Os delinquentes paisanos têm de saber que não se trata de JULGAR se o senador é culpado ou inocente — não antes do devido processo legal. O que está em pauta é se a Constituição será cumprida ou rasgada
Há um cheiro de armação no ar. Eunício
de Oliveira (PMDB-CE), que preside o Senado, vai dizer se a Casa se
mantém sobre dois pés ou se verga a cerviz e fica sobre quatro apoios.
Os ministros do Supremo Edson Fachin (por que não?) e Cármen Lúcia podem
ser personagens de outra patuscada. Explico. Antes, algumas
considerações.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) se
tornou o novo alvo da tropa de choque dos setores da imprensa que
transformaram a deposição de Michel Temer numa questão de honra. Para
tanto, tiveram de abraçar, endossar e justificar todas as desonras de
Rodrigo Janot e do Ministério Público Federal. É nojento! Temer não vai
cair. Acho que nem o outro Rodrigo, o Maia, logrará tal intento ainda
que conceda mais 30 entrevistas ao jornal “Valor Econômico”, ao “Jornal
Nacional”, à GloboNews, ao Extra, à CBN… Ainda que, numa próxima
empreitada, seja comparado a Churchill ou a Schopenhauer, não creio que
consiga.
Ocorre que o exército está lá. Quem sabe
flertando com os inflamados do Exército, né? Ou vamos ignorar o papel
golpista da imprensa em 1964? A frustração da turma, do exército em
minúscula, é grande. A tropa precisa de uma marca na coronha. Temer não
caiu. E agora? Bem, então que Aécio seja fulminado, ainda que numa
operação flagrantemente inconstitucional e ilegal, estrelada pelo trio
do barulho do Supremo.
Aí ficamos sabendo, pelas lentes desses
luminares, que esse papo de questão jurídica é mera manobra dos que
querem barrar a Lava Jato (olhem o mantra de volta aí…). Jornalistas
supostamente especializados em política — alguns incapazes de fazer o
“O” com o copo porque não leram nada, não estudaram nada, não sabem
nada, a não ser ouvir e espalhar fofoca — já não se constrangem de
defender abertamente que o STF, na prática, casse o mandato de quem nem
ainda é réu.
É um vexame histórico. Linha editorial
não pode se confundir com delinquência intelectual. De súbito, temos um
monte de generais Mourões disfarçados de jornalistas.
Agora ao ponto
Eunício deu a primeira titubeada quando não pôs para votar imediatamente se a Casa acatava ou não as sanções ilegais impostas a Aécio. Transferiu a votação para a próxima terça. Os delinquentes paisanos têm de saber que não se trata de JULGAR se o senador é culpado ou inocente — não antes do devido processo legal. O que está em pauta é se a Constituição será cumprida ou rasgada, ainda que em “nome do bem”. Como foi em 1964, diga-se. Quem sabia bem disso era o outro Mourão…
Eunício deu a primeira titubeada quando não pôs para votar imediatamente se a Casa acatava ou não as sanções ilegais impostas a Aécio. Transferiu a votação para a próxima terça. Os delinquentes paisanos têm de saber que não se trata de JULGAR se o senador é culpado ou inocente — não antes do devido processo legal. O que está em pauta é se a Constituição será cumprida ou rasgada, ainda que em “nome do bem”. Como foi em 1964, diga-se. Quem sabia bem disso era o outro Mourão…
Eis que Edson Fachin, o primeiro a impor
a Aécio sanções ilegais, estava sentado sobre uma ADIN (Ação Direta de
Inconstitucionalidade) supostamente pronta para ser votada havia dois
meses. Vinha ainda lá do tempo em que Teori Zavascki, também rasgando a
lei, afastou Eduardo Cunha do mandato e do comando da Câmara. Ah, sim,
todos achamos que Cunha cometeu crimes: como nós vimos, a Casa cassou o
seu mandato, não? Zavascki ter violado a Constituição é que foi um mau
passo.
Aliados do então deputado entraram com
essa ADIN. E o galo vinha sendo cozinhado desde então. Eis que Fachin —
aquele que, violando o princípio do juiz natural, foi escolhido por
Rodrigo Janot para ser relator do caso JBS, que nada tem a ver com
petróleo —, nesta sexta, em meio ao tsunami gerado pelo caso Aécio,
libera seu texto para votação. E Cármen, que tricotou com Eunício,
marcou a sessão para o dia 11.
Pressão
Aconteceu o óbvio. O exército com minúscula, a tropa de choque daqueles setores da imprensa em busca de algum troféu, pressiona para que o Senado não decida nada na terça. Que espere, então, o julgamento do dia 11. Dadas as mais recentes revelações sobre a delação de Joesley e companhia, espero que os senhores senadores não incorram num ato asqueroso de covardia. O Legislativo não é um Poder derivado do Judiciário. A resposta a uma simples pergunta indica se tem ou não a prerrogativa de fazer a votação: e se não houvesse a tal ADIN? Faria o quê?
Aconteceu o óbvio. O exército com minúscula, a tropa de choque daqueles setores da imprensa em busca de algum troféu, pressiona para que o Senado não decida nada na terça. Que espere, então, o julgamento do dia 11. Dadas as mais recentes revelações sobre a delação de Joesley e companhia, espero que os senhores senadores não incorram num ato asqueroso de covardia. O Legislativo não é um Poder derivado do Judiciário. A resposta a uma simples pergunta indica se tem ou não a prerrogativa de fazer a votação: e se não houvesse a tal ADIN? Faria o quê?
Atenção! Na minha conta, é maior o
número de ministros que teriam um voto responsável do que o contrário.
Vale dizer: acho que a maioria dirá que a respectiva Casa Legislativa
tem, sim, de endossar a sanção para que possa ser aplicada. Se Eunício
se acovardar — se é que já não se acovardou, vamos ver —, imaginem a
pressão sobre os ministros do Supremo, exceção feita, claro, a quatro
deles: Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber. Afinal, esses já
disseram a que vieram nessa matéria. Presume-se que Gilmar Mendes, Dias
Toffoli, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Alexandre Moraes pensem o
contrário. E então terá início a disputa pelo coração de Celso de Mello e
de Carmen Lúcia, que pode ser, mais uma vez, o voto de desempate — já
que, presidente, é a última a se pronunciar.
Ontem à noite cheguei a me divertir ao
ouvir os porta-vozes do general Mourão a dizer que a armação estaria na
tentativa de salvar Aécio, não na absurda aplicação da pena de cassação a
um senador cuja denúncia nem sequer foi ainda aceita. Sabem quem é o herói secreto dessa gente? Aquele cara que disse assim: “Agora eu vou para Nova York. Vou amanhecer em Nova York. Eu vou ficar
aqui, você tá louca? Soltar uma bomba dessas e ficar aqui fazendo o
quê?”
Entre a lei e o golpismo vigarista,
esses setores da imprensa escolheram o golpismo vigarista porque
acreditam ser um atalho para a lei.