Perdas e Danos
Negócios
obscuros ampliaram perdas no FGTS para trabalhadores. Nas estatais e
seus fundos de pensão a situação ficou crítica — os Correios só garantem
salários até setembro
O dinheiro é fácil e barato para
empresários com amigos no centro do poder. O lucro é certo para empresas
privadas privilegiadas. É jogo de um único perdedor, a quem nem é
preciso dar satisfações: trinta milhões de pessoas, submetidas à
poupança compulsória no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, donas de
um patrimônio bilionário (mais de R$ 207 bilhões, em janeiro). Sobram perdas para os trabalhadores, a começar pela corrosão monetária (TR+ 3% ao ano) imposta ao fundo.
Há
muito mais. Neste mês reluz o reconhecimento do prejuízo de R$ 1 bilhão
investidos na Sete Brasil — figurante em dois de cada três inquéritos
criminais no Supremo e na Justiça Federal sobre a megalomania, má
gerência e corrupção que devastaram a Petrobras nos governos Lula e
Dilma. Sete Brasil é apenas um dos negócios ruins na carteira
FI-FGTS. Trata-se de um braço do Fundo de Garantia, criado em 2007, para
ampliar a transferência de dinheiro barato dos cofres públicos para os
de grupos privados já beneficiados por um banco estatal, o BNDES, com
empréstimos a custos abaixo do mercado. Detalhe relevante é que o
FI-FGTS também financia o BNDES, onde aplica 19% do patrimônio.
Recursos
da poupança compulsória dos trabalhadores, já dilapidada pelos padrões
de baixo rendimento e indigente governança, passaram a ser partilhados
entre empresas de imóveis, saneamento, petróleo, aeroportos, estaleiros,
papel e celulose. Houve significativa concentração em poucas empresas
privadas, a maioria de capital fechado. Resultado: mais de um
terço dos recursos de trabalhadores aplicados via FI-FGTS nos últimos
oito anos foi direcionado a uma dezena de empresas, hoje processadas por
crimes de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro em negócios com a
Petrobras e outras estatais. Todas estão à beira do precipício, e com o
dinheiro de trinta milhões de pessoas.
Metade dos recursos usados
para compra de participações acionárias foi dirigida ao grupo
Odebrecht. Uma das beneficiárias foi a Odebrecht Ambiental, de
saneamento. Em 2013, o FI-FGTS pagou R$ 315 milhões para aumentar em 5%
sua posição no controle (30% do capital). Esse investimento
equivalia a uma avaliação da empresa em R$ 6,3 bilhões, ou seja, 22
vezes seu lucro operacional registrado em 2012 (R$ 273 milhões). A
exorbitância foi percebida porque valorizava a empresa numa escala seis
vezes acima da maior do setor, a Sabesp.
Mensagens eletrônicas
que levaram à prisão de Marcelo Odebrecht, um dos acionistas, lançaram
luz sobre suas relações com o representante da Central Única dos
Trabalhadores no Comitê de Investimentos do fundo FI-FGTS, André Luiz de
Souza. O jogo de interesses obscuros se repete na década, sempre
com placar final certo — prejuízo para os donos do patrimônio do Fundo
de Garantia. Quando se amplia o horizonte, percebe-se que as perdas
provocadas pelas estranhas transações já superam R$ 100 bilhões. É a
dimensão do rombo somado em 2015 pela Petrobras, Eletrobras, Correios e
fundos de pensão estatais (Previ, Petros, Funcef e Postalis). Nos
Correios a situação ficou tão crítica que a estatal só garante o
pagamento de salários até setembro.
Fonte: José Casado - jornalista
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