Temer afirma que eventual prisão de Lula poderá causar instabilidade
[instabilidade se combate com pulso firme e uso, se necessário, da força - inaceitável é que deixar um delinquente solto por preocupação com eventuais ações hostis de cães aliados do bandido.]
Ao ‘Roda Viva’, presidente diz não estar preocupado com cheque da Andrade Gutierrez
O impacto da Operação Lava-Jato sobre o governo foi um dos
principais temas da entrevista concedida pelo presidente Michel Temer ao
programa “Roda Viva”, da TV Cultura, e exibida na noite desta
segunda-feira. Temer disse que uma eventual prisão do ex-presidente Lula
poderá causar um clima de instabilidade no país, e pediu “naturalidade”
na condução do processo contra o petista.
Ao responder sobre o pacote de projetos em discussão no
Congresso e criticados por integrantes da força-tarefa da Lava-Jato,
como a lei sobre o abuso de autoridade, Temer assegurou que essas
propostas não irão paralisar as investigações. O presidente negou que
tenha cometido irregularidades ao receber R$ 11 milhões de duas
empreiteiras, na campanha de 2014, e disse que ninguém deve ser “morto
politicamente” só por ser investigado, numa referência a ministros e
apoiadores de seu governo que tiveram os nomes citados por delatores.— Não é que eu defenda a Lava-Jato. Defendo a atividade do
Judiciário e do Ministério Público — afirmou o presidente Temer, que, em
relação ao possível envolvimento de pessoas de seu governo na
investigação, comentou: — Vamos deixar o Judiciário trabalhar. E vamos
trabalhar no Executivo. Se acontecer alguma coisa, paciência.
CHEQUE DA ANDRADE GUTIERREZ
Temer evitou falar sobre as acusações contra Lula, mas reconheceu que a prisão do petista provocaria instabilidade: — O que espero, e acho que seria útil ao país, é que, se
houver acusações contra o ex-presidente Lula, que elas sejam processadas
com naturalidade. Aí você me pergunta: “Se Lula for preso causa
problema para o país?” Acho que causa. Haverá movimentos sociais. E toda
vez que você tem um movimento de contestação a uma decisão do
Judiciário, pode criar uma instabilidade.
[quando Lula for preso qualquer eventual instabilidade representará
contestação a uma decisão do Judiciário e decisões do Judiciário não
podem, nem devem, ser discutidas e sim objeto de recurso junto as
instâncias superiores do Judiciário.
Portanto,
qualquer contestação deverá ser combatida pelo Governo de forma
enérgica, inclusive, se necessário, com o emprego das Forças Armadas -
emprego este autorizado pela própria Constituição Federal.
E o emprego das FF
AA independe da vontade do presidente da República já que o chefe do
Poder Judiciário pode requisitar diretamente o apoio das Forças Armadas.]
Questionado sobre duas citações a seu nome em investigações,
Temer afirmou que uma doação de R$ 10 milhões feita pela Odebrecht
destinava-se ao Diretório Nacional do PMDB, o que pode ser comprovado
pela prestação de contas, segundo ele. E confirmou que o partido também
foi o destinatário de um cheque de R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez,
investigado no processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que avalia
as contas da chapa de Dilma Rousseff, da qual fazia parte, em 2014. — Esse cheque é de uma conta do PMDB, assinado pelo PMDB,
nominal à candidatura do vice-presidente. No TSE, não tenho preocupação
quanto a isso. Evidentemente, respeito as instituições, se um dia o TSE
disser: “O Temer tem que sair”. Mas, claro, tem recursos e mais
recursos.
Nem toda a entrevista, contudo, restringiu-se à Lava-Jato e
outras investigações. Em aceno aos governadores que estão com problemas
de caixa, Temer afirmou que o governo federal pode destinar a estados
endividados, como o Rio de Janeiro, cerca de R$ 20 bilhões provenientes
da repatriação de recursos que estavam no exterior sem serem declarados à
Receita Federal.
Na sexta-feira, ele já havia afirmado que parte dos cerca de
R$ 51 bilhões arrecadados pela União após a Lei da Repatriação deverá
ajudar a pagar débitos de municípios. Temer defendeu a proposta de
emenda constitucional que limita o teto de gastos por 20 anos e disse
que, se um governo futuro viver um período de bonança econômica, pode
editar medida provisória revogando a PEC. [parece que o Temer, apesar de constitucionalista, neste trecho da entrevista não foi feliz, haja vista que falou bobagem quando acena com a possibilidade de uma medida provisória revogar a PEC do TETO.
Se aprovada a PEC do TETO passa a ser uma Emenda Constitucional - PEC existe apenas enquanto proposta, aprovada se auto extingue por transformação em EC - , que só pode ser revogada por outra Emenda ao texto constitucional.
Jamais uma medida provisória pode revogar uma Emenda Constitucional.]
OCUPAÇÃO DE ESCOLAS
Ele
voltou a criticar a ocupação nas escolas estaduais e universidades, em
protesto contra a PEC e a reforma do ensino médio. Os estudantes
reclamam que as mudanças foram pautadas pelo governo sem discussão com
educadores, pais e alunos. Para Temer, foi necessário fazer a MP para
começar a discussão sobre o assunto. Apesar da crítica, ele admitiu que,
caso os parlamentares cheguem a um consenso, a MP poderá ser
substituída por um projeto de lei de um deputado. — Admito perfeitamente esses movimentos. Mas lamento por
eles. O que vejo, hoje, as pessoas acham que é ironia, mas vejo que há
muito protesto físico. Não há protesto argumentativo, oral, intelectual.
Sabe há quanto tempo se discute reforma no Ensino Médio? A primeira vez
que ouvi foi em 1997. Passaram-se quase 20 anos sem reforma. [outro momento em que a indecisão do atual presidente - que parece ser a sua principal característica - complica o que é fácil.
Um
presidente firme - Ernesto Geisel é um excelente exemplo - decidiria
pela adoção de medidas enérgicas para devolver ao Governo o uso de bens
públicos ilegalmente invadidos ou então colocaria em 'banho-maria' a
proposta de reforma, concentraria esforços na melhora da economia e
quando os primeiros resultados surgissem teria condições proceder a
reforma sem contestação - eventual latido da turma lulopetista seria
sufocado pelo sucesso na economia.
O
Temer foi, é e sempre será a melhor alternativa disponível para
substituir a ex-presidente, a 'escarrada' Dilma; mas, deveria ter mais
pulso, mais firmeza, deixar claro que manda.
Se tivesse no exercício da presidência da República o mesmo 'entusiasmo' que teve quando conheceu sua atual esposa, as coisas andariam melhores e com mais rapidez.]
Ao longo da conversa, o presidente vangloriou-se várias
vezes de ter um apoio maciço do Congresso e defendeu a substituição do
presidencialismo pelo parlamentarismo. Para Temer, a proposta de
alteração da Constituição deveria ser formatada pelo Congresso e,
depois, levada a referendo popular já com todos os detalhes — e não a um
plebiscito, como aconteceu em 1993.
Ao falar sobre o que imagina para 2018, Temer disse que
sente que o povo não acredita mais em lideranças e caciques, mas quer
eficiência na administração pública. Ele negou que será candidato: — Qual é meu sonho? O povo olhar pra mim e dizer: “Esse
sujeito aí colocou o Brasil nos trilhos. Não transformou na segunda
economia do mundo, mas colocou nos trilhos”.
Com relação à política internacional, Temer disse que as
relações do Brasil com os países não devem ser pautadas por ideologia ou
simpatia a políticos, e citou o caso da Venezuela, que, segundo ele,
recusou oferta de remédios brasileiros recentemente. Disse que espera
que Donald Trump não mude os acordos dos Estados Unidos com o Brasil, e
afirmou que o país pode até se beneficiar comercialmente caso o
presidente eleito dos EUA construa mesmo o muro na fronteira com o
México, o que causaria problema entre as duas nações.
Temer deu a entrevista para o “Roda-Viva” na tarde de
sexta-feira, no Palácio da Alvorada, para onde diz que está se mudando
aos poucos porque gosta do jeito de casa do Jaburu. Ele revelou que não
gosta da ideia de ter sua foto como presidente na parede dos gabinetes: — Não gosto de olhar para uma foto minha na parede. Parece que já morri.
O presidente ainda teve tempo de falar sobre sua vida
pessoal. Contou que quer escrever um romance sobre lembranças de sua
infância em uma chácara, e relembrou sua aproximação da primeira-dama,
Marcela: — Quando a vi, fiquei entusiasmado. Em sete meses estávamos casados.
Fonte: O Globo
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