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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Até Gilmar Mendes reconhece que Lula só se elegeu graças ao STF - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, como diz a Bíblia, do que fazer com que um ministro do Supremo Tribunal Federal se manifeste apenas nos autos, como é princípio elementar em qualquer democracia séria do mudo.  
Os ministros do STF brasileiro são hoje oradores políticos, principalmente em lugares como Paris, Nova York ou Lisboa – onde em geral falam em português para plateias de brasileiros. 
No tempo que sobra das suas palestras, seminários e conferências, atuam como juízes. 
Mas no caso do último pronunciamento, por parte do ministro Gilmar Mendes, os brasileiros tiveram a oportunidade de ouvir a verdade que nenhuma figura pública deste país foi capaz de dizer até agora: a presença de Lula na presidência da República se deve ao STF. 
É, certamente, o maior chamado à realidade que o Brasil já ouviu desde as eleições presidenciais de 2022.

É muito bom que o ministro Gilmar ter dito que disse, pois assim não se poderá mais acusar de “desinformação” ou de outros crimes “contra a democracia”, o cidadão que vem dizendo exatamente a mesma coisa há mais de um ano. “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do STF”, afirmou o ministro em Paris, no último evento internacional de que participou.

Num país governado por um sistema oficial de mentiras, é realmente um conforto ouvir um peixe graúdo do regime restabelecer a verdade.

Esse é o tipo do benefício que pelo menos os 60 milhões de brasileiros, ou quase isso, que votaram no adversário de Lula, não queriam receber do STF. Não se entende, também, como possam ser a “elite” denunciada por ele em Paris; se fossem, o Brasil teria a maior elite do planeta, e todo mundo sabe que não tem. Mas o que importa é a afirmação central de Gilmar Mendes: Lula só é presidente do Brasil por causa do STF. Ele próprio, a esquerda e as classes intelectuais acham que ganharam “a eleição”. Sempre foi falso. Quem ganhou a eleição para eles foi o Supremo.

O STF fez tudo o que foi decisivo para Lula ser declarado presidente. Não só decidiu anular a sua própria jurisprudência e revogou a prisão em segunda instância, o que tirou Lula da cadeia onde estava cumprindo pena pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. 

Também anulou as quatro ações penais contra ele, com a prodigiosa desculpa de que o endereço dos processos estava errado, o que suprimiu a ficha suja que o impedia de se candidatar.

Durante toda a campanha, o braço eleitoral do STF, o TSE, trabalhou sistematicamente a favor de Lula e contra seu adversário e não permitiu nenhuma investigação sobre a contagem dos votos
Ao contrário: puniu, inclusive com multas de 22 milhões de reais, quem cometeu o delito de apresentar uma petição ao próprio TSE para solicitar um reexame da apuração. 
No fim, para coroar a operação toda, decidiram que o concorrente de Lula na eleição fica proibido de disputar qualquer cargo público no Brasil pelos próximos oito anos.
 
Num país governado por um sistema oficial de mentiras, é realmente um conforto ouvir um peixe graúdo do regime restabelecer a verdade dos fatos numa declaração pública
Lula não foi colocado no Palácio do Planalto pelo eleitor brasileiro; está lá pela vontade do STF. 
Deve tudo aos ministros – sua autonomeação para o cargo de Deus, seu programa de volta ao mundo junto com a mulher, as dezenas de empregos “top de linha” que deu para os amigos que perderam a eleição, e daí até o infinito. 
Não está lá por seus méritos, a “vontade popular” ou a vitória do amor sobre o ódio. Está lá porque o STF quis; se não tivesse querido, Lula continuaria até hoje trancado numa cela de Curitiba, e ninguém estaria ligando minimamente para ele.
 
Conteúdo editado por:  Jocelaine Santos
 
 J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

sábado, 12 de agosto de 2023

Para o Judiciário, os irmãos Batista são diferentes de todos os outros brasileiros - Gazeta do Povo

Vozes - J.R. Guzzo

A convivência de seis anos entre o Ministério Público e os irmãos Batista, donos de um dos maiores complexos de produção de carnes do mundo, é uma lição inesquecível sobre como a justiça brasileira criou dois tipos diferentes de cidadão neste país os muito ricos, que sempre têm direito a tudo e nunca devem nada, e todos os demais, que são obrigados a cumprir a lei 24 horas por dia. 
Os proprietários da JBS aceitaram em juízo, em 2017, pagar 10,3 bilhões de reais para não irem para a cadeia. Em troca, delataram à Operação Lava-Jato os barões mais ilustres da corrupção passiva do Brasil. 
 
Como se sabe, não aconteceu nada com os barões, que têm a proteção automática do Supremo – um deles, inclusive, acabou virando presidente da República. 
Mas também não aconteceu nada com os Batista. 
Já foi, logo de cara, um negócio de pai para filho – os delatores ganharam 25 anos para pagar o que deviam. Depois, ficou melhor ainda. 
Os empresários entraram no MP com uma ação contra o próprio acordo que tinham assinado, e até agora, seis anos depois, não pagaram quase nada do que se comprometeram a pagar; não mais que 5% do total. Ainda assim, não ficaram satisfeitos. Estão conseguindo, no Ministério Público Federal, um desconto de quase 70% no total da fatura que não pagaram. Ou seja, eles não querem pagar, não querem ir para a cadeia e não querem ficar devendo.
 
O procurador que cuidava do caso até há pouco, Carlos Lima, já tinha negado o recurso de “revisão” do acordo apresentado pelos irmãos Batista; estão querendo que os 10,3 bilhões prometidos se transformem em 3,5 bi. O procurador, na ocasião, disse que o pedido não tinha nenhum cabimento, e negou-se a permitir o desconto.
Os empresários, argumentou ele, assinaram o acordo de sua livre e espontânea vontade, com a plena assistência dos seus advogados. 
Para ficar soltos, confessaram a prática de crimes e delataram cúmplices. Se não querem pagar a importância que o MP propôs, por que raios aceitaram o acordo
Bastaria não assinar; ninguém obrigou nem um nem o outro a assinar papel nenhum. De lá para cá, lembrou Lima, não aconteceu nada de novo para mudar os termos do que foi combinado. Estão achando, agora, que os valores são “excessivos”? Mas por que não falaram isso em 2017?

    Ou seja, eles não querem pagar, não querem ir para a cadeia e não querem ficar devendo

Mais que tudo, ao prometerem pagar os 10 bilhões, os irmãos Batista se livraram do xadrez da Lava Jato, no qual foram parar tantos gatos gordos da roubalheira nacional. 
Agora estão querendo, ao mesmo tempo, escapar da cadeia e do pagamento.
Inicialmente o MP federal achou que não dava para eles terem as duas coisas – se não querem pagar, deveriam ter optado pela cadeia. Ou é uma ou é outra. Mas isso aqui é Brasil democrático de 2022, onde o artigo 1º. da Constituição (não a que você conhece, mas a que realmente está valendo) diz que é mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que um réu confesso de corrupção ir para a penitenciária – sobretudo se a ladroagem foi de milhões. 
 
A defesa dos empresários (incluindo-se o ex-ministro Ricardo Lewandowski, que até outro dia dava sentenças no STF), conseguiu ressuscitar o pedido que já estava enterrado – só que agora, por uma dessas coincidências sobrenaturais que só acontecem na justiça brasileira, o processo foi parar com um novo procurador, Ronaldo Albo
O que você acha que aconteceu? O dr. Albo decidiu que a JBS, subitamente, passou a ter razão – e concordou em descontar 70% do valor a ser pago, como querem os empresários.

Não tente fazer isso com as suas dívidas. Eles são diferentes de você.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

J.R. Guzzo, Colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

PIB de 1% - Economia brasileira vai bem, obrigado - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo


A economia do Brasil cresceu 1% no primeiro trimestre de 2022, o que não é um marco na história universal do progresso, mas é simplesmente três vezes mais que o “0,3” que os sábios do FMI previam com a certeza de quem ganha um Nobel de economia.

É óbvio que os economistas brasileiros mais procurados pelos jornalistas concordaram de olhos fechados com essa previsão deprimente – alguns deles, como se sabe, estão nessa vida há mais de 30 anos, falando sem parar que “o modelo” capitalista morreu no Brasil, e não vai ressuscitar nunca mais
Era a prova final, segundo eles, que “o Bolsonaro” está arruinando o país; no máximo consegue “despiorar”, mas com certeza está conduzindo a economia brasileira para a sua destruição.

  Solução para crise alimentar que se aproxima está no Brasil

Não é só o crescimento econômico. O desemprego teve uma redução dramática. Caiu de 14,8% para 10,5%, segundo a última aferição – e isso significa, na prática, que no momento há 100 milhões de brasileiros com trabalho formal, com o índice de ocupação superando os números de antes da pandemia. É o melhor índice desde 2015.

Há nove meses seguidos o país tem superávit fiscal
, gastando menos no que arrecada – apesar de todas as despesas com o combate à Covid, verbas extras para a saúde dos estados, 500 milhões de doses de vacina e o auxílio emergencial em dinheiro para os cidadãos, hoje no valor de R$ 400 por mês e oficializado com o nome de Auxílio Brasil. A inflação de maio foi de 0,4% cerca de metade do que previam todos os economistas, analistas de banco e os especialistas do “mercado”.

O superávit citado acima é o maior em mais de 20 anos. A dívida pública bruta, que inclui a previdência social, os estados e os municípios, está em níveis anteriores aos da pandemia. O agronegócio pode ter em 2022 o melhor ano de sua história, e as exportações batem novos recordes.

Resumo desta ópera: para um país que precisa crescer como uma China durante dez ou 20 anos para sair da pobreza, o desempenho da economia é ruim – até por problemas estruturais, legais e políticos que impedem o crescimento de qualquer nação. Mas a realidade da economia brasileira de hoje não tem absolutamente nada a ver com o quadro de calamidade que é apresentado todos os dias ao público.

O fato é que os números acima são tratados pela mídia brasileira como se fossem um segredo de Estado – é mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar essas realidades expostas de maneira clara ou com destaque no noticiário. Sai alguma coisa num fundo de página ou num restinho de telejornal, é verdade, porque também seria impossível não publicar nada. Mas os comentários sempre dizem que os números estão “abaixo” do que deveriam ser e jamais que estão acima do que foi previsto; a situação, no seu modo de ver as coisas, apenas fica “menos pior”.

Da mesma forma, jamais se encontra, em alguma matéria indignada com a inflação brasileira, qualquer menção ao fato de que a inflação nos Estados Unidos está em 8,5% e a da Alemanha, o modelo extremo de seriedade e disciplina econômicas, está acima de 8% os piores índices em meio século.

Também nunca se menciona, quando falam de inflação, os dois anos de paralisação da economia, com os “fique em casa”, as quarentenas e os “lockdowns” aplicados com tanta excitação pelo Supremo Tribunal Federal, pelos governadores e pelos prefeitos; é como se nada disso tivesse existido, ou tido algum efeito sobre a alta de preços.

Em todo o mundo, a inflação só existe no Brasil, e só “o Bolsonaro” é culpado por ela. É um retrato acabado do Brasil de hoje, segundo a mídia. Só acontecem coisas mais ou menos “piores”.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Uma piada de campanha - O Estado de S. Paulo

Está disponível na praça, já à disposição do público em geral, a última lenda da campanha eleitoral deste ano: o ex-presidente Lula é, neste momento, um candidato moderado. Essa bobagem é apresentada em várias embalagens. Lula inclinou-se para “o centro”, diz uma delas. Lula “mudou o discurso”, diz outra. Lula está empenhado em atrair apoios entre as forças “conservadoras”, diz mais uma.

A prova disso, pelo que foi dito, é que no lançamento de sua chapa para a Presidência ele leu o discurso, em vez de falar o que lhe vem na cabeça - um monótono calhamaço sem cor, sem sabor e sem cheiro, e sem uma única palavra escrita por ele, Lula. Com isso, evitou cometer “deslizes” - que é como os gestores da sua campanha chamam as repetidas barbaridades que desandou a dizer nas últimas semanas.

A ficção que se quer vender, em suma, é que Lula está virando um Geraldo Alckmin - que o acusava ainda há pouco de querer voltar “ao local do crime” e agora estaria sendo uma espécie de grilo falante que mantém o chefe nos caminhos da virtude. É uma piada, claro; é mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que Lula fazer alguma coisa que Alckmin lhe peça. Mas essa invenção está sendo apresentada a sério, como sinal de que o ex-presidente não é mais o mesmo.

Como fica, então? Lula vai passar o resto da campanha lendo discursos escritos por outros? 

Vai trocar de personalidade, de estilo e de vícios? 
Vai ficar fingindo que respeita ou que ouve Alckmin, na esperança de que o ex-governador lhe traga algum voto “da direita”? (Nas últimas eleições Alckmin teve 4% dos votos.) É uma equação difícil.

Os devotos da sua candidatura sonham com um Lula no papel do bom vovô, sorridente e amigo das crianças, afável com todo mundo, pronto a “negociar” tudo, defensor número 1 das soluções sensatas - em suma, o homem que condena os extremos e só pensa na paz de que “o Brasil tanto precisa”. Mas para isso ele não pode mais ser o Lula da vida real - e esse, infelizmente para os crentes na “moderação”, é o único Lula que existe.

J. R. Guzzo, colunista -  O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O ministro sem fronteiras e sua última realização 'democrática' - Revista Oeste


sábado, 28 de agosto de 2021

Manual prático do golpe - da tropa na rua à decisão sobre o que fazer com o STF

Revista Oeste - J. R. Guzzo

Dar um golpe de Estado, ao contrário do que acham os editoriais, os cientistas políticos de esquerda e o governador João Doria, não é um negócio assim tão simplesinho

O presidente Jair Bolsonaro recebeu no dia 10 de agosto veículos militares, como tanques e armas de guerra, na Esplanada dos Ministérios | Foto: Antonio Molina/Fotoarena//Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro recebeu no dia 10 de agosto veículos militares, como tanques e armas de guerra, na Esplanada dos Ministérios | Foto: Antonio Molina/Fotoarena//Estadão Conteúdo
Há algum tempo, não se sabe bem quanto, a mídia, a classe política, a nebulosa chamada “elites brasileiras” e o universo intelectual-liberal-radical que toma vinho, lê jornal e se atormenta com a “variante Delta” praticamente não falam de outra coisa: o golpe que será dado em algum momento por Bolsonaro ou, então, pelo seu primo-irmão, o conjunto de “atos antidemocráticos” que estão em tudo, em todas as pessoas e em todos os lugares ao mesmo tempo. 
Os editoriais vão assumindo um tom cada vez mais desesperado. 
Os jornalistas de televisão, entre um e outro momento de indignação com a ausência de máscaras nos estádios de futebol, veem um golpista atrás de cada poste de luz. 
Os políticos de “esquerda” vivem em histeria plena e permanente. E por aí vamos.

Quem estaria disposto a tirar do bolso uma nota de R$ 2 para defender o STF?

Não é só conversa. O ministro Alexandre de Moraes, chefe de polícia do STF para a vigilância da boa ordem constitucional, despacha furiosamente num inquérito (100% ilegal) para descobrir atos “antidemocráticos”, reprimir a circulação de fake news e tornar as redes sociais seguras para a democracia.  
O corregedor de uma das dependências do Supremo, o “TSE”, proibiu as plataformas digitais de pagarem as somas em dinheiro devidas para canais de comunicação de direita. O STF prende gente como se fosse uma delegacia de polícia — pouco ligando para o que o Ministério Público, o único órgão oficial autorizado por lei a pedir a prisão de alguém no Brasil, acha ou não acha disso. Um deputado federal em pleno exercício do seu mandato está preso — continua sendo deputado, mas tem de ficar em casa com tornozeleira eletrônica. O cantor caipira Sérgio Reis é chamado a depor na Polícia Federal
A CPI da Covid tem acessos repetidos de neurastenia.
 
Só mesmo uma ditadura de verdade, tipo essa com a qual nos ameaçam para qualquer momento, seria capaz de fazer tudo isso ao mesmo tempomas estamos no Brasil, e no Brasil de hoje é assim que funcionam as coisas
para manter intacto o Estado de direito, o STF tem o direito e o dever de mandar a Constituição Federal para o diabo que a carregue. 
Nada disso, é claro, está tirando o sono do brasileiro que chacoalha todo dia no trem da Central, acorda às 4 da manhã para pegar no serviço e carrega no braço saco de cimento para a obra. 
O golpe “do Bolsonaro”, aí, não assusta ninguém — a maioria, por sinal, ficaria a favor se fosse consultada. O povo acha que golpe só faz mal para “político” — e político, na sua opinião, é “tudo ladrão safado”. 
Fica chato dizer isso? Fica. Mas é assim. Não esperem, portanto, o povão nas ruas, indignado com a “ruptura da ordem democrática”. Quem estaria disposto a tirar do bolso uma nota de R$ 2 para defender o STF? 
E o Senado Federal? Esquece.
 
É possível que as “instituições” percebam perfeitamente isso, até por seus instintos básicos — embora seja mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que um político, jornalista ou artista de novela admitir que a imensa maioria da população brasileira está pouco se importando com as angústias de Brasília. O problema, de qualquer forma, não é discutir as diferenças relativas de opinião que existem entre povo e elite nessa questão de golpe militar. 
A única questão que realmente interessa é, até o momento, a menos discutida de todas: o governo, que é acusado três vezes por dia de preparar o golpe, tem algum meio real para dar o golpe? 
Ou seja: pode mesmo virar a mesa se decidir que vai fazer isso? 
Tem um plano detalhado para a operação? Ou tem ou não tem; ou tem, ou então é tudo conversa.
 
 
Dar um golpe de Estado, ao contrário do que acham os editoriais, os cientistas políticos de esquerda e o governador João Doria, não é um negócio assim tão simplesinho; não basta fazer umas lives, meia dúzia de passeatas de motocicleta e uma bateria de “disparos” no Twitter. 
Não adianta desfile com trator em Brasília, dizer “pátria amada, Brasil” e chamar o general Braga. 
Ninguém muda regime político nenhum por não usar máscara, chamar o ministro Barroso de idiota ou defender “posturas antidemocráticas”. O que define se vai “ter golpe” ou não vai “ter golpe” é uma porção de coisas concretas que ficam mais embaixo — muitíssimo mais embaixo. 
A primeira delas é planejar muito direitinho o que vai ser feito, na prática, no primeiro minuto após o golpe — o que vai ser feito, quem vai fazer o quê, e com quais recursos objetivos vão fazer o que tem de ser feito.
 
Não ajuda em absolutamente nada ficar dizendo todo o dia no horário nobre que a situação está mais tensa do que “nunca”, nem ficar assustando a população com gritaria que não tem nenhuma informação importante. (Daqui a pouco vão estar pedindo para as pessoas esvaziarem os supermercados.) 
Não adianta o governador de São Paulo punir um oficial da PM por apoiar as manifestações de 7 de Setembro, ou insistir numa briga com a polícia para parecer valente, e nem chamar admiradores do presidente de psicopatas.  
Não adianta fazer reunião de governador, nem torcer contra a reunião. O que interessa é dizer para os brasileiros se há ou não um plano concreto e detalhado do golpe, e quais são os pontos, um por um, do tal plano.

Há, naturalmente, a questão de colocar a tropa na rua — onde, exatamente, e para fazer o quê, exatamente.

Então: “Bolsonaro” e os “setores antidemocráticos” dão o golpe — aí o que acontece, na prática? 
Vão fechar o Supremo e, caso sim, vão fazer o que com os 11 ministros? Prende? Deixa solto? Põe o que no lugar do STF? A máquina da Justiça precisa continuar funcionando; não vão parar as ações de despejo ou de cobrança. 
Outro problemão é o Congresso. Fecha? Cassa mandato? Joga fora a papelada da “CPI”? O que vão fazer com a reforma tributária? Fica tudo igual? Estão marcadas para 2022, com voto eletrônico tal como quer o ministro Barroso, eleições para presidente, governadores de Estado, Congresso e assembleias legislativas.  
 
É preciso definir se elas vão ser mantidas ou suspensas, e, caso sejam suspensas, quando vai haver eleição de novo. Quem pode ser candidato? Lula, por exemplo: pode ou não pode? Com certeza não pode, mas — vai saber. Outra coisa: o que o golpe vai fazer com os atuais governadores? E se os 27 aderirem, numa decisão corajosa em favor da estabilidade e da pátria —– não se cassa ninguém? 
São Paulo vira um Estado independente, em caso de rebelião contra o novo governo federal? Vai ter uma Marinha, ou uma Força Aérea?
 
Há, naturalmente, a questão de colocar a tropa na rua — onde, exatamente, e para fazer o quê, exatamente. É indispensável decidir, antes, qual o serviço a ser feito aí pelo general “A” e pelo coronel “B”. Vai ter tanque? O tanque pode atirar? A tropa, aliás, estará autorizada a dar tiro — ou dá para resolver tudo com bala de borracha? (Em geral, dá e sobra.)  
 
[Atualizando: certamente o senador Pacheco, presidente do Senado, não teve a oportunidade excelente de ler mais uma obra prima do Guzzo;
tivesse o senador lido, até mesmo estudado, não diria a pérola que consta de sua entrevista de hoje em O Globo. Eis a pérola que se tornou manchete:'Não admitiremos qualquer retrocesso' na democracia, diz Pacheco
Na matéria Guzzo mostra de forma cristalina a inutilidade de arroubos, frases de efeito, como a da manchete, do matutino carioca.] 
 
No dia do golpe vai ter de estar resolvido, também, quem assume o comando das polícias militares dos Estados. 
É gente armada; não dá para decidir na hora. O novo regime também precisa resolver o que será feito com a imprensa. Censura? Pré ou pós? Tira a Globo do ar? Sabe-se como se entra nessas coisas; raramente se sabe como sair. Outra questão é como comunicar o golpe aos países estrangeiros — e, muito mais que isso, como reagir, na vida real, à enorme barulheira que um negócio desses vai provocar lá fora, durante anos a fio.
A lista das tarefas a fazer vai por aí afora; é certo que ela precisa estar pronta antes de mexer no primeiro blindado. É nisso que está tudo o que realmente interessa, mais do que em qualquer ponto dessa conversa fiada sem limites que mídia e classe política despejam o dia inteiro em cima do público.  
Talvez o presidente da República e o seu núcleo decisor já tenham um plano desses há muito tempo, trancado num computador secreto e pronto para ser colocado em execução. Talvez não tenham. Se não têm, então não têm nada.

Leia também “Supremo Talibã Federal”  

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


sábado, 10 de abril de 2021

CINQUENTA ANOS DE ATRASO PELA FRENTE? - Sérgio Alves de Oliveira

E a fatalidade que nos espera se a esquerda retomar as rédeas do poder em 2022 !!!CINQUENTA ANOS DE ATRASO PELA FRENTE?

Grande parte do povo brasileiro absorveu como “esponja” duas doutrinas que só levam ao atraso:o catolicismo, com sua opção “só” pelos  pobres, e o marxismo,com sua  aversão aos ricos.  O primeiro prega que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”,enquanto o  segundo,o marxismo, ensina que “o poder deve ser dado por direito exclusivamente ao proletariado”. E  prega ainda um “igualitarismo” estúpido,uma violência contra a inteligência,contra a capacidades,a criatividade, o esforço, e a dedicação ao trabalho  das pessoas, desde o momento em que nem todas possuem idênticos perfis qualitativos.                          

Rui Barbosa percebeu essas diferenças com absoluta clareza: “a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam”ou, “tratar com desigualdade a iguais,ou a desiguais com igualdade,seria desigualdade  flagrante,e não igualdade real”.

Mas esse sentimento  e pregação católica do atraso nada tem a ver com o cristianismo. Cristo pregava: ” Dai a César o que é de César,e a Deus o que é de Deus”. Cristo jamais condenou a riqueza,porém o seu eventual mau uso.  Os evangélicos, também cristãos,que herdaram as reformas de Martinho Lutero, absorveram com mais inteligência os ensinamentos  de Cristo. E essa prática os levou a uma maior riqueza que no catolicismo de outros países, como no Brasil. Seria mera “coincidência” a riqueza dos Estados Unidos,predominantente cristãos-protestantes (especialmente luteranos e calvinistas),e a relativa pobreza do Brasil,apesar das suas imensas riquezas naturais,de maioria  cristã-católica? Será que os aspectos religiosos não teriam grande influência na riqueza ou pobreza dos povos? Tanto quanto as ideologias políticas?

Somando-se aos ensinamentos retrógrados do catolicismo,o marxismo também foi absorvido pelos brasileiros  com toda a força,através de “lavagens cerebrais “ sem trégua, a partir de muitos dos seus “intelectuais”,  “professores”,políticos e   “formadores de opinião”,para os quais mais serve um governo “paizão”,”assistencialista”,que distribui esmolas e “bolsas” a rodo,do que um governo que torne o povo independente da sua “assistência” barata, que inclusive  obstaculiza o pleno desenvolvimento das suas capacidades ,incentivando a vagabundagem e até os chamados  grupos  “nem-nem” (que não estudam,nem trabalham),invariavelmente  “esquerdistas”. Na verdade mais parece que todo esse  pessoal  “doutrinador” de  esquerda ,com todo o seu rebanho de  seguidores,“pensa” exclusivamente    com aquele  material “fétido” produzido nos intestinos ,ao invés de se valarem do  cérebro.

Ora,se os “poderosos” militares,que governaram o país  durante 21 anos (de 1964 a 1985),não conseguiram erradicar o pensamento retrógrado da esquerda,não serão logo os políticos corruptos e igualmente retrógrados  que o farão. Qualquer luz que surja no fim do túnel sobre  liberalismo econômico,a classe política de esquerda se apressa em apagá-la,usando a mão pesada do  Estado que ela aparelhou durante tantos anos.

São essas as razões que me levam a concluir que se a esquerda voltar ao poder  nas eleições programadas para outubro de 2022, o seu  domínio cultural absoluto  sobre o Brasil deverá durar, no mínimo,mais 50 anos. E se isso de fato acontecer,certamente não terei a infelicidade  de passar por mais esse período de infortúnio politico. Mas entro em desespero quando penso  que as minhas descendências biológica e  social terão que “engolir” esses agentes do mal e do atraso mandando novamente na política.

Mas para ser honesto e justo,tenho que deixar claro  que devo principalmente  a Otacilio Miranda Guimarães,um dos maiores pensadores que conheci,mas que infelizmente  já nos deixou, o desenvolvimento do meu raciocínio nesse texto.

Sérgio Alves de Oliveira  - Advogado e Sociólogo