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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O ministro sem fronteiras e sua última realização 'democrática' - Revista Oeste


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A autossuficiência em trigo – O Estado de S. Paulo

Opinião

Calor e seca ajudam a fazer do Cerrado um polo que pode duplicar a produção nacional

O Brasil está caminhando para tornar-se autossuficiente em trigo e até exportador do cereal. Nas últimas décadas, houve momentos em que, sustentado por pesquisas e estímulos, o rápido crescimento da produção do cereal, indispensável para a indústria de panificação e de massas, chegou a sugerir que o País deixaria de depender da importação do produto, principalmente da Argentina. Mudanças de políticas para a cadeia do trigo – produção, processamento, distribuição, comercialização –, no entanto, resultaram em drásticas quedas da produção após períodos de safras recordes. Desta vez, há elementos muito fortes que podem garantir crescimento rápido e contínuo da produção.

Novas áreas de cultivo, com características de solo e de clima adequadas à triticultura e com variedades adaptadas a essas condições e mais resistentes a pragas, já registram produção crescente, com produtividade acima da média nacional, e se mostram muito promissoras para a rápida expansão dessa cultura. No Cerrado, cerca de 200 mil hectares são utilizados para o cultivo do trigo com variedades desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). É de lá, como mostrou reportagem do Estado, que pode vir o grande salto da produção brasileira de trigo.

De acordo com o mais recente Acompanhamento da Safra Brasileira da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), relativo a outubro, 2.334 mil hectares foram cultivados com trigo, cuja produção é estimada em 6.833,7 mil toneladas. Na Região Centro-Oeste, diz o relatório, “a cultura tem se adaptado às condições de cerrado, principalmente após anos de investimentos e pesquisas no âmbito do melhoramento genético e no manejo do solo, da água e da planta”. Entre as áreas que demonstraram bom resultado nas últimas safras, a Embrapa cita Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, onde a produtividade tem sido acima de 3.000 quilos por hectare (a média da atual safra é de 2.927 kg/ha).

Já há algum tempo, a Embrapa vem prevendo que, com o desenvolvimento das pesquisas e a transferência de novos conhecimentos ao setor produtivo, o Brasil pode produzir trigo além de sua demanda doméstica. Neste ano, a Conab estima o consumo doméstico de trigo em 12.498,1 mil toneladas, e as importações devem alcançar 6.700 toneladas. Isso significa que, na atual safra, o Brasil produzirá pouco mais da metade do que consumirá. Nos últimos anos, a produção tem ficado muito próxima da metade do que o País consome.

A produção nacional de trigo oscilou muito nas últimas décadas. Em alguns momentos, como depois da segunda metade da década de 1970, o aumento se deveu em grande medida ao avanço das pesquisas (a Embrapa Trigo foi criada em 1974). Em outros, a medidas de proteção ao produto nacional decididas pelo governo.

Assim, em 1988, a produção nacional respondeu por 85,9% do consumo, de 6.678.9 mil toneladas, de acordo com estatísticas do IBGE. Foi a maior fatia que o produto nacional conquistou do consumo doméstico. Sete anos depois, como consequência da abertura de todo o segmento do trigo decidida pelo governo Collor, o produto nacional respondeu por apenas 19,8% do consumo nacional de 7.756,4 mil toneladas. Diante de novos riscos, o produtor nacional havia optado por outras culturas.

Agora, há condições técnicas, climáticas e econômicas muito sólidas, que tornam a triticultura mais livre de eventuais interferências do poder público. A meta é alcançar 1 milhão de hectares cultivados com trigo no Cerrado, área cinco vezes maior do que a utilizada na atual safra.

Variedades adaptadas ao clima e resistentes à brusone, doença comum na região, utilizadas com técnicas avançadas de manejo de cultura resultam em espécies mais tolerantes à seca e ao calor. No Sul, as chuvas podem coincidir com a colheita, o que resulta em perda de produtividade e qualidade. No Cerrado, a seca durante a colheita, o período de estiagem bem definido e o forte calor durante o dia reduzem o intervalo entre plantar e colher.

 Opinião - Notas & Informações - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Uma obra de 26 Natais

O uso político da seca é tão antigo quanto suas vítimas

Lá se foram 26 Natais. O Sol chupa poços há 9.490 dias e a obra do canal com a água prometida avança lenta, capionga como diz por ali. O ritmo é de nove metros a cada jornada.  A chuva da semana passada até foi celebrada em discursos na última sessão do Congresso, em Brasília. Mas é só um alento natalino, advertem meteorologistas: precisam-se de dois ou três anos de enxurradas para que as duas dezenas de baixios ressecados no sertão alagoano possam, de novo, ser chamados de rios.

Seca é coisa remota, cíclica, inevitável e previsível. É o maior desastre ambiental do Brasil. No Nordeste há pelo menos 208 anos imagina-se a redenção com o “encanamento” do rio São Francisco para o sertão.  O uso político da seca é tão antigo quanto suas vítimas. “Cavar e atirar a terra para os lados pouco custa”, discursava o deputado paraibano França Leite em 1846. Trinta e dois anos mais tarde, Pedro II percebia as vantagens. Nas “Falas do Trono”, no Senado de 1878, se apoiou no “flagelo da seca” para evocar algum sentido de unicidade política em torno do Império no país em formação.Foram mais de 74 mil dias até à abertura do primeiro canal, ano passado, para travessia das águas do rio São Francisco rumo ao sertão.

Banharam vida à volta da reta cimentada de 220 quilômetros. Mas isso é só fração de toda a terra ressequida onde cabem oito países como o Uruguai, e se estende por oito estados.
Dentro do pedaço semiárido de Alagoas sonha-se com algo mais simples do que a faraônica transposição do São Francisco.  Um milhão de pessoas, em 38 cidades, aguarda o fim da obra do Canal do Sertão. Ela segue à conta-gota.

É recordista de irregularidades nas últimas três décadas. A água imaginária já atravessou a eleição de seis presidentes e governadores, entre eles Jair Bolsonaro e Renan Filho, que assumem em janeiro. Demorou 26 anos para se chegar ao 90º dos 250 quilômetros de canalização prometida. No ritmo atual poderá ser inaugurada em mais 48 anos. Talvez, no Natal de 2.066.

José Casado, jornalista - O Globo