E a Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 entrou
num teórico recesso, acompanhando a parada parlamentar decorrente da
votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Mas é possível, ou provável,
que continue abastecendo o noticiário com achados a partir de
documentos das já aprovadas quebras de sigilo. Que até agora parece não
ter rendido muita coisa, mas sem as oitivas (interrogatórios) para
ocupar o tempo abre-se a oportunidade de avançar nesse outro caminho.
A
sessão de hoje recolheu mais detalhes sobre a suposta negociação,
afinal abortada, para a aquisição por meio de atravessadores de centenas
de milhões de doses da vacina AstraZeneca. E da Janssen. É uma teia com
a participação fulgurante de diversos militares da reserva, que naquele
momento estavam em escalões inferiores (do segundo para baixo) da
Saúde. Afinal, acabou acontecendo o previsível, e que foi previsto: quem
sai na chuva (militares da reserva em cargos civis) corre o risco de de
molhar.
[caso a CPI Covidão arranje alguma noção - condição difícil de ser alcançada, com os dirigentes que possui - vai constatar que tem milhões de bytes registrando narrativas fantasiosas e nenhum fiapo de provas.
Para ferrar de vez com a turma do Aziz, Calheiros, Rodrigues, 'drácula' e Barbalho, os fatos relevantes que ocorreram envolvendo integrantes da CPI foram:
a - indiciamento pela Polícia Federal do relator Calheiros; e,
b - a doença do presidente Bolsonaro e a viagem do vice-presidente Mourão, que trouxeram à tona, a possibilidade de Arthur Lira não ter condições de assumir a presidência da República. Entendimento do Supremo proíbe que réus em ações penais no STF, possam assumir, ainda que temporariamente, a presidência da República. Imagine quem presidia o Senado, se tornou réu em ação penal, e foi impedido pelo STF de assumir a presidência da República? o relator Calheiros.
Os fatos apontados em 'a' e 'b' diminuem mais ainda a credibilidade, que é praticamente nenhuma, da Covidão.]
Há várias lacunas nesta história das vacinas e dos
atravessadores, mas uma é mais intrigante.
Se autoridades tomaram
conhecimento de centenas de milhões de doses de vacinas disponíveis para
comercialização, num cenário global de escassez de imunizantes, por que
não ocorreu a ninguém ligar, ou mandar uma mensagem, ou um ofício, aos
fabricantes?
Para perguntar se, afinal, as vacinas existiam mesmo.
Porque se existissem seria então o caso de comprar direto da fábrica.
Sem
contar que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é parceira da AstraZeneca,
vacina hoje presente, em ordem de grandeza, nos braços de metade dos
vacinados no Brasil. Imagina-se que não haveria dificuldade de a Fiocruz
negociar diretamente com a AstraZeneca.
Ou seja, a presença da plêiade
de personagens que hoje desfilam pela CPI era absolutamente dispensável
no palco político-sanitário montado em torno do tema Covid-19 e vacinas.
Para
o governo, a boa notícia é que a CPI, apesar do esforço, quando a pauta
é corrupção, ainda sequer resvalou no primeiro escalão ministerial ou
na presidência da República. Prorrogada, ela tem agora mais três meses
para tentar aproximar-se do verdadeiro objetivo.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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