'Reage, Rio!' Ministro da Justiça sugere mudar Constituição para melhorar segurança pública
Para Torquato Jardim, é preciso integrar o trabalho de guardas municipais com o de policiais estaduais e da Polícia Federal
O ministro da Justiça, Torquato Jardim, defendeu nesta
quarta-feira uma mudança constitucional que permita o enfrentamento mais
eficaz dos problemas de segurança pública de estados como o Rio de
Janeiro. Em sua participação no seminário "Reage, Rio!", promovido pelos
jornais O GLOBO e "Extra", ele falou sobre a necessidade de se tratar
do assunto de forma transnacional, investindo nas polícias de fronteira,
e interestadual, além de envolver as guardas municipais nas políticas
de segurança pública, dando ênfase aos municípios.
- O primeiro passo é a integração. É preciso trabalho
conjunto entre União e estados. E essa cooperação começa na fronteira -
disse ele, sobre os tráficos de drogas e armas.
Segundo o ministro, "é preciso reconceber a federação". Ele
diz que a ideia de federação na Constituição de 1988 é "um ensaio de
laboratório", e que o texto foi escrito de olho no retrovisor, "para
reacertar os passos após 20 anos de centralização do poder em Brasilia".
- Muitas tarefas foram transferidas aos estados, mas o
Brasil é diverso demais, o que implica em repactuar a nossa federação
para um combate seguro aos crimes em geral, com ênfase no município.
Quem conhece o bairro é o guarda municipal. Depois dele, o policial
estadual. O policial federal não opera sem eles - explicou.
As mudanças implicam, ainda de acordo com o ministro Jardim,
mais tecnologia, com uso de satélites e drones, por exemplo, já que,
segundo destacou o ministro, não há contingente policial para cobrir
16,8 mil quilômetros de fronteira. O ministro também defendeu a adoção
de um sistema único de segurança pública, nos moldes do que existe na
saúde, com o SUS, com divisão de tarefas e sem contingenciamentos. Ele
argumentou ainda que a Força Nacional precisa ser institucionalizada. — Ela não pode ser formada por voluntários, como acontece
hoje, em que os homens não têm gratificação. Recebem diárias e há uma
diferença salarial brutal entre os estados — disse.
O coronel da Polícia Militar Robson Rodrigues, ex-comandante
das UPPs, lembrou que a polícia dedica muito esforço para coisas
consideradas pequenas diante do tamanho do problema, como a apreensão de
maconha em grandes operações. Segundo ele, 91% das mais de 120
toneladas de drogas apreendidas no estado entre 2000 e 2016 eram dessa
droga. - O sistema está errado. Precisamos, sim, de investimento
maior em inteligência. Mas não é no varejo que vamos resolver os
problemas - disse ele. - O sistema está focado em outros problemas, e
não o central: o das mortes no Brasil.
Já Michele dos Ramos, pesquisadora e especialista em
segurança pública do Instituto Igarapé, destacou que não há "bala de
prata" para resolver os desafios do Rio. - Uma só política não resolve. Esse erro não podemos cometer
novamente. E o caráter tem que ser sistêmico, com diferentes entes
federados envolvidos nas respostas aos desafios, pois os desafios do Rio
são os mesmos de outros estados, do país - reforçou ela. - Essa
resposta passa pela compreensão do problema como um todo, com uma agenda
de prevenção em que os municípios têm papel fundamental, juntamente com
as policias, o Ministério Público, o Judiciário e instituições do
sistema penitenciário.
O “Reage, Rio!” é uma realização dos jornais O GLOBO e
“Extra”, com oferecimento do Sistema Fecomércio-RJ, por meio do Sesc-RJ,
patrocínio da Souza Cruz, da Oi, da Alerj e do Sebrae, além de apoio do
shopping RioSul. São dois dias de debates - esta quarta e quinta-feira -
e, que especialistas (empresários, representantes da sociedade civil e
da esfera pública) discutem soluções possíveis para tirar o Rio da crise
em diversas áreas. Os sites do GLOBO e do "Extra" transmitem o evento
ao vivo. Um caderno especial sobre os temas discutidos no evento será
publicado no domingo, nos dois jornais. O evento nesta quarta foi aberto por Frederic Kachar,
diretor-geral da Infoglobo; Ascânio Seleme, diretor de Redação do Globo,
e Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ.
Fonte: O Globo
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