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domingo, 17 de outubro de 2021

Achados instigantes - Alon Feuerwerker

Análise Política

Este novembro deve ser interessante na corrida presidencial. Saberemos enfim se Sergio Moro se apresentará candidato a presidente da República, se o contendor do PSDB será João Doria ou Eduardo Leite, quanto o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 impactará a musculatura política de Jair Bolsonaro e, talvez, se André Mendonça será mesmo ministro do Supremo Tribunal Federal.[o senador que preside a CCJ tem plena convicção que expirando seu mandato, não será eleito para mais nada. Tenta, desesperadamente, retardar o ostracismo que o aguarda (aliás, que com uma única exceção, sempre foi seu companheiro). Vai fracassar mais uma vez.]   Sem contar os imprevistos.

Notícias não devem faltar.

Novembro será também o mês em que saberemos melhor se continuará sustentável a até agora surpreendente resistência dos brasileiros à variante Delta do novo coronavírus. Por alguma razão ainda não completamente esclarecida, estamos melhor no confronto contra a variante de origem aparentemente indiana, na comparação com países adiante de nós na vacinação. [No campo da opinião, acreditamos que graças a DEUS alcançamos paralelamente  outras medidas a 'imunização de rebanho'.] Os exemplos mais evidentes são os Estados Unidos e Israel.

O jornal digital Poder 360 levantou as informações. O desempenho brasileiro diante da Delta tem sido muito melhor que o norte-americano e o israelense. Mas também muito melhor que o dos habitantes do Reino Unido. Sabe-se ainda que dois países das redondezas, Uruguai e Chile, acompanham o Brasil no bom momento do combate ao SARS-CoV-2. Espera-se que os cientistas algum dia consigam explicar por quê.

Talvez demore, mas, como se diz, o tempo vai ser o senhor da razão, e, um dia, quando a poeira baixar, saberemos o que aconteceu. Até lá, infelizmente, enquanto os exércitos se engalfinham de olho nas urnas eletrônicas, medidas deixam de ser tomadas pela insuficiência de racionalidade.

Haveria algumas hipóteses principais para o Brasil estar indo melhor que a concorrência contra a Delta. Talvez o surto da Gama (“de Manaus”), com seu trágico saldo de infecções e mortes, especialmente em março/abril, tenha ajudado a produzir em larga escala imunidade capaz de proteger contra a Delta. Talvez a CoronaVac, aplicada aqui, no Uruguai e no Chile, e não aplicada nos EUA, no Reino Unido ou em Israel, seja mais efetiva que as competidoras nesse particular (anti-Delta).

A terceira possibilidade é uma combinação das várias.

Outro detalhe é por que as curvas de casos e mortes (por data real) estão declinando desde março/abril, quando a vacinação ainda estava no início. Na teoria mais aceita, a imunidade de rebanho para o SARS-Cov-2 só seria alcançada com um mínimo de 60% de imunizados. E ainda estamos, agora em outubro, com apenas metade (49%) de completamente vacinados, apesar de 75% já terem tomado pelo menos uma dose.

São ou deveriam ser achados instigantes, que se olhados e estudados com honestidade intelectual e acadêmica poderiam ensejar políticas públicas mais eficazes para adiante. Ainda mais contra um vírus que parece ser uma fonte de surpresas. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


domingo, 30 de maio de 2021

O novo coronavírus veio de um laboratório nos EUA, sugere China - Revista Oeste

Cristyan Costa

Pressionado, o país asiático reagiu à investigação norte-americana que vai apurar a gênese do patógeno

O Partido Comunista da China (PCC) insinuou que o novo coronavírus originou-se nos Estados Unidos. O Ministério das Relações Exteriores do país asiático sugeriu que o patógeno “escapou” do Fort Detrick, centro de pesquisa biomédica norte-americano. “São mais de 200 laboratórios biológicos americanos espalhados pelo mundo. Quantos segredos escondem?”, interpelou Zhao Lijian, chanceler do PCC, em pronunciamento na sexta-feira 28. A fala é uma resposta à decisão do presidente Joe Biden de pedir uma investigação sobre a gênese da covid-19.

Na semana passada, um relatório do governo norte-americano revelou que o coronavírus surgiu no laboratório chinês, hipótese considerada desde o governo do ex-presidente Donald Trump. A papelada foi obtida pelo jornal Wall Street Journal. Entre outros pontos, o documento salienta que, no centro de pesquisas, três funcionários foram hospitalizados, em novembro de 2019, com covid-19. Um mês depois de a OMS decretar a pandemia de coronavírus, a Revista Oeste noticiou que o PCC escondeu o potencial do patógeno. Dessa forma, o Ocidente não conseguiu se preparar.

Laboratório Detrick
Detrick é um laboratório de ponta que fica no estado de Maryland, próximo da capital norte-americana, e onde o Exército dos EUA desenvolve toxinas e antitoxinas, sistemas de defesa para pragas e doenças. Em agosto de 2019, o laboratório recebeu uma ordem do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) para encerrar operações e pesquisas com vírus e bactérias perigosos por questões de segurança. Segundo o CDC, havia um problema de descarte de materiais usados em pesquisas, que poderiam contaminar o solo e água da região. A Organização Mundial da Saúde ainda não tomou lado na história, mas prometeu uma “investigação imparcial”.
 
Revista Oeste

Leia também: “A estratégia do Partido Comunista da China”, reportagem publicada na Edição 58 da Revista Oeste


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Mutações no Sars-CoV-2 na Inglaterra: devemos nos preocupar? - Blog Letra de Médico

Adriana Dias Lopes - VEJA

O novo coronavírus não começou a mudar o seu código genético agora. Ele sofre cerca de duas mutações por mês, metade em relação ao vírus influenza

O aumento súbito do número de casos de COVID-19 nas últimas semanas na Inglaterra levou a uma investigação epidemiológica mais profunda. A Inglaterra é um dos países que mais tem investido no sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 como ferramenta de vigilância epidemiológica, e analisa profundamente mais de 10% de todos os casos de infecção, um número impressionante. Graças a esta avançada tecnologia, os ingleses conseguiram detectar o aumento rápido de uma linhagem genética do SARS-CoV-2 que está sendo chamada de B.1.1.7. ou de VUI 202012/01 (Variant Under Investigation, year 2020, month 12, variant 01).

SARS-CoV-2 começou a mutar agora?
Importante entender que o SARS-CoV-2 não começou a mudar o seu código genético agora. Já se sabe que em SARS-CoV-2 acontecem cerca de 1-2 mutações por mês, uma taxa que é metade da taxa de mutação do vírus influenza e um quarto da taxa do HIV, de modo que até agora apenas 11 locais do RNAm do SARS-CoV-2 diferiam em mais de 5% das sequências conhecidas. 
 
Estas mutações vêm sendo acompanhadas de maneira pioneira por um consórcio de pesquisadores mundiais, a iniciativa GISAID (https://www.gisaid.org), que inclui o Brasil, e a grande maioria destas variantes não exerce nenhum efeito maléfico nem benéfico sobre o hospedeiro humano. Todos os dias informações sobre centenas de sequências do SARS-CoV-2 são transmitidas para a base de dados deste consórcio GISAID, de modo que há uma vigilância epidemiológica molecular constante sobre o SARS-CoV-2 desde o início da pandemia em 10 de Janeiro de 2020. Por exemplo, foi detectado alguns meses atrás que uma mutação chamada D614G aumentou muito a sua frequência, mas aparentemente não trouxe maior vantagem ao coronavirus. O que chama a atenção especial sobre esta linhagem inglesa é que ela aumentou de frequência rapidamente e que contém várias mutações ao mesmo tempo, o que a difere das linhagens anteriores que tem, em cada linhagem, uma ou poucas mutações.
 
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Destas 10 mutações em Spike, três requerem maior atenção dos pesquisadores;

1) A mutação N501Y, que ocorre dentro do domínio de ligação ao receptor (RBD) na região S1 de Spike, e que pode gerar uma afinidade maior desta linhagem com o receptor ACE2, que é a chave para a entrada do SARS-CoV-2 na célula humana. Esta mutação é a que está sendo considerada como a mais preocupante entre todas, provavelmente a responsável pela maior transmissibilidade de toda a linhagem. N501Y foi detectada agora também na África do Sul, mas por origem independente, não por transmissão por viajantes. Este dado, trazido pelo consórcio GISAID, tem importância, pois demonstra que o exato local desta mutação no genoma do SARS-CoV-2, pode favorecê-lo de alguma maneira;

2) A deleção 69-70del, que leva a perda de dois aminoácidos na proteína Spike, se situa no domínio terminal N de S1 de Spike, numa alça exposta na superfície da proteína Spike, que pode representar lugar de ligação de anticorpos contra o Coronavírus, e, portanto, uma mutação ali pode alterar a estrutura de Spike e impactar no reconhecimento por anticorpos. Junto com outras mutações esta é uma que já foi demonstrado que pode escapar da resposta imune quando o paciente é tratado com plasma de convalescentes, ou seja, de pessoas que já tiveram e se recuperaram da COVID-19. “In vitro” ela tem o dobro da capacidade de infecção, “in vivo” ainda não sabemos;

3) Mutação P681H, que se localiza imediatamente adjacente ao sitio de clivagem para a Furina entre S1 e S2 de Spike, lembrando que o SARS-CoV-2 usa este sitio de clivagem para aumentar a efetividade do processo de ligação com o receptor ACE2 e fusão de membranas para penetração na célula humana;

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Em Letra de Médico - VEJA, MATÉRIA COMPLETA -  Por Salmo Raskin

 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Mitos e verdades sobre a capacidade de reinfecção do novo coronavírus

Quem já teve a doença está imune, afinal? Pode contaminar outras pessoas? Eles deverão tomar vacina? Novos estudos esclarecem as questões 

A imunidade pós-infecção pode ser conferida por vários tipos de respostas do nosso sistema imunológico, mas na prática, fora dos laboratórios de pesquisa, o parâmetro historicamente mais associado com proteção é o desenvolvimento de anticorpos do tipo IgG. Apesar de resultados de pesquisas terem sido conflitantes em vários aspectos da COVID-19 (e este é um deles), quanto maior o número de pessoas participantes de estudos sobre a duração da imunidade e quanto mais prolongado for o tempo de acompanhamento, mais precisos serão as informações resultantes.

Como o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado há menos de um ano atrás, ainda não é possível ter uma resposta definitiva para esta pergunta tão importante. Mas um dos melhores estudos que fez esta análise por um período prolongado, acaba de ser publicado. Os participantes, 12.219 trabalhadores de saúde de quatro Hospitais de Oxford em Oxfordshire no sudeste da Inglaterra, foram testados inicialmente, e depois várias vezes para anticorpos IgG, por 30 semanas. Após a testagem inicial de anticorpos IgG, 11.052 tiveram o resultado negativo e 1.167 positivo.. Dos 11.052 que eram inicialmente IgG negativos, 76 acabaram tendo o teste padrão para detecção de SARS-CoV-2 (RT-PCR) positivo durante o período de avaliação. Já entre os 1.167 que já tinham anticorpos IgG inicialmente, nenhum desenvolveu sintomas de COVID-19 nas 30 semanas de seguimento!

Porém, durante testagem de rotina três trabalhadores assintomáticos entre estes 1.246 (0.2%) tiveram o teste de RT-PCR para COVID positivos até 6 meses depois de testarem positivo para anticorpos IgG. Deixando de lado certas críticas ao estudo, como a possibilidade de falsos positivos e negativos da RT-PCR, do estudo ter sido feito boa parte em momento em que a epidemia não estava tão intensa na Inglaterra, de não sabermos se as pessoas estavam se expondo mais ou menos à infecção, de não ter avaliado imunidade celular só anticorpo, este estudo demonstra que a presença de anticorpos IgG está associado a risco muito baixo de se infectar com SARS-CoV-2 em um período de no mínimo 6 meses, e que ter uma segunda infecção sintomática é muito incomum (https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.11.18.20234369v1.full.pdf). Por outro lado não deixa dúvidas que mesmo entre assintomáticos, existe reinfecção.

Quando os pesquisadores admitem que houve uma reinfecção?
Para contar como um caso de reinfecção, um paciente deve ter tido um teste de RT-PCR (padrão ouro para confirmação laboratorial da infecção por SARS-CoV-2) duas vezes em pelo menos um mês, sem sintomas entre eles. Porém sabemos que um segundo teste também pode ser positivo se o paciente tem apenas um resíduo persistente de RNA viral de sua infecção original, seja este pedaço de vírus infectante ou não.

Como se não bastasse esta complexidade, sabemos que uma parcela não insignificante dos infectados parece ter mais dificuldade de se livrar do SARS-CoV-2, que talvez fique escondido em reservatórios no intestino, o que está sendo chamado de Covid-prolongado (“long covid”). Justamente para não confundir reinfecção (se livrar totalmente do vírus e depois se infectar novamente) com Covid-prolongado (demorar muito para se livrar do único vírus que infectou), os critérios adotados atualmente para caracterizar reinfecção são muito rigorosos.

Além dos dois testes de RT-PCR positivos separados por um mês sem sintomas, só é considerado reinfecção quando na primeira infecção foi realizado o estudo do código genético do SARS-CoV-2 por sequenciamento, e o mesmo estudo for realizado na segunda infecção, para que seja desta forma comprovada infecção por cepas com código genético ao menos um pouco diferentes entre ambas as infecções. Como o sequenciamento do SARS-CoV-2 não é feito de rotina, na prática, muitos casos que são considerados covid-prolongado talvez sejam verdadeiramente reinfecção.

Além disto, testa-se muito menos do que se deveria testar pelas técnica de RT-PCR, principalmente em pessoas sem ou com poucos sintomas, de modo que se a pessoa se infectou sem ou com poucos sintomas na “primeira” ou na “segunda” vez, já pode não estar sendo incluída no grupo dos reinfectados. Por fim, se a pessoa se infectou realmente duas vezes, mas com cepas genéticamente iguais, o que não é impossível visto o SARS-CoV-2 não ter grande variabilidade genética, não será considerado formalmente reinfecção.

Incluídos nestes critérios bastante rígidos, temos até o presente momento, entre 60 milhões de infectados no planeta, apenas 25 casos comprovados de reinfecção, sendo 5 graves na segunda infecção, listados e atualizados no site https://bnonews.com/index.php/2020/08/covid-19-reinfection-tracker para quem quiser acompanhar. Certamente na vida real o número de reinfectados já é muitas ordens de magnitude maior.

Sou IgG positivo, posso então ficar absolutamente tranquilo e baixar a guarda nos cuidados com o vírus?

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A diversidade limitada do SARS-CoV-2 muito provavelmente permitirá que uma vacina seja suficiente para nos proteger de todas as cepas diferentes (https://www.pnas.org/content/117/38/23652). Mais tranquilizantes são os dados do estudo de Oxford acima descritos, que somado as outras evidências nos permite um otimismo cauteloso em relação as reinfecções. A regra, a princípio, é que uma vez infectado a grande maioria das pessoas está protegida por bom tempo. Como toda regra tem exceções, reinfecções por SARS-CoV-2 existem.

Podemos, sim, acreditar que a onda de vacinas chegará antes da marola de reinfecções graves. Até que as vacinas cheguem, mesmo entre os já infectados, fica valendo o uso de máscaras, lavar as mãos com frequência e medidas de isolamento social.

Letra do Médico - Blog em VEJA - MATÉRIA COMPLETA



domingo, 1 de novembro de 2020

De “Maria Fofoca” a “Nhonho”: o que está por trás das novas brigas no governo Bolsonaro? InfoMoney

InfoMoney

Episódios marcam acirramento nas disputas entre distintas alas da coalizão governista às vésperas do que se especula vir a ser uma reforma ministerial.  Conflitos internos e externos têm marcado a rotina de membros do governo federal mesmo após tentativas de moderação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e mudanças na conduta política da atual administração.

Nos últimos dias, o protagonista das brigas públicas foi o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), desta vez com o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), a quem batizou de “Maria Fofoca”, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), referido por sua conta no Twitter como “Nhonho” (horas depois o ministro alegou que seu perfil havia sido invadido).

O episódio marca um acirramento nas disputas entre distintas alas da coalizão governista por espaços na administração às vésperas do que se especula vir a ser uma reforma ministerial. Recentemente, os militares ampliaram participação no governo, passando a ocupar todas as pastas sediadas no Palácio do Planalto, enquanto o grupo ideológico perdeu posições especialmente com a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação.

Já os partidos do chamado “centrão”, antes atacados pelo presidente, começaram a integrar o segundo escalão, viram o Ministério das Comunicações ser refeito e entregue ao deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) e agora cobiçam novas pastas. “O movimento de Bolsonaro de aproximação com o ‘centrão’ foi se intensificando cada vez mais e é natural que os integrantes deste grupo queiram espaços de maior destaque no governo. Por outro lado, desagradou aquela base mais ideológica, com perfil mais conservador”, diz a analista política Júnia Gama, da XP Investimentos. “Estamos vendo essas três alas que integram o governo entrando em conflito, por conta desta mudança de rumos que o presidente vem fazendo nos últimos meses. Isso vai desemborcar em uma minirreforma ministerial que deve acontecer no começo do próximo ano”, complementa.

Muitos movimentos são especulados para a possível dança das cadeiras. Um deles envolveria a saída de Salles, após sucessivos desgastes provocados por sua postura na crise provocada pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, além da declaração em reunião ministerial de que o governo deveria aproveitar a pandemia do novo coronavírus para “passar a boiada” em para alterar normas no setor. O ministro, porém, conta com respaldo da ala ideológica, sobretudo após a queda de Weintraub.

Investidas também são observadas sobre o Ministério da Economia. Os novos aliados políticos de Bolsonaro têm defendido a ideia de um desmembramento da pasta, o que permitiria a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e até do Ministério do Planejamento. Os novos postos poderiam acomodar integrantes do “centrão” que passaram a dar suporte ao governo no parlamento. A possibilidade de recriação das pastas foi negada por Bolsonaro em live no início do mês, mas segue agitando conversas nos bastidores. “Vai ser muito difícil, são muitos apetites para o presidente saciar. Ele vai ter que fazer um xadrez muito delicado”, observa Júnia Gama. “Paulo Guedes, apesar de tudo que sofreu nos últimos meses, continua sendo um bastião do governo, um pilar da diretriz econômica liberal, mas tem muita gente de olho naquele ministério”.

Antes de movimentar peças no xadrez da Esplanada, Bolsonaro deve acompanhar atentamente o desfecho das eleições municipais, sobretudo nas disputas nacionalizadas (casos de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo), e da disputa pela presidência nas duas casas legislativas. A redistribuição dos postos, caso efetivada, terá de respeitar a nova correlação de forças que se desenhará no plano político.

InfoMoney


sábado, 18 de abril de 2020

Insensibilidade estarrecedora – Opinião - O Estado de S. Paulo

Legislativos estaduais concederam reajustes salariais a funcionários públicos


É espantoso que até mesmo a pandemia do novo coronavírus não seja capaz de frear a ânsia de corporações do funcionalismo por reajuste salarial. Milhões de brasileiros veem sua renda cair por força da situação atual. Aprova-se uma legislação de emergência permitindo redução de carga horária e de salário, como forma de preservar empregos. Enquanto isso, Legislativos estaduais concederam reajustes salariais a funcionários públicos. É um contraste absolutamente imoral.

[os estados cujos legislativos concederam, irresponsavelmente, reajuste a servidores estaduais, estão entre os que o deputado Maia quer que o Presidente Bolsonaro conceda um cheque em branco = permissão para o governo estadual gastar quanto quiser, como quiser, na certeza que será reembolsado pela União.
Afinal, os governadores é que irão administrar a grana e eles são cúmplices da irresponsabilidade, a lei só entra em vigor após sanção do governo estadual.]

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou e o governador Wilson Witzel sancionou a Lei 8.793/20, autorizando a administração estadual a revisar as remunerações dos servidores estaduais. Resultado de um acordo feito após uma série de vetos do Executivo à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020, o texto tem como autores deputados do PSL, PSDB, PT, PSOL, PDT, PRB, PSD, PCdoB, DEM, MDB e DC. O corporativismo, como se vê, ultrapassa as fronteiras ideológicas.

No dia 14 de abril, a Alerj comemorou a aprovação no Twitter. “#AgoraéLei. A Lei 8.793/20, que autoriza o governo do Estado a promover alterações no Orçamento de 2020 para permitir a revisão das remunerações dos servidores estaduais, foi sancionada pelo governador Wilson Witzel e publicada hoje no Diário Oficial.” E ainda justificou o disparate, alegando que “há cinco anos os servidores não têm reajuste”. É estarrecedora a capacidade de não enxergar a realidade.

Questionado se pretende aplicar a reposição salarial em meio à pandemia do novo coronavírus, o governo de Wilson Witzel afirma que o momento não é propício a isso. “O Estado do Rio de Janeiro sofre um declínio considerável da sua arrecadação por conta da crise causada pelo novo coronavírus e também pela queda do preço do barril do petróleo”, diz a nota do governo estadual.

Antes já não era momento propício, e muito menos o é agora. O Estado do Rio encontra-se em situação falimentar há três anos, sem condições de custear parte de seus serviços essenciais. Em 2017, a administração estadual negociou um plano de recuperação fiscal, de forma a permitir um paulatino reequilíbrio de suas contas. Antes da pandemia do novo coronavírus, a estimativa era de que o Executivo fluminense voltaria a arrecadar mais do que gasta apenas em 2029. Trata-se de um cenário que impede pensar em qualquer reajuste.

Mas o irrealismo de setores do funcionalismo não está restrito ao Rio de Janeiro. Recentemente, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou projeto de lei complementar concedendo reajuste de 3,89% aos servidores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo. Há salários que ultrapassam os R$ 25 mil mensais. A benesse foi concedida um dia antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado a pandemia de covid-19. Enquanto o mundo se preparava para reduzir atividades e conter a expansão do novo coronavírus, havia quem trabalhasse intensamente pela expansão de salários pagos com recursos públicos.

O governador João Doria não sancionou a nova lei e, [não sancionou, mas também não vetou = preferiu o conforto do muro.] decorrido o prazo legal, a Assembleia Legislativa a promulgou. Em nota, o presidente da Casa, deputado Cauê Macris (PSDB), explicou que a promulgação do projeto de lei foi feita em razão de “determinação legal”.

Ante o completo descompasso do reajuste salarial com a situação do País e do mundo, o presidente do TCE de São Paulo, conselheiro Edgar Rodrigues, suspendeu a liberação do aumento enquanto a crise econômica causada pela pandemia da covid-19 perdurar, afirmando que ele será pago mais adiante. Ou seja, quando a imensa parte dos brasileiros estiver batalhando para pagar a imensa conta da crise, fazendo todo tipo de sacrifícios, haverá alguns poucos com ajuste de salário assegurado.


Em vez de obter reajustes salariais – verdadeiro descalabro –, é hora de reduzir salários de todo o funcionalismo, nas três esferas da Federação e nos Três Poderes. Se o trabalhador da iniciativa privada pode ter o contrato de trabalho suspenso ou ver seu salário reduzido em até 75%, não há razão para que o funcionário público seja poupado desse mesmo esforço. A superação da crise causada pela pandemia exige a colaboração de todos.

Opinião  -  O Estado de S. Paulo