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sexta-feira, 11 de junho de 2021

Termo de declarações prestadas por Renan Calheiros - Revista Oeste

 Augusto Nunes - Colunista interroga relator da CPI
Escalado para uma reportagem sobre a CPI da Covid, este colunista solicitou uma entrevista ao relator Renan Calheiros. 
 A contraproposta chegou minutos depois: por sentir-se muito mais à vontade quando depõe em tribunais e delegacias, o senador preferia “aquela fórmula que vocês usaram com o Aécio Neves”. Assim se fez. O resultado foi o depoimento abaixo transcrito.

Aos oito dias de junho de dois mil e vinte e um, em São Paulo, às duas horas da madrugada, numa sala desta instância jornalística, compareceu José Renan Vasconcelos Calheiros, filho de Olavo Calheiros Novais e Ivanilda Vasconcelos Calheiros, com 65 anos de idade, natural de Murici, Alagoas, de cor branca, residente em Brasília, sabendo ler e escrever; aos costumes, disse nada; interpelado pelo signatário, declarou que, embora formado em Direito, é político profissional, filho de político profissional, irmão de políticos profissionais, tio de políticos profissionais, pai de político profissional e, se Deus quiser, futuro avô de políticos profissionais; que já exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (que até hoje tenta justificar a escolha com a alegação de que ignorava as três ou quatro anotações no prontuário ainda em seu começo), senador e, por duas vezes, presidente do Senado; que só não se elegeu governador de Alagoas por ter sido atraiçoado pelo ex-inimigo, então amigo, depois novamente inimigo e hoje amigo Fernando Collor; 
que tem a sensação de ser meio governador depois que o filho Renanzinho foi eleito para o cargo; que a vocação política do clã é tanta que desde 1992 um dos seus irmãos e um dos muitos sobrinhos se revezam na prefeitura de Murici, e que o povo é tão agradecido aos Calheiros que resolveu em 2020 eleger prefeito e vice-prefeito dois sobrinhos do depoente; que só maledicentes de nascença ousam atribuir ao depoente e seus familiares o recorde altamente constrangedor registrado em 2016, quando se constatou que Murici tinha o pior IDH entre as centenas de municípios nos quais a tocha olímpica fez escala; 
que todos os habitantes honestos sabem que tal equívoco resultou da presença na cidade de uma multidão de desvalidos procedentes de vilarejos vizinhos, e que essa mesma afluência dos forasteiros em busca de diversão gratuita ou de empregos oferecidos pelo Eldorado sertanejo explica a versão divulgada pelo IBGE segundo a qual 60 por cento dos moradores de Murici são pobres ou miseráveis; que os 46 óbitos por covid-19 contabilizados pelo Ministério da Saúde até 15 de maio foram provocados não pela pandemia, mas pelo presidente que utilizou um vírus chinês como pretexto para estarrecer o país e o mundo com um genocídio muito maior que o Holocausto dos judeus na Alemanha nazista, já que Jair Bolsonaro é mais cruel que Adolf Hitler e um ministro como Eduardo Pazuello transforma em amador qualquer Hermann Goering (ou Góringui, na pronúncia do depoente); que não se considerou impedido de assumir o cargo de relator por ser pai de um governador suspeito de envolvimento no Covidão amparado na certeza de que Renanzinho é tão honesto quanto o genitor; 
que a CPI não deve perder tempo interrogando autoridades estaduais e municipais supostamente metidas em ladroagens que até podem ter ampliado o patrimônio dos larápios que existem em qualquer lugar, mas não mataram ninguém, em vez de caçar culpados alojados no outro lado da Praça dos Três Poderes; que, embora não pareça, trata com urbanidade e respeito todos os convocados, convidados ou intimados, sejam do sexo masculino ou fêmeas, democratas que se opõem ao capitão golpista ou fascistas irrecuperáveis, devotos da ciência ou negacionistas, e só perde a estribeira quando é afrontado por mentirosos compulsivos, pois sempre amou a verdade acima de todas as coisas; 
que pretende aproveitar as investigações para sepultar velhas falsidades, como a história do amigo lobista a serviço da empreiteira Mendes Jr. que pagou meses a fio o aluguel do apartamento e demais despesas de Mônica Veloso, com quem o depoente teve entre 2003 e 2004 um caso extraconjugal e uma filha, ambos atribuídos pelo senador quase cinquentão a um arroubo de jovem romântico; que, conforme explicou na época, acertou todas as contas com o dinheiro obtido como único comerciante da história da pecuária que comprava e vendia gado sem ser dono de fazenda, sítio ou chácara, obstáculo que superou vendendo tão rapidamente o que comprara que os rebanhos mudavam de proprietário já na chegada a Murici, o que dispensava o senador pecuarista de providenciar terra, água e pasto; que, ao contrário do que propagam jornalistas tendenciosos e adversários inclementes, está indiciado não em 17, mas em apenas 8 inquéritos no Supremo Tribunal Federal, onde jaz um processo em que figura como réu à espera da absolvição mais do que certa, porque considera os ministros do STF mais sábios e justos do que qualquer juiz de verdade; que o implante capilar produzido por numerosas sessões numa clínica da Bahia não custou um único centavo ao Congresso, que só patrocinou o avião e o combustível a que tem direito um senador da República; que sempre retribuiu essas gentilezas involuntariamente financiadas pelos pagadores de impostos trabalhando mais de 24 horas por dia, como aliás tem feito desde a posse na gerência da CPI; 
que tamanha dedicação aos interesses da pátria explica por que o relatório ficou pronto antes que as investigações tivessem início, e já na primeira sessão restou decidido quem é culpado e quem é inocente, mostrando ao povo que, se o presidente da República fosse um dos sete senadores que controlam a CPI, a vacinação dos brasileiros teria começado antes da descoberta da vacina;  
que não vê nada de mais na escolha de um campeão de inquéritos e processos para uma CPI tão relevante, já que o presidente Omar Aziz também foi acusado de envolvimento em casos de polícia, coincidência que facilita o entendimento entre duas vítimas de calúnias e infâmias; que tem dormido bem e bastante, o que não surpreende nenhum dos colegas, pois se portadores de fichas sujas atravessassem a madrugada acordados o Congresso brasileiro abrigaria a maior concentração de insones do mundo. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.

Leia também “Termo de declarações prestadas por Aécio Neves”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

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