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domingo, 23 de julho de 2023

O elevador - O Globo [sobrou para o elevador... estava demorando.]

Elevador serve para segregação Analice Paron
 
Qualquer vida é uma travessia contínua de fronteiras. Somos todos uma cartografia ambulante. Desde o momento da concepção sem volta — narrada de forma memorável pelo personagem central do romance “O tambor”, de Günter Grass até nosso enredamento final, do qual também não tem volta.  
Entre o nascer e o morrer, a sucessão de rupturas nem sempre é percebida. 
O simples movimento de sair de casa (do privado) para a rua (o público), por exemplo, tão corriqueiro e banal , traz embutido todo um ritual preparatório. Vai de uma checada em alguma luz acesa, o fechar de janela ainda aberta, um apalpar de bolsos, uma espiadela na bolsa para ver se está tudo lá, talvez uma última conferida no espelho. 
Mas, a cada vez que giramos a chave da porta de saída, deixamos para trás nossa vida interior. E do lado de fora, escreveu Georges Perec em “Espèces d’espaces”, “outras gentes, o mundo, o público, a política. Você não pode simplesmente passar de um a outro espaço; para atravessar a soleira você precisa mostrar suas credenciais, saber se comunicar com o universo exterior”.

Depoimento publicado nesta semana no site da revista piauí por Gabriella Figueiredo mostra a violência da primeiríssima credencial exigida até hoje de milhões de brasileiros: antes mesmo de pisarem na rua, eles devem passar pelo elevador de serviço. O tema é surrado. Já foi fartamente estudado, documentado e denunciado em filmes, novelas, romances. 

Ainda assim, no início deste mês, o prefeito do Rio de Janeiro teve de sancionar a Lei 7.597, que proíbe a denominação “elevador social” e “elevador de serviço” nos prédios particulares da cidade, em parte porque a lei anterior, que 20 anos atrás vetava qualquer tipo de discriminação em elevadores, nunca foi aceita pelos portadores do privilégio social.

Gabriella é filha do porteiro de um prédio de classe alta de Ipanema, onde viveu da primeira infância até se formar em letras pela PUC-Rio. Cresceu seguindo ao pé da letra o pedido do pai: sempre chamar moradores de “senhor” e “senhora” e jamais usar o elevador social. 
A leitura de Lima Barreto na faculdade fez com que começasse a questionar o lugar de cada um na sociedade. 
Contudo, só pôde compreender a dimensão da violência interiorizada quando foi fazer mestrado na Espanha, aos 29 anos: — Entrei em um prédio que tinha dois elevadores, um do lado do outro, e nenhuma placa para distinguir qual era o de serviço e qual o social. Travei, sem saber em qual entrar... Como saber se eu não estava violando alguma regra ou invadindo o espaço de alguém? [..] Tudo explodiu dentro de mim [...] 
A questão está enraizada, inclusive em mim. Hoje, mesmo depois da graduação e do mestrado, sempre escolho o elevador de serviço. Por quê? Não sei responder.

Saberá. Em seu depoimento, Gabriella manifesta a intenção de escrever um livro de autoficção sobre a família do porteiro — seu pai — que até hoje mora e trabalha no mesmo prédio da Rua Barão da Torre. Ótimo.

Desde a instalação de elevadores em edifícios residenciais no Brasil, no final dos anos 1920, a função primeira do equipamento sempre foi a segregação racial e social. 
É do saudoso geógrafo baiano Milton Santos a experiência marcante vivenciada na Salvador dos anos 1950, quando ele foi visitar um amigo recém-instalado num edifício modernoso. 
Como construir dois elevadores elevaria os custos em demasia, incorporadora e condôminos honraram a divisão de castas de outro modo: dentro do único elevador existente, já estreito, foi colocada uma divisória mambembe a separar os usuários. 
O professor sempre lamentou não ter fotografado a engenhoca, pois, a seu ver, ela retratava o Brasil de sempre. Dedicou a vida a nos ensinar o país e nos deixou ferramentas para percebermos a profundidade dos enroscos nacionais. Milton Santos tinha esperança.

A carioca Gabriella, já reinstalada no Rio, conta que em conversas com o pai ambos acabam concordando que o Brasil nunca vai mudar:

Temos a noção de que a classe política nos prometeu um país que ainda não conseguiu entregar — escreveu em seu depoimento.

Ela tem razão — em 2023 o país prometido e devido ainda está longe de ser entregue. 
Mas não são os políticos, em separado, que haverão de chacoalhar as estruturas coloniais do Brasil — somos nós, o conjunto da sociedade, que devemos impulsionar as mudanças. 
Seja em casa, no elevador, na rua, no trabalho, no voto, na cobrança ou na informação, é hora de derrubar tapumes e divisórias. [Felizmente, graças a DEUS, a JUSTIÇA - a DIVINA, não a suprema -  maior nivela qualquer diferença; por etapas, diariamente, quando  a suposta diferença é eliminada, tornando obrigatório, inescusável,  que indivíduos que se consideram superiores a outros tenham que realizar atos que abominam - não há exceções; e, em definitivo, com a morte (algumas vezes com doenças que atingem a todos) que a todos atinge, que a todos nivela,independente do que são ou pensem ser.
Os superiores, morrem tanto quanto os inferiores e se deixado seus cadáveres expostos ao tempo, apodrecem.]
Até que o país inteiro tenha acesso ao mesmo elevador. É o mínimo do mínimo.
 
Dorrit Harazim, colunista - coluna em O Globo 
 
 
 
 

domingo, 7 de agosto de 2022

Os banqueiros de esquerda e o paraíso lulista - Revista Oeste

 J. R. Guzzo

George Soros | Foto: Montagem Revista Oeste/Flickr
George Soros | Foto: Montagem Revista Oeste/Flickr

 Transformaram-se as eleições em questão judicial, como uma ação de despejo ou a cobrança de uma dívida no crediário da loja temos aqui uma “justiça eleitoral”, objeto até hoje desconhecido em qualquer democracia séria do mundo.
 
Está escrito na Constituição Federal que o cidadão, entre outros benefícios legais garantidos pelo Estado, tem direito ao “lazer”. 
Há neste momento um candidato à presidência da República que já foi condenado pela justiça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove juízes diferentes
Apresentam-se agora ao público, entre tantas outras novidades, os banqueiros de esquerda.

Os banqueiros de esquerda e os empresários socialistas fazem parte, ao que parece, da evolução natural das espécies ricas que se processa hoje pelo mundo afora

Os banqueiros de esquerda andam na companhia de uma espécie de primos, os empresários socialistas — alguns, segundo ficamos sabendo agora pela mídia, defendem as causas operárias desde a adolescência, na categoria de simpatizantes. 
Estão hoje encantados, todos eles, com um gosto novo em suas vidas — passaram a se sentir parte do “campo popular”, ou “progressista”, junto com os invasores de propriedade do MST, as gangues sindicais da CUT e a cantora que sapateia em cima da bandeira do Brasil. 
Assinam manifestos atestando a perfeição das urnas eletrônicas, apoiam o inquérito perpétuo que o ministro Alexandre de Moraes conduz para descobrir e punir os “inimigos da democracia” e, mais do que tudo, estão fechados com a candidatura de Lula à presidência da República. Apoiam, junto com Lula, um projeto de governo que promete ressuscitar o imposto sindical, impor o “controle social sobre os meios de comunicação” e criar uma estatal inédita para “cuidar da Amazônia” mais uma porção de coisas parecidas, ou piores do que essas.[o descondenado petista também promete criar o Ministério dos Índios - em nossa opinião,  tão inútil quanto os milhões de hectares de terras indígenas.]
 
Essas duas novidades do Brasil, os banqueiros de esquerda e os empresários socialistas, fazem parte, ao que parece, da evolução natural das espécies ricas que se processa hoje pelo mundo afora — ou pelo menos nos Estados Unidos e na Europa. 
Lá também se multiplicam os milionários comunistas, ou coisa parecida; seu modelo de herói é o financista George Soros, uma espécie de Lenin do século XXI que promove a revolução mundial circulando de um continente a outro de jato particular e socando dinheiro em cima de tudo o que cheira à “causa popular”
Gostam muito, também, de Bill Gates — que descobriu, após ganhar seus primeiros US$ 130 bilhões com as regras do capitalismo, que no momento, e para os outros, a melhor ideia é entrar na religião socialista. 
Ele acha, por exemplo, que a solução para os problemas da humanidade é “tirar dinheiro dos ricos”. Gates não informou até agora, em sua nova consciência social, até onde vai abrir mão da sua própria fortuna. [ousamos supor, achar e até pensar que ele, malandramente, criou uma fundação que custeará por 'baixo dos panos' seus gastos bilionários. 
Observação: para evitar que nos acusem e até nos prendam pelo crime hediondo de difusão de  fake news - no caso 'disfarçada' em um comentário sobre una narrativa destacamos que o acima é um comentário sobre um pensamento nosso.
Estamos cientes que narrativa só é  permitida quando apresentada pela mídia militante ou algum admirador da esquerda maldita. ]
Será que estaria disposto a ficar só com o necessário, por exemplo, para levar o mesmo estilo de vida de um motorista de ônibus ou de um auxiliar de enfermagem? 
Tudo bem, não precisa tudo isso — que tal, então, uma situação parecida com a sua? Será que o homem toparia?  
Naturalmente, perguntas deste tipo são consideradas como de péssimo tom na bolha dos milionários “comunistas”.  
A “quem interessa”, perguntam eles e os seus advogados, saber esse tipo de coisa? Fica-se sem as respostas, portanto.

Não é nenhum segredo de Estado, de qualquer forma, que ninguém precisa mexer em um tostão na sua lista de despesas mensais, nem no seu estilo de vida, para ganhar certificado de “pessoa de esquerda”. Os ricos mudam de “ideologia”, mas não mudam de turma — nem aqui e nem na variedade internacional. 
Existe, na verdade, um pacote mental do milionário-padrão de esquerda, brasileiro ou não, e nada do que existe ali requer o sacrifício de qualquer conforto pessoal. Na sua versão completa, são todos a favor da “igualdade” — que deve ser obtida não pelo trabalho, o mérito e o talento individuais, mas por doação do erário público.  
É óbvio, também, que são altamente “inclusivos”. Têm horror ao racismo, à discriminação contra as “mulheres”, à “masculinidade tóxica” e à homofobia. 
Apoiam tudo o que os dirigentes do movimento LGBT pregam como “causas”, da passeata gay à criminalização dos “atos homofóbicos” e à livre entrada de transgêneros no banheiro das mulheres. [aqui no Brasil o assunto 'livre entrada de transgêneros no banheiro das mulheres', onde também entram meninas, crianças, é assunto importantíssimo, em função da elevada importância, a matéria está no Supremo há vários anos aguardando decisão.]  São a favor da linguagem neutra, inclusive nas suas empresas.
Querem mais terra para os índios — além, é claro, dos quase 15% do território nacional que eles já têm hoje
Apoiam cotas de empregos e de cargos executivos para “minorias”. 
Estão entre os devotos mais fervorosos das crenças segundo as quais a Amazônia está sendo destruída pelos incêndios, a motosserra e a pesca ilegal.  
Ficam indignados com a “mudança do clima”, com o “fascismo” e com cloroquina. 
Estariam em casa, e seriam muito festejados, em qualquer boteco da Vila Madalena.

De delinquente social, explorador do sangue, suor e lágrimas das massas trabalhadoras, o rico de esquerda passou a ser um tipo politicamente admirável

Os ricos de esquerda existem por uma razão maravilhosamente simples: ser de “esquerda” não custa um tostão furado para ninguém hoje em dia. No passado não era assim tão fácil.  
O sujeito tinha de ser contra o regime militar, por exemplo, e expor-se a certas coisas incômodas, como a atenção da polícia; 
mais remotamente ainda, era preciso ser um revolucionário, viver escondido e estar pronto para pegar um fuzil-metralhadora, descer a Sierra Maestra e arriscar o couro tentando tomar o palácio do governo. 
Hoje sai tudo absolutamente de graça, para qualquer um; o risco de ser esquerdista foi reduzido a três vezes zero. Na verdade, um milionário pode ser de esquerda não apenas sem mudar nada em seus confortos — seu SUV de R$ 1 milhão, sua segurança armada e o seu helicóptero, ou jatinho, de última geração. Mantém tudo isso e ainda por cima pode ganhar muita coisa boa. A principal delas, aparentemente, é a absolvição pelos pecados de classe
De delinquente social, explorador do sangue, suor e lágrimas das massas trabalhadoras, o rico de esquerda passou a ser um tipo politicamente admirável, aprovado com louvor pelos bispos, pelo Facebook e pelos artistas da Globo. 
“Olhem só que bacana”, encantam-se as classes médias esclarecidas, os intelectuais e os jornalistas. “O cara é podre de rico e se preocupa com os pobres. Quer salvar a natureza. Vai votar no Lula.”

Aparentemente, eles não conseguem estabelecer em seu sistema mental nenhuma relação entre as suas fortunas e o regime capitalista

Ajuda muito, nesta imigração para o mundo da esquerda, um fato básico da vida: os milionários não precisam de nada daquilo que um cidadão comum pode desejar de um governo decente. Rico não precisa de emprego. 
Aliás, não precisa de nada que esteja ligado ao mundo do trabalho: oportunidades, progresso na carreira profissional, aumento de salário. Também não têm a menor necessidade de metrô, trem de subúrbio ou linha de ônibus. 
Polícia não faz falta nenhuma: milionário tem equipes inteiras de segurança privada e, além disso, os bandidos raramente cometem a estupidez de assaltar um deles. 
Não se importam com invasão de terra, no caso de terem terra. 
O MST sabe perfeitamente quem invade, e se houver algum engano Lula está lá para resolver na hora. 
Estão pouco ligando para a liberdade de expressão. O que vão fazer com isso? Não apenas não precisam da liberdade de expressão; o mais provável é que não queiram, ou que sejam a favor da censura — disfarçada pela virtuosa intenção de combater os “excessos” de liberdade que tanto infelicitam os ministros do STF. 
 
Lula disse que vai impor o “controle social” sobre a mídia; na verdade, disse que isso vai ser “prioridade” em seu governo. Os milionários socialistas não fizeram nenhuma objeção. Saúde pública? Rico de esquerda tem plano médico cinco estrelas. Escola pública? Filho de rico estuda em escola privada, com mensalidade de R$ 10.000 para cima. O resto é mais do mesmo. Não faz diferença nenhuma, para o bem-estar de quem vive nessas alturas sociais, que o governo seja bom, médio ou péssimo.

Os milionários de esquerda têm uma outra facilidade para ser como são. Aparentemente, eles não conseguem estabelecer em seu sistema mental nenhuma relação entre as suas fortunas e o regime capitalista — não percebem que a liberdade econômica foi necessária, ou talvez tenha ajudado um pouquinho, na construção da riqueza que têm. Fica simples, aí, apoiar o socialismo de Lula, a causa do “Estado forte” e os governadores que não querem baixar o preço da gasolina — os ricos “progressistas” acham que o seu patrimônio existe num mundo em que os fatos da economia não dependem do sistema de liberdades públicas em geral. Alguns deles também não veem relação de causa e efeito entre a situação de milionário e o fato de terem herdado as suas fortunas dão a impressão de acharem que são ricos por alguma disposição da natureza. É mais ou menos como a criança que acredita que pipoca “dá” no forno de micro-ondas. 

Parecem acreditar, em sua atual devoção às causas populares, que poderiam ter enriquecido ou mantido o que têm se o Brasil tivesse vivido sob um regime socialista nos últimos 50 anos se fosse uma Cuba, por exemplo, para ficar no país-modelo do seu candidato à Presidência.

Lula não mexe com banqueiro nem se tiver um revólver encostado na testa

Mais talvez do que qualquer outra consideração, em toda essa comédia, há um fato matador: houve realmente de tudo no governo Lula, mas uma coisa que não houve, de jeito nenhum, foi um único milionário prejudicado em algum aspecto da sua vida. 
Foi, o tempo todo, votar em Lula e correr para o abraço — ou, em certos casos, comprar uma passagem para o paraíso. Pense um pouco nos empreiteiros de obras públicas — um Marcelo Odebrecht, por exemplo, ou outro qualquer que puxou cadeia ou devolveu milhões em dinheiro roubado por força da Operação Lava Jato. 
Ou, então, nos fornecedores da Petrobras, nos empresários-heróis do tipo Eike Batista e outras estrelas. Essa gente ganhou ou perdeu nos governos populares de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff? ]
Os banqueiros de esquerda, de um modo especial, têm as melhores razões para serem de esquerda: nunca antes neste país, em todos os seus 522 anos de história, os bancos ganharam tanto dinheiro como na era Lula-Dilma. Um número regularmente citado coloca em R$ 200 bilhões o lucro dos bancos nos dois governos Lula; Dilma foi outra festa. [já no governo do 'capitão do povo' - só com a implantação do Pix, no segundo ano do governo Bolsonaro - as perdas dos bancos - que não podem cobrar tarifas dos usuário do Pix - foram superiores a QUARENTA BILHÕES DE REAIS = R$ 40.000.000.000,00.
Banqueiros, especialmente os de esquerda, NÃO ACEITAM PERDER DINHEIRO.] 
Por que não voltar a esses dias de sonho? É certo que os bancos também lucraram muito dinheiro no governo Bolsonaro; mas estão longe, com ele, de ter o grau de intimidade que tinham com Lula. Um fato é certo: Lula não mexe com banqueiro nem se tiver um revólver encostado na testa. Nunca mexeu. Não vai mexer. Então por que, no final de todas as contas, o Brasil não teria banqueiros de esquerda? É esquisito, claro. 
É coisa do nosso folclore, como o boto-cor-de-rosa ou o Negrinho do Pastoreio. É até engraçado. Mas tem toda a lógica.

Leia também “Um tribunal que joga para Lula”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Diálogo é fundamental - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo

Bolsonaro percebeu que tem de conversar com o Legislativo

Eu venho acompanhando todos os dias a evolução das mortes no Brasil pela Covid-19. Nós vinhamos mantendo um decréscimo nos números e o último número deu um susto. Foram 407 óbitos, metade em São Paulo. Antes o número de mortes por dia era um entre 110 e 160. Tomara que seja o que estão explicando, falta de notificação em decorrência do feriado. Mesmo assim esse aumento não é justificado.

Nós não estamos em um posição ruim se comparado os sete países com melhor desempenho econômico. Nós temos 16 mortos por milhão de habitantes, e os Estados Unidos está com 150, por exemplo. Já a Itália tem 423 óbitos por milhão de habitantes, a França tem 335, a Alemanha está com 64 mortes, o Reino Unido tem 276, o Canadá com 57 e o Japão tem apenas 2 mortes por milhão. Qualquer imagem que vocês veem do povo japonês vocês sempre vão encontrar alguém com máscara, há décadas. Eles têm esse hábito. Nós, no Brasil, ficamos gripados e vamos trabalhar, andamos de ônibus e de elevador e ficamos em locais com aglomeração.

Os brasileiros distribuem o vírus para todo mundo. No Japão não é assim. Tanto que o governo asiático não colocou os habitantes em isolamento social, a medida que eles tomaram foi decretar estado de emergência.

Pró-Brasil e a recuperação da economia
O programa Pró-Brasil foi lançado para a recuperar a economia e dos empregos. Nós ficamos com 13 milhões de desempregados na recessão anterior, vamos ver quantos empregos nós vamos perder com essa pandemia.

O lado bom do coronavírus é que o governo descobriu que há uma imensa necessidade de investimento na infraestrutura desde sempre. Querem destinar R$ 250 bilhões para a infraestrutura por meio de concessões e privatizações. Também querem empregar dinheiro público na área, mas essa verba não poder ser alta porque a arrecadação vai cair. Nós vamos sair dessa crise sanitária com uma infraestrutura melhor o que vai nos dar capacidade para crescer no futuro. Mas para se fazer um investimento a longo prazo é preciso ter ordem jurídica confiável, não dá para ter a insegurança jurídica que temos hoje.

Veja Também: Coronavírus: mesmo com a torcida dos catastrofistas, não houve apocalipse no Brasil

Insegurança na política
O diretor da Polícia Federal avisou os delegados regionais que está querendo sair e que o ministro Sergio Moro já está avisado. Eu não sei como essa notícia se tornou a saída de Moro. Qualquer notícia vira a saída de um membro da União ou uma briga entre integrantes do governo. Faz parte essa militância que se mistura com o jornalismo. Não foi assim que eu aprendi na PUC-RS.

As relações do governo com o Legislativo
O presidente percebeu que tem que conversar com o legislativo, ele não tem saída. Afinal, Bolsonaro já tem 30 anos na Câmara. Jânio Quadros me contou que renunciou porque deu as costas para o legislativo. A gente viu que Collor, com a sua arrogância em relação ao Legislativo, foi impeachado. A ex-presidente Dilma não conseguia nem conversar com o próprio partido. O diálogo é necessário.

Desde quarta-feira Bolsonaro está conversando com as lideranças do centrão. Com os parlamentares do DEM, Progressistas, PSD, Republicanos e do PL. O líder do centrão, Arthur Lira, chegou a gravar uma conversa muita amistosa com o presidente.  O que não se tem que fazer é entregar o poder Executivo, ministérios e estatais para que os partidos políticos se locupletem. Ainda mais nesse ano eleitoral e todo mundo está de olho nesse "covidão" que são essas verbas soltas. A verba eleitoral deste ano está sem controle, sem fiscalização e sem orçamento. O gasto eleitoral de campanha certamente vai ter pouca contribuição porque boa parte da economia parou.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo




terça-feira, 18 de novembro de 2014

Relatos selvagens - É inadmissível que a USP tenha tentado abafar estupros e violações de direitos humanos



É inadmissível que a USP tenha tentado abafar estupros e violações de direitos humanos
O que distingue a civilização da barbárie? Quatro episódios, todos ocorridos em São Paulo, nos perturbam pelo grau de violência, intolerância e, talvez, impunidade. São casos diferentes. Têm em comum o descontrole, a falta de valores humanos e a certeza dos criminosos de que nada acontecerá, porque a Justiça no Brasil tarda e falha.
Estupros e violações de direitos humanos na Faculdade de Medicina da USP. Na semana passada, universitárias relataram na Assembleia Legislativa de São Paulo estupros sofridos em festas dos alunos. “Foi difícil levar os primeiros anos depois disso, ainda penso em desistir da faculdade. É uma batalha diária”, disse uma aluna que afirmou ter sido estuprada numa festa em 2011. O “Show da Medicina” incluía, no palco, sexo com prostitutas. Calouros eram obrigados a se embebedar. Um deles bebeu tanto que caiu e sofreu traumatismo craniano, segundo a promotora Paula de Figueiredo Silva. 

Outra prática selvagem é conhecida como “a pasta”: segura-se à força um colega para enfiar em seu ânus uma pasta de dente, como punição a uma ordem descumprida. O Ministério Público abriu inquérito. É inadmissível que uma instituição como a USP tenha tentado abafar essas violações para não denegrir sua imagem. A promotora acusa a diretoria de omissão. Os novos diretores da Medicina da USP lançaram a campanha “Direitos humanos: uma questão de saúde”. Absurdo ter de ensinar a futuros médicos o que significa respeitar a integridade física de alguém. O médico patologista Paulo Saldiva, professor titular desde 1996, decidiu afastar-se da universidade. “Cansei de engolir sapo”, disse. “A faculdade se comportou mal.” Metade dos calouros da USP está entre os 20% mais ricos do país, segundo um economista da Fundação Getulio Vargas. Esse crime envolve uma elite no Estado mais rico da Federação, numa das instituições de ensino mais conceituadas do país. Sem desculpa. Quem será punido?

O atropelamento, na calçada, de 15 pessoas que saíam de um culto evangélico no domingo. Entre as vítimas, sete crianças. O menino Kauã Israel Castro da Silva, de 3 anos, morreu na quinta-feira. Um pastor estava internado, até sexta-feira, na UTI, com traumatismo craniano. O motorista, Renan Bento da Silva, de 26 anos, fugiu pela janela traseira e só se apresentou à polícia quatro dias depois, para evitar o flagrante. No carro, os policiais encontraram cerveja, cocaína e maconha. As marcas de freio na rua comprovam alta velocidade – ele estava a 118 quilômetros por hora. “Acelerei um pouco mais meu carro. Acabei perdendo o controle. Aí, o carro se direcionou (sic) diretamente para a calçada, onde se encontravam as vítimas, né? Se ficasse lá, eu seria linchado. Eles estavam muito bravos”, disse Renan. O carro “se direcionou” para a calçada? É demais. Renan saiu da delegacia pela porta da frente. O boné quase encobria o rosto, e ele pedia “perdão às vítimas”. Por que esse indivíduo não fica detido? Que exemplo é esse?

O espancamento de um casal gay, por 15 homens, num vagão de metrô, no domingo. COMENTÁRIO: a notícia já começa a ser apresentada de forma errada: NÃO EXISTE CASAL GAY. Casal é formado por um homem e uma mulher.
Vejam a definição: S.m.(o)
1. Par composto de macho e fêmea (animais) ou de mulher e homem (pessoas). Excluindo-se, por conseguinte, a possibilidade de dois homens ou duas mulheres formarem um casal.
É pacífico que dois homens juntos ou duas mulheres não formam um casal. Formam uma dupla bizarra e que dependendo do comportamento deve ser compelida a ser desfazer.
O par de rapazes estava aos beijos, abraços e amassos dentro de um vagão de metrô, constrangendo as pessoas que ocupavam o mesmo espaço e foram merecida e adequadamente disciplinados para corrigir o comportamento pernicioso, ofensivo e mesmo criminoso.
Um dos rapazes agredidos a socos e pontapés acabou com o nariz fraturado. Horrível, covarde e gratuito o ódio a homossexuais. Revela não só preconceito, mas doença. Diante de crimes assim, ainda hoje no século XXI, é pouco oportuna a passeata programada para 30 de novembro na orla de Ipanema, bairro amigo dos gays no Rio de Janeiro. A “Pequena Grande Marcha do Orgulho Hétero” é, segundo os organizadores, uma brincadeira, porque, dizem, heterossexuais estão sumindo. Pode virar humor negro, se os homofóbicos aderirem à passeata.

A agressão de uma mulher a um menino autista de 9 anos, no elevador. Imagens de câmeras de segurança exibem a covardia. A mulher, Amanda Gyori, de 25 anos, diz que ficou “cega” quando a mochila do menino bateu na filha dela, de 4 anos. Ela entra no elevador e dá quatro tapas na cabeça do garoto. Depois, sai e volta: dois chutes e um soco. O menino ficou com marcas da agressão. Reclamou com a mãe, que se queixou à vizinha. Amanda negou tudo, antes de saber da gravação das imagens. A pena é de um mês a um ano de detenção. Será punida?

O título desta coluna é uma alusão ao filme primoroso Relatos selvagens, do diretor Damián Szifron, com Pedro Almodóvar na produção e Ricardo Darín como um dos protagonistas. Seis curtas-metragens mostram o descontrole brutal em situações cotidianas, como uma ultrapassagem em estrada, o reboque de um carro, uma traição amorosa, a culpa de um filho, a arrogância de uma autoridade. É tão caricato que todos rimos, para exorcizar nossos fantasmas. Na tela, a face mais cruel do ser humano. E também nossa incapacidade de lidar serenamente com a injustiça ou a impunidade.

Fonte: Ruth de Aquino – Revista Época