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domingo, 26 de fevereiro de 2023

O Brasil do agro, o bloco que saiu ileso e Daniel Silveira que segue preso - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

Fim da folia

O ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).| Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

O Rio Amazonas vai assistir a um recorde brasileiro. De Itaituba até Barcarena, que é um terminal lá do ladinho de Belém, vão ser transportadas 70 mil toneladas de grãos de uma só vez, colhidos na região produtora de Mato Grosso, do sul do Pará, etc. 
 E num trajeto aí de uns 1200 quilômetros, o equivalente ou substituindo 1666 caminhões.  
O recorde é um comboio de 35 barcaças juntas, dá uma largura de 75 metros, um comprimento de 364 metros, e uma carga de 70 mil toneladas
Imaginem a racionalidade desse transporte. Já chega lá no porto de exportação. É o Brasil do agro. É por conta da Hidrovias do Brasil esse registro.

Em 1978, folião não tinha medo

Ontem foi terça-feira gorda e saiu às ruas o bloco organizado por jornalistas e intelectuais de Brasília (DF). Foi criado em 1978, eu me lembro, para satirizar o governo. Aliás, jornalismo é a oposição, como diz Millôr Fernandes. O resto são secos e molhados. Não estou vendo isso agora, mas é assim. 
O bloco já saiu de cara satirizando o pacote de abril de Ernesto Geisel, que inventou o senador biônico, aumentou o mandato do presidente, etc. 
E o primeiro versinho da primeira marchinha era (fazendo trocadilho com o aiatolá do Irã): “Geisel você nos atolou, Figueiredo também vai nos atolar”. E ninguém foi preso. Era o governo militar e ninguém foi preso.
 
Estou dizendo isso pra comparar com hoje. Em 1978, debochando de Geisel e Figueiredo, dois generais, e ninguém terminou preso, não. 
Foi todo mundo para a casa. Se é que foi para a casa, não foi para o boteco de novo. Só para a gente comparar e eu vivi aquele tempo
O que estou vivendo agora são pessoas postas em ônibus de repente, sem saber para onde vão, e acabam na prisão, sem saber o porquê.

A marcha estranha do Judiciário
Por falar nisso, acho estranho o que está acontecendo com o Daniel Silveira, o ex-deputado. Está preso de novo. Foi indultado, mas está preso, porque não teria cumprido a ordem judicial de andar de tornozeleira eletrônica, não fazer declarações nas redes sociais e não dar entrevista. Encontraram na casa dele, na batida policial, em Teresópolis, R$ 270 mil. E agora a polícia está perguntando para o Supremo Tribunal Federal se tem de investigar a origem desse dinheiro.

Em primeiro lugar, a gente sabe que ele está com as contas bloqueadas, portanto não pode usar banco.  
E também perguntam a origem dos quatro carros que estavam na casa dele. 
Creio que não são Mercedes, nem Audi, nem BMW, porque se não estaria no noticiário
Mas acho estranho o seguinte: estou registrando isso porque ele não é mais deputado, não tem mais foro privilegiado no Supremo. Ele é primeira instância. E o Supremo já decidiu isso em relação ao Bolsonaro, com as denúncias de partido político, do Randolfe Rodrigues e tal. 
O Supremo já disse que é primeira instância porque o Bolsonaro não tem mais foro privilegiado
Então, não sei por que com o Daniel Silveira ficou diferente. 
São essas coisas que a gente não consegue entender pensando na lógica do devido processo legal, dos hábitos do poder judiciário.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do povo - VOZES


domingo, 7 de agosto de 2022

Os banqueiros de esquerda e o paraíso lulista - Revista Oeste

 J. R. Guzzo

George Soros | Foto: Montagem Revista Oeste/Flickr
George Soros | Foto: Montagem Revista Oeste/Flickr

 Transformaram-se as eleições em questão judicial, como uma ação de despejo ou a cobrança de uma dívida no crediário da loja temos aqui uma “justiça eleitoral”, objeto até hoje desconhecido em qualquer democracia séria do mundo.
 
Está escrito na Constituição Federal que o cidadão, entre outros benefícios legais garantidos pelo Estado, tem direito ao “lazer”. 
Há neste momento um candidato à presidência da República que já foi condenado pela justiça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove juízes diferentes
Apresentam-se agora ao público, entre tantas outras novidades, os banqueiros de esquerda.

Os banqueiros de esquerda e os empresários socialistas fazem parte, ao que parece, da evolução natural das espécies ricas que se processa hoje pelo mundo afora

Os banqueiros de esquerda andam na companhia de uma espécie de primos, os empresários socialistas — alguns, segundo ficamos sabendo agora pela mídia, defendem as causas operárias desde a adolescência, na categoria de simpatizantes. 
Estão hoje encantados, todos eles, com um gosto novo em suas vidas — passaram a se sentir parte do “campo popular”, ou “progressista”, junto com os invasores de propriedade do MST, as gangues sindicais da CUT e a cantora que sapateia em cima da bandeira do Brasil. 
Assinam manifestos atestando a perfeição das urnas eletrônicas, apoiam o inquérito perpétuo que o ministro Alexandre de Moraes conduz para descobrir e punir os “inimigos da democracia” e, mais do que tudo, estão fechados com a candidatura de Lula à presidência da República. Apoiam, junto com Lula, um projeto de governo que promete ressuscitar o imposto sindical, impor o “controle social sobre os meios de comunicação” e criar uma estatal inédita para “cuidar da Amazônia” mais uma porção de coisas parecidas, ou piores do que essas.[o descondenado petista também promete criar o Ministério dos Índios - em nossa opinião,  tão inútil quanto os milhões de hectares de terras indígenas.]
 
Essas duas novidades do Brasil, os banqueiros de esquerda e os empresários socialistas, fazem parte, ao que parece, da evolução natural das espécies ricas que se processa hoje pelo mundo afora — ou pelo menos nos Estados Unidos e na Europa. 
Lá também se multiplicam os milionários comunistas, ou coisa parecida; seu modelo de herói é o financista George Soros, uma espécie de Lenin do século XXI que promove a revolução mundial circulando de um continente a outro de jato particular e socando dinheiro em cima de tudo o que cheira à “causa popular”
Gostam muito, também, de Bill Gates — que descobriu, após ganhar seus primeiros US$ 130 bilhões com as regras do capitalismo, que no momento, e para os outros, a melhor ideia é entrar na religião socialista. 
Ele acha, por exemplo, que a solução para os problemas da humanidade é “tirar dinheiro dos ricos”. Gates não informou até agora, em sua nova consciência social, até onde vai abrir mão da sua própria fortuna. [ousamos supor, achar e até pensar que ele, malandramente, criou uma fundação que custeará por 'baixo dos panos' seus gastos bilionários. 
Observação: para evitar que nos acusem e até nos prendam pelo crime hediondo de difusão de  fake news - no caso 'disfarçada' em um comentário sobre una narrativa destacamos que o acima é um comentário sobre um pensamento nosso.
Estamos cientes que narrativa só é  permitida quando apresentada pela mídia militante ou algum admirador da esquerda maldita. ]
Será que estaria disposto a ficar só com o necessário, por exemplo, para levar o mesmo estilo de vida de um motorista de ônibus ou de um auxiliar de enfermagem? 
Tudo bem, não precisa tudo isso — que tal, então, uma situação parecida com a sua? Será que o homem toparia?  
Naturalmente, perguntas deste tipo são consideradas como de péssimo tom na bolha dos milionários “comunistas”.  
A “quem interessa”, perguntam eles e os seus advogados, saber esse tipo de coisa? Fica-se sem as respostas, portanto.

Não é nenhum segredo de Estado, de qualquer forma, que ninguém precisa mexer em um tostão na sua lista de despesas mensais, nem no seu estilo de vida, para ganhar certificado de “pessoa de esquerda”. Os ricos mudam de “ideologia”, mas não mudam de turma — nem aqui e nem na variedade internacional. 
Existe, na verdade, um pacote mental do milionário-padrão de esquerda, brasileiro ou não, e nada do que existe ali requer o sacrifício de qualquer conforto pessoal. Na sua versão completa, são todos a favor da “igualdade” — que deve ser obtida não pelo trabalho, o mérito e o talento individuais, mas por doação do erário público.  
É óbvio, também, que são altamente “inclusivos”. Têm horror ao racismo, à discriminação contra as “mulheres”, à “masculinidade tóxica” e à homofobia. 
Apoiam tudo o que os dirigentes do movimento LGBT pregam como “causas”, da passeata gay à criminalização dos “atos homofóbicos” e à livre entrada de transgêneros no banheiro das mulheres. [aqui no Brasil o assunto 'livre entrada de transgêneros no banheiro das mulheres', onde também entram meninas, crianças, é assunto importantíssimo, em função da elevada importância, a matéria está no Supremo há vários anos aguardando decisão.]  São a favor da linguagem neutra, inclusive nas suas empresas.
Querem mais terra para os índios — além, é claro, dos quase 15% do território nacional que eles já têm hoje
Apoiam cotas de empregos e de cargos executivos para “minorias”. 
Estão entre os devotos mais fervorosos das crenças segundo as quais a Amazônia está sendo destruída pelos incêndios, a motosserra e a pesca ilegal.  
Ficam indignados com a “mudança do clima”, com o “fascismo” e com cloroquina. 
Estariam em casa, e seriam muito festejados, em qualquer boteco da Vila Madalena.

De delinquente social, explorador do sangue, suor e lágrimas das massas trabalhadoras, o rico de esquerda passou a ser um tipo politicamente admirável

Os ricos de esquerda existem por uma razão maravilhosamente simples: ser de “esquerda” não custa um tostão furado para ninguém hoje em dia. No passado não era assim tão fácil.  
O sujeito tinha de ser contra o regime militar, por exemplo, e expor-se a certas coisas incômodas, como a atenção da polícia; 
mais remotamente ainda, era preciso ser um revolucionário, viver escondido e estar pronto para pegar um fuzil-metralhadora, descer a Sierra Maestra e arriscar o couro tentando tomar o palácio do governo. 
Hoje sai tudo absolutamente de graça, para qualquer um; o risco de ser esquerdista foi reduzido a três vezes zero. Na verdade, um milionário pode ser de esquerda não apenas sem mudar nada em seus confortos — seu SUV de R$ 1 milhão, sua segurança armada e o seu helicóptero, ou jatinho, de última geração. Mantém tudo isso e ainda por cima pode ganhar muita coisa boa. A principal delas, aparentemente, é a absolvição pelos pecados de classe
De delinquente social, explorador do sangue, suor e lágrimas das massas trabalhadoras, o rico de esquerda passou a ser um tipo politicamente admirável, aprovado com louvor pelos bispos, pelo Facebook e pelos artistas da Globo. 
“Olhem só que bacana”, encantam-se as classes médias esclarecidas, os intelectuais e os jornalistas. “O cara é podre de rico e se preocupa com os pobres. Quer salvar a natureza. Vai votar no Lula.”

Aparentemente, eles não conseguem estabelecer em seu sistema mental nenhuma relação entre as suas fortunas e o regime capitalista

Ajuda muito, nesta imigração para o mundo da esquerda, um fato básico da vida: os milionários não precisam de nada daquilo que um cidadão comum pode desejar de um governo decente. Rico não precisa de emprego. 
Aliás, não precisa de nada que esteja ligado ao mundo do trabalho: oportunidades, progresso na carreira profissional, aumento de salário. Também não têm a menor necessidade de metrô, trem de subúrbio ou linha de ônibus. 
Polícia não faz falta nenhuma: milionário tem equipes inteiras de segurança privada e, além disso, os bandidos raramente cometem a estupidez de assaltar um deles. 
Não se importam com invasão de terra, no caso de terem terra. 
O MST sabe perfeitamente quem invade, e se houver algum engano Lula está lá para resolver na hora. 
Estão pouco ligando para a liberdade de expressão. O que vão fazer com isso? Não apenas não precisam da liberdade de expressão; o mais provável é que não queiram, ou que sejam a favor da censura — disfarçada pela virtuosa intenção de combater os “excessos” de liberdade que tanto infelicitam os ministros do STF. 
 
Lula disse que vai impor o “controle social” sobre a mídia; na verdade, disse que isso vai ser “prioridade” em seu governo. Os milionários socialistas não fizeram nenhuma objeção. Saúde pública? Rico de esquerda tem plano médico cinco estrelas. Escola pública? Filho de rico estuda em escola privada, com mensalidade de R$ 10.000 para cima. O resto é mais do mesmo. Não faz diferença nenhuma, para o bem-estar de quem vive nessas alturas sociais, que o governo seja bom, médio ou péssimo.

Os milionários de esquerda têm uma outra facilidade para ser como são. Aparentemente, eles não conseguem estabelecer em seu sistema mental nenhuma relação entre as suas fortunas e o regime capitalista — não percebem que a liberdade econômica foi necessária, ou talvez tenha ajudado um pouquinho, na construção da riqueza que têm. Fica simples, aí, apoiar o socialismo de Lula, a causa do “Estado forte” e os governadores que não querem baixar o preço da gasolina — os ricos “progressistas” acham que o seu patrimônio existe num mundo em que os fatos da economia não dependem do sistema de liberdades públicas em geral. Alguns deles também não veem relação de causa e efeito entre a situação de milionário e o fato de terem herdado as suas fortunas dão a impressão de acharem que são ricos por alguma disposição da natureza. É mais ou menos como a criança que acredita que pipoca “dá” no forno de micro-ondas. 

Parecem acreditar, em sua atual devoção às causas populares, que poderiam ter enriquecido ou mantido o que têm se o Brasil tivesse vivido sob um regime socialista nos últimos 50 anos se fosse uma Cuba, por exemplo, para ficar no país-modelo do seu candidato à Presidência.

Lula não mexe com banqueiro nem se tiver um revólver encostado na testa

Mais talvez do que qualquer outra consideração, em toda essa comédia, há um fato matador: houve realmente de tudo no governo Lula, mas uma coisa que não houve, de jeito nenhum, foi um único milionário prejudicado em algum aspecto da sua vida. 
Foi, o tempo todo, votar em Lula e correr para o abraço — ou, em certos casos, comprar uma passagem para o paraíso. Pense um pouco nos empreiteiros de obras públicas — um Marcelo Odebrecht, por exemplo, ou outro qualquer que puxou cadeia ou devolveu milhões em dinheiro roubado por força da Operação Lava Jato. 
Ou, então, nos fornecedores da Petrobras, nos empresários-heróis do tipo Eike Batista e outras estrelas. Essa gente ganhou ou perdeu nos governos populares de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff? ]
Os banqueiros de esquerda, de um modo especial, têm as melhores razões para serem de esquerda: nunca antes neste país, em todos os seus 522 anos de história, os bancos ganharam tanto dinheiro como na era Lula-Dilma. Um número regularmente citado coloca em R$ 200 bilhões o lucro dos bancos nos dois governos Lula; Dilma foi outra festa. [já no governo do 'capitão do povo' - só com a implantação do Pix, no segundo ano do governo Bolsonaro - as perdas dos bancos - que não podem cobrar tarifas dos usuário do Pix - foram superiores a QUARENTA BILHÕES DE REAIS = R$ 40.000.000.000,00.
Banqueiros, especialmente os de esquerda, NÃO ACEITAM PERDER DINHEIRO.] 
Por que não voltar a esses dias de sonho? É certo que os bancos também lucraram muito dinheiro no governo Bolsonaro; mas estão longe, com ele, de ter o grau de intimidade que tinham com Lula. Um fato é certo: Lula não mexe com banqueiro nem se tiver um revólver encostado na testa. Nunca mexeu. Não vai mexer. Então por que, no final de todas as contas, o Brasil não teria banqueiros de esquerda? É esquisito, claro. 
É coisa do nosso folclore, como o boto-cor-de-rosa ou o Negrinho do Pastoreio. É até engraçado. Mas tem toda a lógica.

Leia também “Um tribunal que joga para Lula”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


sábado, 14 de dezembro de 2019

Mourão minimiza AI-5: 'Passam a ideia que todo dia alguém era cassado, e não foi assim' - O Globo

Vice-presidente deu entrevista ao site Huffpost Brasil e disse discordar do termo 'ditadura'

Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão Foto: Bruno Batista / VPR

Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão Foto: Bruno Batista / VPR
— O Ato Institucional número 5 surgiu fruto de uma situação que se vivia aqui no País no final dos anos 60. Foi o grande instrumento autoritário que os presidentes militares tiveram à mão. É importante que depois se pesquise quantas vezes ele foi utilizado efetivamente durante os 10 anos que ele vigorou. Porque muitas vezes se passa a ideia que todo dia alguém era cassado, alguém era afastado. E não funcionou dessa forma. É importante ainda que a História venha à luz de forma correta — afirmou Mourão.

Leia Mais: Bolsonaro diz que colocará 'no pau de arara' ministro que se envolver em corrupção
Nesta sexta-feira, o AI-5 completou 51 anos. O Ato foi baixado pelo governo do general Arthur da Costa e Silva, em 1968, que ficou conhecido como o  “o ano que não acabou”. Uma das medidas previstas pelo Ato Institucional aumentava os poderes do presidente da República, que passava a ter autonomia para decretar, sem intermédio do Judiciário, o fechamento do Congresso Nacional e intervir nos estados e municípios. Era permitida também a cassação de mandatos parlamentares e a suspensão dos direitos  políticos de qualquer cidadão por dez anos. [em todas as decisões o presidente da República ouvia, previamente, o Conselho de Segurança Nacional e as medidas tinham efeito imediato, já que era vedada ao Poder Judiciário apreciar decisões adotadas com base no AI-5 - situação que evitava os processos eternos e a procrastinação das punições.]
Durante seus dez anos de vigência, o AI-5 fundamentou a cassação de 110 deputados federais e de sete senadores, de 161 deputados estaduais, 22 prefeitos e 22 vereadoresPor meio do AI-5, também foram cassados três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Questionado se sabia dizer então quantas vezes foi usado, disse desconhecer e citou ele próprio o fato de o ato ter sido usado para fechar o Congresso em dezembro de 1968, quando foi editado, e em 1977 com a criação da figura de senador biônico.
AI-5: Confira a íntegra do Ato Institucional nº 5
— Nem eu sei. Mas não foi a quantidade que se diz. Por exemplo, o fechamento do Congresso acho que houve duas vezes. Foi logo que ele foi implementado, no final de 68, início de 69, e em 77, quando o presidente [Ernesto] Geisel colocou aquele famoso Pacote de Abril, que colocou a figura do senador biônico. Foram as duas vezes que o Congresso foi fechado com o uso do AI-5 — afirmou o vice-presidente.
Mourão afirmou que o AI-5 foi um "instrumento de exceção", mas na mesma entrevista refutou o termo "ditadura" para se referir ao período de regime militar.
—Vamos colocar a coisa da seguinte forma: em primeiro lugar eu discordo do termo “ditadura” para o período de presidentes militares. Para mim foi um período autoritário, com uma legislação de exceção, em que se teve que enfrentar uma guerrilha comunista e que terminou por levar que essa legislação vigorasse durante 10 anos - disse.

O vice-presidente disse que Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes "não foram felizes" ao citar o AI-5 e afirmou que hoje o Brasil vive uma "plenitude democrática".


Historiadores fazem alertaHistoriados ouvidos pelo GLOBO disseram que as sucessivas declarações de  governistas e do presidente Jair Bolsonaro sobre a ditadura precisam ser "denunciadas" e repercutidas, mas que é preciso cuidado para que isso não tire a atenção de políticas públicas que estão sendo discutidas e implementadas.   - Eles estão com o poder do Estado e vão empregar esse poder para fazer tudo no sentido de divulgar seus pontos de vista . Vau ser uma grande batalha a respeito do assunto. Bolsonaro, seus filhos e correligionários têm um procedimento padrão, que também não é novidade no âmbito mundial, que é de formular acusações. Não se pode ficar a reboque dessas frases que causam choque. Essas declarações são absurdos e precisam ser denunciadas, mas é preciso que o centro do debate seja não as declarações, mas as medidas efetivas que o governo. A questão fica obscurecida porque a atenção fica para essas declarações absurdas. Faz uma nuvem de fumaça e não se vê as políticas que merecem ser discutidas - avaliou o historiador Daniel Aarão Reis, professor da UFF. 

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Professora da PUC-Rio, a historiadora Maria Celina D'Araújo afirmou que o comportamento de minimizar a ditadura é típicos dos militares.
- Eu vejo como uma cultura militar. Este governo tem uma cultura militar, e os militares nunca admitiram que foram ditadores, que houve tortura, desrespeito a direitos humanos.  Qualquer oportunidade que seja dada, eles vão minimizar, vão dizer que não foi bem assim, que foi exagero, não reconhecendo que foi uma ditadura. Quando militar fala, fala protegendo a corporação. Não se abre ao diálogo. Mais grave do que quando se relativiza isso (a ditadura), como quando lembram do AI-5 como uma possibilidade, é o fato de que se está dificultando a construção de valores democráticos no país. Isso é pior do que ficar absolvendo a ditadura.

(....)

Em O GLOBO, MATÉRIA COMPLETA