O
que resta ao PT dizer hoje em dia sobre a avalanche de provas, testemunhas e
evidências que
expõem o partido como artífice do mais escabroso
esquema de corrupção da história da República? Sua imagem e a de
seus principais líderes – arrastando, por tabela, a de seus três seguidos
governos- estão indissoluvelmente ligadas à roubalheira sem limites que
tomou conta do Estado. A legenda saqueou os cofres
públicos de maneira sistemática e disseminada ao longo dos últimos 12 anos.
Isso já está mais do que bem documentado e dito abertamente pelas autoridades
que investigam o caso.
Deveria
ser o suficiente para que sua cúpula optasse por uma retirada estratégica de
cena, um ensaio de adeus com um mínimo de dignidade - se
ainda resta - da sigla, buscando talvez
depois, quem sabe, uma refundação em novas bases programáticas e com outros
protagonistas. Mas o PT faz de conta que não é com
ele. Atribui as denúncias a um complô das elites.
Desdenha
de relatos que falam de pagamentos de propina, como
os R$ 10,5 milhões entregues em espécie diretamente na sede
paulista da agremiação. Uma vergonhosa sequência de pilhagens vem sendo
revelada, uma atrás da outra, num roteiro sem fim. Cegos e indiferentes às
acusações que transbordam por todos os lados, os cabeças da agremiação tentam
com promessas vazias dissimular os erros. Tanta desfaçatez e petulância
foram, mais uma vez, transmitidas em cadeia de rádio e TV, na semana
passada, durante programa eleitoral. Alheios a
panelaços e buzinaços que tomaram conta de
inúmeras cidades, do Oiapoque ao Chuí, Lula, Dilma & Cia.
voltaram a falar em “problemas passageiros” e em “pessoas tentando se
aproveitar disso para criar uma crise política”. Qualquer brasileiro
minimamente informado sabe que a crise que está aí
foi criada por atos e decisões do próprio PT. Nada além disso! A
caravana petista não desce do pedestal. Não pede desculpas – talvez por achar
mesmo que não tem nada do que se arrepender.
E tamanha
empáfia provoca ainda mais repulsa na sociedade. De uma maneira ou de outra,
mesmo que os mais aguerridos filiados não enxerguem assim, o prestígio do PT virou pó. Não restou sequer fiapo.
Num breve lampejo de clarividência e autocrítica, Lula,
como mentor e comandante-mor da nau, avaliou que
“nem a melhora da economia salva o PT”. Outro cacique da esquadra
petista, o gaúcho Tarso Genro, disse que “o
PT chegou ao fim de um ciclo”. A prisão de um dos seus ícones, o
ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, tido e havido como herói pelos
militantes – aclamado como “guerreiro do povo”
– talvez seja o sinal mais eloquente dessa desmoralização
da legenda.
O efeito dela é devastador e joga por terra, em
definitivo, a “desculpa” de que o esquema urdido nos gabinetes do
Planalto tinha por objetivo essencial dar base de sustentação financeira ao
projeto do partido. Dirceu, um larápio contumaz, que
se transformou de líder estudantil em líder de quadrilha, encheu os próprios bolsos e de vários
correligionários, servidores públicos e políticos da corriola com o dinheiro de
práticas criminosas.
Certamente
não agiu sozinho, por conta própria, e nem arquitetou e executou tamanha
lambança em órgãos oficiais sem conhecimento superior. Dirceu se reportava
diretamente à presidência e deixava transparecer que atuava com o aval do
Governo. Em uma de suas célebres declarações disse:
“nunca fiz nada que o Lula não soubesse”. Uma confissão, em tom
acusatório, com todas as letras. Condenado em última instância no Mensalão e
agora reincidente com o Petrolão, ele é o elo original entre as duas
cadeias já conhecidas de operações fraudulentas que se abateram sobre o aparato
estatal. Não há dúvida: outras tantas picaretagens
da gestão petista, de igual ou maior monta, estão ainda por ser desvendadas
pela polícia.
Da
hierarquia petista, como Dirceu, foram parar atrás das grades dois
ex-tesoureiros de campanha (Vaccari e Delúbio), o ex-presidente do partido (José Genoíno), além do deputado André Vargas. Quantos quadros mais deverão seguir para a cadeia? A lista
parece interminável. E mesmo Lula
sabe que não pode se considerar totalmente livre desse risco. Ao contrário.
Como bem lembrou um dos procuradores da Lava-Jato,
ninguém, absolutamente ninguém, está isento de investigação e condenação. Olhando pelo prisma da trajetória histórica, é difícil aceitar a ideia de um partido que nasceu no berço
dos trabalhadores e que depois, em seu nome, se
apoderou descaradamente do dinheiro dos brasileiros para se perpetuar no poder
e locupletar a patota de aliados e apaniguados. Fizeram a festa
enquanto deixavam o País à míngua. Que as instituições solidamente
plantadas em nossa democracia punam exemplarmente o mau exemplo e que ele não
se repita jamais!
Fonte: Editorial Revista IstoÉ - Carlos José Marques, diretor
editorial