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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Supremacistas brancos tentam determinar ‘pureza’ pelo DNA

Milhões de pessoas já solicitaram serviço para descobrir origens nos EUA

O tema mais debatido nas TVs americanas nos últimos dias foram os supremacistas brancos, com a imensa maioria do país rechaçando a nova onda de violência destes grupos. Mas, nos intervalos comerciais, duas empresas, 23andMe e Ancestry, ofereciam testes de DNA para que as pessoas descobrissem suas origens, ou seja, quanto do seu sangue é europeu, asiático ou africano. Tal serviço já foi solicitado por milhões de pessoas nos EUA. Isso sugere que, apesar de a maioria dos americanos não ser racista, a questão racial ainda é algo mal resolvido e pode continuar sendo um fator de tensão, à medida que minorias ganham peso no país e se encaminham para superar os brancos em meados deste século. Os americanos, em geral, se preocupam com raça muito mais que outros povos e isso tem uma explicação histórica: na primeira versão da Constituição, os negros e os indígenas não foram definidos como cidadãos, foi necessária uma emenda para resolver isso. E, quando olhamos para a Guerra Civil Americana a fundo, percebemos que uma minoria do Sul ainda tinha escravos. Eles não lutavam pela escravidão, lutavam pela manutenção da ordem racial de então — afirmou ao GLOBO o professor David Hayes-Bautista, diretor do Centro de Estudos de Saúde e Cultura Latina da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e especialista em questões genéticas.

Ele conta que os americanos querem classificar as raças de maneira científica, algo que, em sua opinião, não é possível. E que, se o padrão americano o qual estabelece que, se a pessoa tem um ancestral negro, é considerada negroservisse para a América Latina, a imensa maioria dos latinos seria considerada afro-americana. E diz que muitos temem se classificarem como mestiços, uma realidade cada vez mais comum no país, embora ainda seja subnotificada, em sua opinião. — Vemos alguns grupos sofrendo muito com o fato de que os EUA deixarão de ter a maioria da população branca não-hispânica nas próximas décadas. Mas garanto: todos sobreviveram. Essa já é a realidade da Califórnia há 20 anos — diz Bautista.

Apenas a 23andMe já tem dois milhões de clientes que pagaram ao menos US$ 100 (R$ 320) para um teste de origem — outras empresas, como a Ancestry, não abriram seus dados ao GLOBO. Mas a companhia líder no segmento nega que isso tenha um impacto racista.



“23andMe faz testes de ascendência que dão uma porcentagem da origem regional de uma pessoa. Não informamos sobre a raça. Usamos um algoritmo para comparar grandes segmentos do seu genoma a 31 diferentes populações de referência, por exemplo, da África Subsaariana, ibéricas ou europeias”, explicou a companhia em nota. “Nossa esperança é que os indivíduos vejam nosso teste como uma oportunidade de aprender mais sobre si mesmos e sobre o mundo ao seu redor e, em última análise, entendermos que somos mais parecidos do que diferentes.”

Mas esta não é a realidade. O movimento neonazista americano busca estes testes para demonstrar que são “brancos puros”. Para alguns deles, não basta olhar no espelho: é necessária uma comprovação objetiva, com testes de ancestralidade por DNA.
Ser branco puro significa ter ancestralidade 100% europeia, sem conexões com judeus — explicou Joan Donovan, do Instituto de Pesquisa Data & Society, em Nova York, que apresentou um estudo sobre o tema no Encontro Anual da Associação Sociológica Americana, ao lado de Aaron Panofsky, da UCLA.

RESULTADOS DE TESTES DECEPCIONAM RACISTAS
Os pesquisadores identificaram 70 discussões no fórum Stormfront, conhecido por reunir a extrema-direita americana, que debatiam exames de DNA. Foram analisadas mais de três mil publicações de usuários individuais, sendo 153 com testes genéticos de ancestralidade. Deles, 53 tiveram “boas notícias”, com 100% de ascendência europeia não judaica, mas os cem restantes — segundo suas expectativas racistas — se decepcionaram.
— O interessante é que eles relativizam os resultados, mas nunca questionam quem são ou suas crenças. A culpa vai sempre para outro lugar. Não vimos ninguém decidir que deixaria de ser um supremacista branco após o exame — destacou Joan.
Segundo a socióloga, o movimento nacionalista branco está mais público, fortalecido pela retórica do presidente Donald Trump sobre família, tradição e linhagem. E esses grupos racistas e neonazistas alegam proteger o futuro da raça branca, que eles dizem estar em perigo, explica:


— Nos fóruns, eles veem o Brasil como o lugar onde a América deu errado, por causa da mistura de raças: um “inferno” que dizem querer evitar.  E os problemas chegam às etnias. Formulários cada vez mais simples classificam “latinos” ou “hispânicos” como raça. Na opinião de Carlos Quesada, diretor-executivo do Instituto de Raça, Equidade e Direitos Humanos, de Washington, isso presta um desserviço ao país: — Há uma prática de “dividas e vencerás” e isso tem a ver com como as pessoas dos diferentes grupos étnicos se relacionam entre si.

Fonte: O Globo




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