Tudo
indica que Lula da Silva conseguiu finalmente subjugar sua criatura e assumir o
comando político do governo. Não chega a surpreender, diante da mais do que
comprovada incompetência política de Dilma Rousseff,
que vinha comprometendo o futuro de seu frustrado preceptor e do PT. Assim,
volta ao proscênio da política nacional o maior responsável pela crise
política, econômica e moral que infelicita o País.
Quanto
mais em evidência estiver, tanto mais serão cobradas de
Lula explicações sobre seu papel no mar de lama que inundou a
administração pública federal sob seu
comando direto e, depois, sob o desgoverno do poste que inventou para,
deliberadamente, desmoralizar as instituições e o regime. A notícia revelada
ontem com exclusividade pelo Estado, de que o governo Lula
estaria envolvido num cabuloso esquema de lobby para favorecer a indústria
automobilística com a edição, em 2009, de MP que prorrogou o desconto do
IPI sobre veículos, é apenas mais um elemento a
fortalecer a evidência de que o então presidente da República, a exemplo
de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, tem
explicações a dar à Justiça e ao País. Até porque aponta um dedo
acusador para Lula a recomendação de que quem enriquece na política deve ser
observado sempre com alguma desconfiança.
A
partir de agora Lula deixa de ser apenas um líder partidário generosamente determinado a dar
sua contribuição para tirar o Brasil do buraco para se tornar o protagonista da
ação governamental. Ninguém mais se dará ao trabalho de
cobrar soluções para a crise de uma presidente da República que foi forçada a abdicar de seu poder
político, que transferiu em comodato. Agora mandam Lula e as raposas peludas do
PMDB, por intermédio de homens de confiança colocados em postos-chave do
governo. É claro que, por uma questão até de bons
modos, a Dilma será sempre oferecida a opção de concordar com as medidas adotadas pelo governo que ela não pode mais
chamar de seu. E o que isso
significa?
A julgar pelo que o
dono do PT tem dito a interlocutores e proclamado ao distinto público, é preciso impor rapidamente uma
“agenda positiva” para o governo, o que significa, na
linguagem lulopetista, dizer coisas que as pessoas gostam de ouvir. Lula deve
continuar imaginando que o brasileiro é idiota.
Como
ainda não inventou nada de novo e interessante para anunciar, gastou todo o
tempo de uma inserção publicitária do PT na TV dias atrás jactando-se de ter
tirado o Brasil do “mapa da miséria da
ONU”, de ter promovido à classe média “mais
de 40 milhões de brasileiros” e criado fantásticos programas sociais. O que havia de verdade em toda essa
jactância populista está se dissipando com a crise, pois o que Lula e Dilma
fizeram foi assistencialismo elementar, sem as medidas adicionais que de fato
promovem a ascensão social. Um discurso populista requentado não renderá aplausos.
Pior é o
fato de que, para manter coerência com a
determinação de criar uma “agenda
positiva”, será necessário reduzir ao mínimo as
medidas de austeridade do ajuste fiscal, quase todas elas impopulares.
Isso acabará inviabilizando o ajuste, que é precondição para a adoção de
qualquer medida eficaz para a retomada do crescimento econômico. Pois o que o
chefão do PT está propondo é a pura e simples repetição da “nova matriz econômica” que funcionou enquanto o Brasil surfava nas
águas tranquilas da bonança econômica mundial. Uma fórmula cuja overdose acabou
resultando na crise que colocou a economia brasileira na beira do precipício.
O estado
atual da economia não permite que o “novo
governo” vá simplesmente empurrando a situação com a barriga. Diante da enorme incoerência representada pela promessa de
conciliar o inconciliável, a pergunta inevitável é a seguinte: afinal, o que Lula
tem de fato em mente?
Agravar
um impasse que, no limite, o libere para chutar o
balde, botar toda a culpa em Dilma e no PMDB e virar oposição? É
razoável supor que ele tenha fortes razões pessoais para obter as imunidades
que imagina devidas a um salvador da Pátria. De quebra,
presidiria o País, de novo, a partir de 2018. Que os céus nos protejam!
Fonte: Editorial – O
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário