influenza, que já exige quatro vacinas
diferentes para ser obstruída. Na rede pública, as vacinas aplicadas são as trivalente, que imunizam contra até três variações da doença. Na rede privada
já estão sendo aplicadas as tetravalente.
Claro
que os custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes
que a doença continuará produzindo depois da vacinação em massa, por causa e
entre os negacionistas. E elas ocorrerão por todos os lados, mas serão maiores
nos grotões bolsonaristas. São os seguidores fiéis de Sua Excelência que mais
se rebelam contra a vacina. Seguem o líder cegamente, como ratos ao flautista
de Hamelin, mesmo que seja em direção ao hospital ou ao cemitério.
Rebanho
O que vai acontecer com aqueles que se recusarem a ser vacinados?
Certamente perderão alguns direitos, como o de frequentar escolas, academias e clubes. Devem também perder o acesso a bolsas e outros auxílios oficiais, o direito de participar de concursos públicos e de votar. Podem ainda ser proibidos de viajar de avião e ônibus. E também não serão imunizados. Serão apenas parte do rebanho.
Eles erram
Presidentes erram. Sarney errou na economia, mas foi o presidente que avalizou a reabertura
democrática. [avalizar a tal reabertura = embrião da 'nova República' = foi um erro maior do que todos os erros que cometeu na economia.] Collor errou ao confiscar a poupança dos brasileiros e ao permitir
que seu contador PC Farias trocasse influência por dinheiro, muito dinheiro.
Mas é verdade também que abriu a economia brasileira para o mundo.
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O Globo - MATÉRIA COMPLETA - Ascânio Seleme, jornalista