O país vai aos poucos sentindo os efeitos das decisões do
STF que desmontaram a Operação Lava Jato.
Após a decisão sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, no início deste ano,
foi aberta uma brecha para que várias ações da Lava Jato fossem questionadas.
Isso quer dizer que o ex-presidente Lula não é o único beneficiado.
Empreiteiras, seus representantes e outros políticos envolvidos na corrupção
também podem sair impunes.
Não está descartada a possibilidade de parte do dinheiro recuperado pela
operação ter de ser devolvida a empresas e executivos que confessaram seus
crimes.
Em uma reportagem recente, a Gazeta do Povo mostra os riscos de efetivamente ser feito um PIX do STF diretamente para os corruptos.
Juristas explicam que é possível argumentar que o mesmo
juiz considerado parcial nas ações contra Lula validou as delações das
empreiteiras que permitiram a recuperação de bilhões de reais. Essa tese poderá
chegar logo aos tribunais.
Outro efeito é que réus que confessaram seus crimes poderão sair sem punição.
Um exemplo é o do empresário Emílio Odebrecht, que confessou ter colocado R$
700 mil na reforma do sítio de Atibaia. Sua defesa diz entender que ele não
precisará cumprir sua pena caso a rejeição da denúncia pela Justiça em Brasília
seja confirmada.
Em editorial, a Gazeta do Povo se posicionou sobre o tema:
“O que impediria a corte de inovar novamente, tornando nulos todos os atos de Moro independentemente do réu ou condenado, e dispensando qualquer necessidade de comprovação de nulidades ou irregularidades?"
Certamente não seria o receio de cair em descrédito.
“A população já vê o Supremo como o grande obstáculo no combate à corrupção no Brasil, graças às decisões que vem tomando, seja qual for a intenção que move os ministros.”
Decisões
judiciais favoráveis a Lula ameaçam anular delações e devolução de
verba desviada
A Operação Lava Jato, nunca é demais lembrar, conseguiu, em sete anos de trabalho incansável e heroico envolvendo membros do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Receita Federal e outros órgãos, mostrar ao Brasil como funcionava um intrincadíssimo esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e partidos políticos, liderados pelo PT, para saquear estatais em troca de recursos para abastecer o projeto petista de perpetuação do poder. Usando as ferramentas que a lei lhe oferecia, a Lava Jato conseguiu que vários figurões contassem o que sabiam e entregassem aos investigadores evidências do que afirmavam, para assim negociar punições mais leves – uma possibilidade que existe em muitos países, e sem a qual às vezes é impossível chegar ao topo das cadeias de corrupção. Vários dos que confessaram seus crimes também concordaram em devolver o que haviam desviado. Foi assim que a Lava Jato conseguiu, por meio de delações premiadas e acordos de leniência, o compromisso de devolução de R$ 22 bilhões – parte desse dinheiro já voltou aos cofres públicos ou foi devolvida à Petrobras. Bens de criminosos também foram leiloados.
O que impediria o STF de inovar novamente, tornando nulos todos os atos de Moro independentemente do réu ou condenado, e dispensando qualquer necessidade de comprovação de nulidades ou irregularidades?
Em 2019 e 2020, a decisão de anular um julgamento em que um corréu delatado não entregou suas alegações finais depois do corréu delator – mesmo sem ter tido prejuízo algum com isso e apesar de não haver previsão legal para essa distinção – permitiu a anulação de outros julgamentos semelhantes, inclusive um no qual a empreiteira Mendes Júnior tinha sido condenada a pagar multa de R$ 380 milhões. Com a anulação de todos os casos envolvendo Lula – alguns dos quais já arquivados nos novos foros para os quais foram remetidos – e a suspeição de Moro, outros condenados, incluindo os que assinaram acordos de delação homologados pelo ex-juiz e que concordaram em devolver dinheiro roubado, devem pedir a reversão de todos os atos.
Praticamente todos os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontaram entraves legais e lógicos para uma nova onda de anulações de atos judiciais e condenações, e não há reparos a fazer na argumentação por eles apresentada.
Comentando a possibilidade de os criminosos reaverem o dinheiro que roubaram, o promotor de Santa Catarina Afonso Ghizzo Neto afirmou que, “se isso ocorrer, o que eu acho difícil, haverá um grande descrédito popular na Justiça”. Esse descrédito, no entanto, já existe;
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