Duvido
que Fachin, o relator, vá ceder à patuscada jurídica; ainda que acontecesse, há
os demais ministros
Não há a menor chance de a
chicana jurídica de José Eduardo Cardozo prosperar. Isso é puro desespero de
afogados. O Supremo já foi muito além do
que era razoável, conduzido pela sapiência tortuosa de Roberto
Barroso, nessa questão. E inventou
um rito para o impeachment que não poderia ser mais favorável à presidente
Dilma. O chato para eles é ela ter cometido crime de responsabilidade.
Os argumentos do advogado-geral da União são rigorosamente os mesmos
que foram apresentados à Comissão Especial do Impeachment. Como ele perdeu, então
resolve apelar ao tribunal. Edison
Fachin, o relator da ação, creio, não vai ceder a esse tipo de expediente
mixuruca. Até porque, em outas situações, os ministros já se recusaram a interferir em questão que dizem respeito
a outro Poder.
Cardozo sabe que está tentando inventar uma concepção de
direito que é, vamos dizer, única. Atenção! A delação de Delcídio do Amaral não
está no relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), aprovado por 38 votos a 27. Mais: as pedaladas fiscais dadas
em 2014 também não. O relator se cercou de todos os cuidados justamente para evitar
qualquer risco de controvérsia.
E olhem que o normal, em qualquer processo, é que dados novos
sejam agregados aos autos. Até porque
cabe a pergunta: se, nesse tempo, houvessem surgido elementos favoráveis a
Dilma, evidenciando a sua inocência, eles deveriam ou não compor o conjunto de
elementos a ser apreciado pelos deputados?
Mas Jovair Arantes
preferiu evitar a polêmica. A boa notícia é que essa
coisa toda está enterrando também o futuro político de José Eduardo Cardozo. E vai para a cova o que poderia haver de virtuoso no seu passado. Os argumentos que ele
apresenta a Fachin são os mesmos apresentados à comissão, reitero, quando o advogado-geral
deixou claro que não reconhecia a legitimidade da comissão e do processo. Ora, se não reconhecia,
apresentou a defesa para quê? Para que tentasse, depois, via judicial, o que
não conseguiu no enfrentamento dos fatos.
Ainda que Fachin decidisse
conceder a liminar, o que duvido, há os demais ministros. De resto, estava na cara que essa
seria a “saída”, que saída não é, que
Cardozo buscava. Afinal, um advogado de defesa não desqualifica os “juízes” que podem ou não acolher seus argumentos. E o doutor fez isso. Por quê? Porque
pretendia apelar ao tapetão. “Ah, Supremo não é tapetão! Recorrer à Justiça é um direito”. É verdade. Mas é por isso
que existe a palavra “chicana”: para
distinguir um pleito legítimo e fundado nas leis da pura e simples tentativa de
tumultuar o processo.
Se
o Babalorixá de Banânia se opôs até a Itamar depois de ter ajudado a derrubar
Collor, por que faria coisa diferente agora?
E Luiz Inácio Lula da Silva, quem diria?, promete ser, no governo
Temer, aquilo que sempre foi quando está na oposição: um sabotador. Alguém estranha? Leio na Folha que ele já avisou a correligionários que não vai sair da rua. Ora,
não me digam! E
que não tem essa de entendimento nacional, como vai propor o futuro presidente.
Lula deveria nos contar ao
menos uma novidade. Se ele migrou para a oposição ao governo Itamar Franco, depois de
ter sido um dos líderes do movimento em favor do impeachment de Collor, por que faria algo diferente agora, quando é o PT que está sendo
impichado do poder? E não pensem que foi pouca coisa, não, o que fez o PT contra o
governo Itamar.
Jaques Wagner, hoje o
faz-tudo de Lula no governo moribundo, protocolou
uma denúncia pedindo o impeachment do então presidente recém-empossado. O PT expulsou Luiza Erundina
porque esta aceitou ser ministra da Administração daquela gestão. O partido se opôs com
ferocidade lupina e asinina ao Plano Real, que acusava de prejudicar, ora
vejam…, os trabalhadores.
Qual era o cálculo de
Lula? Itamar faria a transição; seria
obrigado a dar uma arrumada na economia, que havia sido destroçada no governo
Collor; os
petistas ficariam na oposição mobilizando as suas bases e jogando-as contra o
governo, e a eleição de 1994 lhes cairia no colo, de bandeja, como se fosse o
maná divino.
Lula só se esqueceu, então,
de combinar com os russos. Não
contava com o Plano Real. Tampouco esperava que
fosse dar certo. Aloizio Mercadante e Maria da Conceição Tavares juravam que
seria um desastre. As esquerdas babavam de indignação com o que chamavam de
“farsa”. Alguns daqueles gênios estão por aí hoje, endossando abaixo-assinados
contra o que chamam “golpe”. Pois é. O Plano Real fez FHC se
eleger no primeiro turno em 1994 e em 1998, feito que Lula nunca logrou — e ele não se conforma
com isso até hoje. Agora, o Babalorixá de Banânia pretende fazer a
mesma coisa, só que com mais virulência. Promete lançar desde já a sua
campanha à Presidência da República e, mais uma vez, sabotar todas as tentativas
honestas de tirar o Brasil do atoleiro. Continuará, em suma, a ser Lula.
E, pelo visto, mais uma vez, ele vai se esquecer de combinar com
os russos. O chefão petista não se
conforma com o fato de que a sua tentativa de transformar
a República num prostíbulo oficial tenha sido malsucedida.
Mas foi. Para o bem do
Brasil.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo