Foi
uma obra-prima de política econômica a tal nova matriz. Pelo avesso. Gerou recessão,
inflação alta e juros na lua
Tudo somado e subtraído, a presidente Dilma
conseguiu abrir um buraco de R$ 230 bilhões em apenas
cinco anos. Seu
governo saiu de um superávit de R$ 128
bilhões em 2011 para um déficit efetivo em torno de R$ 100 bilhões neste ano.
Gastou todo o saldo e mais quase o dobro. E
para quê?
Para driblar a crise
internacional e turbinar o crescimento — dizem a presidente e seu ex-ministro Guido
Mantega.
Crescimento?
Em 2011, quando se fez o superávit primário de 128 bi, o Produto
Interno Bruto brasileiro cresceu
razoáveis 3,9%. Nos três anos
seguintes, quando supostamente estaria sendo turbinada pelo gasto e crédito
públicos, a economia minguou: expansão média de 1,5%,
a menor entre os países emergentes mais importantes. E desabou neste ano
para uma recessão em torno de 3%, no
momento em que se realiza o maior déficit público da história.
Apesar do baixo
crescimento, a inflação rodou sempre acima dos 6% ao ano, contra uma meta de 4,5%, e isso com preços importantes, como
gasolina e energia elétrica, controlados e mantidos lá em baixo, na marra. Reajustados
esses preços, porque estavam quebrando a Petrobras e o setor elétrico, a
inflação disparou para os 10% deste ano, um número que reflete melhor a
realidade.
Finalmente,
a taxa básica de
juros, reduzida artificialmente para 7,25% em 2012, também para
turbinar o crescimento, serviu apenas para liberar mais inflação. Aí, o Banco Central
saiu atrás e puxou os juros para os atuais 14,25% que, embora
muito elevados, não conseguem mais conter uma
inflação perigosamente indexada.
A gente
tem de reconhecer: foi uma obra-prima
de política econômica a tal nova matriz. Pelo avesso. Gerou ao mesmo tempo recessão, inflação alta e juros na lua. E o déficit público de R$ 100 bi.
O governo está confessando um
rombo de R$ 52 bi. Mas,
para isso, conta com uma receita de R$ 11 bi com a
venda de concessões de hidrelétricas — um negócio que depende de uma MP ainda a ser votada pelo Congresso,
que não está nem um pouco animado. Sem isso, o déficit já passa dos R$ 60 bi — e ainda é preciso somar as pedaladas, os R$ 40 bi que o
governo federal deve ao BNDES, Banco do Brasil e à Caixa. Assim, o buraco efetivo passa fácil dos R$ 100 bi.
Claro
que a recessão derruba as receitas do governo e ajuda no déficit. Mas houve também muita incompetência. O governo prometeu vender ativos, de imóveis a pedaços de
estatais, e não conseguiu. Disse que
faria dinheiro com a privatização de um elenco de rodovias, portos e
aeroportos. Não saiu uma sequer até
agora. (Sabe como é, tem que preparar a papelada, montar projetos, muita
trabalheira...). O governo contou com dinheiro que
depende de aprovação do Congresso (CPMF
e repatriação), mas não mostrou a
menor capacidade em operar as votações, mesmo tendo distribuído ministérios
e cargos em estatais.
É o mesmo tipo de incompetência
que derrubou a Petrobras. Quando Lula era presidente da República e Dilma presidente do Conselho
de Administração da estatal, a empresa se meteu em
projetos megalomaníacos, da exploração de poços do pré-sal, a refinarias,
navios, sondas e plataformas de exploração.
O caso das refinarias Abreu e
Lima e Comperj já é um exemplo mundial de má gestão, sem contar a corrupção.
Menos conhecida é a história das sondas.
O governo estimulou a criação de uma empresa, a Sete Brasil, para construir 28 sondas no Brasil. A empresa, com dinheiro da Petrobras, já gastou mais de
R$ 28 bilhões e não entregou uma sonda sequer. E pior: sabe-se agora
que a Petrobras, dada sua capacidade de produção, não precisava desses
equipamentos.
Lula e Dilma empurraram
a Petrobras para essa loucura. E para quê?
A produção de óleo da estatal é
hoje praticamente a mesma de 2009. Foi de 2,1 milhões de
barris/dia para 2,2 milhões. Nisso e nas refinarias, inacabadas e
precisando de sócios para concluir a metade das obras, a Petrobras gastou cerca de US$ 260 bi! E gerou uma dívida bruta que chega hoje a US$ 134 bilhões.
Isso é custo Lula mais custo
Dilma, consequência de erros de avaliação, má gestão e projetos mal
feitos. No balanço do ano passado, a estatal aplicou uma baixa contábil
de R$ 31 bilhões nos orçamentos das refinarias Abreu e
Lima e Comperj, por “problemas no
planejamento dos projetos”. E anunciou o cancelamento das refinarias do Maranhão e Ceará, que não saíram do chão, mas cujos projetos custaram R$ 2,7
bilhões. Eram inviáveis, disse a empresa.
Só isso de explicação? É, só isso. A
corrupção é avassaladora, mas capaz de perder para a
ineficiência.
Fonte:
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
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