Gráfica sob suspeita recebeu R$ 1,8 mi do governo federal
Uma gráfica apontada pelo Ministério Público Federal como um dos canais
usados para distribuir recursos desviados da Petrobras para o PT recebeu
R$ 1,8 milhão em pagamentos do governo federal e de empresas estatais
que ele controla nos últimos anos.
Com sede em São Paulo, a Editora Gráfica Atitude é propriedade de
sindicatos ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e também
recebeu R$ 2,4 milhões de duas empresas ligadas ao esquema de corrupção
na Petrobras. O governo e as estatais que fizeram pagamentos à gráfica afirmam que o
dinheiro foi para pagar a veiculação de publicidade oficial na "Revista
do Brasil", que é editada pela Atitude. A gráfica diz que a tiragem da
publicação é de 200 mil exemplares por mês.
O Ministério Público Federal soube recentemente da existência da
Atitude, ao descobrir pagamentos que ela recebeu de duas empresas
controladas pelo executivo Augusto Mendonça, do grupo Setal Óleo e Gás,
que tinha negócios com a Petrobras. Em depoimento prestado em março, Mendonça afirmou que os pagamentos
foram feitos de 2010 a 2013 a pedido do então tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto, que está preso em Curitiba por suspeita de envolvimento
com a corrupção na estatal.
Segundo Mendonça, que no ano passado fez acordo para colaborar com as
investigações da Operação Lava Jato, os pagamentos eram parte das
comissões que a Setal devia pagar ao PT para garantir seus contratos com
a Petrobras. O executivo disse ter assinado contratos com a Atitude para justificar
os pagamentos à gráfica, mas afirmou que não conhece a revista e nunca
viu um anúncio de suas empresas na publicação.
DENÚNCIA
Nesta segunda-feira (27), o Ministério Público apresentou à Justiça
Federal nova denúncia criminal contra Mendonça, Vaccari e o ex-diretor
da Petrobras Renato Duque, que é ligado ao PT e também está preso em
Curitiba. Os três são acusados da prática de lavagem de dinheiro por
causa dos pagamentos à gráfica. O Ministério Público não sabe o que a Atitude fez com o dinheiro que
recebeu das empresas de Mendonça, mas já começou a investigar outros
pagamentos que a gráfica recebeu, incluindo os feitos pelo governo e
pelas estatais.
Segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, a Petrobras pagou R$ 872 mil à Atitude nos últimos sete anos,
o Banco do Brasil repassou R$ 364 mil e a Caixa Econômica Federal, R$
176 mil. A Secom e as agências de propaganda que cuidam da veiculação dos
anúncios do governo federal repassaram mais R$ 215 mil à Atitude. Segundo o Ministério Público, os pagamentos feitos por Mendonça à
gráfica são associados a obras realizadas pela Setal para a Petrobras na
refinaria de Paulínia (SP) e na Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em
Araucária (PR).
Na ação proposta à Justiça, o Ministério Público pede o confisco de R$
2,4 milhões do patrimônio de Vaccari e Duque, e que eles sejam
condenados a pagar uma indenização de R$ 4,8 milhões à Petrobras, o
dobro do valor que teria sido desviado da estatal.
Em nota, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da
força-tarefa da Lava Jato, lembrou que o esquema de corrupção descoberto
na Petrobras não envolve apenas o PT, mas também outros partidos, como o
PMDB e o PP. "A partidarização do olhar sobre as investigações
prejudica os trabalhos, porque tira o foco do que é mais importante, que
é a mudança do sistema, o qual favorece a corrupção seja qual for o
partido", disse.
Fonte: UOL/Notícias
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