Entrevista: 'Protestos vazios cobram preço político', diz cientista político Carlos Melo
As imagens da Avenida Paulista com uma presença modesta de manifestantes contra Jair Bolsonaro rodaram as redes, utilizadas à esquerda e à direita como mostra do insucesso do protesto. Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, os organizadores cometeram um erro ao realizar um ato com baixa adesão — e isso pode cobrar um preço. Mas isso, diz ele, não representa o potencial eleitoral dos grupos políticos. Melo diz que o esvaziamento do protesto começou em contradições na própria convocação e que a carta elaborada por Michel Temer, publicada via Palácio do Planalto, arrefeceu o sentimento de que seria preciso uma resposta rápida a um iminente golpe por parte de Bolsonaro. Para o cientista político, a centro-direita precisa se "fulanizar" em torno de um nome antes de buscar uma união com a esquerda: "enquanto a chamada terceira via não tiver um rosto, a dispersão é natural". [ No Brasil, NÃO EXISTE OPOSIÇÃO ao presidente Bolsonaro. O grupelho que diz ser oposição, não passa de um aglomerado de imbecis que além de não terem condições de ser oposição, também não querem - o que os integrantes de tal amontoado desejam é que o 'capitão' os veja, instale os dedos para alguns e eles caiam de 'quatro', se se alinhas às hostes bolsonaristas.São tão sem noção, sem rumo, sem ideias, que até para caírem aos pés do presidente Bolsonaro, vão brigar entre si.
Todos sabem que em 2022, SEM PANDEMIA, com a ECONOMIA SE RECUPERANDO, DESEMPREGO e INFLAÇÃO EM QUEDA, NÃO TEM PARA NINGUÉM = BOLSONARO VAI FAZER BARBA, CABELO, BIGODE...]
A reprovação ao governo federal é aproximadamente o dobro da aprovação, de acordo com as últimas pesquisas. [pesquisa de âmbito nacional, por telefone, entrevistando 1.000 pessoas.] Mas o ato do domingo, convocado por MBL, Vem Pra Rua e Livres contra Bolsonaro, não conseguiu encher mais de duas quadras da Avenida Paulista. Por que essa dificuldade?
Me parece ter um problema com a convocação do ato, que desde o princípio foi convocado para ser "nem Lula nem Bolsonaro". Depois de quarta-feira (pós 7 de Setembro), ele muda sua natureza, então já tem um problema aí. Estamos falando de apenas quatro dias (até o domingo da manifestação). Além disso, existiram vetos cruzados em todo esse antibolsonarismo. Por fim, houve acordos que não foram cumpridos. O sujeito de esquerda que se prepara para sair de casa (e ir ao ato) e vê aquele pixuleco enorme (boneco inflável de Bolsonaro equiparado a Lula), ele não vai mais. Esse foi um ponto de divergência entre os organizadores.
O protagonismo do MBL, que tem histórico de ataques à esquerda e engajamento no impeachment de Dilma, também interferiu na baixa adesão?
Ressentimentos políticos existem e são marcantes, mas eles fazem parte. A superação desses ressentimentos se dá ao longo do tempo e precisa ser operado politicamente. Não é do dia 7 para o dia 12 que esse negócio vai ser feito. Esse processo foi atropelado pelo que decorreu do discurso do Bolsonaro (no 7 de Setembro).
Qual é a influência do recuo do presidente, expresso em carta, nessa desarticulação?
Em se tratando do Bolsonaro, recuos são sempre muito precários e duvidosos. Mas a carta tira o sentido de emergência e de temor de um "golpe já", esfria aquele calor, aquele ambiente do dia 8, em que havia caminhoneiros nas ruas. Para muita gente, ela veio como uma espécie de alívio. Dizer que a carta é um fator preponderante (para o esvaziamento do protesto) talvez seja um exagero.
Bolsonaristas debocharam do ato de domingo. Vale a pena botar carro de som na rua para encher duas quadras na Paulista?
Não vale a pena. É um erro que tem consequências. Cobra um preço político. O que que as pessoas razoáveis fazem diante dos erros? Avaliam e tentam corrigir. Claro que os adversários vão tirar sarro dos seus erros. Encontrar a justa medida, o timing certo para sair às ruas, é uma arte. Agora eles deveriam tentar fazer um balanço sincero, às vezes doloroso, dos erros que cometeram, e corrigir.
A reprovação ao governo federal é aproximadamente o dobro da aprovação, de acordo com as últimas pesquisas. [pesquisa de âmbito nacional, por telefone, entrevistando 1.000 pessoas.] Mas o ato do domingo, convocado por MBL, Vem Pra Rua e Livres contra Bolsonaro, não conseguiu encher mais de duas quadras da Avenida Paulista. Por que essa dificuldade?
Me parece ter um problema com a convocação do ato, que desde o princípio foi convocado para ser "nem Lula nem Bolsonaro". Depois de quarta-feira (pós 7 de Setembro), ele muda sua natureza, então já tem um problema aí. Estamos falando de apenas quatro dias (até o domingo da manifestação). Além disso, existiram vetos cruzados em todo esse antibolsonarismo. Por fim, houve acordos que não foram cumpridos. O sujeito de esquerda que se prepara para sair de casa (e ir ao ato) e vê aquele pixuleco enorme (boneco inflável de Bolsonaro equiparado a Lula), ele não vai mais. Esse foi um ponto de divergência entre os organizadores.
O protagonismo do MBL, que tem histórico de ataques à esquerda e engajamento no impeachment de Dilma, também interferiu na baixa adesão?
Ressentimentos políticos existem e são marcantes, mas eles fazem parte. A superação desses ressentimentos se dá ao longo do tempo e precisa ser operado politicamente. Não é do dia 7 para o dia 12 que esse negócio vai ser feito. Esse processo foi atropelado pelo que decorreu do discurso do Bolsonaro (no 7 de Setembro).
Qual é a influência do recuo do presidente, expresso em carta, nessa desarticulação?
Em se tratando do Bolsonaro, recuos são sempre muito precários e duvidosos. Mas a carta tira o sentido de emergência e de temor de um "golpe já", esfria aquele calor, aquele ambiente do dia 8, em que havia caminhoneiros nas ruas. Para muita gente, ela veio como uma espécie de alívio. Dizer que a carta é um fator preponderante (para o esvaziamento do protesto) talvez seja um exagero.
Bolsonaristas debocharam do ato de domingo. Vale a pena botar carro de som na rua para encher duas quadras na Paulista?
Não vale a pena. É um erro que tem consequências. Cobra um preço político. O que que as pessoas razoáveis fazem diante dos erros? Avaliam e tentam corrigir. Claro que os adversários vão tirar sarro dos seus erros. Encontrar a justa medida, o timing certo para sair às ruas, é uma arte. Agora eles deveriam tentar fazer um balanço sincero, às vezes doloroso, dos erros que cometeram, e corrigir.
Política - O Globo - ENTREVISTA COMPLETA
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