Manter o privilégio na aposentadoria significa incorporar a discriminação na vida ativa
Afinal, meninas, vocês querem ou não igualdade? Na reforma da Previdência, o presidente Michel Temer,
que não sabe mais o que fazer ou falar para agradar às mulheres, talvez
por ser da geração “equivocada” do ator José Mayer, já pensa em recuar
da idade mínima de 65 anos para aposentadoria. Como forma de compensar a
dupla ou tripla jornada, mulheres poderiam se aposentar aos 62 anos,
três a menos que os homens.
É como o veneno na maçã vermelha. Conceder à mulher o direito de se aposentar antes do homem é, na verdade, uma armadilha, um presente de grego, um reforço de estereótipo, uma admissão de que a sociedade deve tratar homens e mulheres de forma desigual. É manter o statu quo e perpetuar a noção de que homem é o provedor e não precisa cuidar dos filhos nem da casa, num país em que cerca de 40% de mulheres são chefes de família. Manter privilégio na aposentadoria significa incorporar a discriminação na vida ativa e no trabalho. Há sempre dois lados da moeda.
A bancada feminina na Câmara, um número irrisório de 55 deputadas num total de 513, isso sim um escândalo, pressiona o tadinho do Temer, casado com uma mulher com M maiúsculo, que se desequilibrou do salto altíssimo na nomeação de generais no Planalto, mas que ainda assim encontra tempo para cuidar do filho, Michelzinho, e checa todos os preços nos supermercados, contribuindo assim para a economia do país. A presença de Marcela em solenidades, segundo funcionários do governo, ajuda a melhorar a imagem do septuagenário Temer, que no mesmo dia recebeu rei e rainha da Suécia e pastores evangélicos.
Imagem, porém, não é tudo, presidente. Temer diz que o senador Renan Calheiros “vai e volta”, por isso seus ataques não devem ser levados tão a sério... Mas o presidente também se comporta como um ioiô na reforma da Previdência. Bajula o Congresso, dizendo que é “o centro das aspirações populares” (o povo acha isso mesmo?).
Sem entrar no mérito dos outros recuos para aprovar a reforma, a idade mínima diferente para homens e mulheres não deveria sequer ser cogitada, Temer. E imaginar que as deputadas que reivindicam que mulheres se aposentem aos 60 anos pertencem a partidos de esquerda, centro e direita, volver... Todas as ideologias. Prestam assim um desserviço ao país e à luta pela igualdade. Ignoram que, na população feminina, existe mulher de tudo que é jeito e orientação sexual.
Uma ou outra percebe a incongruência. Mara Gabrilli (PSDB) disse: “Não vejo muito essa necessidade de diferenciação (na idade mínima). As mulheres já vivem mais. É só olhar nos bailes de terceira idade. Falta homem para dançar”. Falta homem para um monte de coisas. E também falta mulher em um monte de lugares. No Congresso, nas posições de CEO das empresas (são 16% no Brasil) e por aí vai. [nada contra as mulheres, são maravilhosas, indispensáveis - nenhuma intenção de apoiar o entendimento do Ciro Gomes (o sempre candidato a presidente e sempre derrotado e que a cada candidatura troca de partido) sobre a utilidade das mulheres].
Chegou-se a estudar uma ideia de manter a idade mínima de 65 anos e oferecer bônus para mulheres com filhos, que também dependeria do número de pimpolhos. Ao jornal Valor, o deputado Arthur Maia (PPS) disse que o bônus seria justo. Mulheres sem filhos teriam o mesmo tratamento dos homens porque “não têm o efeito da dupla jornada com a responsabilidade de conciliar o trabalho doméstico com o externo”.
Que confusão. Nesse caso, teríamos três categorias de trabalhadores para definir idade mínima de aposentadoria. Os homens, as mulheres sem filho e as mulheres mães. Que tal dividir e complicar mais ainda? Os homens héteros e casados. Os separados que também cuidam dos filhos ou que têm a guarda dos filhos. Os homens que não são pais. Os gays sem filhos, os gays com filhos. [já que o negócio é discriminar, sugerimos o tão 'endeusado' sistema de cotas: idades diferentes para índios, negros, amarelos e por aí.] Não dá. O correto é mudar, com leis, educação e atitudes, as percepções de gênero.
Guardadas todas as proporções, é inédito o desfecho do assédio do galã sexagenário José Mayer à figurinista de 28 anos Susllem Tonani, conhecida como Su. Primeiro, ela teve a coragem de denunciar o assédio em toda a sua crueza em blog do jornal Folha de S.Paulo. O que começou como elogio e cantada de José Mayer passou a intimidação física (“com mão na genitália”) e ataque verbal: “Vaca!”, diante da recusa de Su em ceder às investidas do ator, casado e com uma filha.
Tudo o que se seguiu foi também inédito. A solidariedade de atrizes e funcionárias com camiseta Mexeu Com Uma Mexeu Com Todas. A suspensão, pela TV Globo, do ator, por violar os valores da empresa. E a leitura, no Jornal Nacional, da carta de José Mayer, em que ele admite: “Errei no que fiz, no que falei e no que pensava”. E errou também no que escreveu, ao se fazer de vítima: “Tristemente, sou fruto de uma geração (machista)”. Mexeu com um, mexeu com todos. Homens da idade de José Mayer, que nunca se comportaram como ele, protestaram: “Me inclua fora dessa”. O Brasil mudou.
Fonte: Ruth de Aquino
É como o veneno na maçã vermelha. Conceder à mulher o direito de se aposentar antes do homem é, na verdade, uma armadilha, um presente de grego, um reforço de estereótipo, uma admissão de que a sociedade deve tratar homens e mulheres de forma desigual. É manter o statu quo e perpetuar a noção de que homem é o provedor e não precisa cuidar dos filhos nem da casa, num país em que cerca de 40% de mulheres são chefes de família. Manter privilégio na aposentadoria significa incorporar a discriminação na vida ativa e no trabalho. Há sempre dois lados da moeda.
A bancada feminina na Câmara, um número irrisório de 55 deputadas num total de 513, isso sim um escândalo, pressiona o tadinho do Temer, casado com uma mulher com M maiúsculo, que se desequilibrou do salto altíssimo na nomeação de generais no Planalto, mas que ainda assim encontra tempo para cuidar do filho, Michelzinho, e checa todos os preços nos supermercados, contribuindo assim para a economia do país. A presença de Marcela em solenidades, segundo funcionários do governo, ajuda a melhorar a imagem do septuagenário Temer, que no mesmo dia recebeu rei e rainha da Suécia e pastores evangélicos.
Imagem, porém, não é tudo, presidente. Temer diz que o senador Renan Calheiros “vai e volta”, por isso seus ataques não devem ser levados tão a sério... Mas o presidente também se comporta como um ioiô na reforma da Previdência. Bajula o Congresso, dizendo que é “o centro das aspirações populares” (o povo acha isso mesmo?).
Sem entrar no mérito dos outros recuos para aprovar a reforma, a idade mínima diferente para homens e mulheres não deveria sequer ser cogitada, Temer. E imaginar que as deputadas que reivindicam que mulheres se aposentem aos 60 anos pertencem a partidos de esquerda, centro e direita, volver... Todas as ideologias. Prestam assim um desserviço ao país e à luta pela igualdade. Ignoram que, na população feminina, existe mulher de tudo que é jeito e orientação sexual.
Uma ou outra percebe a incongruência. Mara Gabrilli (PSDB) disse: “Não vejo muito essa necessidade de diferenciação (na idade mínima). As mulheres já vivem mais. É só olhar nos bailes de terceira idade. Falta homem para dançar”. Falta homem para um monte de coisas. E também falta mulher em um monte de lugares. No Congresso, nas posições de CEO das empresas (são 16% no Brasil) e por aí vai. [nada contra as mulheres, são maravilhosas, indispensáveis - nenhuma intenção de apoiar o entendimento do Ciro Gomes (o sempre candidato a presidente e sempre derrotado e que a cada candidatura troca de partido) sobre a utilidade das mulheres].
Chegou-se a estudar uma ideia de manter a idade mínima de 65 anos e oferecer bônus para mulheres com filhos, que também dependeria do número de pimpolhos. Ao jornal Valor, o deputado Arthur Maia (PPS) disse que o bônus seria justo. Mulheres sem filhos teriam o mesmo tratamento dos homens porque “não têm o efeito da dupla jornada com a responsabilidade de conciliar o trabalho doméstico com o externo”.
Que confusão. Nesse caso, teríamos três categorias de trabalhadores para definir idade mínima de aposentadoria. Os homens, as mulheres sem filho e as mulheres mães. Que tal dividir e complicar mais ainda? Os homens héteros e casados. Os separados que também cuidam dos filhos ou que têm a guarda dos filhos. Os homens que não são pais. Os gays sem filhos, os gays com filhos. [já que o negócio é discriminar, sugerimos o tão 'endeusado' sistema de cotas: idades diferentes para índios, negros, amarelos e por aí.] Não dá. O correto é mudar, com leis, educação e atitudes, as percepções de gênero.
Guardadas todas as proporções, é inédito o desfecho do assédio do galã sexagenário José Mayer à figurinista de 28 anos Susllem Tonani, conhecida como Su. Primeiro, ela teve a coragem de denunciar o assédio em toda a sua crueza em blog do jornal Folha de S.Paulo. O que começou como elogio e cantada de José Mayer passou a intimidação física (“com mão na genitália”) e ataque verbal: “Vaca!”, diante da recusa de Su em ceder às investidas do ator, casado e com uma filha.
Tudo o que se seguiu foi também inédito. A solidariedade de atrizes e funcionárias com camiseta Mexeu Com Uma Mexeu Com Todas. A suspensão, pela TV Globo, do ator, por violar os valores da empresa. E a leitura, no Jornal Nacional, da carta de José Mayer, em que ele admite: “Errei no que fiz, no que falei e no que pensava”. E errou também no que escreveu, ao se fazer de vítima: “Tristemente, sou fruto de uma geração (machista)”. Mexeu com um, mexeu com todos. Homens da idade de José Mayer, que nunca se comportaram como ele, protestaram: “Me inclua fora dessa”. O Brasil mudou.
Fonte: Ruth de Aquino
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