Prometeu-se
um dia de luta, mas acabou sendo um dia de desistências. Presença
confirmada no evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no dia 1.º
de maio, o ex-presidente Lula acabou de última hora não dando o ar de
sua graça, deixando sozinha a presidente Dilma Rousseff na tarefa de
repetir a cantilena de que não vai ter golpe.
No constrangedor
episódio houve ainda um esforço para manter as aparências: a ausência de
Lula foi justificada por recomendação médica de descanso, em razão de
intensa rouquidão e cansaço. Após uma semana, porém, as aparências foram
deixadas de lado. Sem o mínimo constrangimento, a presidente Dilma
Rousseff já é tratada como carta fora do baralho por seu próprio
partido, antes mesmo de o plenário do Senado confirmar a admissibilidade
do processo de impeachment.
Até o líder do governo e do PT no
Senado, Humberto Costa (PT-PE), se nega a assumir a orientação
carbonária de Dilma. Esclareceu ele à Folha de S.Paulo: “Acho que o PT
aprendeu com a experiência de governo. Eu defendo que a nossa oposição
seja muito em cima de proposta. Não vamos fazer uma oposição em
abstrato, como ah, derruba o Temer”.
Aos olhos do PT, o governo
federal já está nas mãos de Michel Temer e o partido que esteve nos
últimos 14 anos no Palácio do Planalto é agora oposição. Fala-se do
governo Dilma Rousseff como coisa do passado, como se pôde constatar
pelas manifestações dos parlamentares governistas nas comissões
especiais do impeachment, tanto na Câmara como no Senado. Nelas
inexistiam argumentos idôneos para frear o avanço do processo de
impedimento, deixando a nítida impressão de que os governistas estavam
ali simplesmente para cumprir uma tarefa incômoda, mas inevitável.
Assim,
o PT dá sinais de que sua prioridade não é a defesa de Dilma, que
tratam como uma causa perdida. A urgência agora é distanciar-se da
presidente da República. Prova disso é que raramente se faz uma menção a
Dilma sem que se façam, ao mesmo tempo, sérias restrições ao seu modo
de governar.
Aos poucos, vai ficando claro que o PT não terá
maiores problemas de consciência em atribuir exclusivamente os erros do
governo Dilma Rousseff à senhora Rousseff, como se ao longo desses mais
de cinco anos de Dilma no Palácio do Planalto o PT não tivesse sido mais
que um coadjuvante.
Diante dessa situação – em que se admite
tranquilamente o término do governo Dilma Rousseff antes mesmo da
votação pelo plenário do Senado da admissibilidade do processo de
impeachment –, comprova-se mais uma vez que o discurso petista da
existência de um golpe em curso no País era apenas conversa para boi
dormir.
Evidente é que o PT nunca levou a sério sua retórica da
ilegitimidade do impeachment. Afinal, ela estava em franca contradição
com a história do partido, que chegou a protocolar pedido de impedimento
contra os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Ou
seja, o PT usou e abusou da previsão constitucional do impeachment para
fazer seu jogo político.
Atuar desse modo e agora, fechando os
olhos aos fundados indícios de crime de responsabilidade por parte da
presidente Dilma Rousseff, simplesmente repetir que se trata de um golpe
o atual processo de impeachment em curso no Congresso não é minimamente
crível. Talvez por isso o próprio PT admite a derrota – e volta, sem
aparentes maiores traumas, a traçar sua estratégia para o futuro.
Como
se vê, não é “apenas” o País que está a aproveitar a previsão
constitucional de impeachment em caso de crime de responsabilidade para
apear a presidente Dilma Rousseff do cargo e assim, com um novo comando
no governo federal, conseguir dar um outro rumo ao País. Também o PT
parece ter visto no atual processo uma oportunidade ímpar de se livrar
de Dilma Rousseff, privando-a de qualquer relevância política.
Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário