Alexandre Garcia
"Perguntaram ao contribuinte se gostaria que parte de seu imposto fosse para a propaganda eleitoral?"
Deputados e senadores aprovaram a quase triplicação do fundo eleitoral. O
presidente diz que vai vetar, sancionando a Lei de Diretrizes
Orçamentárias sem esse jabuti. Foi um escárnio; enquanto em 2020 e 2021 a
economia vai ter um saldo de crescimento de 1,1% (encolhimento de 4,1%
do PIB no ano passado e expansão esperada de 5,2% neste ano) e o salário
mínimo previsto na mesma LDO sobe menos de 5%, o dinheiro dos impostos
destinado às campanhas eleitorais se multiplica por três.
O jabuti foi posto no galho do orçamento da Justiça
Eleitoral;
não conseguiram votar em separado e entrou tudo na votação
por lideranças, na Câmara;
no Senado pegou carona com a aprovação da LDO
de última hora, pelo placar de 40 a 33. Quem votou diz que não votou,
quem conduziu diz que só conduziu, mas o jabuti ficou lá, aprovado pelo
Congresso Nacional, que é o responsável por isso, já que não foi o acaso
nem jabuti sobe em árvore.
Agora, é fazer a tradicional pergunta: a quem
interessa? O campeão de verba nessa enxurrada seria o PT, com R$ 600
milhões — e é o partido que mais deve estar com crise de abstinência,
com torneiras fechadas na Petrobras, empreiteiras, ministérios, bancos
oficiais… mas a verdade é que isso interessa aos partidos. E não é só. O
Senado recriou a propaganda partidária no último dia 14: serão R$ 527
milhões para o ano que vem, antes mesmo das convenções. E tramita um
projeto que permite candidaturas de gestores com contas reprovadas,
enfraquecendo mais a Lei da Ficha Limpa. Na Câmara, está em regime de
urgência um projeto para eximir da cláusula de barreira partidos sem
voto.
Será que isso interessa aos milhões de brasileiros que
tiveram sua renda, seu emprego, suas lojas, suas indústrias, seus
empreendimentos prejudicados pelo vírus?
Ou só interessa aos políticos e
seus partidos, visando à eleição do ano que vem?
Perguntaram ao
contribuinte se gostaria que parte de seu imposto fosse para a
propaganda eleitoral?
O atual presidente se elegeu com tão pouco; por
que querem tanto?
O poder emana do povo e só é legítimo quando reflete a
vontade desse mesmo povo. Foi vontade do povo triplicar o fundo
eleitoral?
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
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