Correio Braziliense
''A narrativa da polarização e radicalismo não resiste à demonstração das urnas. O país continua conservador. O extrema-esquerda Psol, no páreo em São Paulo e Belém, não afeta essa percepção''
Atrasou um pouquinho, mas, no dia seguinte, já tínhamos os resultados da
nossa eleição. Alguns se impacientaram, ficaram desconfiados, porém, em
apuração, ganhamos dos americanos, que, duas semanas depois, ainda não
têm resultado definitivo. Aqui, no entanto, também tivemos uma denúncia
gravíssima, feita por um presidente, o do TSE. O supercomputador do TSE
foi atacado, e ele suspeita de uma conspiração contra o nosso voto, com
vistas a uma ditadura. Seríssimo. E, mesmo com o fique em casa, apenas
23% de abstenções — um pouco acima dos 17,58% da última eleição
municipal. Foi uma demonstração de civismo por parte do eleitor, a quem
as autoridades ainda devem explicações sobre a segurança do processo e
esse possível atentado.
Na cidade da fundação do PT, São Paulo, e no berço do
lulismo, São Bernardo do Campo, a eleição confirmou a queda do partido
como representante da esquerda. Em São Paulo, Psol no segundo turno
mostra que partidos de extrema-esquerda e ideológicos estão substituindo
a esquerda fisiológica em que se transformou o PT, como demonstrou a
Lava-Jato. Na anterior eleição municipal, o PT só ganhou uma prefeitura
de capital, Rio Branco. Naquela eleição, foi reduzido a 254 prefeituras;
agora baixou para 189. Hoje, depende do segundo turno em Vitória e no
Recife. E o PP acabou levando a maior parte das prefeituras do Nordeste,
grande reduto petista.
Resistentes, o MDB continua com o maior número de prefeituras e o DEM teve excelente desempenho em
Salvador, Curitiba, Florianópolis e no Rio de Janeiro. Bons prefeitos
foram reeleitos. O de Porto Feliz, Dr.Cassio Prado, com 92% dos votos,
provou que o tratamento precoce contra a covid também dá resultado nas
urnas. O presidente Bolsonaro, prevendo alianças futuras com partidos em
disputa na campanha, como o PP e o PSD, evitou se envolver, mas seu
candidato Crivella, no Rio, vai ter de enfrentar o favoritismo de
Eduardo Paes. E, em São Paulo, seu preferido Russomano, de bom
desempenho em obras sociais, foi apático na campanha e se diluiu.
A narrativa da polarização e radicalismo não resiste à demonstração das
urnas. O país continua conservador. O extrema-esquerda Psol, no páreo em
São Paulo e Belém, não afeta essa percepção. A pesquisa CNT/MDA, em 25
estados, divulgada em fins de outubro, antecipa as urnas do dia 15. Os
que se declaram direita são 27,7%; esquerda, 11%. Somando os que se
declaram centro (17%) aos centro-esquerda (2,7%) e centro-direita
(4,3%), temos 24% balançando no centro e 32,25% que se definem conforme
as circunstâncias. Não dá para chamar isso de polarização. As urnas
mostraram, sim, diversidade na política.
Alexandre Garcia, jornalista - Correio Braziliense
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