Janot começa a ter dificuldades até para encontrar quem lhe sirva um cafezinho na PGR
Raquel Dodge anuncia 12 nomes e troca postos-chave da Lava-Jato
Nova procuradora-geral demonstra intenção de marcar diferença
Anunciada nesta terça-feira, a 27 dias da posse, a
composição da equipe da nova procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, revela trocas estratégicas em postos-chave relacionados aos
trabalhos da Operação Lava-Jato. Raquel fez basicamente três movimentos,
que demonstram a intenção da nova procuradora-geral em marcar diferença
em relação a Rodrigo Janot e seu entorno:
1) Será criada uma nova secretaria, de Função Penal
Originária no Supremo Tribunal Federal (STF), que vai abarcar o grupo de
trabalho da Lava-Jato;
2) Secretarias decisivas à operação trocam de mãos; e
3) O grupo da Lava-Jato será capitaneado por dois
procuradores da República experientes em casos rumorosos, como os
mensalões petista e mineiro e a Operação Zelotes, sem relação com o
grupo montado por Janot, o que indica que essa força-tarefa terá um alto
índice de renovação.
Raquel é conhecida entre seus colegas por ser discreta e por
segurar informação, numa estratégia para fazer valer as decisões
tomadas. No fim de julho, escalou os cinco procuradores que a auxiliam
na transição até a posse, marcada para o próximo dia 18. Reportagem
publicada pelo GLOBO em 16 de julho revelou o perfil de combate à
corrupção dos primeiros nomes levados em conta por Raquel para integrar
seu gabinete. Nesta terça, ela divulgou o primeiro organograma da
Procuradoria Geral da República (PGR) sob seu comando. Estão na equipe
os cinco nomes da transição e mais sete novos nomes. Outros ainda serão
anunciados nos próximos dias.
A nova procuradora-geral anunciou como titular da secretaria
a ser criada a procuradora regional da República Raquel Branquinho, que
tem um histórico de atuação em casos de corrupção. Branquinho auxiliou o
então procurador-geral Antônio Fernando de Souza no processo do
mensalão. Hoje, a procuradora é a chefe administrativa da Procuradoria
Regional da República (PRR) da 1ª Região e atua no núcleo de ações
originárias, que investiga prefeitos. Colegas de Branquinho relatam que o
núcleo teve um incremento de 100% nas ações contra os titulares de
Executivos municipais. Já na chefia administrativa da PRR, sua função
vinha sendo basicamente cortar custos, diante da crise fiscal.
Também integra o núcleo de ações originárias o procurador
regional José Alfredo de Paula Silva, um dos mais jovens do grupo
anunciado por Raquel, apesar de já ter experiência no Ministério
Público. Ele tem menos de 40 anos e ingressou na instituição em 2003.
Agora, estará à frente do grupo de trabalho da Lava-Jato, ao lado do
procurador regional Alexandre Espinosa, outro integrante do núcleo de
ações originárias. Branquinho, Alfredo e Espinosa auxiliaram Antônio
Fernando no mensalão. Os dois, agora, estarão submetidos à secretaria a
ser criada por Raquel.
A expectativa na PGR é que Branquinho faça uma coordenação
mais jurídica da Lava-Jato, e Alfredo e Espinosa, mais operacional, à
frente efetivamente das investigações. Em ofício a Janot, Raquel
reforçou convite para que os nove integrantes do grupo de trabalho da
Lava-Jato permaneçam na força-tarefa. Desde o início, porém, já não
havia a intenção de a maioria dos procuradores permanecer no grupo,
assim como estava claro o desejo da nova gestão por renovação. Apenas
quatro procuradores – principalmente os que estão há menos tempo no
grupo – manifestaram a intenção de permanecer.
Alfredo, o novo coordenador do grupo, acompanhou a parte
final do processo do mensalão, segundo colegas dele de Ministério
Público. Ele já denunciou policiais federais por tortura e sua atuação
mais recente foi na Operação Zelotes. Alfredo é descrito por colegas
como "prático", "operacional" e "discreto". Na Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional, que
ganhou protagonismo em razão do caráter transnacional da Lava-Jato,
entrará Cristina Romanó. Havia a expectativa de que o atual titular,
Vladimir Aras, permanecesse no posto, o que não se confirmou. Romanó é
procuradora regional da República e tem larga experiência na área
internacional. Ela já integrou o quadro de promotores do Tribunal Penal
Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia.
O procurador da República Pablo Barreto, da Bahia, será o
novo secretário de Pesquisa e Análise. Esta unidade foi decisiva à
Lava-Jato, com o desenvolvimento de novas tecnologias de perícia e um
trabalho de coleta de provas que embasaram as denúncias de Janot. O vice-procurador-geral da República será o
subprocurador-geral Luciano Mariz Maia, reconhecido por seus colegas
pelo trabalho na área de direitos humanos e na academia. Mariz Maia,
segundo colegas de Ministério Público, tem parentesco com o senador
Agripino Maia (DEM-RN), investigado na Lava-Jato por suspeitas de
corrupção e lavagem de dinheiro. A atuação do subprocurador, porém, é
tida como isenta e mais voltada a questões de direitos humanos, com boa
interlocução com os movimentos sociais.
O novo vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques,
também tem atuação na academia, além de ser atuante na defesa dos
interesses da categoria – o subprocurador-geral é vice-presidente da
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Os outros
nomes anunciados por Raquel são Zani Cajueiro, que será secretária-geral
do MPU; Lauro Cardoso e Marcelo Ribeiro Oliveira, que vão atuar na
secretaria a ser criada; Alexandre Camanho, secretário-geral jurídico; e
Sidney Pessoa Madruga, coordenador do Grupo Executivo Nacional de
Função Eleitoral.
Até a posse, Raquel deve administrar uma disputa entre
subprocuradores-gerais da República que a apoiaram na campanha e que
querem espaço na composição da equipe. Essa disputa, por exemplo,
influencia na definição do novo corregedor-geral.
Na nota divulgada nesta terça-feira, Raquel destacou a
presença de mulheres em sua equipe. "Convidamos para o gabinete
especialistas nas matérias que mais afligem a população brasileira
atualmente. A equipe precisa estar atenta aos problemas nacionais em
todas as suas dimensões e de forma equilibrada", disse a nova
procuradora-geral na nota.
Fonte: O Globo
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