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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Tráfico age como milícia na Rocinha e controla comércio - é este o resultado das UPPs do Beltrame e da proteção do 'cabralzinho' aos Amarildo

Polícia investiga compra de água e carvão de um único distribuidor na comunidade

Maior favela do Brasil — são 69 mil habitantes, segundo o Censo 2010 do IBGE, e cerca de 200 mil, de acordo com as associações de moradores locais —, a Rocinha tem hoje um tráfico com cara de milícia. Comerciantes denunciam que uma nova regra foi imposta por bandidos na comunidade: donos de bares, biroscas e mercados foram proibidos de comprar água mineral e carvão de seus fornecedores habituais, devendo adquirir os produtos para revenda num único ponto no morro. 
 A Favela da Rocinha, onde, segundo associações, vivem cerca de 200 mil pessoas: donos de bares, restaurantes e biroscas denunciam que foram ameaçados por bandidos - Custódio Coimbra / Agência O Globo
Com o monopólio decretado por meio de ameaças, caminhões de entrega estão sendo barrados nos acessos à Rocinha há cerca de dez dias, tanto pelo lado da Gávea quanto de São Conrado. E isso acontece apesar de a favela contar com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), delegacia, Região Administrativa e três associações de moradores. — Nossa preocupação é que, daqui a pouco, façam a mesma coisa com arroz, feijão, frutas, verduras, bebidas, cigarro... Meninos passaram de loja em loja avisando que os caminhões de entrega de água e carvão não poderiam mais entrar na comunidade. E deram um papel do lugar onde a gente poderia comprar. Isso é um abuso. Estou desesperado, perdendo clientes. Não vou comprar de quem está me obrigando, e ainda é muito mais caro — reclama o comerciante X., instalado na Rocinha há algumas décadas.

Cálculo inicial feito por um grupo de comerciantes mostra os lucros que podem estar por trás do monopólio da água na Rocinha. Por dia, só de garrafas de 500ml, são vendidas cerca de três mil unidades.

‘ESTAMOS PEDINDO SOCORRO’
Com a cerveja, há uma “lei” em vigor há algum tempo na Rocinha, lembra o comerciante. Segundo ele, apenas caminhões de distribuição de uma única marca têm autorização para subir o morro. Para garantir a variedade de estoque, conta X., a saída foi passar a buscar a mercadoria de carro na Praia de São Conrado, onde os entregadores param. — Chegaram a dizer que iriam proibir também a gente de pegar a cerveja na praia. Por enquanto, não fizeram nada. Mas não sei qual será o futuro. Estamos pedindo socorro. O Ministério Público poderia nos ajudar — desabafa.

W., que também tem negócio na Rocinha, teme novas proibições: — Daqui a pouco, até com as frutas vão fazer isso. Estão de olho grande.

Outro comerciante, que assim como os demais teme se identificar, engrossa o coro dos descontentes:  — Criaram algo pior do que a milícia. É um absurdo o que estamos passando. É uma ilegalidade.

O pedido já teve eco. Por nota ao GLOBO, o MP informa que “está aberto para receber os comerciantes e investigar o caso”. As denúncias podem ser feitas pessoalmente na Ouvidoria da instituição, de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h; pelo telefone 127; pelo formulário eletrônico disponível no site do MP; ou enviando correspondência para a Ouvidoria. A identidade do denunciante será preservada. O cidadão pode ainda fazer a queixa de forma anônima.

De 2010 a 2016, só ao Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gaeco), do Ministério Público, foram apresentadas 125 denúncias sobre tráfico e milícia. A partir delas, 2.025 pessoas foram delatadas à Justiça.


(...)
EPISÓDIOS TRAUMÁTICOS
Desde a prisão do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, em novembro de 2011, o comando da venda de drogas na Rocinha está nas mãos de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. O bandido é acusado por moradores de ser um dos mais tiranos chefes do tráfico que passaram pela favela. Sob suas ordens, criminosos de sua quadrilha passaram a cobrar pedágio de distribuidoras de bebidas e empresas de serviços, exigindo ainda pagamento de taxas dos comerciantes.

A Rocinha conta com uma UPP desde setembro de 2012, o que possibilitou ao governo do estado instalar ali uma delegacia. A comunidade tem mais de dois mil estabelecimentos comerciais, espalhados numa área de 887.587 metros quadrados, entre a Gávea e São Conrado. Em 1993, virou bairro e teve seu perímetro delimitado.

Um dos mais traumáticos episódios ocorridos na favela foi o sequestro e a morte do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, que desapareceu em 14 de julho de 2013, após ter sido detido por PMs e levado da porta de sua casa para a sede da UPP. Doze policiais foram condenados pelo crime. Cerca de um ano depois, a Justiça descobriu um plano de traficantes, com a ajuda de PMs, de assassinar a major Pricilla Azevedo, ex-comandante da UPP da comunidade. O caso só foi divulgado em setembro deste ano.

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